domingo, 31 de julho de 2022

O Papa no Angelus deste domingo:

é bom se tornar rico, mas rico segundo Deus

“Não se pode desejar ser rico? É claro que se pode, de fato, é justo desejá-lo, é bom se tornar rico, mas rico segundo Deus! Deus é o mais rico de todos: é rico em compaixão, em misericórdia. Sua riqueza não empobrece ninguém, não cria brigas e divisões. É uma riqueza que ama dar, distribuir, compartilhar”: disse o Papa no Angelus deste domingo, 31 de julho.

“Que Nossa Senhora nos ajude a compreender quais são os verdadeiros bens da vida, aqueles que permanecem para sempre”: foi o pedido do Papa à Virgem Maria no Angelus ao meio-dia deste XVIII Domingo do Tempo Comum.

Refletindo sobre a página do Evangelho do dia, Francisco destacou a passagem em Lc 12,13 em que um homem dirige um pedido a Jesus: "Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança". É uma situação muito comum, problemas semelhantes ainda são atuais: quantos irmãos e irmãs, quantos membros da mesma família infelizmente brigam, e talvez não falem mais um com o outro, por causa da herança! - frisou o Papa.

A ganância, uma doença que destrói as pessoas

Francisco observou que Jesus, respondendo a este homem, não entra em detalhes, mas vai à raiz das divisões causadas pela posse das coisas, e diz: "Precavei-vos cuidadosamente de qualquer cupidez".

O que é a cobiça? É a ganância desenfreada pelos bens, o querer sempre enriquecer-se. É uma doença que destrói as pessoas, porque a fome de posses gera dependência. Sobretudo aquele que tem tanto nunca se dá por satisfeito: sempre quer mais, e somente para si mesmo. Mas desta forma não é mais livre: é apegado, escravo daquilo que paradoxalmente deveria servir-lhe para viver livre e sereno. Em vez de servir-se do dinheiro, se torna servo do dinheiro. Mas a ganância é uma doença perigosa também para a sociedade: por causa dela chegamos hoje a outros paradoxos, a uma injustiça como nunca antes na história, onde poucos têm muito e muitos têm pouco. Pensemos também em guerras e conflitos: o anseio por recursos e riqueza está quase sempre envolvido. Quantos interesses estão por trás de uma guerra! Certamente, um deles é o comércio de armas. Este comércio é um escândalo ao qual não devemos e não podemos nos resignar.

Servir a riqueza é idolatria, é ofender a Deus

Francisco acrescentou que Jesus nos ensina hoje que, no cerne de tudo isso, não há apenas alguns poderosos ou certos sistemas econômicos: há a ganância que está no coração de cada um.

Dito isso, o Santo Padre convidou-nos a refletir sobre algumas perguntas:

Como está meu desapego dos bens, das riquezas? Eu me queixo do que me falta ou sei dar-me por satisfeito com o que tenho? Sou tentado, em nome do dinheiro e das oportunidades, a sacrificar as relações e o tempo para os outros? E mais ainda, me ocorre sacrificar a legalidade e a honestidade no altar da ganância? Eu digo "altar" porque bens materiais, dinheiro, riquezas podem se tornar um culto, uma verdadeira idolatria. Portanto, Jesus nos adverte com palavras fortes. Ele diz que não se pode servir a dois senhores, e - tenhamos cuidado - não diz Deus e o diabo, ou o bem e o mal, mas Deus e as riquezas. Servir-se da riqueza sim; servir a riqueza não: é idolatria, é ofender a Deus.

A vida não depende do que se possui

Então – podemos pensar - não se pode desejar ser rico? O Pontífice respondeu: é claro que se pode, de fato, é justo desejá-lo, é bom se tornar rico, mas rico segundo Deus! Deus é o mais rico de todos: é rico em compaixão, em misericórdia. Sua riqueza não empobrece ninguém, não cria brigas e divisões. É uma riqueza que ama dar, distribuir, compartilhar.

Antes de concluir, o Papa lembrou, por fim, o que realmente conta na vida:

Irmãos, irmãs, acumular bens materiais não é suficiente para viver bem, porque - diz Jesus novamente - a vida não depende do que se possui (cf. Lc 12,15). Em vez disso, depende de bons relacionamentos: com Deus, com os outros, e também com aqueles que têm menos. Então, nós nos perguntemos: como eu quero me enriquecer? De acordo com Deus ou de acordo com a minha ganância? E voltando ao tema da herança, que herança eu quero deixar? Dinheiro no banco, coisas materiais, ou pessoas contentes ao meu redor, boas obras que não são esquecidas, pessoas que eu ajudei a crescer e amadurecer?

