segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Papa na Suécia:

do conflito à comunhão

Cidade do Vaticano (RV) – “Do conflito à comunhão. Juntos na esperança”: este é o lema da viagem que o Papa Francisco iniciou na manhã desta segunda-feira (31/10) à Suécia.
Francisco embarca para a Suécia
Trata-se de sua 17ª viagem apostólica e a última deste ano de 2016. A ocasião da visita é a comemoração conjunta dos 500 anos da Reforma protestante e os 50 anos do diálogo entre as duas confissões – ambas as datas que serão recordadas de maneira oficial em 2017.
No total, serão pouco mais de 24 horas em solo sueco. Depois de 2 horas e 40 minutos de voo, o Papa será acolhido no aeroporto internacional de Malmö pelo Primeiro-Ministro sueco, Stefan Löfven. Em Lund, depois do almoço na residência papal de Igelosa, Francisco realizará a visita de cortesia à família real da Suécia: ao acolhê-lo na residência real estarão o Rei Carlos XVI Gustav e a Rainha Silvia.
A oração ecumênica comum
A tarde prosseguirá com a aguardada oração ecumênica na Catedral luterana de  Lund. De fato, esta cidade foi escolhida para a viagem apostólica porque foi ali que em 1947 foi fundada a Federação Luterana Mundial, enquanto a data – 31 de outubro – é o dia em que, segundo a tradição, Martinho Lutero expôs as suas 95 teses sobre a porta da Igreja do castelo de Wittenberg, em 1517.
Este evento inédito – a oração ecumênica comum – é fruto de 50 anos de diálogo: com os luteranos, os católicos iniciaram os colóquios com o Concílio Vaticano II; em 1999, as duas comunidades assinaram a Declaração conjunta sobre a Justificação e, em 2013 aprovaram o documento “Do conflito à comunhão”, que se tornou o lema desta viagem.
O programa do Papa ainda nesta segunda-feira prevê o regresso de Lund a Malmö para o evento ecumênico no ginásio da cidade e o encontro com as delegações ecumênicas – eventos com transmissão ao vivo da Rádio Vaticano.
Comunidade católica sueca
A terça-feira (1°/11) do Papa Francisco será dedicada à pequena comunidade católica sueca. Trata-se de pouco mais de 1% da população de cerca de 10 milhões de habitantes no total. O Pontífice celebra a missa, em latim e sueco, no estádio de Malmo, com a oração mariana do Angelus. Ao final da manhã, o Papa regressa ao Vaticano. 
No vôo aos jornalistas
“Esta viagem é importante porque é uma viagem eclesial, muito eclesial no campo do ecumenismo. O trabalho de vocês ajudará muito a compreender isso, e ajudar as pessoas entenderem bem isso. Muito obrigado”. Foi o que disse o Papa aos jornalistas, nesta manhã de segunda-feira, durante o voo para a Suécia. (SP)
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Francisco:

Olhar ao nosso passado, reconhecer o erro e pedir perdão

Lund (RV) – Após o almoço em privado na Residência Papal de Igelosa, onde Francisco reside nestes dois dias de visita à Suécia, o Santo Padre se transferiu para o Palácio Real de Lund, onde realizou um visita de cortesia à Família Real.
Momento da oração ecumênica
O Papa foi recebido pelo Rei Carlos XVI Gustavo e pela Rainha Silvia. Depois do encontro com a Família Real, o Pontífice, juntos com os soberanos, se dirigiu para a Catedral da cidade onde teve lugar a Oração Ecumênica Comum. Francisco foi acolhido pela Primaz da Igreja da Suécia, Arcebispa Antje Jakelén e pelo Bispo Católico de Estocolmo, Dom Anders Arborelius. Tomaram parte na procissão de entrada representantes da Federação Mundial Luterana. Após os cantos, as leituras e a homilia do Presidente da Federação Mundial Luterana, Bispo Munib Younan, o Papa Francisco fez a sua homilia.
Já no início de seu discurso o Santo Padre recordou as palavras de Cristo “Permanecei em Mim, que Eu permaneço em vós”, pronunciadas no contexto da Última Ceia. Podemos sentir as suas palpitações de amor por nós e o seu desejo de unidade para todos os que creem n’Ele, afirmou.
Desejo de permanecer unidos
Neste encontro de oração, aqui em Lund, - prosseguiu o Papa - queremos manifestar o nosso desejo comum de permanecer unidos a Ele para termos vida. E acrescentou, recordando os irmãos que não se resignaram à divisão:
“É também um momento propício para dar graças a Deus pelo esforço de muitos irmãos nossos, de diferentes comunidades eclesiais, que não se resignaram com a divisão, mas mantiveram viva a esperança da reconciliação entre todos os que creem no único Senhor”.
Agora, no contexto da comemoração comum da Reforma de 1517  - continuou -, temos uma nova oportunidade para acolher um percurso comum, que se foi configurando ao longo dos últimos cinquenta anos no diálogo ecumênico entre a Federação Luterana Mundial e a Igreja Católica.
“Não podemos resignar-nos com a divisão e o distanciamento que a separação gerou entre nós. Temos a possibilidade de reparar um momento crucial da nossa história, superando controvérsias e mal-entendidos que impediram frequentemente de nos compreendermos uns aos outros”.
Reconhecer o erro e pedir perdão
Francisco evidenciou em seguida que devemos também olhar, com amor e honestidade, para o nosso passado e reconhecer o erro e pedir perdão, só Deus é o juiz. E, com a mesma honestidade e amor,  - sublinhou - temos de reconhecer que a nossa divisão se afastava da intuição originária do povo de Deus, cujo anélito é naturalmente estar unido, e, historicamente, foi perpetuada mais por homens de poder deste mundo do que por vontade do povo fiel, que sempre e em toda parte precisa ser guiado, com segurança e ternura, pelo seu Bom Pastor.
Ambos os lados tinham uma vontade sincera de professar e defender a verdadeira fé, mas estamos conscientes também de que nos fechamos em nós mesmos com medo ou preconceitos relativamente à fé que os outros professam com uma acentuação e uma linguagem diferentes. Dizia o Papa João Paulo II: “Não devemos deixar-nos guiar pelo intento de nos tornarmos árbitros da história, mas unicamente pela intenção de compreendermos melhor os acontecimentos e de sermos portadores da verdade”.
Novo olhar ao passado
Com este novo olhar ao passado, não pretendemos fazer uma correção inviável do que aconteceu, mas “contar essa história de maneira diferente”, afirmou.
Jesus recorda-nos: «Sem Mim, nada podeis fazer», disse Francisco. “É Ele que nos sustenta e encoraja a procurar os modos para tornar a unidade uma realidade cada vez mais evidente”.
“Sem dúvida, a separação foi uma fonte imensa de sofrimentos e incompreensões; mas ao mesmo tempo levou-nos a tomar consciência sinceramente de que, sem Ele, nada podemos fazer, dando-nos a possibilidade de compreender melhor alguns aspetos da nossa fé. Com gratidão, reconhecemos que a Reforma contribuiu para dar maior centralidade à Sagrada Escritura na vida da Igreja”.
Experiência espiritual de Lutero
A experiência espiritual de Martinho Lutero – disse o Papa - interpela-nos lembrando-nos que nada podemos fazer sem Deus. «Como posso ter um Deus misericordioso?» Esta é a pergunta que constantemente atormentava Lutero. Na verdade, a questão da justa relação com Deus é a questão decisiva da vida. Como é sabido, Lutero descobriu este Deus misericordioso na Boa Nova de Jesus Cristo encarnado, morto e ressuscitado. Com o conceito «só por graça divina», recorda-nos que Deus tem sempre a iniciativa e que precede qualquer resposta humana inclusive no momento em que procura suscitar tal resposta. Assim, a doutrina da justificação exprime a essência da existência humana diante de Deus.
Testemunhas credíveis da misericórdia
Francisco recordou que Jesus intercede por nós como mediador junto do Pai, pedindo-Lhe a unidade dos seus discípulos para que «o mundo creia». “Concedei-nos o dom da unidade, para que o mundo creia na força da vossa misericórdia”. Este é o testemunho que o mundo espera de nós. E nós, cristãos, seremos testemunhas credíveis da misericórdia, na medida em que o perdão, a renovação e a reconciliação forem uma experiência diária entre nós. E Francisco concluiu:
“Nós, luteranos e católicos, rezamos juntos nesta Catedral e estamos conscientes de que, sem Deus, nada podemos fazer; pedimos o seu auxílio para sermos membros vivos unidos a Ele, sempre carecidos da sua graça para podermos levar, juntos, a sua Palavra ao mundo, que tem necessidade da sua ternura e misericórdia”. (SP)
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Declaração Conjunta:

