terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Papa em Kinshasa:

“Trago solidariedade, afeto e consolação de toda a Igreja”

Usando o “diamante” como metáfora, produto que simboliza a beleza das terras congolesas, o Papa falou sobre vários aspectos da realidade do país, incentivando a valorização do povo, sua educação, respeito e a transparência nos governos. Assim como a ação da sociedade civil e das religiões. Encontro realizado no Palais de la Nation, em Kinshasa, nesta terça-feira, 31 de janeiro.

Em seu primeiro discurso em terras congolesas, nesta terça-feira (31/01) o Papa Francisco encontrou no Palais de la Nation, em Kinshasa as autoridades, a sociedade civil e o Corpo Diplomático. Depois de agradecer a saudação do Presidente o Papa iniciou seu discurso aos presentes falando da beleza natural do país, é “como um continente no grande continente africano, parece que toda a terra respira”, porém, continuou, “se a geografia deste pulmão verde é tão rica e matizada, já a história não se mostrou igualmente generosa: atormentada pela guerra, a República Democrática do Congo continua a padecer”. “E enquanto vós, congoleses”, continuou Francisco “lutais para salvaguardar a vossa dignidade e a vossa integridade territorial contra condenáveis tentativas de fragmentar o país, venho até junto de vós, em nome de Jesus, como um peregrino de reconciliação e de paz. Muito desejei estar aqui e, finalmente, venho trazer-vos a solidariedade, o afeto e a consolação de toda a Igreja e aprender com o vosso exemplo de paciência, de coragem e de luta”.

A imagem do diamante

Em seguida Francisco disse que para falar aos presentes se serviria de uma imagem que bem simboliza a luminosa beleza desta terra: “a imagem do diamante”. “O vosso país é verdadeiramente um diamante da criação; mas vós, todos vós, sois infinitamente mais preciosos do que qualquer bem que brote deste solo fecundo! Exortando os presentes:

“Coragem, irmão e irmã congoleses! Levanta-te, retoma nas mãos, como um diamante puríssimo, aquilo que és, a tua dignidade, a tua vocação de guardar na harmonia e na paz a casa que habitas. Revive o espírito do teu hino nacional, sonhando e pondo em prática as suas palavras: ‘Através dum trabalho duro, construiremos um país mais belo do que antes; em paz’”

Colonialismo econômico

Depois o Papa anunciou que gostaria de lançar um apelo neste início de sua viagem: “que cada congolês se sinta chamado a fazer a sua parte! Que a violência e o ódio não tenham mais lugar no coração e nos lábios de ninguém, porque são sentimentos anti-humanos e anticristãos, que paralisam o desenvolvimento e fazem retroceder para um passado sombrio”. De fato, continuou, depois da exploração política, desencadeou-se um ‘colonialismo econômico’ igualmente escravizador. Assim, disse o Papa “largamente saqueado, este país não consegue beneficiar suficientemente dos seus recursos imensos: chegou-se ao paradoxo de os frutos da sua terra o tornarem ‘estrangeiro’ para os próprios habitantes. O veneno da ganância tornou os seus diamantes ensanguentados”. E disse:

“Tirem as mãos da República Democrática do Congo, tirem as mãos da África! Basta com este sufocar a África: não é uma mina para explorar, nem uma terra para saquear. Que a África seja protagonista do seu destino!”

Não podemos habituar-nos ao sangue

“Olhando para este povo", refletiu, "fica-se com a impressão de que a Comunidade Internacional se tenha quase resignado com a violência que o devora. Não podemos habituar-nos ao sangue que, há décadas, corre neste país ceifando milhões de vidas, sem que muitos o saibam. Seja conhecido tudo o que acontece aqui”. Também o Papa recorda que não falta quem contribua para o bem da população local e para um efetivo desenvolvimento: “Expresso imensa gratidão aos países e às organizações que fornecem ajudas substanciais nessa linha, ajudando na luta contra a pobreza e as doenças, apoiando o estado de direito, promovendo o respeito pelos direitos humanos".

Adesão obstinada à própria etnia ou a interesses particulares

Para recordar as causas desta situação difícil Francisco volta à imagem do diamante: “Voltemos à imagem do diamante. Uma vez trabalhado, a sua beleza deriva também de numerosas faces harmoniosamente dispostas. De igual modo este país, enriquecido pelo seu típico pluralismo, possui um caráter poliédrico. É uma riqueza que deve ser salvaguardada, evitando cair no tribalismo e na contraposição". 

“A adesão obstinada à própria etnia ou a interesses particulares, alimentando espirais de ódio e violência, reverte em detrimento de todos”

Explicando em seguida: “Metáfora a parte; o problema não é a natureza dos homens ou dos grupos étnicos e sociais, mas o modo em que se decide estar juntos: querer ou não encontrar-se, reconciliar-se e recomeçar, marca a diferença entre a obscuridade do conflito e um luminoso futuro de paz e prosperidade”.

O poder só tem sentido se se torna serviço

Ao falar sobre a transparência e brilho no trabalho, usando sempre a metáfora do diamante, disse: “O diamante, na sua transparência, refrata de maneira maravilhosa a luz que recebe. Assim, quem detém responsabilidades civis e governamentais é chamado a atuar com clareza cristalina, vivendo o encargo recebido como um meio para servir a sociedade. De fato, o poder só tem sentido se se torna serviço”. Recomendando em seguida:

“Não se deixem manipular nem comprar por quem quer manter o país na violência para o explorar e fazer negócios vergonhosos: isto só traz descrédito e vergonha, juntamente com morte e miséria”

Ao contrário, disse com ênfase o Papa, “é bom aproximar-se das pessoas, para se dar conta do modo como vivem. As pessoas fiam-se quando sentem que o indivíduo que as governa se faz realmente próximo, não por cálculo nem exibicionismo, mas por serviço”.