Raimundo de Lima

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Assista:

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sábado, 30 de julho de 2022

Reflexão para seu domingo:

Ganância 

“Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. Foi o apelo de um anônimo saído do meio da multidão. A reivindicação por justiça proporcionou a Jesus abrir uma rica reflexão sobre a relação do homem com os bens materiais. (Eclesiastes 1,2;2,21-23, Salmo 89, Colossenses 3,1-5.9-11 e Lucas 12,13-21). Jesus responde à reivindicação com uma pergunta, um tanto enigmática: “Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?” Não dá uma solução para o caso particular. Porém, não foge do problema e direciona a resposta à origem dos problemas de herança. “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância”. A ganância pelos bens produz uma infinidade de conflitos e injustiças no ambiente familiar e social. 

Dom Rodolfo Luís

Os irmãos que repartem uma herança têm em comum os pais. Eles se originam da mesma fonte vital que lhes proporcionou o maior dom: a vida. Quando ocorre um conflito por causa da herança o amor pelos pais e pelos irmãos é substituído pelo amor as “coisas”. Esquece-se dos pais e briga-se para agarrar as coisas. O que antes unia agora divide.  

A seguir, Jesus alerta a todos: “Cuidado contra todo tipo de ganância”. A ganância se apresenta com muitas facetas e todas elas revelam egoísmo. A parábola contada por Jesus está repleta de raciocínios e ações na primeira pessoa: “O que vou fazer? Já sei o que fazer. Vou derrubar, vou guardar, poderei dizer a mim mesmo”. O egoísmo faz centralizar todos os raciocínios e ações nos interesses pessoais egoístas. 

A segunda marca da ganância é depositar a confiança e a segurança unicamente nas coisas, como também nelas colocar o sentido da vida e das relações sociais. “Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!”. Raciocina o personagem ganancioso da parábola.  

Uma das necessidades fundamentais da vida humana é a segurança, tanto física quanto de bens para garantir o amanhã. Faz-se necessário planejar e tomar as medidas necessárias, isto manifesta sabedoria humana e providência. O desequilíbrio acontece quando toda segurança é calcada na ganância egoísta e sobre bens materiais. A fragilidade humana e a morte não desaparecem “com a abundância dos bens”. O que aparentemente é tão seguro torna-se fonte de inquietação e angústia. 

Os ensinamentos do Evangelho são enriquecidos e problematizados com o livro do Eclesiastes. Diante de várias perguntas e conclusões o autor sagrado conclui dizendo: “vaidade das vaidades, tudo é vaidade”. Na nossa linguagem poderíamos dizer: “Tudo é uma bolha de sabão”. À primeira vista, parece que o Eclesiastes nega um sentido para a vida, a bondade da criação e a providência de Deus. O sábio, que escreveu este livro, é um homem que se pergunta e se esforça para entender o modo contraditório que se vive. É um olhar crítico sobre o mundo que vive de aparências e mentiras. 

De fato, para um ganancioso “que trabalhou com inteligência, competência e sucesso, vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou”, é vaidade. Porém, o cristão, alerta São Paulo, deve “esforçar-se por alcançar as coisas do alto, aspirar as coisas celestes e não às coisas terrestres”.  O cristão terá muita alegria em deixar como herança para a próxima geração uma abundância de bens espirituais, culturais, sociais e materiais. Porque sua vida não foi regida pela ganância, mas pela fraternidade, pelo desejo de dividir os bens, pois tem um Pai comum. 

Dom Rodolfo Luís Weber - Arcebispo de Passo Fundo (RS)

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A viagem do Papa ao Canadá

 em um minuto

Em um vídeo, os seis dias da 37ª Viagem Apostólica do Papa Francisco em terras canadenses, de oeste a leste e depois do norte rumo ao Ártico. Uma "peregrinação penitencial" na qual o Papa reiterou a indignação e a vergonha pela participação de muitos cristãos no sistema de escolas penitenciais, instrumento de assimilação cultural que causou consequências devastadoras para os povos indígenas. Um caminho para retomar a caminhada juntos rumo à reconciliação e à cura.

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Sábia reflexão:

Pai Nosso – Fórmula ou algo mais?

Se há uma oração que é enormemente aprendida e rezada, é a oração do “Pai-nosso”. Aprende-se e reza-se essa oração, pessoal e comunitariamente. Sabe-se que é a oração que Jesus de Nazaré ensinou aos seus discípulos e com eles começou uma corrente de ensino atravessando séculos de gerações. Chegou, assim, também à nossa geração!

Dom Jacinto Bergmann 

Porém, o principal acento que Jesus de Nazaré deu, ensinando a oração do “Pai-nosso”, muitas vezes não esteve presente. Ele não ensinou com o “Pai-nosso” uma fórmula de oração, no sentido de uma composição meramente literária. Esse acento de apenas uma “fórmula”, está presente quando nós dizemos: “vamos rezar a oração do ‘Pai-nosso’ por isso ou aquilo”, ou “vamos rezar a oração do ‘Pai-nosso’ neste momento” e tantas outras maneiras parecidas. 

