terça-feira, 30 de junho de 2020

Concílio Vaticano II:

uma semente que continua crescendo
Uma grande graça, uma verdadeira profecia para a vida da Igreja, um novo Pentecostes: foi assim que João Paulo II e Bento XVI falaram do último Concílio. Uma pequena semente que se tornou uma árvore que continua dando frutos por obra do Espírito Santo.
"Pois toda a Lei encontra a sua plenitude num só mandamento: «Ame o seu próximo como a si mesmo" (Gl 5, 14)
Sergio Centofanti - Este ano, em 8 de dezembro, será celebrado o 55º aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II. Um evento que neste período está provocando um novo debate na comunidade eclesial, diante de quem cada vez mais se distancia dela e de quem quer reduzir seu alcance e significado.
Um novo Pentecostes
Bento XVI usou uma palavra forte: ele falou de um “novo Pentecostes”. Foi testemunha direta do Concílio, participando como especialista, seguindo o cardeal Frings, e depois como perito oficial: “Esperávamos que tudo se renovasse”, disse aos sacerdotes de Roma em 14 de fevereiro de 2013, “que viesse realmente um novo Pentecostes, uma nova era na Igreja (...). Sentia-se que a Igreja não estava indo adiante, estava reduzindo, que parecia uma realidade do passado e não a portadora do futuro. E naquele momento, esperávamos que esta relação se renovasse, mudasse; que a Igreja fosse novamente a força do amanhã e a força do hoje”. E citando João Paulo II na Audiência Geral de 10 de outubro de 2012, ele faz sua a definição do “Concílio como a grande graça da qual a Igreja se beneficiou no século XX: nele nos é oferecida uma bússola segura para nos guiar no caminho do século que se abre” (Novo millennio ineunte, 57): a “verdadeira força motriz” do Concílio - acrescenta - foi o Espírito Santo. Portanto, um novo Pentecostes: não para criar uma nova Igreja, mas para “uma nova era na Igreja”.
A fidelidade está em movimento
O que o Conselho mostrou com mais evidência é que o autêntico desenvolvimento da doutrina, que é transmitido de geração em geração, se realiza num povo que camina unido, guiado pelo Espírito Santo. É o coração do famoso discurso de Bento XVI à Cúria Romana, em 22 de dezembro de 2005. Bento fala de duas hermenêuticas: a da descontinuidade e ruptura e a da reforma e renovação na continuidade. A “hermenêutica justa” é aquela que vê a Igreja como “um sujeito que cresce com o tempo e se desenvolve, mas permanecendo sempre o mesmo, o único sujeito do Povo de Deus a caminho”. Bento fala de uma “síntese de fidelidade e dinâmica”. A fidelidade está em movimento, não é estagnação, é um caminho que avança pelo mesmo caminho, é uma semente que se desenvolve e se torna uma árvore que alarga seus ramos, floresce e produz frutos: como uma planta viva, por um lado cresce, por outro tem raízes que não podem ser cortadas.
Continuidade e descontinuidade na história da Igreja
Mas como justificar uma renovação na continuidade diante de certas mudanças fortes ocorridas na história da Igreja? Desde que Pedro batizou os primeiros pagãos sobre os quais o Espírito Santo desceu e disse: “De fato, estou compreendendo que Deus não faz diferença entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, seja qual for a nação a que pertença. (At 10, 34-35). Os circuncisos o repreendem, mas quando Pedro explica o que aconteceu, todos glorificam a Deus dizendo: “Também aos pagãos Deus concedeu a conversão que leva para a vida!” (At 11, 18). É o Espírito que indica o que fazer e nos faz mover, nos faz ir adiante. Em 2000 anos de história, houve muitas mudanças na Igreja: a doutrina sobre a salvação dos não batizados, o uso da violência em nome da verdade, a questão das mulheres e dos leigos, a relação entre fé e ciência, a interpretação da Bíblia, a relação com os não-católicos, judeus e seguidores de outras religiões, a liberdade religiosa, a distinção entre as esferas civil e religiosa, apenas para mencionar alguns temas. Bento XVI, no mesmo discurso à Cúria, reconhece isto: sobre certos temas "manifestou-se de fato uma descontinuidade”. Por exemplo, além dos raciocínios filosóficos, teológicos ou de contextualização histórica para demonstrar uma certa continuidade, primeiro se dizia não à liberdade de culto para os não católicos num país católico e depois foi dito sim. Portanto, uma indicação muito diferente na prática.