Graças ao diálogo já não somos desconhecidos

Lund (RV) – Por ocasião da comemoração conjunta católico-luterana da Reforma, durante a Oração ecumênica comum na Catedral luterana de Lund, o Papa Francisco e o Presidente da Federação Luterana Mundial, Rev. Mounib Younan assinaram uma Declaração Conjunta introduzida pelas seguintes palavras:  “Permanecei em Mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em Mim” (Jo 15, 4).
Francisco na Catedral Luterana de Lund
Com esta Declaração Conjunta, - lê-se no texto -, expressamos jubilosa gratidão a Deus por este momento de oração comum na Catedral de Lund, com que iniciamos o ano comemorativo do quinto centenário da Reforma. Cinquenta anos de constante e frutuoso diálogo ecumênico entre católicos e luteranos ajudaram-nos a superar muitas diferenças e aprofundaram a compreensão e confiança entre nós. Ao mesmo tempo, aproximamo-nos uns dos outros através do serviço comum ao próximo – muitas vezes em situações de sofrimento e de perseguição. Graças ao diálogo e testemunho compartilhado, já não somos desconhecidos; antes, aprendemos que aquilo que nos une é maior do que aquilo que nos separa.
Do conflito à comunhão
No texto se evidencia ainda que “ao mesmo tempo que estamos profundamente gratos pelos dons espirituais e teológicos recebidos através da Reforma, também confessamos e lamentamos diante de Cristo que luteranos e católicos tenham ferido a unidade visível da Igreja. Diferenças teológicas foram acompanhadas por preconceitos e conflitos, e instrumentalizou-se a religião para fins políticos.
A nossa fé comum em Jesus Cristo – continua o texto -, e o nosso Batismo exigem de nós uma conversão diária, graças à qual repelimos as divergências e conflitos históricos que dificultam o ministério da reconciliação. Enquanto o passado não se pode modificar, aquilo que se recorda e o modo como se recorda podem ser transformados. Rezamos pela cura das nossas feridas e das lembranças que turvam a nossa visão uns dos outros. Rejeitamos categoricamente todo o ódio e violência, passados e presentes, especialmente os implementados em nome da religião. Hoje, escutamos o mandamento de Deus para se pôr de parte todo o conflito. Reconhecemos que fomos libertos pela graça para nos dirigirmos para a comunhão a que Deus nos chama sem cessar.
O nosso compromisso em prol dum testemunho comum
A  Declaração Conjunta evidencia que “enquanto superamos os episódios da nossa história que gravam sobre nós, comprometemo-nos a testemunhar juntos a graça misericordiosa de Deus, que se tornou visível em Cristo crucificado e ressuscitado”. Cientes de que o modo como nos relacionamos entre nós incide sobre o nosso testemunho do Evangelho, comprometemo-nos a crescer ainda mais na comunhão radicada no Batismo, procurando remover os obstáculos ainda existentes que nos impedem de alcançar a unidade plena. Cristo quer que sejamos um só, para que o mundo possa acreditar (cf. Jo 17, 21).
No texto destaca-se também que muitos membros “das nossas comunidades anseiam por receber a Eucaristia a uma única Mesa como expressão concreta da unidade plena”. “Temos experiência da dor de quantos partilham toda a sua vida, mas não podem partilhar a presença redentora de Deus na Mesa Eucarística”. Reconhecemos a nossa responsabilidade pastoral comum de dar resposta à sede e fome espirituais que o nosso povo tem de ser um só em Cristo. Desejamos ardentemente que esta ferida no Corpo de Cristo seja curada. Este é o objetivo dos nossos esforços ecumênicos, que desejamos levar por diante inclusive renovando o nosso empenho no diálogo teológico.
Um só em Cristo
Evidencia-se no texto que se reza a Deus para que católicos e luteranos saibam testemunhar juntos o Evangelho de Jesus Cristo, convidando a humanidade a ouvir e receber a boa notícia da ação redentora de Deus. “Pedimos a Deus inspiração, - continua a Declaração -, ânimo e força para podermos continuar juntos no serviço, defendendo a dignidade e os direitos humanos, especialmente dos pobres, trabalhando pela justiça e rejeitando todas as formas de violência”.
Deus chama-nos a estar perto de todos aqueles que anseiam por dignidade, justiça, paz e reconciliação, acrescenta o texto. “Hoje, de modo particular, levantamos as nossas vozes para pedir o fim da violência e do extremismo que ferem tantos países e comunidades, e inumeráveis irmãos e irmãs em Cristo”. Em seguida uma exortação a luteranos e católicos para que trabalhem juntos para acolher quem é estrangeiro, prestem auxílio a quantos são forçados a fugir por causa da guerra e da perseguição, e defendam os direitos dos refugiados e de quantos procuram asilo.
Um olhar também à criação inteira que sofre a exploração e os efeitos duma ganância insaciável. “Reconhecemos o direito que têm as gerações futuras de gozar do mundo, obra de Deus, em todo o seu potencial e beleza. Rezamos por uma mudança dos corações e das mentes que leve a um cuidado amoroso e responsável da criação”, destaca a Declaração Conjunta.
Depois de agradecer aos irmãos e irmãs das várias Comunhões e Associações Cristãs mundiais que estão presentes e unidos em oração, renova-se o compromisso de passar do conflito à comunhão, e fazendo isso como membros do único Corpo de Cristo, no qual estamos incorporados pelo Batismo.
Apelo aos católicos e luteranos do mundo inteiro
Enfim um apelo: “apelamos a todas as paróquias e comunidades luteranas e católicas para que sejam corajosas e criativas, alegres e cheias de esperança no seu compromisso de prosseguir na grande aventura que nos espera. Mais do que os conflitos do passado, há de ser o dom divino da unidade entre nós a guiar a colaboração e a aprofundar a nossa solidariedade. (SP)
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Católicos e luteranos
juntos na defesa e promoção da justiça social

Rádio Vaticano (RV) – “Como duas organizações cristãs mundiais trabalhando pela dignidade humana e justiça social, decidimos dar as mãos”.
Caritas leva alimentos à crianças no Zimbábue
Esta é a principal mensagem da Declaração de Intenções entre a Caritas e o Serviço Mundial luterano firmada na tarde desta segunda-feira (31/10), em Malmö, na Suécia, ao final do evento ecumênico com a presença do Papa Francisco.
“Para trazer esperança. Para testemunhar e agir juntos, sem exclusão. E para convidar nossos membros para que se engajem também localmente”, prossegue o texto da declaração.
Dentro dos objetivos principais deste trabalho conjunto estão: a criação de oportunidades; o comprometimento para cooperar onde for apropriado; partilhar ensinamentos, desafios e oportunidades; assegurar que membros, pessoal e voluntários entendam a Declaração de Intenções e trabalhem juntos em harmonia e colaboração.
Áreas de atuação
A Caritas e o Serviço Mundial luterano se comprometem ainda em trabalhar unidas no auxílio a refugiados, deslocados internos e migrantes; na construção da paz e da reconciliação; resposta humanitária; implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e programas e ações entre as confissões.
Para analisar a aplicação concreta dos mecanismos de cooperação, encontros anuais serão realizados  também para planejar ações futuras.
A Caritas e o Serviço Mundial já trabalharam juntos em diversas ocasiões nas últimas décadas em vários países contra a pobreza e crises humanitárias.
Atualmente a Caritas, “braço social e de justiça” da Igreja, é uma confederação presente em 200 países e territórios representada por 165 organizações nacionais. (rb)
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Papa Francisco:

Diálogo confirma desejo de plena comunhão

Malmö (RV) - O Papa Francisco participou do evento ecumênico na Arena de Malmö, na Suécia, na tarde desta segunda-feira (31/10).
Papa e a arcebispa Ante Jackelen, Primaz da Igreja Luterana da Suécia
“Dou graças a Deus por esta comemoração conjunta dos 500 anos da Reforma, que estamos vivendo com espírito renovado e conscientes de que a unidade entre os cristãos é uma prioridade, porque reconhecemos que, entre nós, é muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa”, disse o Papa em seu discurso.
“O diálogo entre nós permitiu aprofundar a compreensão mútua, gerar confiança recíproca e confirmar o desejo de caminhar para a plena comunhão. Um dos frutos produzidos por este diálogo é a colaboração entre distintas organizações da Federação Luterana Mundial e da Igreja Católica. Hoje, graças a este novo clima de compreensão, Caritas Internationalis eLutheran World Federation World Service assinarão uma declaração comum de acordos que visam desenvolver e consolidar uma cultura de colaboração para a promoção da dignidade humana e da justiça social. Saúdo cordialmente os membros de ambas as organizações que, num mundo dividido por guerras e conflitos, foram e são um exemplo luminoso de dedicação e serviço ao próximo. Exorto-os a prosseguir no caminho da cooperação”, frisou o Papa.
Testemunhos
A seguir, Francisco comentou os 4 testemunhos que foram dados antes de seu discurso. Sobre o primeiro, relativo à Criação, ressaltou que “toda a criação é uma manifestação do amor imenso de Deus para conosco. Somos chamados a cultivar uma harmonia com nós mesmos e com os outros, mas também com Deus e com a obra de suas mãos”. 
Em relação ao segundo, sobre o trabalho conjunto que católicos e luteranos realizam na Colômbia, o Papa frisou que “é uma boa notícia saber que os cristãos se unem para dar vida a processos comunitários e sociais de interesse comum” e pediu orações para que “se possa chegar finalmente à paz, tão desejada e necessária para uma digna convivência”.
Do terceiro testemunho, o Papa chamou a atenção para o trabalho em prol das crianças vítimas de atrocidades e para o compromisso em favor da paz. O Pontífice agradeceu à jovem burundinesa pelo seu compromisso em comunicar a mensagem de paz.
O último, dado por uma jovem da Equipe Olímpica de Refugiados, o Papa disse que ela “soube tirar proveito do talento que Deus lhe deu no esporte”. O Santo Padre agradeceu à jovem pelos esforços e cuidados para animar outras meninas a regressarem à escola e também pelas orações que reza todos os dias pela paz no Sudão do Sul.
O Papa recordou também Aleppo, cidade síria martirizada pela guerra, onde se desprezam e espezinham os direitos fundamentais.
“Queridos irmãos e irmãs, não nos deixemos abater pelas adversidades. Que estas histórias nos estimulem e deem novo impulso para trabalharmos cada vez mais unidos. Quando voltarmos às nossas casas, levemos o compromisso de realizar cada dia um gesto de paz e reconciliação para sermos testemunhas corajosas e fiéis da esperança cristã”, concluiu Francisco. (MJ)
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Assista:
A seguir, a íntegra do discurso.
Queridos irmãos e irmãs!
Dou graças a Deus por esta comemoração conjunta dos quinhentos anos da Reforma, que estamos a viver com espírito renovado e conscientes de que a unidade entre os cristãos é uma prioridade, porque reconhecemos que, entre nós, é muito mais o que nos une do que aquilo que nos separa. O caminho empreendido para a alcançar já é um grande dom que Deus nos concede e, graças à sua ajuda, estamos reunidos aqui hoje, luteranos e católicos, em espírito de comunhão, para dirigir o nosso olhar ao único Senhor, Jesus Cristo.
O diálogo entre nós permitiu aprofundar a compreensão mútua, gerar confiança recíproca e confirmar o desejo de caminhar para a plena comunhão. Um dos frutos produzidos por este diálogo é a colaboração entre distintas organizações da Federação Luterana Mundial e da Igreja Católica. Hoje, graças a este novo clima de compreensão, Caritas Internationalis e Lutheran World Federation World Service assinarão uma declaração comum de acordos que visam desenvolver e consolidar uma cultura de colaboração para a promoção da dignidade humana e da justiça social. Saúdo cordialmente os membros de ambas as organizações que, num mundo dividido por guerras e conflitos, foram e são um exemplo luminoso de dedicação e serviço ao próximo. Exorto-vos a prosseguir pelo caminho da cooperação.
Ouvi atentamente os testemunhos de como, no meio de tantos desafios, dia após dia dedicam a vida a construir um mundo que corresponda cada vez mais aos desígnios de Deus. Pranita referiu-se à criação. É verdade que toda a criação é uma manifestação do amor imenso de Deus para conosco; por isso podemos também contemplar a Deus por meio dos dons da natureza. Compartilho a tua consternação pelos abusos que danificam o nosso planeta, a nossa casa comum, com graves consequências também sobre o clima. Como justamente recordaste, os maiores impactos recaem frequentemente sobre as pessoas mais vulneráveis e com menos recursos, que se veem forçadas a emigrar para se salvar dos efeitos das mudanças climáticas. Todos somos responsáveis pela salvaguarda da criação, e de modo particular nós cristãos. O nosso estilo de vida, os nossos comportamentos devem ser coerentes com a nossa fé. Somos chamados a cultivar uma harmonia com nós mesmos e com os outros, mas também com Deus e com a obra das suas mãos. Pranita, encorajo-te a continuares no teu compromisso a favor da nossa casa comum.
Mons. Héctor Fabio informou-nos sobre o trabalho conjunto que católicos e luteranos realizam na Colômbia. É uma boa notícia saber que os cristãos se unem para dar vida a processos comunitários e sociais de interesse comum. Peço-vos uma oração especial por aquela terra maravilhosa para que, com a colaboração de todos, se possa chegar finalmente à paz, tão desejada e necessária para uma digna convivência humana. Seja uma oração que abrace também a todos os países onde perduram graves situações de conflito.
Marguerite chamou a nossa atenção para o trabalho em prol das crianças vítimas de tantas atrocidades e para o compromisso a favor da paz. É algo admirável e, simultaneamente, um apelo para tomar a sério inúmeras situações de vulnerabilidade que padecem tantas pessoas indefesas, aquelas que não têm voz. Aquilo que tu consideras como uma missão, foi uma semente que produziu frutos abundantes, e hoje, graças a esta semente, milhares de crianças podem estudar, crescer e recuperar a saúde. Obrigado pelo facto de agora, mesmo no exílio, continuares a comunicar uma mensagem de paz. Disseste que, todos os que te conhecem, pensam que aquilo que fazes é uma loucura. Sim, é a loucura do amor a Deus e ao próximo! Quem dera que esta loucura pudesse propagar-se, iluminada pela fé e a confiança na Providência! Segue em frente; e possa aquela voz de esperança que ouviste no início da tua aventura continuar a estimular o teu coração e o coração de muitos jovens.
Rose, a mais jovem, ofereceu um testemunho verdadeiramente comovente. Soube tirar proveito do talento que Deus lhe deu através do desporto. Em vez de malbaratar as suas forças em situações adversas, empregou-as numa vida fecunda. Enquanto ouvia a tua história, vinha-me à mente a vida de tantos jovens que precisam de testemunhos como o teu. Gostaria de lembrar que todos podem descobrir esta condição maravilhosa de ser filhos de Deus e o privilégio de ser queridos e amados por Ele. Rose, de coração te agradeço pelos teus esforços e cuidados para animar outras meninas a regressar à escola e também pelas orações que rezas todos os dias pela paz no jovem Estado do Sudão do Sul que tanto precisa dela.
Depois de ter ouvido estes testemunhos corajosos, que nos fazem pensar na nossa vida e no modo como respondemos às situações de necessidade que existem ao nosso lado, quero agradecer a todos os governos que prestam assistência aos refugiados, aos deslocados e àqueles que pedem asilo, porque cada ação em favor destas pessoas que precisam de proteção constitui um grande gesto de solidariedade e reconhecimento da sua dignidade. Para nós, cristãos, é uma prioridade sair ao encontro dos descartados e marginalizados do nosso mundo, tornando palpável a ternura e o amor misericordioso de Deus, que não descarta ninguém, mas acolhe a todos.
Daqui a pouco ouviremos o testemunho do Bispo D. Antoine, que vive em Aleppo, cidade exausta pela guerra, onde se desprezam e espezinham até mesmo os direitos mais fundamentais. As notícias referem-nos diariamente o sofrimento indescritível causado pelo conflito sírio, que dura já há mais de cinco anos. No meio de tanta devastação, é verdadeiramente heroica a permanência lá de homens e mulheres para prestar assistência material e espiritual aos necessitados. E é admirável também que tu, querido irmão, continues a trabalhar no meio de tantos perigos para nos contares a dramática situação dos sírios. Cada um deles está presente no nosso coração e na nossa oração. Imploremos a graça da conversão dos corações de quantos têm a responsabilidade dos destinos daquela região.
Queridos irmãos e irmãs, não nos deixemos abater pelas adversidades. Que estas histórias nos estimulem e deem novo impulso para trabalharmos cada vez mais unidos. Quando voltarmos às nossas casas, levemos o compromisso de realizar cada dia um gesto de paz e reconciliação para sermos testemunhas corajosas e fiéis de esperança cristã.
Assista:
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                                                                                            Fonte: radiovaticana.va    news.va