A educação é fundamental

“Um diamante sai da terra genuíno mas em estado bruto, carecendo de ser trabalhado”, acrescentou. “Assim, também os diamantes mais preciosos da terra congolesa, que são os filhos desta nação, devem poder usufruir de válidas oportunidades educativas, que lhes permitam fazer frutificar plenamente os brilhantes talentos que possuem. A educação é fundamental: é o caminho para o futuro, o caminho a percorrer para se alcançar a plena liberdade deste país e do continente africano”.

A dureza do diamante: o povo congolês

Por fim, Francisco concluiu seu discurso recordando que o diamante é o mineral de origem natural com maior dureza. “A contínua repetição de ataques violentos e as numerosas situações de transtorno poderiam enfraquecer a resistência dos congoleses, levá-los a desanimar e fechar-se na resignação. Mas em nome de Cristo, que é o Deus da esperança, o Deus de todas as possibilidades que sempre dá a força para recomeçar, em nome da dignidade e do valor dos diamantes mais preciosos desta terra esplêndida que são os seus cidadãos, quero convidar a todos para um recomeço social corajoso e inclusivo

Jane Nogara - Vatican News

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segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Papa Francisco sobre a viagem apostólica à África:

“Farei uma peregrinação ecumênica de paz”

Depois da oração do Angelus (domingo - 29/01), o Papa Francisco falou sobre a sua próxima Viagem Apostólica à África que vai ocorrer de 31 de janeiro a 5 de fevereiro. Estas foram suas palavras:

“Depois de amanhã partirei para uma Viagem Apostólica à República Democrática do Congo e à República do Sudão do Sul. Enquanto agradeço às Autoridades civis e aos Bispos locais pelos convites e pelos preparativos para estas visitas, saúdo com carinho às queridas populações que me esperam”.

Aquelas terras, situadas no centro do grande continente africano, são provadas por longos conflitos: a República Democrática do Congo sofre, especialmente no lado Oriental do país, pelos confrontos armados e exploração; enquanto o Sudão do Sul, dilacerado por anos de guerra, não vê a hora que terminem as violências que obrigam tantas pessoas a viverem deslocadas e em condições de grandes dificuldades.

No Sudão do Sul, chegarei junto com o Arcebispo de Cantuária e o Moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia: assim faremos juntos, como irmãos, uma peregrinação ecumênica de paz, para invocar de Deus e do homem o fim das hostilidades e a reconciliação”. E concluiu pedido que todos o acompanhem com orações pelo bom êxito da sua Viagem.

De 31 de janeiro a 5 de fevereiro será  a primeira viagem internacional de Francisco em 2023, o primeiro Papa em 37 anos a retornar à República Democrática do Congo, o primeiro a tocar o solo do Sudão do Sul, o país mais jovem do mundo desde a declaração de independência em 2011.

Com informações Vatican News e foto: Vatican Media

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                                                                                                                             Fonte: cnbb.org.br

Aprendendo com o padre Zezinho:

FAZ 60 ANOS QUE ENSINAMOS ISTO!

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E faz 60 anos que há católicos que rejeitam as atualizações da nossa Igreja desde o Vaticano II.

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Em:

MEDELLIN (1968)

Puebla (1979)

Santo Domingo (1992)

Aparecida (2017)

DSI (2004)

a Igreja Católica sempre se preocupou com os mais pobres e com o diálogo político e social e ecumênico.

Um documento inteiro (GAUDIUM et SPES) falou em 1965 das dores e esperanças do mundo!

E 25 encíclicas (cartas dos Papas a todos os católicos do mundo) sobre assuntos sociais.

No Documento de Aparecida há 19 novos rostos de sofrimento do Continente Latino Americano (20O7)

Mas muitos católicos nem sabiam, outros nem leram, outros nem quiseram saber o que nossa Igreja ensinou nestes últimos 60 anos.

Porém, não tendo lido quase nada, milhares de católicos revoltados, porque são extremistas da direita ou da esquerda, voltaram-se contra nós, padres, achando que somos todos comunistas ou capitalistas. Na verdade, éramos e somos CATEQUISTAS! Colocam todos nós no mesmo balaio dos seus preconceitos.

Desde 1965 estamos ensinando DOUTRINA CATÓLICA para quem não têm estes livros.

E faz 60 anos que falamos dos marginalizados, dos índios, dos negros, dos desempregados e dos sem teto e sem chance!

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Eis um texto de 20O7.