O escândalo de uma Igreja que aprende
Bento XVI usa palavras significativas: Tivemos que aprender a entender mais concretamente do que antes. “Era necessário um amplo repensar”, “aprender a reconhecer”. Como Pedro que, depois de Pentecostes, ainda tem que entender coisas novas, ainda tem que aprender, ainda tem que dizer: “Estou compreendendo que...”. Não temos a verdade no bolso, não “possuímos” a verdade como uma coisa, mas pertencemos à Verdade: e a Verdade cristã não é um conceito, é o Deus vivo que continua falando. E referindo-se à Declaração conciliar sobre a Liberdade Religiosa, Bento XVI afirma: “O Concílio Vaticano II, reconhecendo e fazendo seu com o Decreto sobre a liberdade religiosa um princípio essencial do Estado moderno, retomou novamente o patrimônio mais profundo da Igreja. Ela pode estar consciente de estar em plena sintonia com o ensinamento do próprio Jesus (cf. Mt 22, 21), assim como com a Igreja dos mártires, com os mártires de todos os tempos”. E acrescenta: “O Concílio Vaticano II (...) revisou ou até corrigiu algumas decisões históricas, mas nesta aparente descontinuidade manteve e aprofundou sua natureza íntima e sua verdadeira identidade. A Igreja é, tanto antes como depois do Concílio, a Igreja una, santa, católica e apostólica a caminho através dos tempos”.
Uma continuidade espiritual
Então se vê melhor que a continuidade não é simplesmente uma dimensão lógica, racional ou histórica, é muito mais do que isso: é uma continuidade espiritual na qual o mesmo e único Povo de Deus caminha unido, dócil às indicações do Espírito. A hermenêutica da ruptura é realizada por aqueles que neste caminho se separam da comunidade, rompem a unidade, porque ou param ou vão longe demais. Bento fala dos dois extremos: aqueles que cultivam “nostalgias anacrônicas” e aqueles que “correm para frente (Missa de 11 de outubro de 2012). Eles não ouvem mais o Espírito que pede uma fidelidade dinâmica, mas seguem suas próprias ideias, se apegam apenas ao antigo ou apenas ao novo, e não sabem mais como unir as coisas antigas e as coisas novas, como faz o discípulo do Reino dos Céus.
A novidade do Papa Francisco
Depois dos grandes Papas que o precederam, chegou Francisco. Ele esta seguindo a esteira de seus predecessores: é a semente que se desenvolve e cresce. A Igreja prossegue. Muitas notícias distorcidas ou falsas são colocadas em circulação sobre Francisco, como aconteceu com o predecessor Bento e muitos outros sucessores de Pedro. Não mudaram os dogmas ou os mandamentos, nem os sacramentos, nem os princípios sobre a defesa da vida, da família, da educação. As virtudes teologais ou cardeais não mudaram e nem os pecados mortais. Para compreender melhor a novidade na continuidade de Francisco, indo além das distorções e falsidades óbvias, é preciso ler a Exortação Apostólica Evangelii gaudium, texto programático do Pontificado. Começa assim: “A Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”. A primeira coisa é a alegria do encontro com Jesus, nosso Salvador.