domingo, 30 de outubro de 2016

Encontro de Formação

em Canto Litúrgico

O Apóstolo aconselha os fiéis, que se reúnem em as­sembléia para aguardar a vinda do Senhor, a cantarem juntos salmos, hinos e cânticos espirituais (cf. CI3,16), pois o canto constitui um sinal de alegria do coração (cf. At 2, 46). Por­tanto, dê-se grande valor ao uso do canto na celebração da missa, tendo em vista a índole dos povos e as possibilidades de cada assembléia litúrgica (cf. IGMR 39-40). 
Cantores e instrumentistas acompanham o desenvolvimento do tema
Conforme orientação do Concílio Vaticano II, a músi­ca apropriada à liturgia é aquela que está mais intimamente integrada à ação litúrgica e ao momento ritual ao qual ela se destina (cf. SC 112). 
A música litúrgica expressa o mistério de Cristo e a sa­cramentalidade da Igreja. O gesto sacramental de cantar a uma só voz pressupõe a participação ativa, interior, cons­ciente, frutuosa, plena de todo o povo sacerdotal congregado no Espírito Santo, durante a ação litúrgica (Canto e Liturgia - CNBB)
Foi realizado na tarde deste domingo no Centro Pastoral São José um encontro de cantores e instrumentistas das comunidades de nossa paróquia, sob a orientação de Adriano Geraldo da Silva, da Equipe de Liturgia Arquidiocesana e coordenador da Subcomissão da Arquidiocese para Música Litúrgica.
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Momentos



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Papa Francisco:
O olhar de Jesus vai além de pecados e preconceitos

Cidade do Vaticano (RV) – “O olhar de Jesus vai além dos pecados e dos preconceitos”: foi o que disse o Papa na manhã deste domingo, ao rezar com os fiéis na Praça S. Pedro a oração mariana do Angelus.
Em sua alocução, Francisco comentou o Evangelho do dia, que narra o encontro de Jesus com Zaqueu em Jericó. Zaqueu era um rico cobrador de impostos, colaborador dos ocupantes romanos e, portanto, um explorador de seu povo. Ao chegar a Jericó, também Zaqueu queria ver Jesus, mas a sua condição de pecador público não lhe permitia se aproximar do mestre; além do mais, era pequeno de estatura; por isso sobe numa figueira para esperar Jesus passar.
Necessidade de conversão
Francisco acena aos fiéis
Quando chega perto da árvore, Jesus ordena que Zaqueu desça, porque deve ficar em sua casa. No desenho de salvação da misericórdia do Pai, explicou o Papa, há também a salvação de Zaqueu, um homem desonesto e desprezado por todos, e por isso necessitado de conversão. De fato, o Evangelho diz que, quando Jesus o chamou, todos começaram a murmurar, dizendo: 'Ele foi hospedar-se na casa de um pecador!’.
“Se Jesus tivesse dito: ‘Desça você, explorador, traidor do povo, e venha falar comigo para fazer as contas’, certamente o povo teria aplaudido”, comentou Francisco. Mas Jesus, guiado pela misericórdia, buscava justamente Zaqueu.
Jesus não se detém nas aparências, mas olha para o coração
“O olhar de Jesus vai além dos pecados e dos preconceitos”, repetiu duas vezes o Papa. Jesus vê a pessoa com os olhos de Deus, que não se detém no mal passado, mas entrevê o bem futuro; não se resigna aos fechamentos, mas sempre abre novos espaços de vida; não se detém nas aparências, mas olha para o coração.” Jesus olhou o coração ferido de Zaqueu e foi ali. 
Às vezes, prosseguiu, nós buscamos corrigir ou converter um pecador repreendendo-o, reforçando seus erros e o seu comportamento injusto. A atitude de Jesus com Zaqueu nos indica outro caminho: de mostrar a quem erra o seu valor, aquele valor que Deus continua vendo não obstante tudo. “Assim se comporta Deus conosco: não fica preso no nosso pecado, mas o supera com o amor e nos faz sentir a saudade do bem. Todos sentimos esta saudade do bem depois de um erro. Não existe uma pessoa que não tenha algo de bom”, disse o Pontífice, que concluiu:
“Que a Virgem Maria nos ajude a ver o bem que existe nas pessoas que encontramos todos os dias. O nosso Deus é o Deus das surpresas!”
Assista:
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Forte tremor atinge a Itália:

A solidariedade do Papa

Núrsia (RV) - A terra voltou a tremer no centro da Itália. Às 7h41 deste domingo, foi registrado um terremoto de 6.5 graus na escala Richter, com 10 km de profundidade, entre as regiões das Marcas e a Úmbria – as mesmas do terremoto de 24 de agosto passado e dos tremores desta semana.
“Expresso a minha proximidade às populações da Itália central atingidas pelo terremoto. Esta manhã também houve um forte tremor. Rezo pelos feridos e pelas famílias que sofreram grandes danos, assim como também pelas pessoas que trabalham nos resgates e na assistência. Que o Senhor Ressuscitado lhes dê força e Nossa Senhora os proteja”, disse o Papa Francisco entre os aplausos da multidão reunida na Praça São Pedro para a oração mariana do Angelus. 
Tremor mais forte dos últimos 30 anos
Catedral de Mirandola ficou destruída
A potência do sismo fez com que os moradores de norte ao sul do país sentissem o abalo, que chegou até a Áustria. Em Roma, as duas linhas do metrô foram fechadas. Fala-se de danos na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, uma das basílicas papais. Também a Basílica de S. Lourenço foi fechada ao público.
O epicentro foi entre as cidades de Castelsantangelo, Núrsia e Preci. A Basílica de S. Bento em Núrsia, com mais de seis séculos de história, ficou destruída, enquanto os beneditinos rezaram com os fiéis diante dos escombros da Basílica e as freiras abandonavam o convento.
Trata-se do sismo mais forte registrado no país desde 1980. A Defesa Civil Italiana ainda está avaliando os danos. Por enquanto, não foram registradas vítimas fatais. Dezenas de pessoas ficaram feridas.
Papa em Amatrice
Em 4 de outubro, o Papa Francisco visitou a cidade de Amatrice, devastada pelo terremoto de 24 de agosto passado. O tremor, de 6 graus na escala Richter, deixou centenas de mortos e ainda hoje, cerca de 4 mil pessoas vivem acampadas em tendas instaladas pela Defesa Civil.
"Pensei muito nos dias seguintes ao terremoto que uma minha visita seria mais um incômodo do que uma ajuda, e não queria incomodar. Por isso, deixei passar um pouco de tempo para que algumas coisas fossem arrumadas, como a escola. Mas desde o início senti que tinha que vir aqui! Simplesmente para dizer que estou com vocês, perto de vocês e nada mais. E que rezo, rezo por vocês. Proximidade e oração, esta é a minha oferta para vocês. Que o Senhor abençoe a todos, que Nossa Senhora os proteja neste momento de tristeza, de dor e provações", disse o Pontífice na ocasião.
Veja:
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Reflexão para seu domingo