O acento de Jesus de Nazaré, na verdade o único acento, ensinando a oração do “Pai-nosso”, é o de ensinar “como rezar” –  “um caminho de oração”. Foi justamente para responder ao desejo dos seus discípulos de que os ensinasse a rezar, que Jesus de Nazaré os ensinou “como rezar” – “um caminho de oração”.  

Sabemos que oração é um relacionamento com Deus. É um caminho de relação com Deus: deixar Ele se relacionar conosco e nós nos relacionarmos com Ele. Rezar corretamente é relacionar-se com Deus no amor e na verdade. 

No caminho de oração, presente no Pai-nosso, temos o caminho do relacionamento verdadeiro de Deus para conosco e de nós para com Ele. Como relacionar-se verdadeiramente, no amor e na verdade, com Deus? Jesus o ensinou assim: 

Primeiro: “Pai nosso”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco e pede que nós nos relacionemos como Ele como “Pai”. E relacionar-se com Deus-Pai é fazê-lo próximo de nós como fonte de vida. Isso requer que nós nos comportemos como filhos de Deus, logo, como irmãos uns dos outros. 

Segundo: “Que estais nos céus”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco e pede que nós nos relacionemos como Ele como “Senhor”. E relacionar-se com Deus-Senhor é fazê-lo soberano de toda a criação – Senhor do Universo. E isso requer que nós sejamos os cuidadores da Casa Comum. 

Terceiro: “Santificado seja o vosso nome”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco e pede que nós nos relacionemos com Ele como “Santo”. E relacionar-se com Deus-Santo, é torná-lo razão de ser de todo o existente. Isso requer que nós vivamos de tal modo que tudo se torne digno e assim santifiquemos o seu nome; encontremos unicamente Nele a razão de ser. 

Quarto: “Venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco e pede que nós nos relacionemos com Ele como “Rei”. E relacionar-se com Deus-Rei, é fazê-lo soberano da humanidade como a única plenitude. Isso requer de nós buscarmos somente Nele o sentido da vida nossa e dos outros. 

Quinto: “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco como Amor, na nossa relação de partilha com os irmãos. Relacionar-se com Deus-Amor, requer de nós a partilha e não o acúmulo, para que o “pão nosso de cada dia, esteja à disposição de todos. 

Sexto: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco como Amor, na nossa relação de perdão com o próximo. Relacionar-se com Deus-Amor, requer de nós o perdão mútuo e a luta contra todas as desigualdades. 

Sétimo: “E não nos deixeis cair em tentação”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco como Amor, na nossa relação de prudência conosco e com os irmãos. Relacionar-se com Deus-Amor, requer de nós não sermos tentação para os outros e também fugir das tentações que vem dos outros; trata-se da tentação de não sermos “imagem e semelhança de Deus” uns para com os outros. 

Oitavo: “Mas, livrai-nos de todo o mal”, isto é, Deus quer relacionar-se conosco como Amor, na nossa relação de liberdade de filhos de Deus. Relacionar-se com Deus-Amor, requer de nós nenhum pacto com o “espírito do mal” que somente nos escraviza; o nosso pacto somente é com Deus-Pai, com Deus-Soberano, como Deus-Santo, com Deus-Rei, com Deus-Amor. 

A oração do “Pai-nosso” não é uma fórmula, é algo mais: é o caminho de oração ensinado pelo Filho de Deus, Jesus de Nazaré. 

Dom Jacinto Bergmann - Arcebispo de Pelotas (RS)

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                                                                                                                              Fonte: cnbb.org.br

Encerramento da 37ª Viagem Apostólica do Papa:

Francisco despede-se do Canadá

O avião levando Francisco de volta para Roma decolou às 20h14, hora local, após a cerimônia de despedida da qual participou a governadora geral Mary Simon. Depois de percorrer 5.667 Km e cerca de 7h de voo, a chegada a Roma está prevista para pouco depois das 8 da manhã.

O Papa Francisco deixou o Canadá no início da noite desta sexta-feira, (hora local) partindo precisamente do aeroporto da cidade de Iqaluit, última etapa da sua 37ª Viagem Apostólica, que foi definida pelo próprio Pontífice como "peregrinação penitencial". Uma peregrinação para prosseguir o "caminho de cura e reconciliação" dos povos indígenas com a Igreja Católica que, se tendo adequado à mentalidade colonial e às políticas governamentais de assimilação dos séculos passados, provocou profundas feridas nas comunidades nativas, com abusos e crueldades. Edmonton, Maskwacis, Québec e Iqaluit foram as etapas de Francisco.