Um estilo de proximidade e acolhimento cordial que não condena
O Papa nos convida a “recuperar o frescor original do Evangelho” e a transmiti-lo a todos. Ele nos pede que nos concentremos no essencial, o amor a Deus e ao próximo, evitando uma maneira de anúncio “obcecada com a transmissão desarticulada de uma multidão de doutrinas que se tenta impor pela força da insistência (...). Neste núcleo fundamental o que resplandece é a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo, morto e ressuscitado”. Em vez disso, acontece que se fala “mais da lei do que da graça, mais da Igreja do que de Jesus Cristo, mais do Papa do que da Palavra de Deus”. Ele exorta a fazer ressoar sempre o primeiro anúncio: “Jesus Cristo te ama. Ele deu sua vida para te salvar, e agora Ele está vivo ao teu lado todos os dias, para te iluminar, para te fortalecer, para te libertar”. Pede um estilo de “proximidade, abertura ao diálogo, paciência, acolhimento cordial que não condena”. Ele indica a arte do acompanhamento, “para que todos possam sempre aprender a tirar as sandálias diante da terra sagrada do outro”, que deve ser vista “com um olhar respeitoso e compassivo, mas ao mesmo tempo saudável, livre e que encoraje a amadurecer na vida cristã”.
Eucaristia: não um prêmio para os perfeitos, mas alimento para os fracos
Deseja uma Igreja com as portas abertas: “Nem mesmo as portas dos Sacramentos devem ser fechadas por qualquer razão.” Assim “a Eucaristia, embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e alimento para os fracos”. Estas convicções também têm consequências pastorais que somos chamados a considerar com prudência e audácia. Com frequência nos comportamos como controladores da graça e não como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega, é a casa paterna onde há lugar para cada um com sua vida cansativa”. Daí a sugestão de iniciar percursos de discernimento caso a caso para avaliar a possível admissão aos sacramentos para aqueles que vivem em situações irregulares, como mencionado na Exortação Amoris laetitia. É um passo que tem como objetivo aproximar e acompanhar, olhando para a salvação das pessoas e a para a misericórdia de Jesus. As normas podem se tornar pedras como aconteceu com a mulher pega em adultério. E também certas perguntas de hoje fazem lembrar aquelas que os escribas e fariseus fizeram a Jesus 2000 anos atrás: “Mestre, esta mulher foi pega em flagrante cometendo adultério. A Lei de Moisés manda que mulheres desse tipo devem ser apedrejadas. E tu, o que dizes?” Nós sabemos a resposta de Jesus.
João Paulo II: o Concílio continuará dando frutos
Francisco somente prossegue o caminho do Concílio. Uma continuidade espiritual, porque o Espírito continua falando. “A pequena semente que João XXIII lançou” - afirmou São João Paulo II em 27 de fevereiro de 2000 – “cresceu, dando vida a uma árvore que agora amplia seus majestosos e vigorosos ramos na vinha do Senhor. Ela já deu muitos frutos (...) e dará ainda muitos nos anos que virão. Uma nova estação se abre diante de nossos olhos (...) O Concílio Ecumênico Vaticano II foi uma verdadeira profecia para a vida da Igreja; continuará sendo por muitos anos do Terceiro Milênio que acaba de começar”.
João XXIII: a Igreja use o remédio da misericórdia
Hoje como ontem. Ao abrir o Concílio em 11 de outubro de 1962, São João XXIII afirmou: “Muitas vezes ... acontece ... que, não sem ofensa aos Nossos ouvidos, somos informados de vozes de alguns que, embora tenham zelo pela religião, avaliam ... os fatos sem objetividade suficiente  e nem juízo prudente. Nas condições atuais da sociedade humana, eles não são capazes de ver nada além de ruínas e problemas; eles estão dizendo que nosso tempo, quando comparado com séculos passados, é pior; e eles vão ao ponto de se comportar como se não tivessem nada a aprender da história, que é a mestra da vida, e como se na época dos Concílios precedentes tudo procedesse alegremente no que diz respeito à doutrina cristã, à moral e à justa liberdade da Igreja. Parece-nos que devemos discordar resolutamente destes profetas de desventura, que anunciam sempre o pior, como se o fim do mundo estivesse chegando”. E falando sobre os erros de natureza doutrinal acrescentou: “Não há tempo em que a Igreja não se tenha oposto a esses erros; ela os condenou muitas vezes, e às vezes com a máxima severidade”. Quanto ao tempo presente, a Esposa de Cristo prefere usar o remédio da misericórdia em vez de pegar as armas do rigor. Pensa que devemos atender às necessidades de hoje, expondo mais claramente o valor de seu ensinamento do que condenar”.