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65. Isso nos deveria levar a contemplar os rostos daqueles que sofrem. Entre eles, estão as comunidades indígenas e afro- / americanas que, em muitas ocasiões, não são tratadas com dignidade e igualdade de condições; muitas mulheres são excluídas, em razão de seu sexo, raça ou situação sócio-econômica; jovens que recebem uma educação de baixa qualidade e não têm oportunidades de progredir em seus estudos nem de entrar no mercado de trabalho para se desenvolver e constituir uma família; muitos pobres, desempregados, migrantes, deslocados, agricultores sem-terra, aqueles que procuram sobreviver na economia informal; meninos e meninas submetidos à prostituição infantil, E ligada muitas vezes ao turismo sexual; também as crianças vítimas do aborto. Milhões de pessoas e famílias vivem na miséria e inclusive passam fome. Preocupam-nos também os dependentes das drogas, as pessoas com limitações físicas, os portadores e vítimas de enfermidades graves como a malária, a tuberculose (o e HIV-AIDS, que sofrem a solidão e se vêem excluídos da convivência familiar e social. Não esquecemos também os sequestra dos e os que são vítimas da violência, do terrorismo, de conflitos d armados e da insegurança na cidade. Também os anciãos que, além de se sentirem excluídos do sistema produtivo, vêem-se muitas vezes recusados por sua família como pessoas incômodas e inúteis. Sentimos as dores, enfim, da situação desumana em que vive a grande maioria dos presos, que também necessitam de nossa presença solidária e de nossa ajuda fraterna.

PENA QUE NUNCA OUVIU ISTO NOS GRUPOS QUE VC SEGUE!

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                                                                                 Fonte: www.facebook.com/padrezezinhoscj

domingo, 29 de janeiro de 2023

Papa Francisco no Angelus deste domingo:

não podemos desperdiçar os dons que temos e recebemos

Ao falar sobre a primeira das Bem-aventuranças “os pobres em espírito”, Francisco recordou que “eles conservam o que recebem; por isso, desejam que nenhum dom seja desperdiçado”, apontando três desafios contra a mentalidade do desperdício.

Neste IV Domingo do Tempo Comum, (29/01) o Papa Francisco na oração do Angelus falou sobre as Bem-aventuranças segundo o Evangelho de Mateus. "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus" (v. 3). Francisco quis esclarecer “quem são os pobres em espírito” explicando que são aqueles que sabem que não são suficientes por si mesmos, que não são auto-suficientes e vivem como "mendigos de Deus": “sentem necessidade de Deus e reconhecem que o bem vem d’Ele, como um dom, como uma graça”. E depois de observar que os pobres em espírito conservam o que recebem; afirma "por isso, desejam que nenhum dom seja desperdiçado. Disse que hoje se deteria neste aspecto típico dos pobres em espírito: não desperdiçar.

Contra a mentalidade do desperdício

E para isso o Papa propôs três desafios contra a mentalidade do desperdício. Primeiro desafio: não desperdiçar o dom que somos. “Cada um de nós é um bem, independentemente dos dotes que temos”, afirmou. “Cada mulher, cada homem é rico não apenas de talentos, mas de dignidade, é amado por Deus, é valioso, é precioso”.

“Jesus nos lembra que somos bem-aventurados não pelo que temos, mas pelo que somos. A verdadeira pobreza, portanto, é quando uma pessoa se abandona e se deteriora, desperdiçando a si mesma. Lutemos, com a ajuda de Deus, contra a tentação de nos considerarmos inadequados, errados, e de sentir pena de nós mesmos”

Não desperdiçar os dons que temos

Depois, o segundo desafio: não desperdiçar os dons que temos. Aqui o Papa refere-se ao desperdício que nos é dado pela criação, os alimentos que são desperdiçados enquanto tanta gente morre de fome: 

“Os recursos da criação não podem ser usados dessa maneira; os bens devem ser conservados e compartilhados, para que não falte a ninguém o que é necessário. Não desperdicemos o que temos, mas difundamos uma ecologia da justiça e da caridade!”

Não descartar as pessoas

Enquanto que o terceiro desafio: não descartar as pessoas, Francisco fala sobre a cultura do descarte explicando que se joga fora egoisticamente quando alguém não nos interessa mais.

“Mas as pessoas não podem ser jogadas fora, nunca! Cada um é um dom sagrado e único, em todas as idades e em todas as condições. Respeitemos e promovamos sempre a vida!”

Concluindo o Santo Padre propôs nos questionarmos sobre estes três desafios, “Antes de tudo, como vivo a pobreza de espírito? Será que dou lugar a Deus, será que acredito que Ele seja o meu bem, minha verdadeira e grande riqueza?”. E depois: “tenho o cuidado de não desperdiçar, sou responsável pelo uso das coisas, dos bens? E eu estou disposto a compartilhá-los com outros?” Por fim o Papa recordou que devemos nos perguntar: “considero os mais frágeis como dons preciosos, que Deus me pede para cuidar? Será que me recordo dos pobres, daqueles que não têm o necessário?”.

 Jane Nogara - Vatican News

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Assista:

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                                                                                                                       Fonte: vaticannews.va

sábado, 28 de janeiro de 2023

Papa aos sacerdotes da pastoral juvenil:

nunca se enraizar, viver com espírito livre

"Jamais devemos nos enraizar, nem no grupo cristão ao qual pertencemos, nem na responsabilidade que nos foi confiada, mas viver com espírito livre, em uma saudável indiferença". Palavras do Papa Francisco aos sacerdotes da Arquidiocese de Barcelona comprometidos com o trabalho na pastoral juvenil.

Na manhã deste sábado (28/01) o Papa Francisco recebeu os sacerdotes da Arquidiocese de Barcelona comprometidos com o trabalho na pastoral juvenil na Sala Clementina no Vaticano. Na ocasião o Papa Francisco entregou o discurso preparado e falou de improviso com os sacerdotes. Abaixo detalhes do discurso preparado.