Zaqueus da vida

A palavra Zaqueu significa puro, justo. A Sagrada Escritura fala de Zaqueu, o responsável pela coleta de impostos na cidade de Jericó (Lc 19:1-10). Os coletores de impostos, naquele tempo, já eram odiados pelos seus compatriotas judeus, que os viam como traidores trabalhando para o Império Romano. Era também um posto muito cobiçado porque os lucros econômicos eram vantajosos.
“Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”
Numa ocasião Jesus passava pela cidade de Jericó a caminho de Jerusalém e Zaqueu queria encontrá-Lo. Sua estatura era baixa e não conseguia vê-Lo, por causa da multidão. Então subiu numa figueira e, sendo visto, Jesus o chamou pelo nome, pedindo-lhe para descer da árvore, porque queria visitar sua casa. Zaqueu era publicano e, por isso, era recriminado pelos judeus por causa de sua prática de vida.
Essa sena bíblica mostra o arrependimento de Zaqueu, porque ele praticava atos de corrupção. Sua mudança foi grande e prometeu honestidade, restituindo tudo que tinha roubado. Seu contato com Jesus Cristo fez com que sua vida se transformasse totalmente. Passou a ser uma nova pessoa e se colocou a serviço do anúncio do Evangelho numa vida despojada e dedicada.
O Brasil sofre com as trapaças de tantos “zaqueus” que agem de forma inescrupulosa, roubando as condições de dignidade de grande parte da população brasileira. Zaqueus que precisam fazer o encontro com Jesus Cristo e experimentar a riqueza do perdão e da devolução da quantia desviada. A injustiça provoca a ira de Deus e a revolta de tantos quanto sofrem as consequências desses atos.
A estrutura injusta da sociedade moderna, que não pune exemplarmente os culpados, favorece o surgimento dos “novos Zaqueus”, mas que agora estão enfrentando a operação Lava Jato. Esses corruptos, no mínimo, precisam mudar de vida e restituir o que devem ao erário público. O povo não pode continuar sofrendo as consequências desse estado de coisa que desabona o país.
Onde encontrar luz de esperança no meio de uma sociedade totalmente envolvida nos atos de violência? Será que agora a justiça vai mesmo agir, colocando na cadeia quem detém montante acumulado de forma escusa? As prisões não podem ser apenas para pobres, negros e indefesos. A liberdade é para todas as pessoas, mas também o agir com responsabilidade.
                                                         Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo de Uberaba
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                                                         Fonte: cnbb.org.br     Ilustração: domvob.wordpress.com

sábado, 29 de outubro de 2016

Papa em entrevista a "La Civiltà Cattolica":