Paulo VI: para a Igreja ninguém está excluído, ninguém está longe
No encerramento do Concílio, em 8 de dezembro de 1965, São Paulo VI na sua “saudação universal” afirmava: “Para a Igreja católica ninguém é estranho, ninguém está excluído, ninguém está longe... Esta nossa saudação universal dirigimos também a vocês, homens que não nos conhecem; homens, que não nos compreendem; homens, que não nos creem úteis, necessários e amigos; e também a vocês, homens, que, talvez pensando em fazer bem, se opõem a nós! Uma saudação sincera, uma saudação discreta, mas cheia de esperança; e hoje, acreditem, cheia de estima e amor... Esta é a nossa saudação: que ela acenda em nossos corações esta nova centelha da caridade divina; uma centelha que possa acender os princípios, doutrinas e propósitos que o Concílio preparou e que, tão inflamados de caridade, possam verdadeiramente atuar na Igreja e no mundo aquela renovação de pensamentos, de atividade, de costumes, de força moral e de alegria e esperança, que foi o objetivo do próprio do Concílio”.
Dizer palavras boas neste momento difícil
Neste tempo em que a Igreja católica é particularmente atravessada por contrastes e divisões, nos faz bem recordar as exortações de São Paulo às primeiras comunidades cristãs. Aos Gálatas recorda que “toda a Lei (...) encontra a sua plenitude num só mandamento: «Ame o seu próximo como a si mesmo». Mas, se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, tomem cuidado! Vocês vão acabar destruindo-se mutuamente. Por isso é que lhes digo: vivam segundo o Espírito” (Gl 5, 14-16). E aos Efésios, acrescenta: “Que nenhuma palavra inconveniente saia da boca de vocês; ao contrário, se for necessário, digam boa palavra, que seja capaz de edificar e fazer o bem aos que ouvem. Não entristeçam o Espírito Santo, com que Deus marcou vocês para o dia da libertação. Afastem de vocês qualquer aspereza, desdém, raiva, gritaria, insulto, e todo tipo de maldade. Sejam bons e compreensivos uns com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou a vocês em Cristo” (Ef 4, 29-32). O que aconteceria se colocássemos em prática “sine glossa” esta Palavra?
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Abrir as portas a Cristo:

os 40 anos da primeira visita de João Paulo II ao Brasil 

"E agora posso confiar-vos um desejo? Que as vossas portas que se abriram para mim com amor e confiança, permaneçam largamente abertas para Cristo. Será minha alegria plena", assim se despediu o Papa polonês ao visitar pela primeira vez o Brasil em 1980. João Paulo II percorreu quase 15 mil quilômetros e conheceu 13 cidades em 13 dias.

Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano No dia 30 de junho de 40 anos atrás, em 1980, o solo de Brasília foi beijado por São João Paulo II, para a primeira das quatro visitas que o Papa polonês realizou ao Brasil no decorrer do seu pontificado.
“Abraço neste momento – ao menos em espírito – cada pessoa que vive nesta pátria brasileira. O Papa pensa em cada um. Ele ama a todos e a todos envia um cumprimento bem brasileiro: “um abraço!”.Com este gesto de amizade, recebei os meus votos de felicidades: Deus abençoe o vosso Brasil. Deus abençoe a todos vós, brasileiros, com a paz e a prosperidade, a serena concórdia na compreensão e na fraternidade. Sob o olhar materno e a proteção de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil!”