A importância de caminhar juntos

Ao iniciar a sua saudação o Papa logo recordou que “a experiência dos apóstolos tem sempre um duplo aspecto, pessoal e comunitário. Caminham juntos e não podemos separá-los. Somos de fato chamados individualmente, mas sempre para fazer parte de um grupo maior, para caminhar juntos escutando antes de falar, para saber como nos colocar onde é apropriado, mesmo no meio ou atrás, e não apenas na frente”.

Abracemos a cruz e as mediações da Igreja

“Jesus nos chama a partir da nossa pobreza”, acrescentou o Papa, “da nossa fragilidade, devemos responder a este chamado com um eterno propósito de conversão”. Em seguida frisou o seguinte ponto: “É preciso rejeitar o carreirismo, a vida dupla, a busca das satisfações mundanas, abraçando a cruz e as mediações da Igreja: sacramentos, vida de oração, ascese, etc. Ao mesmo tempo”, continuou, “devemos ser capazes de misericórdia precisamente porque somos tocados pela misericórdia do Senhor, não dando lições, mas testemunhando uma experiência de intimidade com Deus”.

Viver com espírito livre, em uma saudável indiferença

Francisco finalizou o discurso aos sacerdotes encorajando-os: “Devemos buscar a fraternidade em todos os âmbitos sociais, aprender e ensinar a acolher a todos, a trabalhar com todos, a buscar soluções consensuais que tenham um amplo alcance. Jamais devemos nos enraizar, nem no grupo cristão ao qual pertencemos, nem na responsabilidade que nos foi confiada, mas viver com um espírito livre, em uma saudável indiferença".

Jane Nogara - Vatican News

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A carta do Papa
ao Padre James Martin sobre homossexualidade e pecado

Em uma carta ao padre jesuíta, o Papa Francisco diz que em sua recente entrevista à Associated Press, na qual, entre outras coisas, ele disse que "ser homossexual não é crime", estava se referindo à doutrina católica que ensina que qualquer ato sexual fora do casamento é pecado.

"Eu simplesmente me referia ao ensinamento da moral católica, que diz que qualquer ato sexual fora do casamento é pecado": isto é o que o Papa escreveu ao responder a uma carta do Padre James Martin, o jesuíta estadunidense que realiza seu apostolado entre as pessoas LGBT, para esclarecer o significado de suas palavras em uma recente entrevista à Associated Press. A resposta escrita à mão do Papa, em espanhol, foi publicada no site do Padre Martin 'Outreach.faith'.

Já a partir do contexto da entrevista com a Associated Press ficou claro que o Papa havia falado da homossexualidade, referindo-se naquele caso a "atos homossexuais" e não a condição homossexual em si. Com esta resposta, Francisco reiterou que a sua posição, já repetida desde a primeira entrevista com jornalistas no voo de volta do Brasil em 2013 ("Se uma pessoa é gay e busca o Senhor e tem boa vontade, mas quem sou eu para julgá-la?") é a do Catecismo da Igreja Católica.

Respondendo ao Padre Martin, o Papa também enfatizou, com relação ao pecado, que "também devem ser consideradas circunstâncias, que diminuem ou anulam a culpa", porque "sabemos bem que a moral católica, além da matéria, valoriza a liberdade, a intenção; e isto, para todo tipo de pecado".

Portanto, na carta o Papa reitera o que disse na entrevista à Associated Press: "Aos que querem criminalizar a homossexualidade, eu gostaria de dizer que estão errados". Na entrevista ele destacou que "ser homossexual não é crime", enquanto existem mais de 50 países que têm condenações legais para as pessoas homossexuais e alguns destes países têm até a pena de morte.

A carta se conclui com a oração do Papa pelo trabalho do Padre Martin e pela comunidade LGBT que ele segue, e acrescenta: "Por favor, faça o mesmo por mim".

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                                                                                                                       Fonte: vaticannews.va

Reflexão para

o IV Domingo do Tempo Comum

Jesus declara bem-aventurado um mundo novo, de acordo com os planos do Pai. Ele quer salvar aqueles que ainda vivem no mundo antigo, corrompido, onde os únicos valores são riqueza, poder e glória.

A liturgia deste domingo nos apresenta, para nossa reflexão, o tema da humildade. Na primeira leitura, o Profeta Sofonias nos recomenda a humildade para encontrarmos refúgio no Senhor e para a prática da justiça. Isto porque o humilde é pobre, sem poder e sem riqueza. Sua confiança está apenas no Senhor e não nos bens terrenos e nem na ação maléfica para garantir a estabilidade.

No contexto da liturgia de hoje, o conceito de pobre deixa de ser maldição e passa a ser bênção. O rico está de tal modo fascinado pelo conforto e segurança que o dinheiro traz, que se esquece de que tudo deve estar subordinado à justiça, à ética emanada da Lei de Deus, a Lei do Amor. O pobre, pelo contrário, confia plenamente no Senhor, em sua Providência, vivendo a justiça dos filhos de Deus, que nos torna irmãos de todos os homens.

No Evangelho, Jesus aprofunda o conceito de pobre e acrescenta pobres em espírito, ou seja, é bem-aventurado aquele que desapegado dos bens deste mundo, desapega-se também de atitudes nada fraternas como a arrogância, o poder opressor, e se compromete na construção de uma sociedade alicerçada na partilha de todos os bens, materiais ou não, e na fraternidade de seus pensamentos e ações.