O avião levando Francisco de volta para Roma decolou às 20h14, hora local, após a cerimônia de despedida da qual participou a governadora geral Mary Simon. Depois de percorrer 5.667 Km e cerca de 7h de voo, a chegada a Roma está prevista por volta das 8h da manhã, hora local. Durante o vôo, o Papa Francisco responderá às perguntas dos jornalistas na habitual coletiva de imprensa a bordo.

O último dia de Francisco em terras canadense teve início com a missa em privado no arcebispado de Quebec onde pernoitou nos últimos dois dias. Na mesma sede do arcebispado o Santo Padre se encontrou com membros da Companhia de Jesus presentes no Canadá. Em seguida o encontro com uma delegação de indígenas de Quebec.

Neste encontro Francisco voltou a afirmar que veio ao Canadá não como turista, mas como amigo para encontrá-los, vê-los, ouvi-los, aprender e saber como vivem as populações indígenas deste país. “Vim como irmão – disse ainda Francisco - para descobrir pessoalmente os frutos bons e maus produzidos pelos membros da família católica local, no decurso dos anos. Vim com espírito penitencial, para lhes manifestar o pesar que sinto no coração pelo mal que não poucos católicos lhes causaram apoiando políticas opressivas e injustas aplicadas a vocês”.

Outro encontro com a população indígena ocorreu em Iqaluit, depois de um voo de cerca de 3 horas.

O Papa encontrou-se de forma privada com alguns alunos dessas ex-escolas residenciais. Alguns dirigiram palavras ao Santo Padre e a oração em conjunto do Pai Nosso.

Em seguida Francisco se dirigiu para o pátio da escola para o encontro com os jovens e com os idosos. Também alí, diante da comunidade Inuit o Papa disse que escutou vários ex-alunos das escolas residenciais: “obrigado – disse ele - pelo que tiveram a coragem de dizer, contando grandes sofrimentos. Isso despertou em mim a indignação e a vergonha que, há meses, me acompanham. Também hoje e aqui – afirmou - quero dizer-vos o grande pesar que sinto; e desejo pedir perdão pelo mal cometido por não poucos católicos que, naquelas escolas, contribuíram para as políticas de assimilação cultural e de alforria”.

O Canadá, 37ª Viagem Apostólica de seu pontificado é o 56º país que Francisco visita. Uma viagem muito desejada e na qual esteve no centro, o encontro e o abraço com os povos indígenas e a Igreja local.

Silvonei José, Quebec

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O Papa a jornalistas no voo de retorno:

o que foi praticado contra os indígenas foi um genocídio

No voo de retorno do Canadá, Francisco fala sobre a viagem que acaba de terminar e sobre o velho e novo colonialismo. Ele diz que ainda não pensou em renunciar, mas que "se pode mudar o Papa". Fala sobre o Caminho sinodal da Alemanha, o desenvolvimento da doutrina e a importância das mulheres na transmissão da fé.

O que foi praticado contra os indígenas foi um genocídio. Respondendo à pergunta de uma jornalista canadense, o Papa Francisco, no voo de retorno que de Iqaluit o trouxe de volta para Roma, falou sobre os temas da viagem que havia acabado de terminar e do colonialismo, antigo e novo. Mas ele também abordou a questão da renúncia ao pontificado, instado várias vezes pelas perguntas dos jornalistas, explicando que por enquanto ele não está pensando em renunciar, embora veja isso como uma possibilidade. No início da coletiva de imprensa, Francisco agradeceu aos repórteres que voavam com ele: “Boa-noite e obrigado pelo acompanhamento de vocês, pelo seu trabalho aqui, sei que trabalham muito e obrigado pela empresa, obrigado”.

Jessica Ka'Nhehsíio Deer (CBC Rádio - Canadá Indigenous: Como descendente de um sobrevivente de uma escola residencial, sei que os sobreviventes e suas famílias querem ver ações concretas após seus pedidos de desculpas, incluindo uma declaração sobre o fim da "Doutrina da descoberta". Nas Constituições nos Estados Unidos e no Canadá, os indígenas continuam sendo defraudados de suas terras e privados de poder sobre sua terra, por causa das bulas papais e da Doutrina da descoberta. Não pensa ter sido uma oportunidade perdida para fazer uma declaração nesse sentido durante sua viagem ao Canadá?

Francisco: Não entendi a segunda parte da pergunta. Pode explicar o que entende por Doutrina da descoberta?

Jessica Ka'Nhehsíio Deer: Quando falo com os indígenas, eles dizem que quando os colonos vieram para tomar suas terras, eles se referiram a esta doutrina que estabelecia que eles eram inferiores aos católicos. Foi assim que os EUA e o Canadá se tornaram países ...

