2º Domingo da Quaresma
Geralmente, apesar de nossa fé no Deus de Amor revelado por Jesus, temos
atitudes pagãs em que julgamos o Todo Poderoso nos solicitar sacrifícios
desumanos. Assim pensamos que para Deus é agradável penitências dolorosas,
difíceis e até para falar com Ele são necessários procedimentos artificiais e
fora de nossa realidade. Tudo isso mostra que raízes pagãs ancestrais estão
arraigadas em nossa cultura como estava na de Abraão, marcada por forte
politeísmo cujo culto se expressava com inúmeros sacrifícios às divindades.
Abraão que aos
poucos conhece o Deus único e verdadeiro, que se lhe apresenta, tem sua fé
colocada à prova com o sacrifício de seu filho Isaac. Tendo Abraão provado sua
fé, Deus poupa-lhe o sacrifício revelando sua bondade e generosidade. O que
passa pela cabeça de Abraão, passa também pela nossa. Julgamos que Deus se
satisfaz com aquilo que é mais doloroso e difícil. Que Deus é esse? Certamente
não é o que se revelou a Abraão e muito menos o revelado por Jesus Cristo no
Evangelho.
É preciso ouvir Jesus sempre |
O que Abraão
desejava e agradou a Deus foi sua atitude de desacomodação em deixar sua casa
paterna, sua pátria e ir para o desconhecido, apenas confiando na Palavra do
Senhor. A atitude de matar seu filho, evidentemente não agradou ao Poderoso,
mas mostrou que também abria mão de seu futuro e só esperava em Deus.
O sacrifício que
agrada ao Senhor é uma atitude de despojamento e de desacomodação, de entrega
total à Sua Palavra e de confiança absoluta nele.
No Evangelho
temos o relato da Transfiguração do Senhor. Vamos observar a atitude de Pedro.
Ele priva, juntamente com João e seu irmão Tiago, de uma amizade especial com o
Senhor e lhe é revelado, de modo enfático, a paixão que Jesus sofrerá. Enquanto
Jesus busca prepará-los para o momento decisivo de sua luta contra o mal, Pedro
fica fascinado pelo momento que vive, diríamos hoje, deslumbrado, e propõe a
estabilidade, a acomodação através da construção de tendas, no desejo de
perenizar o passageiro. O Pai lhe chama a atenção dizendo para ouvir o que O
Filho amado tem a dizer. Nesse momento acaba a teofania e apenas Jesus
permanece com eles. O único necessário em nossa vida é ouvir Jesus, a Palavra
do Pai. A renúncia que agrada a Deus, a abnegação desejada, a penitência
autêntica é colocar tudo em segundo plano e apenas Jesus Cristo como o absoluto
de nossa vida.
Tudo que a vida
me oferece, seja no plano material, seja no espiritual, tudo deverá ser
relativizado: família, saúde, religião, carreira, honra, tudo. Todos esses
valores deverão ser vivenciados à medida que me aproximam de Deus. A santidade
do relacionamento entre esposos, pais, filhos, irmãos e irmãos, não está nele
mesmo, mas enquanto são relacionamentos que me levam a Deus, me levam a amar.
Sendo assim eles se tornam sagrados.
Queridos amigos,
ouvintes da Rádio Vaticano, as cruzes que encontramos na vida conjugal,
familiar, profissional, na comunidade eclesial, e em tantos outros lugares,
foram anunciadas na transfiguração de Jesus e fazem parte dessa vida de
entrega, de renúncia, de abnegação, de penitência, de amor.
E neste tempo de
penitência não nos esqueçamos o jejum que sobremaneira é agradável a Deus:
“soltar as algemas injustas, soltar as amarras de jugo, dar liberdade aos
oprimidos e acabar com qualquer escravidão”.
Sigamos o Mestre
e, como ele, sejamos generosos em amar.
Pe. César
Augusto dos Santos SJ
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Fonte: radiovaticana.va
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