Jesus declara bem-aventurado um mundo novo, de acordo com os planos do Pai. Ele quer salvar aqueles que ainda vivem no mundo antigo, corrompido, onde os únicos valores são riqueza, poder e glória. Jesus nos propõe desapego dos bens materiais, serviço e humildade. Esses são os valores da nova sociedade, vividos por aqueles que desejam construir o Reino de Deus. Nela todos serão felizes e não apenas um pequeno grupo de privilegiados.

Quando o Senhor fez seu sermão do alto da montanha, olhou em sua volta e encontrou a imensa multidão de sofredores, injustiçados, cansados, sobrecarregados com todos os tipos de fardos que podemos imaginar. São Paulo, em sua Carta aos Coríntios, mostra um espelho aos seus seguidores e comenta que sua comunidade é formada por fracos, desprezados, pessoas sem importância e valor. Esses foram os escolhidos por Deus para manifestar, neles, o carinho de sua glória. É a nova sociedade, onde Deus impera com sua justiça de amor.

Caríssimos irmãos, como somos nós? Como está nossa paróquia, nossa associação religiosa? Vivemos essa nova sociedade promulgada por Jesus, do alto da montanha, onde o pobre, o pecador são acolhidos com carinho e humildade de nossa parte, ou nossa vida cristã mostra exatamente o contrário do que Nosso Senhor ensinou?

Que o projeto de Jesus, para uma nova sociedade, esteja presente não apenas em nossa vida eclesial, mas também em nossa casa, em nosso trabalho profissional, em tudo onde estivermos atuando. Bem-aventurados aqueles que abrem mão de seus conceitos e verdades, para seguir integralmente os ensinamentos do Senhor!

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

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                                                                                                                       Fonte: vaticannews.va

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Papa nesta sexta-feira:

o matrimônio é um bem de valor extraordinário para todos

Francisco partilhou algumas reflexões sobre o matrimônio, "pois na Igreja e no mundo existe uma grande necessidade de redescobrir o significado e o valor da união conjugal entre homem e mulher, sobre a qual se funda a família. Um aspecto certamente não secundário da crise que afeta muitas famílias é o desconhecimento prático, pessoal e coletivo sobre o matrimônio".

Papa Francisco na audiência de inauguração do Ano Judiciário do Tribunal da Rota Romana

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira (27/01), na Sala Clementina, no Vaticano, o Colégio dos Prelados Auditores para a inauguração do Ano Judiciário do Tribunal da Rota Romana.

O Pontífice partilhou com as cerca de 250 pessoas presentes, algumas reflexões sobre o matrimônio, "pois na Igreja e no mundo existe uma grande necessidade de redescobrir o significado e o valor da união conjugal entre homem e mulher, sobre a qual se funda a família. Um aspecto certamente não secundário da crise que afeta muitas famílias é o desconhecimento prático, pessoal e coletivo sobre o matrimônio".

"O matrimônio, segundo a Revelação cristã, não é uma cerimônia nem um evento social, nem uma formalidade e nem mesmo um ideal abstrato: é uma realidade com a sua consistência precisa, não «uma mera forma de gratificação afetiva que se pode constituir de qualquer maneira e modificar-se de acordo com a sensibilidade de cada um»", disse o Papa.

A seguir, Francisco convidou a todos a se perguntarem: "Como é possível que entre um homem e uma mulher se realize uma união tão cativante, uma união fiel e para sempre e da qual nasce uma nova família? Como isso é possível, diante das limitações e fragilidades dos seres humanos?" "Devemos nos fazer estas perguntas e nos deixar surpreender pela realidade do matrimônio", reiterou.

Os esposos dão vida à sua união, com livre consentimento, mas somente o Espírito Santo tem o poder de fazer de um homem e de uma mulher uma única existência. O matrimônio é sempre um dom! A fidelidade conjugal repousa na fidelidade divina, a fecundidade conjugal se funda na fecundidade divina. O homem e a mulher são chamados a acolher este dom e a corresponder livremente a ale com o dom recíproco de si.

A seguir, o Pontífice falou a propósito da indissolubilidade que "é muitas vezes entendida como um ideal, e tende a prevalecer a mentalidade segundo a qual o matrimônio dura enquanto houver amor". Segundo Francisco, "muitas vezes se desconhece o verdadeiro amor conjugal, reduzido a um nível sentimental ou a meras satisfações egoístas. Ao contrário, o amor conjugal é inseparável do próprio matrimônio, no qual o amor humano, frágil e limitado, encontra o amor divino, sempre fiel e misericordioso". "Mas pode haver um amor “devido”?", perguntou o Papa. Segundo ele, "a resposta se encontra no mandamento do amor, dado por Cristo: «Dou-vos um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Assim como eu vos amei, também vós vos ameis uns aos outros.»"

De acordo com o Papa, "podemos aplicar este mandamento ao amor conjugal, que é também um dom de Deus. Este mandamento pode ser cumprido porque é Ele mesmo que sustenta os esposos com a sua graça: "Assim como eu vos amei, amai-vos uns aos outros". É um dom confiado à sua liberdade com os seus limites e as suas falhas, pelo qual o amor entre marido e mulher precisa continuamente de purificação e amadurecimento, de compreensão recíproca e de perdão".

A seguir, o Papa falou sobre o matrimônio como um bem.