Foram 13 cidades em 13 dias
Brasil de ponta a ponta
Estas foram as suas palavras no discurso de boas-vindas – o primeiro de 48 pronunciamentos.
Aliás, os números e o fôlego de Karol Wojtyla impressionam. Em 13 dias (a viagem se concluiu em 12 de julho), ele cruzou o Brasil de norte a sul, percorrendo quase 15 mil quilômetros. Além de Brasília, esteve em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Aparecida, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, Teresina, Belém, Fortaleza e Manaus, de onde se despediu do país.
Ninguém ficou de fora: o Papa se reuniu com autoridades - o presidente na época era João Figueiredo -, corpo diplomático, seminaristas, religiosas, religiosos, sacerdotes, bispos. Visitou pontos turísticos, como o Corcovado, penitenciárias, leprosários, favelas. Manteve encontros com a comunidade judaica, polonesa, com ortodoxos, homens da cultura, operários, estudantes, líderes das Comunidades Eclesiais de Base e indígenas.
Em Manaus, encontro com indígenas
Abrir as portas a Cristo
Mas mais do que os números, ficaram indeléveis as palavras e, sobretudo, os gestos de afeto para com o brasileiro.
“Aprendi, por exemplo, que “quem parte leva saudades”. Devo confessar que já estou sentindo o que significa este ditado. Mas, com a saudade do Brasil, levo também no coração uma imensa alegria e a mais grata satisfação, por tudo aquilo que me foi dado ver, comungar e viver convosco, nestes dias da minha permanência entre vós.”
“E agora posso confiar-vos um desejo? Que as vossas portas que se abriram para mim com amor e confiança, permaneçam largamente abertas para Cristo. Será minha alegria plena.”
Dom Walmor de Azevedo, arcebispo de Belho Horizonte e Presidente da CNBB:
“Celebrar os 40 anos da primeira visita de São João Paulo II ao Brasil, é celebrar memórias muito profundas, tocantes e sustentadoras do caminho missionário da nossa Igreja. Lembro-me com alegria emoção e gratidão a visita".
Cardeal Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro
“Neste dia 30 de junho comemoramos os 40 anos da chegada do primeiro Papa em terras brasileiras. São João Paulo II ficou aqui 12 dias. Ele passou por diversas cidades e capitais do Brasil. Eu tive a oportunidade de celebrar no local que el celebrou em Belém do Pará, quando estive em Belém. Ficou marcante na minha memória, eu ainda não era bispo, a música a bênção João de Deus, e a sua visita ao Rio de Janeiro à favela do Vidigal”. 
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Assista:
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segunda-feira, 29 de junho de 2020

Nesta segunda, foi criada

a Conferência Eclesial da Amazônia 

Neste 29 de Junho, após dois dias de deliberações, nasceu a Conferência Eclesial da Amazônia. O cardeal Claudio Hummes, OFM (Brasil) foi eleito presidente.
 Cardeal Cláudio Hummes, OFM

Silvonei José – Vatican NewsEm um comunicado oficial da Assembleia do Projeto de constituição da Conferência Eclesial da Amazônia, após dois dias de deliberações, o anúncio da criação do organismo. O comunicado, que tem data de 29 de junho de 2020, Solenidade de São Pedro e São Paulo é assinado por dom Miguel Cabrejos Vidarte, Presidente do CELAM e pelo cardeal Cláudio Hummes, OFM, Presidente da REPAM. Dom Cláudio foi eleito presidente da Conferência Eclesial da Amazônia.