Francisco: Obrigado pela pergunta. Creio que este é um problema de todo colonialismo, de todos eles. Ainda hoje: as colonizações ideológicas de hoje têm o mesmo esquema. Quem não entra em seu caminho, é inferior. Mas eu quero ir mais longe, sobre isso. Eram considerados não apenas inferiores: alguns teólogos ligeiramente loucos se perguntavam se tinham uma alma. Quando João Paulo II foi à África, para a porta onde os escravos embarcavam (Ilha Gorée, a porta sem retorno), ele fez um sinal para que pudéssemos entender o drama, o drama criminoso: aquelas pessoas eram jogadas no navio, em condições desastrosas, e depois se tornavam escravas na América. É verdade que havia vozes que falavam claro, como Bartolomeo de las Casas, por exemplo, Pedro Claver, mas eram a minoria. A consciência da igualdade humana veio lentamente. E digo consciência, porque no inconsciente ainda há algo ... Sempre, nós temos - permito-me dizer - como uma atitude colonialista de reduzir sua cultura à nossa. É algo que vem de nosso modo de vida desenvolvido, o nosso, que às vezes perdemos os valores que eles têm. Por exemplo: os povos indígenas têm um grande valor que é o valor da harmonia com a Criação e pelo menos alguns que eu conheço o expressam na palavra “viver bem”, que não significa, como entendemos os ocidentais, viver bem ou viver a dolce vita. Não. Viver bem é custodiar a harmonia. E e isso para mim é o grande valor dos povos originais: a harmonia. Estamos acostumados a reduzir tudo à cabeça: em vez disso, a personalidade dos povos originais - estou falando em geral - sabe se expressar em três línguas: a da cabeça, a do coração e a das mãos. Mas todos juntos e eles sabem como ter esta linguagem com a Criação. Então, este progresso acelerado do desenvolvimento, exagerado, neurótico que temos... Não estou falando contra o desenvolvimento: o desenvolvimento é bom. Mas não é boa aquela ansiedade que temos: desenvolvimento-desenvolvimento-desenvolvimento... Veja, uma das coisas que nossa sociedade perdeu foi a capacidade de poesia.

Os povos indígenas têm essa capacidade poética. Não estou idealizando. Então, esta doutrina da colonização: é verdade, é ruim, é injusta e é usada também hoje. A mesma coisa. Talvez com luvas de seda, mas é usada, hoje em dia. Por exemplo, alguns bispos de alguns países me disseram: Mas, nosso país, quando pede crédito a uma organização internacional, eles lhe impõem condições, mesmo condições legislativas, colonialistas. Para lhe dar crédito, eles fazem você mudar um pouco seu modo de vida. Voltando à nossa colonização da América, a dos ingleses, dos franceses, dos espanhóis, dos portugueses, sempre houve esse perigo, de fato, essa mentalidade: somos superiores e esses povos indígenas não contam, e isso é grave. É por isso que temos que trabalhar no que você diz: voltar e sanear, digamos, o que foi feito de errado, sabendo que o mesmo colonialismo existe hoje. Pense, por exemplo, em um caso, que é universal e eu ouso dizê-lo. Estou pensando no caso do Rohingya, em Mianmar: eles não têm direito à cidadania, são considerados de um nível inferior. Ainda hoje.

Brittany Hobson, (THE CANADIAN PRESS): O senhor fala frequentemente da necessidade de falar com clareza, honestidade e com parresia. O senhor sabe que a Comissão canadense para a verdade e a reconciliação descreveu o sistema das escolas residencias como um "genocídio cultural" e depois foi modificado como genocídio. Aqueles que ouviram seu pedido de perdão nos últimos dias expressaram seu desapontamento pelo fato de a palavra genocídio não ter sido usada. O senhor usaria estas palavras para dizer que membros da Igreja participaram de um genocídio?

Francisco: É verdade, não usei a palavra porque não me veio em mente, mas descrevi o genocídio e pedi perdão, perdão, por este “trabalho” que é genocida. Por exemplo, condenei isto também: tirar as crianças, mudar a cultura, mudar as mentes, mudar as tradições, mudar uma raça - digamos - uma cultura inteira. Sim, é uma palavra técnica genocídio, eu não a usei porque não me veio em mente, mas eu descrevi... é verdade, sim, é um genocídio. Não se preocupe, você pode relatar que eu disse que foi genocídio.

Valentina Alazraki (TELEVISA): Papa Francisco, suponhamos que esta viagem ao Canadá também foi um teste, uma prova, para sua saúde, para o que o senhor chamou de "limitações físicas" esta manhã. Por isso quisemos saber, depois desta semana, o que pode nos dizer sobre suas futuras viagens: se quer continuar viajando assim, se haverá viagens que não pode fazer por causa dessas limitações, ou se pensa que a operação no joelho poderia resolver mais a situação e (voltar a) viajar como antes.