Um bem de valor extraordinário para todos: para os esposos e seus filhos, para todas as famílias com as quais se relacionam, para toda a Igreja, para toda a humanidade. Um bem difundido, que atrai os jovens a responderem com alegria à vocação matrimonial, que conforta e anima continuamente os esposos, que produz muitos e variados frutos na comunhão eclesial e na sociedade civil.

Segundo Francisco, "na economia cristã da salvação, o matrimônio é sobretudo o caminho principal para a santidade dos cônjuges, uma santidade vivida na vida quotidiana: este é um aspecto essencial do Evangelho da família". O Papa recordou que hoje a Igreja propõe "alguns casais como exemplos de santidade" e que muitos cônjuges "se santificam e edificam a Igreja" com aquela santidade que ele chamou de "santidade da porta ao lado".

Por fim, entre os muitos desafios que afetam a pastoral familiar em sua resposta aos problemas, feridas e sofrimentos de cada um, estão os casais em crise. A Igreja "os acompanha com amor e esperança, procurando apoiá-los", frisou ele. "A resposta pastoral da Igreja pretende transmitir com vitalidade o Evangelho da família. Neste sentido, um recurso fundamental para enfrentar e superar as crises é renovar a consciência do dom recebido no sacramento do matrimônio, um dom irrevogável, uma fonte de graça com a qual podemos sempre contar", concluiu.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

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4º Domingo do Tempo Comum:

Leituras e Reflexão
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Imagem: O Sermão da Montanha, de Carl Bloch, 1890 (Wikipedia, domínio público)

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1ª Leitura: Sf 2,3; 3,12-13

Leitura da Profecia de Sofonias:

Buscai o Senhor, humildes da terra, que pondes em prática seus preceitos; praticai a justiça, procurai a humildade; achareis talvez um refúgio no dia da cólera do Senhor. E deixarei entre vós um punhado de homens humildes e pobres. E no nome do Senhor porá sua esperança o resto de Israel. Eles não cometerão iniquidades nem falarão mentiras; não se encontrará em sua boca uma língua enganadora; serão apascentados e repousarão, e ninguém os molestará.

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Responsório: Sl 145(146) (R. Mt 5,3)
- Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
- Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.

- O Senhor é fiel para sempre, faz justiça aos que são oprimidos; ele dá alimento aos famintos, é o Senhor quem liberta os cativos.

- O Senhor abre os olhos aos cegos, o Senhor faz erguer-se o caído; o Senhor ama aquele que é justo. É o Senhor quem protege o estrangeiro.

- Ele ampara a viúva e o órfão, mas confunde os caminhos dos maus. O Senhor reinará para sempre! Ó Sião, o teu Deus reinará para sempre e por todos os séculos!

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2ª Leitura: 1Cor 1,26-31 

Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios:

Considerai vós mesmos, irmãos, como fostes chamados por Deus. Pois entre vós não há muitos sábios de sabedoria humana nem muitos poderosos nem muitos nobres.

Na verdade, Deus escolheu o que o mundo considera como estúpido, para assim confundir os sábios; Deus escolheu o que o mundo considera como fraco, para assim confundir o que é forte; Deus escolheu o que para o mundo é sem importância e desprezado, o que não tem nenhuma serventia, para assim mostrar a inutilidade do que é considerado importante, para que ninguém possa gloriar-se diante dele.

É graças a ele que vós estais em Cristo Jesus, o qual se tornou para nós, da parte de Deus: sabedoria, justiça, santificação e e libertação, para que, como está escrito, “quem se gloria, glorie-se no Senhor”.

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Evangelho: Mt 5,1-12a

Proclamação do Evangelho de São Mateus:

Naquele tempo, 1Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, 2e Jesus começou a ensiná-los:

”Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.

Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados.

Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.

Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.

Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.

Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.

Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus.

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Reflexão do padre Johan Konings:

Os "pobres no espírito"

A insistente pregação de Jesus e da Igreja em favor dos pobres incomoda certas pessoas. Nas Bem-Aventuranças segundo Mt (evangelho), Jesus felicita os “pobres no espírito”. Por que “no espírito”? Talvez não sejam os materialmente pobres? É possível ser pobre no espírito e rico materialmente?

Já no Antigo Testamento (1ª leitura), Deus mostra que seu favor não depende de poder e riqueza. Ele prefere os que praticam a justiça, ainda que pobres: os “pobres do Senhor”. Isso era dificil entender para os antigos israelitas, que – como muita gente hoje – viam na riqueza uma prova do favor de Deus.

Jesus, no evangelho, anuncia o Reino de Deus, como dom e missão, aos que têm esse espírito dos “pobres de Deus”: os que não pretendem dominar os outros pelo poder e a riqueza, mas se dispõem a colaborar na construção do reino de amor, justiça e paz, tomando-se pobres, colocando-se do lado dos pobres e confiando antes de tudo no poder de Deus e no valor de sua “justiça”, que é a sua vontade, seu plano de salvação. Os “pobres de Deus” assumem atitudes inspiradas por Deus e seu reino: pobreza (não apenas forçosa, mas no espírito e no coração), paciência (com firmeza), justiça (com garra), paz (na sinceridade) etc. Aos que vivem assim, Jesus anuncia a felicidade (“bem-aventurança”) do reino. Esses são os cidadãos do reino, os herdeiros da terra prometida. E, de fato, o “manso”, o não-violento tem bem mais condições de usar a terra que o grileiro. Os pobres solidários constroem uma sociedade melhor que os ricos egoístas. Há quem diga que as Bem-Aventuranças não visam os pobres materialmente, porque esses não podem ser os “promotores da paz” aos quais se refere a sétima bem-aventurança (Mt 5,9). Mas será que a verdadeira paz, fruto da justiça, não é promovida pelos pobres e os que em solidariedade com eles lutam pelo direito de todos?