Eis a íntegra do comunicado:
A proposta dos Padres sinodais de " criar um organismo episcopal que promova a sinodalidade entre as Igrejas da região, que ajude a delinear o rosto amazônica desta Igreja e que continue a tarefa de encontrar novos caminhos para a missão evangelizadora" (DF, 115), e o pedido do Papa Francisco, unido a seus quatro sonhos para este território e para toda a Igreja, em sua exortação pós-sinodal Querida Amazônia, " que os pastores, os consagrados, as consagradas e os fiéis leigos da Amazónia se empenhem na sua aplicação (QA, 4) encontrou uma resposta na Assembleia do Projeto de Constituição da Conferência Eclesial da Amazônia, realizada virtualmente nos dias 26 e 29 de junho de 2020.
Esta Assembleia, realizada de forma sem precedentes através de canais digitais, foi uma novidade do Espírito, e faz parte deste Kairós esperançoso que continua o caminho sinodal para abrir novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral na região PanAmazônica.
É um sinal muito especial que o nascimento desta Conferência Eclesial da Amazônia acontece na festa de São Pedro e São Paulo, como gesto de sua vocação para afirmar a identidade da Igreja, e de sua opção profética e em saída missionária que surge como um chamado inevitável para o tempo presente. Esta festividade de nossa Igreja é também um gesto de agradecimento pelo serviço do Santo Padre, por isso consideramos que o nascimento desta Conferência Eclesial como um signo de esperança juntamente com o Magistério do Papa Francisco, que acompanhou de perto todo este processo.
A composição desta Assembleia reflete a unidade na diversidade de nossa Igreja e seu chamado a uma sinodalidade cada vez maior; unidade expressada também pela inestimável presença e companhia permanente de importantes membros da Santa Sé que sentem a proximidade e relação direta com o Sínodo da Amazônia e com a missão da Igreja neste território, que sem dúvida continuará a partir de suas respectivas instâncias para auxiliar estes novos caminhos. A votação do nome, após um profundo discernimento nesta fase do processo: Conferência Eclesial da Amazônia, e da sua identidade, composição e modo geral de funcionamento (estatuto), foi aprovada por unanimidade, em ambos os casos, pelos membros votantes.
Da mesma forma, com muita esperança e alegria compartilhamos a eleição do Card. Claudio Hummes, OFM (Brasil) como seu presidente; de Mons. David Martínez de Aguirre, OP (Peru), como seu vice-presidente; e, por outro lado, para o Comitê Executivo foi eleito Mons. Eugenio Coter (Bolívia), como bispo representante das Conferências Episcopais do território amazônico, junto com as presidências dos órgãos eclesiais regionais que acompanharão este processo de forma orgânica: CELAM, REPAM, CLAR e CÁRITAS ALyC; junto com os 3 representantes dos povos originais designados: Sra. Patricia Gualinga do povo Kichwa-Sarayaku (Equador); Ir Laura Vicuña Pereira do povo Kariri (Brasil); e Sr. Delio Siticonatzi do povo Asháninka (Peru).
Nestes tempos difíceis e excepcionais para a humanidade, quando a pandemia do coronavírus afeta fortemente a região Pan-Amazônica, e as realidades de violência, exclusão e morte contra o bioma e os povos que o habitam, clamam por uma conversão integral urgente e iminente, a Conferência Eclesial da Amazônia quer ser uma boa notícia e uma resposta oportuna aos gritos dos pobres e da irmã mãe Terra, bem como um canal eficaz para assumir, a partir do território, muitas das propostas surgidas na Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, realizada em outubro de 2019, sendo também um vínculo que anime outras redes e iniciativas eclesiais e socioambientais em nível continental e internacional (cf. DF, 115). 
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Papa na Solenidade de São Pedro e São Paulo nesta segunda:

Hoje precisamos de testemunhos de que o Evangelho é possível

"A profecia nasce quando nos deixamos provocar por Deus: não quando gerimos a própria tranquilidade, mantendo tudo sob controle. Não nasce de meus pensamentos, não nasce de meu coração fechado. Nasce se nós nos deixamos provocar por Deus. Quando o Evangelho inverte as certezas, brota a profecia. Só quem se abre às surpresas de Deus é que se torna profeta (...). Hoje precisamos de profecia, de verdadeira profecia: não discursos que prometem o impossível, mas testemunhos de que o Evangelho é possível."