Não se pode ser católicos e sectários

Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco concedeu uma entrevista sobre sua viagem apostólica à Suécia, que se realizará de 31 deste mês a 1° de novembro, ao sacerdote jesuíta Pe. Ulf Jonsson, diretor da revista jesuíta sueca “Signum”, junto com o diretor da revista jesuíta italiana “La Civiltà Cattolica”, Pe. Antonio Spadaro.
"Não se pode ser católico e sectários" disse o Pontífice na entrevista concedida na véspera da visita à Suécia para a comemoração ecumênica dos 500 anos da Reforma Luterana.
“Na entrevista o Papa falou, entre vários assuntos, sobre sua amizade com os luteranos desde quando era garoto e depois nos tempos de seu ministério episcopal. Além de explicar as modalidades da visita e seu significado, Francisco falou sobre o desafio espiritual para as Igrejas “envelhecidas” e sobre a importância da inquietude na sociedade marcada pelo bem-estar. A propósito do diálogo ecumênico sublinhou a importância de “caminhar juntos” para não permanecer fechados em perspectivas rígidas, porque nelas não há possibilidade de reforma.
Introdução do Pe. Jonsson
“Durante um encontro dos diretores das revistas culturais europeias da Companhia de Jesus, na metade de junho, manifestei ao Pe. Antonio Spadaro, diretor de La Civiltà Cattolica, um desejo que eu tinha no coração há muito tempo: entrevistar o Papa Francisco na véspera de sua viagem apostólica à Suécia, 31 de outubro de 2016, para participar da comemoração ecumênica dos 500 anos da Reforma Luterana. Pensei que uma entrevista fosse a melhor maneira de preparar o país para a mensagem que o Pontífice teria endereçado às pessoas durante sua visita. Como diretor da revista cultural dos jesuítas suecos Signum, pensei que este objetivo entrasse plenamente em nossa missão.
O ecumenismo, assim como o diálogo entre as religiões e também com os não fiéis, está muito no coração do Papa. Ele fez entender isso de muitas maneiras. Ele é um homem de reconciliação. Francisco está profundamente convencido de que os homens devem superar barreiras e cercas de qualquer tipo. Acredita no que define “cultura do encontro”. Isso para que todos possam colaborar para o bem comum da humanidade. Queria que esta visão de Francisco pudesse tocar a mente e o coração de muitos antes de sua chegada à Suécia: a entrevista teria sido o meio melhor para alcançar tal objetivo. Disse isso ao Pe. Spadaro com o qual prossegui a reflexão até agosto, quando juntos chegamos à conclusão de que era realmente oportuno apresentar ao Pontífice este pedido a fim de que pudesse decidir se realizá-la ou não. O Papa tomou tempo pra refletir sua oportunidade. No final, a resposta foi positiva e nos deum um encontro na Santa Marta na tarde do sábado, 24 de setembro passado.
Foi um dia realmente agradável por causa da temperatura e luminosidade do céu. Atravessando o trânsito de Roma de carro com Pe. Spadaro, estava ansioso, mas feliz. Chegamos a Santa Marta 15 minutos antes do previsto. Pensei que devíamos esperar e ao invés fomos logo convidados a subir ao andar onde o Papa tem o seus aposentos. Quando o elevador se abriu, vi um guarda-suíço que nos saudou com cortesia. Ouvi a voz do Papa falar cordialmente com outras pessoas em espanhol, mas não o vi. A um certo ponto ele apareceu com duas pessoas, conversando amigavelmente. Nos saudou com um sorriso indicando-nos de entrar em seus aposentos: ele voltaria logo.
Fiquei surpreso com esta simples e calorosa familiaridade o acolhimento. Foi-nos dito na portaria que o Papa teve um dia intenso, e eu pensei que estivesse cansado no final do dia. Ao invés disso, fiquei surpreso em vê-lo tão cheio de energia e relaxado.
O Papa entrou na sala e nos convidou a sentar onde preferíamos. Sentei-me numa poltrona e Pe. Spadaro diante de mim. O Papa se sentou no sofá no meio das duas poltronas. Apresentei-me no meu italiano pobre, mas suficiente para entender e dialogar com simplicidade. Depois de algumas brincadeiras do Papa acendemos os gravadores e iniciamos a conversa.
Pe. Spadaro traduziu do inglês algumas perguntas que eu queria fazer ao Papa e que eu tinha preparado, mas depois da conversa entre nós três fluiu naturalmente, numa atmosfera amigável e sem distâncias artificiais. Sobretudo porque foi claro e direto, sem rodeios e sem que a atmosfera típica dos encontros com os grandes líderes ou pessoas a respeito. Não tenho nenhuma dúvida de que o Papa Francisco ama conversar, comunicar com os outros. Às vezes toma tempo para refletir antes de responder, e suas respostas sempre transmitem uma sensação de envolvimento sério, mas não pesada ou triste. Na verdade, durante a nossa visita, ele deu várias vezes sinais de seu humorismo.
Entrevista
Pe. Ulf Jonsson: Santo Padre, em 31 de outubro o senhor visitará Lund e Malmö para participar da Comemoração Ecumênica dos 500 anos da Reforma, organizada pela Federação Luterana Mundial e pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Quais são as suas esperanças e suas expectativas para este evento histórico?
Francisco: “Digo somente uma palavra: aproximar-se. A minha esperança e expectativa são as de me aproximar mais de meus irmãos e irmãs. A proximidade faz bem a todos. A distância ao invés nos faz adoecer. Quando nos distanciamos, nos fechamos dentro de nós mesmos e nos tornamos nômades, incapazes de nos encontrar. Nos deixamos levar pelo medo. É preciso aprender a se transcender para encontrar os outros. Se não o fazemos nós cristãos nos adoecemos de divisão. A minha expectativa é a de conseguir fazer um passo de proximidade, de estar próximo aos meus irmãos e irmãs que vivem na Suécia.”
Pe. Ulf Jonsson: Na Argentina os luteranos formam uma comunidade restrita. O senhor teve modo de se encontrar com eles no passado?
Francisco: “Sim, bastante. Lembro-me da primeira vez que fui a uma igreja luterana: foi precisamente em sua sede na Argentina, na Calle Esmeralda, Buenos Aires. Eu tinha 17 anos. Lembro-me bem daquele  dia. Casou-se um amigo meu de trabalho, Axel Bachmann. Ele era o tio da teóloga luterana Mercedes Garcia Bachmann. E a mãe da Mercedes, Ingrid, trabalhava no laboratório onde eu trabalhava. Esta foi a primeira vez que participei de uma celebração luterana. A segunda vez, foi uma experiência mais forte. Nós jesuítas temos a Faculdade de Teologia em San Miguel, onde ensinei. Ali perto, a menos de 10 km de distância, havia a Faculdade de Teologia Luterana. O reitor era um húngaro, Leskó Béla, realmente um bom homem. Com ele tinha contatos muito cordiais. Eu era professor e tinha a cátedra de Teologia espiritual. Convidei o professor de Teologia espiritual daquela Faculdade, um sueco, Anders Ruuth, para dar junto comigo aulas de espiritualidade. Lembro-me que aquele era um momento muito difícil para a minha alma. Eu tinha muita confiança nele e abri o meu coração. Ele me ajudou muito naquele momento. Depois foi enviado ao Brasil, conhecia bem também o português, e depois voltou para a Suécia. Ali publicou as suas teses de habilitação sobre “A Igreja universal do Reino de Deus”, que surgiu no Brasil no final dos anos setenta. Era uma tese crítica. Ele a escreveu em sueco, mas tinha um capítulo em inglês. Ele me enviou e eu li aquele capítulo em inglês: era uma pérola. Depois, passou o tempo. Enquanto isso, me tornei bispo auxiliar de Buenos Aires. Um dia foi me visitar na casa episcopal o então arcebispo primaz de Uppsala. O Cardeal Quarracino não estava. Ele me convidou para ir à missa deles na Calle Azopardo, na Iglesia Nórdica de Buenos Aires, que antes era chamada de «Igreja sueca». A ele eu falei sobre Anders Ruuth, que depois voltou mais uma vez a Argentina para celebrar um matrimônio. Naquela ocasião nos revimos, e foi a última: um de seus dois filhos, o músico, o outro era médico, um dia me telefonou para dizer que ele tinha morrido.
Papa em visita à Igreja luterana de Roma
Outro capítulo da minha relação com os luteranos diz respeito à Igreja da Dinamarca. Tive um bom relacionamento com o pastor de então, Albert Andersen, que agora se encontra nos Estados Unidos. Ele me convidou duas vezes para fazer uma pregação. A primeira era num contexto litúrgico. Naquela ocasião foi muito delicado: para evitar recriar constrangimento acerca da participação na comunhão, naquele dia não celebrou a missa, mas um batizado. Sucessivamente, me convidou para fazer uma conferencia para os jovens. Lembro-me que com ele tive uma discussão muito forte à distância, quando ele estava já nos Estados Unidos. O pastor me repreendeu muito por causa do que eu disse sobre uma lei relativa aos problemas religiosos na Argentina. Mas digo que me repreendeu com honestidade e sinceridade, como um amigo verdadeiro. Quando voltou a Buenos Aires, fui pedir-lhe desculpas porque de fato a maneira como eu me expressei naquele caso foi um pouco ofensiva. Depois, eu tive uma grande proximidade com o Pastor David Calvo, argentino, da Igreja Evangélica Luterana Unida. Ele também era uma pessoa boa.