Francisco: Não sei, acho que não posso ir no mesmo ritmo das viagens de antes. Penso que na minha idade e com esta limitação tenho que economizar um pouco para poder servir à Igreja. Ademais, pelo contrário, posso pensar na possibilidade de colocar-me de lado, isto, com toda honestidade, não é uma catástrofe, se pode mudar o Papa, se pode mudar, sem problemas. Mas eu acho que tenho que me limitar um pouco com estes esforços. A cirurgia do joelho não se terá, no meu caso. Os técnicos dizem que sim, mas há todo o problema da anestesia, eu passei por mais de seis horas de anestesia há dez meses e ainda há vestígios. Não se brinca com anestesia. É por isso que se pensa que não é totalmente conveniente. Tentarei continuar viajando e estar perto das pessoas porque acredito que seja uma forma de servir: a proximidade. Mas mais do que isso eu não posso dizer, espero.... No México ainda não há previsão, eh?

Valentina Alazraki: Não, não, eu sei disso, mas existe o Cazaquistão, e se vai ao Cazaquistão não deveria ir também à Ucrânia?

Francisco: Eu disse que gostaria de ir à Ucrânia. Vamos ver agora o que eu encontro quando chego em casa. No Cazaquistão no momento eu gostaria de ir, é uma viagem tranquila, sem muito movimento, é um congresso de religiões. Por enquanto, tudo permanece. Também tenho que ir ao Sudão do Sul antes do Congo, porque é uma viagem com o arcebispo de Cantuária e o bispo da Igreja da Escócia, porque nós fizemos todos os três um retiro, juntos, há dois anos... E depois ao Congo, mas isso será no próximo ano, porque há a estação das chuvas, vejamos... Eu tenho toda a boa vontade, mas vamos ver o que diz a perna.

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O Papa chega a Roma:

"Continuar na verdade, rumo à cura e reconciliação"

A viagem apostólica de Francisco ao Canadá chegou ao fim. O avião pousou no Aeroporto Internacional Leonardo Da Vinci, em Roma, após cerca de seis horas de voo. Em um tuíte na conta Pontifex, escreveu: "Vim como peregrino para caminhar com e para os povos indígenas".

Após cerca de seis horas de voo, o Papa Francisco chegou a Roma de retorno do Canadá às 8h06min locais (3h06 de Brasília), concluindo assim sua 37ª viagem apostólica internacional. Ao eco das canções e aplausos de jovens e idosos Inuit, protagonistas da última encontro da viagem, o Pontífice deixou ontem a cidade de Iqaluit, capital do Estado de Nanavut, para ir ao aeroporto local e despedir-se do Canadá.

Suas saudações, suas esperanças para o futuro, sua gratidão por esta “peregrinação penitencial”, Francisco confiou a um tuíte publicado em sua conta @Pontifex em dez línguas: "Vim ao Canadá como peregrino para caminhar com e para os povos indígenas: para que a busca da verdade possa continuar, nos caminhos da cura e da reconciliação, e a esperança possa ser semeada para os povos indígenas e não-indígenas, que desejam viver fraternalmente".

Tuíte para os povos indígenas

Novamente via tuíte, o Papa quis enviar uma mensagem pessoal a todos os povos indígenas que encontrou durante a viagem desta semana: “Queridos irmãos e irmãs dos povos indígenas - tuitou o Pontífice -, volto para casa carregando no coração um tesouro feito de pessoas e povos que me marcaram; de rostos, sorrisos e palavras; de histórias e lugares que sempre me acompanharão'. Obrigado a todos do fundo do meu coração!”

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O Papa em Santa Maria Maior
agradece a Nossa Senhora pela viagem ao Canadá

Francisco se deteve em oração diante do ícone de Nossa Senhora a quem confiara sua 37ª viagem apostólica internacional.

Na manhã deste sábado, 30 de julho, como faz habitualmente ao término de cada Viagem apostólica Internacional, o Papa Francisco foi até a Basílica de Santa Maria Maior, no centro de Roma, detendo-se em oração diante do ícone da Virgem Salus Populi Romani. Foi o que informou a Sala de Imprensa da Santa Sé.

O Santo Padre quis agradecer à Virgem, a quem confiou a sua 37ª Viagem apostólica Internacional nesta sua peregrinação penitencial no Canadá, no caminho da cura e reconciliação. Ao término da visita a Santa Maria Maior, o Papa Francisco retornou para o Vaticano.

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sexta-feira, 29 de julho de 2022

18º Domingo do Tempo Comum:

Leituras e Reflexão

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1ª Leitura:  Ecl 1,2;2,21-23

Leitura do Livro do Eclesiastes:

“Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade”. Por exemplo: um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso, vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou. Também isso é vaidade e grande desgraça.

De fato, que resta ao homem de todos os trabalhos e preocupações que o desgastam debaixo do sol? Toda a sua vida é sofrimento, sua ocupação, um tormento. Nem mesmo de noite repousa o seu coração. Também isso é vaidade.