Vatican News “Como o Senhor transformou Simão em Pedro, assim chama a cada um para fazer de nós pedras vivas, com as quais construir uma Igreja e uma humanidade renovadas. Há sempre quem destrua a unidade e quem apague a profecia, mas o Senhor acredita em nós e pede-te: «Queres ser construtor de unidade? Queres ser profeta do meu céu na terra?» Deixemo-nos provocar por Jesus e ganhemos a coragem de Lhe dizer: «Sim, quero»!
Não no Altar da Confissão com a Basílica de São Pedro lotada, mas no Altar da Cátedra, na presença de cerca de 90 fiéis. Na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo - em tempos em que são tomados todos os cuidados para evitar nova onda de contágios por coronavírus - o Papa Francisco presidiu a Santa Missa destacando duas palavras-chave: unidade e profecia.
No início da celebração, após a saudação litúrgica, o Decano do Colégio Cardinalício, cardeal Giovanni Battista Re, fez um breve pronunciamento, para então receber o pálio do Papa Francisco, que também abençoou os pálios que serão entregues aos Arcebispos Metropolitas nomeados no decorrer do último ano. Entre eles: cardeal Sérgio da Rocha, arcebispo de Salvador da Bahia; Dom Josafá Menezes da Silva, arcebispo de Vitória da Conquista; Dom Irineu Roman, arcebispo de Santarém; Dom Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaur e Dom Virgílio do Carmo da Silva, arcebispo de Dili, Timor Leste.
Unidade
A reflexão do Papa Francisco parte da familiaridade que unia Pedro e Paulo, “duas pessoas muito diferentes, mas sentiam-se irmãos, como numa família unida onde muitas vezes se discute mas sem deixar de se amarem”, uma familiaridade que “não provinha de inclinações naturais, mas do Senhor. Ele não nos mandou agradar, mas amar. É Ele que nos une, sem nos uniformizar. Nos une nas diferenças.”
Em meio a perseguições, os primeiros cristãos não pensam em fugir ou salvar a própria pele, “mas todos rezam juntos” – recordou o Papa - enfatizando que “a unidade é um princípio que se ativa com a oração, porque a oração permite ao Espírito Santo intervir, abrir à esperança, encurtar as distâncias, manter-nos juntos nas dificuldades.”
Só a oração desata as algemas e deixa livre o caminho para a unidade
Francisco observa que “naqueles momentos dramáticos, ninguém se lamenta do mal, das perseguições”, pois “é inútil, e até chato, que os cristãos percam tempo se lamentando do mundo, da sociedade, daquilo que está errado. As lamentações não mudam nada. Recordemo-nos de que as lamentações são a segunda porta fechada para o Espírito Santo, como disse  a vocês no dia de Pentecostes: a primeira é o narcisismo, a segunda o desânimo, a terceira o pessimismo. O narcisismo te leva ao espelho, para se olhar continuamente; desânimo, às lamentações. O pessimismo, ao escuro, à escuridão. Essas três atitudes fecham a porta do Espírito Santo." Aqueles cristãos, ao contrário, rezavam:
Recolhimento e oração
Hoje, podemos interrogar-nos: «Guardamos a nossa unidade com a oração, a nossa unidade da Igreja? Rezamos uns pelos outros?» Que aconteceria se se rezasse mais e murmurasse menos? Aquilo que aconteceu a Pedro na prisão: como então, muitas portas que separam, abrir-se-iam; muitas algemas que imobilizam, cairiam. Peçamos a graça de saber rezar uns pelos outros.” 