Lembro-me também que para o “Dia da Bíblia” que em Buenos Aires se celebrava no final de setembro, voltei à primeira igreja em que fui quando jovem, na Calle Esmeralda. Ali eu encontrei Mercedes García Bachmann. Tivemos uma conversa. Aquele foi o último encontro institucional que tive com os luteranos quando era arcebispo de Buenos Aires. Depois, eu continuei a me relacionar com amigos luteranos no âmbito pessoal. Mas o homem que fez muito bem à minha vida foi Anders Ruuth: penso nele com muito afeto e reconhecimento. Quando veio me encontrar aqui a  Arcebispa primaz da Igreja da Suécia, falamos sobre aquela amizade entre nós dois. Recordo-me bem quando a Arcebispa Antje Jackelén veio aqui ao Vaticano, em maio de 2015, em visita oficial: fez um grande discurso. Eu a encontrei sucessivamente também por ocasião da canonização de Maria Elisabeth Hesselblad. Então eu pude saudar também o marido: são pessoas realmente amáveis. Depois, como Papa fui pregar na Igreja Luterana de Roma. Fiquei muito impressionado com as perguntas que me foram feitas então: a do menino e de uma senhora sobre a intercomunhão. Perguntas bonitas e profundas. O pastor daquela igreja é realmente bom!
Pe. Ulf Jonsson: Nos diálogos ecumênicos as diferentes comunidades deveriam tentar se enriquecer reciprocamente com o melhor de suas tradições. O que a Igreja Católica poderia aprender da tradição luterana?
Francisco: Penso em duas palavras: «reforma» e «Escritura». Vou me explicar. A primeira é a palavra «reforma». No início, o de Lutero foi um gesto de reforma num momento difícil para a Igreja. Lutero queria curar uma situação complexa. Depois, este gesto, também por causa de situações políticas, pensemos também na cuius regio eius religio, se tornou um “estado” de separação, e não um processo de reforma de toda a Igreja, que era fundamental, porque a Igreja é semper reformanda. A segunda palavra é “Escritura”, a Palavra de Deus. Lutero fez um grande passo para colocar a Palavra de Deus nas mãos do povo. Reforma e Escritura são as duas coisas fundamentais que podemos aprofundar, olhando a tradição luterana. Penso nas Congregações Gerais antes do Conclave e quanto o pedido de uma reforma tenha sido vivo e presente em nossas discussões.”
Pe. Ulf Jonsson: Somente uma vez antes do senhor, um Papa visitou a Suécia, Joao Paulo II, em 1989. Aquele era um tempo de entusiasmo ecumênico e desejo profundo de unidade entre católicos e luteranos. Desde então, o movimento ecumênico parece ter perdido o vigor e novos obstáculos surgiram. Como deveria ser geridos estes obstáculos? Quais são, a seu ver, os meios melhores para promover a unidade dos cristãos?
Francisco: Claramente cabe aos teólogos continuar a dialogar e estudar os problemas: sobre isso não tenho dúvidas. O diálogo teológico deve prosseguir, porque é um caminho a ser percorrido. Penso nos resultados que nesta estrada foram alcançados com o grande documento ecumênico sobre a justificação: foi um grande passo positivo. Certo, depois deste passo imagino que não será fácil ir adiante por causa das várias capacidades de compreender algumas questões teológicas. Perguntei ao Patriarca Bartolomeu se era verdade aquilo que se fala do Patriarca Atenágoras, ou seja, que teria dito a Paulo VI: “Nós vamos em frente e coloquemos os teólogos numa ilha para discutirem entre eles”. Me disse que é uma piada verdadeira. Mas sim, o diálogo teológico deve continuar, mesmo se não será fácil.
Pessoalmente, acredito que se deve mover o entusiasmo para a oração comum e as obras de misericórdia, ou seja, o trabalho feito em conjunto no sentido de ajudar os doentes, os pobres, os encarcerados. Fazer algo juntos é uma forma elevada e eficaz de diálogo. Penso também na educação. É importante trabalhar juntos e não maneira sectária. Devemos ter claro um critério em qualquer caso: fazer proselitismo no campo eclesial é pecado. Bento XVI nos disse que a Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração. O proselitismo é um comportamento pecaminoso. Seria como transformar a Igreja numa organização. Falar, rezar e trabalhar juntos: este é o caminho que devemos fazer. Veja, na unidade aquele que não erra nunca é o inimigo, o demônio. Quando os cristãos são perseguidos e mortos, são por serem cristãos e não porque são luteranos, calvinistas, anglicanos, católicos ou ortodoxos. Existe um ecumenismo de sangue.
Recordo-me de um episódio que vivi com o pároco da paróquia de Sankt Joseph em Wandsbek, Hamburgo. Ele levava adiante a causa dos mártires guilhotinados por Hitler, porque ensinavam o catecismo. Foram guilhotinados um atrás do outro. Depois dos dois primeiros, que eram católicos, foi morto um pastor luterano condenado pelo mesmo motivo. O sangue dos três se misturou. O pároco me disse que para ele era impossível continuar a causa de beatificação dos dois católicos sem inserir o luterano; o sangue deles foi misturado! Mas lembro-me também da homilia do Papa Paulo VI em Uganda, em 1964, que mencionava juntos, unidos, os mártires católicos e anglicanos.
Tive este pensamento quando eu também visitei Uganda. Isto acontece também em nossos dias: os ortodoxos, os mártires coptas mortos na Líbia. É o ecumenismo de sangue. Portanto, rezar juntos, trabalhar juntos e compreender o ecumenismo de sangue.
Pe. Ulf Jonsson: Uma das causas maiores de inquietude de nosso tempo é a difusão do terrorismo revestido de termos religiosos. O encontro de Assis acentuou também a importância do diálogo inter-religioso. Como o senhor viveu isso?
Francisco: Havia todas as religiões que têm contato com Santo Egídio. Encontrei aqueles que Santo Egídio contatou: eu não escolhi quem encontrar. Mas eram muitos, e o encontro foi muito respeitoso e sem sincretismo. Todos juntos falamos de paz e pedimos a paz. Dissemos juntos palavras fortes para a paz que as religiões realmente querem. Não se pode fazer guerra em nome da religião, de Deus: é uma blasfêmia, é satânico. Hoje, recebi cerca de 400 pessoas que estavam em Nice e saudei as vítimas, os feridos, pessoas que perderam esposas ou maridos ou filhos. Aquele louco que cometeu a tragédia a fez pensando de fazer em nome de Deus. Pobre homem! Era um desiquilibrado! Com caridade podemos dizer que era um desiquilibrado que procurou usar uma justificação em nome e Deus. Por isso, o encontro em Assis é muito importante. “
Pe. Ulf Jonsson: Mas o senhor recentemente falou também de outra forma de terrorismo, o das fofocas. Em que sentido e como ele pode ser vencido?
Francisco: Sim, existe o terrorismo interno e subterrâneo que é um vício difícil de extirpar. Descrevo o vício das murmurações e das fofocas como uma forma de terrorismo: é uma forma de violência profunda que todos temos à disposição na alma e que requer uma conversão profunda. O problema desse terrorismo é que todos podemos colocá-lo em prática. Toda pessoa é capaz de se tornar terrorista usando simplesmente a língua. Não falo de brigas que se fazem abertamente, como as guerras. Falo de um terrorismo furtivo, escondido, que se faz jogando as palavras como "bombas" e que faz muito mal. A raiz desse terrorismo está no pecado original, e é uma forma de crime. É uma forma de ganhar espaço para si destruindo o outro. É necessário, portanto, uma profunda conversão do coração para vencer esta tentação, e é preciso se examinar muito neste ponto de vista. A espada mata muitas pessoas, porém mata muito mais a língua, diz o apóstolo Tiago no terceiro capítulo de sua carta. A língua é um pequeno membro, mas pode desenvolver um fogo do mal e incendiar toda a nossa vida. A língua pode se encher de veneno mortal. Este terrorismo é difícil de domar.
Pe. Ulf Jonsson: A religião pode ser uma bênção, mas também uma maldição. Os meios de comunicação muitas vezes trazem notícias de conflitos entre grupos religiosos no mundo. Algumas afirmam que o mundo seria mais pacífico se não houvesse religião. O que responde a esta crítica?
Francisco: As idolatrias que estão na base de uma religião, não a religião! Existem idolatrias ligadas à religião: a idolatria do dinheiro, das inimizades, do espaço superior ao tempo, da concupiscência da territorialidade do espaço. Existe uma idolatria da conquista do espaço, do domínio, que ataca as religiões como um vírus maligno. A idolatria é uma religião falsa, é uma religiosidade errada. Eu a chamo “uma transcendência imanente”, ou seja, uma contradição. Ao invés, as religiões verdadeiras são o desenvolvimento da capacidade que tem um homem de se transcender rumo ao absoluto. O fenômeno religioso é transcendente e tem a ver com a verdade, a beleza, a bondade e a unidade. Se não há esta abertura, não há transcendência, não há religião verdadeira, existe idolatria. A abertura à transcendência não pode absolutamente ser causa de terrorismo, porque esta abertura está sempre unida à busca da verdade, da beleza, da bondade e da unidade.
Pe. Ulf Jonsson: O senhor muitas vezes falou em termos muito claros sobre situação terrível dos cristãos em algumas áreas do Oriente Médio. Existe ainda esperança por um desenvolvimento mais pacífico e humano para os cristãos naquela área?