O apóstolo Paulo ensina que Deus escolheu os pobres e os simples para envergonhar os que se acham importantes (2ª leitura). Deus é quem tem a última palavra. Demonstrou isso em Jesus, morto e ressuscitado. Demonstrou isso também em Paulo, que abandonou seu status de judeu e fariseu, para se tornar desprezado, seguidor de Jesus. Não pela posição e pelo poder, mas pelo despojamento radical é que Paulo se tomou participante da obra de Cristo.

Devemos optar, na vida, pelos valores do Reino e não pelo poder baseado na opressão, na exploração … Devemos optar pelos pobres e não pelos que os empobrecem! Para isso precisamos de desprendimento, pobreza até no nosso íntimo (“no espírito”). A bem-aventurança não vale para pobre com mania de rico! Os pobres no espírito são os que não apenas “quereriam”, mas efetivamente querem e optam por formar “povo de Deus” com os oprimidos e empobrecidos, porque têm fome e sede do Reino de Deus e sua justiça.

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PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

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Reflexão em vídeo de Frei Gustavo Medella:

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       Reflexão: franciscanos.org.br      Imagem: Frei Fábio Melo Vasconcelos     Baner: lectionautas.com.br

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Papa Francisco em entrevista:

as críticas ajudam a crescer,
mas gostaria que as fizessem diretamente a mim

Entrevista de Francisco à Associated Press: da morte de Bento XVI ("perdi um pai") ao convite para não discriminar ninguém, começando pelas pessoas homossexuais. Depois as relações com a China ("devemos continuar o diálogo"), as dúvidas sobre o risco ideologia no percurso sinodal alemão e o caso Rupnik.

Papa Francisco durante a entrevista à Associated Press

A morte de Bento XVI, as críticas publicadas em livros recentes, a homossexualidade que "não é um crime", a saúde "boa" apesar da idade, as relações com a China, o percurso sinodal alemão e o caso dos abusos do jesuíta Marko Rupnik.  São inúmeros os temas - de grande atualidade - que o Papa Francisco enfrenta numa nova entrevista divulgada nesta quarta-feira (25/01) pela agência de notícias estadunidense Associated Press (AP). Trata-se do primeiro colóquio do Pontífice depois da morte, em 31 de dezembro de 2022, do seu predecessor Joseph Ratzinger, de quem Francisco recorda a figura na conversa realizada na terça-feira, 24 de janeiro, com a correspondente Nicole Winfield, na Casa Santa Marta.

Diante de uma dúvida, eu ia até Bento XVI

O Papa chama Bento XVI de "um cavalheiro" e assegura que com sua morte "perdi um pai": "para mim, ele era um segurança. Quando diante de uma dúvida, eu pedia o carro, ia ao mosteiro e perguntava". Jorge Mario Bergoglio, mais uma vez interrogado sobre sua eventual demissão, diz que, se um dia renunciasse ao ministério petrino, seria o "bispo emérito de Roma" e iria "morar na Casa do Clero em Roma". “A experiência de Bento", acrescenta, "já dá origem a novos papas que se demitem para se inserir de modo mais livre". Francisco explica que seu predecessor ainda estava ligado a uma concepção do papado: "Nisto ele não era totalmente livre, pois talvez teria querido voltar à sua Alemanha e continuar estudando teologia de lá. Mas ele fez tudo o que pôde para estar o mais próximo possível. E isto foi um bom compromisso, uma boa solução".

A crítica ajuda a crescer

Francisco faz também uma reflexão sobre seu pontificado, que completará dez anos no próximo dia 13 de março. No início, explica, a notícia de um Papa sul-americano foi recebida com surpresa por muitos dentro e fora da Igreja, depois, diz, "começaram a ver meus defeitos e não gostaram deles". A respeito das críticas recebidas e todas coincidentes no último período, através de livros ou documentos circulados entre cardeais e assinados com pseudônimos, Francisco diz que para ele, como para todos, seria sempre melhor não ter críticas "para a paz de espírito": "são como urticária, são um pouco irritantes, mas eu as prefiro, porque isso significa que há liberdade de palavra". O importante é que sejam feitas "na nossa cara porque é assim que crescemos todos, certo?". É pior, segundo o Papa, "se se trata de uma ação desleal".  Com alguns dos proponentes destas críticas o Papa Bergoglio diz ter discutido pessoalmente: "alguns deles vieram aqui e sim, eu discuti com eles. Normalmente, como se fala entre pessoas maduras. Eu não briguei com ninguém, mas expressei minha opinião e eles expressaram a sua. Caso contrário, se cria uma ditadura da distância, como eu a chamo, onde o imperador está lá e ninguém pode dizer nada a ele. Não, que o digam porque a companhia, a crítica, ajuda a crescer e a fazer as coisas correrem bem".