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Responsório: Sl 89
- Vós fostes, ó Senhor, um refúgio para nós.
- Vós fostes, ó Senhor, um refúgio para nós.

- Vós fazeis voltar ao pó todo mortal,/ quando dizeis: “Voltai ao pó, filhos de Adão!”/ Pois mil anos para vós são como ontem,/ qual vigília de uma noite que passou.

- Eles passam como o sono da manhã,/ são iguais à erva verde pelos campos:/ de manhã ela floresce vicejante,/ mas à tarde é cortada e logo seca.

- Ensinai-nos a contar os nossos dias,/ e dai ao nosso coração sabedoria!/ Senhor, voltai-vos! Até quando tardareis?/ Tende piedade e compaixão de vossos servos!

- Saciai-nos de manhã com vosso amor,/ e exultaremos de alegria todo o dia!/ Que a bondade do Senhor e nosso Deus/ repouse sobre nós e nos conduza!/ Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho.

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2ª Leitura: Cl 3,1-5.9-11

Leitura da Carta de São Paulo aos Colossenses:

Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus.

Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória.

Portanto, fazei morrer o que em vós pertence à terra: imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça, que é idolatria.

Não mintais uns aos outros. Já vos despojastes do homem velho e da sua maneira de agir e vos revestistes do homem novo, que se renova segundo a imagem do seu Criador, em ordem ao conhecimento.

Aí não se faz distinção entre judeu e grego, circunciso e incircunciso, inculto, selvagem, escravo e livre, mas Cristo é tudo em todos.

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Evangelho: Lc 12,13-21

Proclamação do Evangelho de São Lucas:

Naquele tempo, alguém, do meio da multidão, disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. Jesus respondeu: “Homem, quem me encarregou de julgar ou de dividir vossos bens?”

E disse-lhes: “Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”.

E contou-lhes uma parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: ‘O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’.

Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e fazer maiores; neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!’ Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda esta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?’ Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico diante de Deus”.

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Reflexão do padre Johan Konings:

Riqueza insensata

A liturgia de hoje ensina a vaidade da riqueza. Para que tanto trabalhar, se nada podemos levar e devemos deixar o fruto de nosso trabalho para outros (1ª  leitura)? Os pais arrecadam, os filhos aproveitam, os netos põem a perder… No evangelho, Jesus ilustra essa realidade com a parábola do homem que chegou a assegurar sua vida material, mas na mesma noite iria morrer … Quem é materialista e só quer conhecer os prazeres deste mundo, para este o ensinamento de Jesus é indigesto, mas nem por isso deixa de ser verdade. Não levamos nada daqui. As riquezas materiais não têm valor duradouro, nem podem ser o fim ao qual o homem se dedica.

Talvez o consumismo de hoje tenha isto de bom: lembra-nos essa precariedade. O produto que compramos hoje amanhã já saiu da moda, e depois de amanhã nem haverá mais peças de reposição para consertá-lo. Nossa nova TV estará fora de moda antes que tivermos completado as prestações … Por outro lado, esse consumismo é grosseira injustiça, pois gastamos em uma geração os recursos das gerações futuras. Se as coisas valem tão pouco, melhor seria não as comprar, e voltar a uma vida mais simples e mais desprendida. Haveria recessão econômica, mas também haveria menos necessidade de dinheiro para ser gasto.

A caça à riqueza material é um beco sem saída. A razão por que se insiste em produzir sempre mais é que os donos do mundo lucram com a produção, sobretudo das coisas supérfluas que enchem as prateleiras das lojas. Para vender esses supérfluos, criam nas pessoas a necessidade de possuí-las, mediante a publicidade na rua, no jornal e na televisão. Quando então as pessoas não conseguem adquirir todas essas coisas, ficam irrequietas; quando conseguem, ficam enjoadas; e nos dois casos aparece mais uma necessidade: a psicoterapia …

A “sabedoria do lucro” é injusta e assassina. Leva as pessoas a desconsiderar os fracos. Um proeminente político deste país disse que “quem não pode competir não deve consumir” … O sistema do lucro e do desejo sempre mais acirrado precisa manter as desigualdades, pois parte do pressuposto que todos querem superar a todos. Tal sistema é “intrinsecamente pecaminoso”, disseram os papas Paulo VI e João Paulo II.

Ser rico, não para si, mas para Deus … Não amontoar riquezas que na hora do juízo serão as testemunhas de nossa avareza, injustiça e exploração (cf. Tg 5,1-6), mas riquezas que constituam a alegria de Deus!

Não adianta muito discutir se a produção tem que ser capitalista ou socialista, enquanto não se tem claro que o ser humano não existe para a produção, e sim a produção para o ser humano. E este, se for sábio, tentará precisar dela o menos possível.