Francisco: Acredito que o Senhor não deixará o seu povo a si mesmo, não o abandonará. Quando lemos sobres as provações duras do povo de Israel na Bíblia fazemos memória as provações dos mártires, constatamos como o Senhor sempre veio em auxílio ao seu povo. Recordamos no Antigo Testamento a morte dos sete filhos com a sua mãe no Livro dos Macabeus ou o martírio de Eleazar. Certamente, o martírio é uma das formas da vida cristã. Recordamos São Policarpo e a carta à Igreja de Esmirna que nos fala sobre as circunstâncias de sua prisão e sua morte. Sim, neste momento o Oriente Médio é a terra dos mártires. Podemos sem dúvida falar de uma Síria mártir e martirizada. Quero citar uma recordação pessoal que ficou no coração: em Lesbos encontrei um pai com duas crianças. Ele me disse que era muito apaixonado por sua esposa. Ele era muçulmano e ela cristã. Quando chegaram os terroristas, quiseram que ela tirasse a cruz, mas ela não quis e eles a degolaram diante de seu marido e seus filhos. Ele me continuou dizendo: “Eu a amo tanto, a amo tanto”. Sim, ela é uma mártir, mas o cristão sabe que existe esperança. O sangue dos mártires é a semente dos cristãos: sabemos desde sempre.
Pe. Ulf Jonsson: O senhor é o primeiro Papa não europeu há mais de 1.200 anos, e muitas vezes salientou a vida da Igreja em regiões consideradas “periféricas” do mundo. Onde, segundo o senhor, a Igreja católica terá as suas comunidades mais vivas nos próximos 20 anos? E de que modo as Igrejas na Europa poderão contribuir para o catolicismo do futuro?
Francisco: Esta é uma pergunta ligada ao espaço, à geografia. Eu tenho alergia de falar de espaços, mas digo sempre que das periferias se veem melhor as coisas do que do centro. A vivacidade das comunidades eclesiais não depende do espaço, da geografia, mas do espírito. É verdade que as Igrejas jovens têm um espírito mais fresco, e do outro lado, existem as Igrejas envelhecidas, Igrejas um pouco adormecidas, que parecem ser interessadas somente em conservar o seu espaço. Nestes casos, não digo que falta o espírito: existe sim, mas está fechado numa estrutura, numa maneira rígida, temorosa de perder o espaço. Nas Igrejas de alguns países se vê próprio que falta o frescor. Neste sentido, o frescor das periferias dá mais espaço ao espírito. É preciso evitar os efeitos de um mal envelhecimento das Igrejas. Faz bem reler o capítulo terceiro do Profeta Joel, ali onde diz que os idosos terão sonhos e que os jovens terão visões. Nos sonhos dos idosos existe a possibilidade de que os nossos jovens tenham novas visões, tenham novamente um futuro. Ao invés, as Igrejas às vezes são fechadas em programas, em programações. Eu admito: sei que são necessários, mas eu faço muita fadiga a colocar muita esperança nos organogramas. O espírito está pronto a impulsionar, a ir adiante. E o espírito se encontra na capacidade de sonhar e na capacidade de profetizar. Isto para mim é um desafio para toda a Igreja. E a união entre idosos e jovens é para mim o desafio do momento para a Igreja, o desafio para a sua capacidade de frescor. Por isso, em Cracóvia durante a Jornada Mundial da Juventude, recomendei aos jovens de conversar com os avós. A Igreja jovem rejuvenesce mais quando os jovens conversam com os idosos e quando os idosos sabem sonhar coisas grandes, porque isso faz com que os jovens profetizem. Se os jovens não profetizam falta respiro para a Igreja.
Pe. Ulf Jonsson: A sua visita à Suécia tocará um dos países mais secularizados no mundo. Boa parte de sua população não acredita em Deus, e a religião tem um papel um pouco modesto na vida pública e na sociedade. Segundo o Senhor, o que perde uma pessoa que não acredita em Deus?
Francisco: “Não se trata de perder alguma coisa. Trata-se de não desenvolver  adequadamente uma capacidade de transcendência. O caminho da transcendência dá lugar a Deus, e nisto são importantes também os pequenos passos, até mesmo o do ateu a ser agnóstico. O problema para mim é quando se fecha e se considera a própria vida perfeita em si mesma, portanto, fechada em si mesma, sem necessidade de uma transcendência radical. Mas para abrir aos outros a transcendência não é necessário fazer muitos discursos e palavras. Quem vive a transcendência é visível: é um testemunho vivo. No almoço que tive em Cracóvia com alguns jovens, um deles me perguntou: “O que deve dizer a um mio amigo que não acredita em Deus? Como faço para convertê-lo? Eu lhe respondi: “A última coisa que deve fazer é dizer alguma coisa. Aja! Viva! Depois, vendo a sua vida, o seu testemunho, talvez o outro irá perguntar porque você vive assim. Estou convencido de que quem não crer ou não procura Deus talvez não sentiu a inquietude de um testemunho. Isso está muito ligado ao bem-estar. A inquietude se encontra dificilmente no bem-estar. Por isso, acredito que contra o ateísmo, ou seja, contra o fechamento à transcendência, valem realmente, somente a oração e o testemunho.”
Pe. Ulf Jonsson: Os católicos na Suécia são uma pequena minoria, e na maior parte composta por imigrantes de várias nações do mundo. O senhor se encontrará com alguns deles celebrando a Missa em Malmö em 1° de Novembro. Como vê o papel dos católicos numa cultura como a sueca?
Francisco: “Vejo uma convivência saudável, onde cada um pode viver sua fé e expressar o seu testemunho, vivendo num espírito aberto e ecumênico. Não se pode ser católicos e sectários. Devemos nos esforçar para estar com os outros. "Católico" e "sectário" são duas palavras que se contradizem. É por isso que no início eu não previa celebrar uma missa para os católicos nesta viagem: Eu queria insistir num testemunho ecumênico. Depois eu refleti bem sobre o meu papel de pastor de um rebanho católico que chegará também dos países vizinhos, como a Noruega e a Dinamarca. Então, respondendo ao pedido fervoroso da comunidade católica, decidi celebrar uma missa, aumentando a viagem de um dia. Na verdade eu queria que a missa não fosse celebrada no mesmo dia e não no mesmo lugar do encontro ecumênico para evitar confundir os planos. O encontro ecumênico deve ser preservado em seu profundo significado, segundo um espírito de unidade, que é o meu. Isto criou problemas de organização, eu sei, porque eu vou estar na Suécia também no Dia de Todos os Santos, que aqui em Roma é importante. Mas, a fim de evitar mal-entendidos, eu quis que fosse assim.”
Pe. Ulf Jonsson: O senhor é um jesuíta. Desde 1879, os jesuítas desempenharam suas atividades na Suécia nas paróquias, com exercícios espirituais, com a revista «Signum», e nos últimos 15 anos, graças ao Instituto universitário «Newman». Quais compromissos e quais valores deveria caracterizar o apostolado dos jesuítas hoje neste país?
Francisco: Acredito que a primeira tarefa dos jesuítas na Suécia seja a de favorecer de toda forma o diálogo com aqueles que vivem na sociedade secularizada e com os não crentes: falar, partilhar, compreender e estar próximo. Depois, claramente é preciso favorecer o diálogo ecumênico. O modelo para os jesuítas suecos deve ser São Pedro Favre, que estava sempre a caminho e que foi guiado por um espírito bom, aberto. Os jesuítas não têm uma estrutura quieta. É preciso ter o coração inquieto e ter estruturas, sim, mas inquietas.
Pe. Ulf Jonsson: Quem é Jesus para Jorge Mario Bergoglio?
Francisco: Jesus para mim é Aquele que me olhou com misericórdia e me salvou. A minha relação com ele tem sempre este princípio e fundamento. Jesus deu sentido à minha vida aqui na terra, e esperança por uma vida futura. Com a misericórdia me olhou, me pegou, me colocou no caminho... E me deu uma graça importante: a graça da vergonha. A minha vida espiritual está toda contida no capítulo 16 de Ezequiel. Especialmente nos versículos finais, quando o Senhor revela que iria estabelecer a sua aliança com Israel dizendo-lhe: “Saberás que eu sou o Senhor, a fim de que te lembres e te cubras de vergonha, e na tua humilhação já não tenhas disposição de falar, quando eu tiver perdoado tudo quanto fizeste”. A vergonha é positiva: nos faz agir, mas nos faz entender qual é o nosso lugar, quem somos, impedindo todo orgulho e vaidade.
Pe. Ulf Jonsson: Uma palavra final, Santo Padre, sobre esta viagem à Suécia.
Francisco: O que me vem naturalmente para acrescentar agora é simples: ir, caminhar juntos! Não permanecer fechados em perspectivas rígidas, porque nelas não há possibilidade de reforma.
 * * *
O Papa, Pe. Spadaro e eu passamos juntos cerca de uma hora e meia. No final, Francisco nos acompanhou até o elevador. Ele nos recomendou de rezar por ele. As portas se fecharam enquanto ele nos saudava com a mão e com um sorriso radiante que nunca me esquecerei.
Do lado de fora já estava escuro. A cúpula de São Pedro, iluminada, revelava o seu esplendor enquanto entrávamos no carro para voltar em tempo para o jantar na comunidade de La Civiltà Cattolica. (MJ)
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