Distinguir entre pecado e crime

Na entrevista, Francisco é então questionado sobre o tema da homossexualidade, que, afirma, "não é um crime" mas uma "condição humana", e dos direitos da comunidade LGBTQ: "somos todos filhos de Deus e Deus nos quer como somos e com a força que cada um de nós luta pela própria dignidade. Ser homossexual não é um crime", afirma. Então, como sempre em sua pregação ou entrevistas, imitando uma conversa entre duas pessoas, diz que alguém afirma que "é um pecado". "Primeiro façamos a distinção entre pecado e crime", esclarece Francisco. "É pecado também faltar com a caridade uns para com os outros". Esta é a oportunidade para o Papa fazer uma crítica às leis que ele chama de "injustas" que criminalizam a homossexualidade: "Creio que há mais de 50 países que têm uma condenação legal e destes eu creio que uma dezena, um pouco mais um pouco menos, têm a pena de morte. Não o mencionam diretamente, mas dizem "aqueles que têm atitudes inaturais". Um convite a uma abordagem diferente também é dirigido aos bispos que discriminam as pessoas gays e as comunidades LGBTQ. A este respeito, o Pontífice recorda o Catecismo da Igreja Católica, que afirma "que as pessoas com tendências homossexuais devem ser acolhidas, não marginalizadas, acompanhadas se lhes for dado um lugar".  Ninguém deve ser discriminado, afirma o Bispo de Roma. E isto não diz respeito apenas à homossexualidade: "mesmo o pior assassino, o maior pecador não deveria ser discriminado". Todo homem e mulher deve ter uma janela em sua vida onde poder dirigir a sua esperança e onde poder ver a dignidade de Deus".

Surpreso e ferido com o caso Rupnik

A entrevista se debruça longamente sobre a questão dos abusos do clero. A referência é imediatamente ao caso do jesuíta Marko Rupnik, um conhecido mosaicista, que está agora no centro das acusações de abuso sexual, psicológico e de consciência feitas contra ele por religiosas e que teriam ocorridos há cerca de 30 anos na Eslovênia e depois na Itália. Perguntado sobre isso, Francisco disse: "para mim foi uma surpresa, realmente. Isto, uma pessoa, um artista deste nível, para mim foi uma grande surpresa e uma ferida". Todo o caso foi tratado pela Companhia de Jesus, enquanto a instrução do processo foi confiada ao oficial de assuntos legais dos dominicanos. Assegura em seguida que não teve nenhum papel na gestão do caso, mas apenas interveio procedimentalmente "em um pequeno processo que chegou à Congregação da Fé, no passado". Francisco explica que ele deu indicações para que os dois conjuntos de acusações fossem tratados pelo mesmo tribunal que havia selecionado as primeiras: "que continue com o tribunal normal... Caso contrário os caminhos processuais se dividem e tudo fica confuso". Quanto ao fato de o Vaticano não ter renunciado neste caso à prescrição, o Pontífice concorda que é correto "sempre" renunciar aos termos de prescrição nos casos que envolvem menores e "adultos vulneráveis", para manter, ao invés, as tradicionais garantias legais com os casos que envolvem os outros adultos, como foi o caso de Rupnik.

O diálogo chinês e o caminho sinodal alemão

O Papa então amplia sua visão sobre o trabalho da Comissão para a Tutela de Menores e não deixa de mencionar o trabalho diplomático realizado pela Santa Sé. A este respeito, ele aborda a questão das relações com a China e reitera: "devemos caminhar com paciência". Quanto a possíveis aberturas, "estamos tomando medidas": as autoridades chinesas "às vezes são um pouco fechadas, às vezes não". "O essencial é que o diálogo não seja interrompido", diz o Papa. Sobre o cardeal Zen, que recebeu no Vaticano em 6 de janeiro passado, diz que é "fascinante": agora - observa - ele realiza seu trabalho pastoral na prisão "e ele está na prisão o dia todo". Ele é amigo dos guardas comunistas e dos prisioneiros. Todos o acolhem muito bem. Ele é um homem de grande simpatia". Ele é corajoso", afirma ainda, mas também é "uma alma terna" e chorou como uma criança diante da estátua de Nossa Senhora de Sheshan que ele viu em seu apartamento na Casa Santa Marta. No caminho sinodal alemão, que leva avante solicitações como a abolição do celibato sacerdotal, o sacerdócio feminino e outras possíveis reformas, Francisco adverte que corre o risco de se tornar prejudicialmente "ideológico. O diálogo é bom, mas "a experiência alemã não ajuda", afirma o Papa, ressaltando que o processo na Alemanha até hoje tem sido conduzido pela "elite" e não envolve "todo o povo de Deus". "O perigo é que entre algo muito, muito ideológico. Quando a ideologia se envolve nos processos eclesiais, o Espírito Santo vai para casa, porque a ideologia vence o Espírito Santo".

Saúde e "a graça do humor”

Não falta na entrevista uma menção à sua saúde. Saúde que Jorge Mario Bergoglio define como "boa", considerando que ele tem 86 anos de idade e apesar do fato de que a diverticulite por causa da qual ele foi submetido à cirurgia do cólon em julho passado "voltou": "Mas está sob controle". O Pontífice também revela o detalhe de uma pequena fratura em seu joelho devido a uma queda, curada sem cirurgia: "O joelho, graças a uma boa terapia e à magnetoterapia, com laser...o osso se soldou... Já estou andando, me sirvo de um andador, mas estou andando". Para sua idade, tudo é 'normal': 'Eu também posso morrer amanhã, mas vamos lá, tudo está sob controle'. Minha saúde é boa. E eu sempre peço a graça, para que o Senhor me dê um senso de humor".

Salvatore Cernuzio – Vatican News

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                                                                                                                       Fonte: vaticannews.va