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PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

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Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella:


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                                           Reflexões e ilustração: franciscanos.org.br        Banner: cnbb.com.br 

O Papa aos indígenas nesta sexta-feira::

prosseguir na busca da verdade semeando esperança

“Já próximo da conclusão desta intensa peregrinação, quero dizer-vos que, se já vinha animado por estes desejos, volto para casa muito mais enriquecido, porque levo no coração o tesouro incomparável feito de pessoas e populações que me marcaram; tesouro de rostos, sorrisos e palavras que permanecem no meu íntimo; de histórias e lugares que não poderei esquecer; de sons, cores e emoções que vibram intensamente dentro de mim”: disse o Papa Francisco a uma Delegação de Indígenas presentes no Québec.

“Vim ao Canadá como amigo para vos encontrar, para ver, ouvir, aprender e apreciar como vivem as populações indígenas deste país, não vim como turista. Vim como irmão, para descobrir pessoalmente os frutos bons e maus produzidos pelos membros da família católica local, no decurso dos anos. Vim com espírito penitencial, para vos manifestar o pesar que sinto no coração pelo mal que não poucos católicos vos causaram apoiando políticas opressivas e injustas aplicadas a vós.”

Foi o que disse o Papa no encontro esta sexta-feira, 29 de julho, com uma delegação de indígenas presentes no Québec, em seu último dia desta peregrinação penitencial no Canadá, no caminho da cura e reconciliação. De fato, o encontro, no Arcebispado na cidade de Québec, foi ocasião para mais uma vez Francisco ressaltar o espírito penitencial que caracteriza esta sua visita em terras canadenses.

Semear esperanças para as futuras gerações

“Vim como peregrino, com as minhas limitadas possibilidades físicas, para dar novos passos avante convosco e a vosso favor: para que se prossiga na busca da verdade, progrida na promoção de percursos de cura e reconciliação, para que se continue para diante semeando esperança para as futuras gerações de indígenas e não indígenas que desejam viver juntos, fraternalmente, em harmonia”, frisou.

Já no início de sua saudação à delegação de indígenas, o Santo Padre os havia agradecido por terem se deslocado até ali, vindos de vários lugares do Québec e lembrou que os momentos de sua visita são caracterizados pela frase Caminhar Juntos.

Dias intensos convosco, sinto parte da vossa família

“Mas, já próximo da conclusão desta intensa peregrinação, quero dizer-vos que, se já vinha animado por estes desejos, volto para casa muito mais enriquecido, porque levo no coração o tesouro incomparável feito de pessoas e populações que me marcaram; tesouro de rostos, sorrisos e palavras que permanecem no meu íntimo; de histórias e lugares que não poderei esquecer; de sons, cores e emoções que vibram intensamente dentro de mim. Verdadeiramente posso afirmar que, enquanto vos visitava, as vossas realidades, as realidades indígenas desta terra, visitaram o meu íntimo: entraram em mim e sempre me acompanharão. Ouso dizer – se mo permitis – que de certo modo, agora, também eu me sinto parte da vossa família e disso me sinto honrado”, disse.

Antes de concluir, o Pontífice destacou a figura de três mulheres, reiteradas vezes evocadas durante estes dias de sua viagem apostólica ao Canadá.

Santa Ana, a Virgem Maria e Santa Catarina Tekakwitha

“Desejo confiar tudo o que vivemos nestes dias e a prossecução do caminho que nos espera à cuidadosa solicitude de quem sabe guardar o que conta na vida: penso nas mulheres, particularmente em três delas. Primeiro, em Santa Ana, cuja ternura e proteção pude sentir ao venerá-la juntamente com um povo de Deus que reconhece e honra as avós. Segundo, penso na Santa Mãe de Deus: nenhuma criatura merece mais do que Ela ser definida peregrina, porque sempre – também hoje, mesmo agora – está a caminho: a caminho entre Céu e terra, para cuidar de nós por conta de Deus e para nos conduzir pela mão ao seu Filho. Finalmente, com frequência nestes dias, a minha oração e o meu pensamento detiveram-se numa terceira mulher que nos acompanhou com a sua suave presença e cujos restos mortais se conservam não muito longe daqui: refiro-me a Santa Catarina Tekakwitha. Veneramo-la pela sua vida santa, mas não poderemos pensar que a sua santidade de vida, caraterizada por uma dedicação exemplar à oração e ao trabalho, bem como pela capacidade de suportar com paciência e mansidão tantas provações, tenha sido possível também por certos traços nobres e virtuosos herdados da sua comunidade e do ambiente indígena onde cresceu?”

Por fim, o Papa confiou a Elas que abençoem este caminho comum de cura e reconciliação: “Que Elas abençoem o nosso caminho comum, intercedam por nós e por esta grande obra de cura e reconciliação tão agradável a Deus”. Francisco abençoou os presentes, agradecendo mais uma vez, e pediu que continuem rezando por ele.

Raimundo de Lima

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Assista:

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