São Paulo – completou o Santo Padre - exortava os cristãos a rezar por todos, mas em primeiro lugar por quem governa:
"Mas este governante é ...", e os qualificadores são muitos: eu não os direi, porque este não é o momento nem o lugar para dizer os qualificadores que são ouvidos contra os governantes. Mas, que Deus os julgue: mas rezemos pelos governantes. Vamos rezar. Eles precisam de oração.  É uma tarefa que o Senhor nos confia. Temo-la cumprido? Ou limitamo-nos a falar, insultar e basta? Quando rezamos, Deus espera que nos lembremos também de quem não pensa como nós, de quem nos bateu a porta na cara, das pessoas a quem nos custa perdoar. Só a oração desata as algemas, só a oração deixa livre o caminho para a unidade.
Pedro e André
O Pontífice recorda que o pálio abençoado neste dia “recorda a unidade entre as ovelhas e o Pastor que, como Jesus, carrega a ovelha nos ombros e nunca mais a larga”.
Momento da Consagração
Ao mesmo tempo, fala da bela tradição deste dia em que “unimo-nos de maneira especial ao Patriarcado Ecumênico de Constantinopla:
Pedro e André eram irmãos; e entre nós, quando é possível, trocamos uma visita fraterna nas respetivas festas; não tanto por gentileza, mas para caminhar juntos rumo à meta que o Senhor nos indica: a unidade plena. Hoje, eles não conseguiram vir por causa do coronavírus, mas quando desci para venerar os restos mortais de Pedro, sentia no coração ao meu lado meu amado irmão Bartolomeu. Eles estão aqui, conosco.
Hoje precisamos de verdadeira profecia
Depois da unidade, O Santo Padre fala de uma segunda palavra: profecia. Com perguntas provocatórias, Jesus faz Pedro entender que “não Lhe interessam as opiniões gerais, mas a opção pessoal de O seguir”, e a Saulo, o abala interiormente, fazendo-o cair por terra no caminho para Damasco, derrubando “sua presunção de homem religioso e bom”. Então, vem as profecias: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja» (Mt 16, 18); e a Paulo: «É instrumento da minha escolha, para levar o meu nome perante os pagãos» (At 9, 15):
Assim, a profecia nasce quando nos deixamos provocar por Deus: não quando gerimos a própria tranquilidade, mantendo tudo sob controle.  Não nasce de meus pensamentos, não nasce de meu coração fechado. Nasce se nós nos deixamos provocar por Deus. Quando o Evangelho inverte as certezas, brota a profecia. Só quem se abre às surpresas de Deus é que se torna profeta.
Momento da Consagração
E isso, pode ser visto em Pedro e Paulo, “profetas que enxergam mais além: Pedro é o primeiro a proclamar que Jesus é «o Messias, o Filho de Deus vivo»; Paulo antecipa a conclusão da sua vida: «Já me aguarda a merecida coroa, que me entregará, naquele dia, o Senhor»:
Hoje precisamos de profecia, mas de verdadeira profecia: não discursos que prometem o impossível, mas testemunhos de que o Evangelho é possível. Não são necessárias manifestações miraculosas. Me dói quando ouço "mas, queremos uma Igreja profética"... Bem. O que fazes para que a Igreja seja profética? Queremos a profecia... é preciso vidas que manifestam o milagre do amor de Deus. Não potência, mas coerência; não palavras, mas oração; não proclamações, mas serviço. Queres uma Igreja profética? Comece a servir, fique calado. Não teoria, mas testemunho. Precisamos não de ser ricos, mas de amar os pobres; não de ganhar para nós, mas de nos gastarmos pelos outros; não do consenso do mundo (..) Mas precisamos da alegria pelo mundo que virá; não de projetos pastorais, estes projetos que parecem tem uma própria eficiência, como se fossem sacramentos, projetos pastorais eficientes, não, não, mas precisamos de pastores que ofereçam a vida: de enamorados de Deus.
E foi como “enamorados de Deus” - sublinhou Francisco - que Pedro e Paulo anunciaram Jesus:
Reverência à imagem de São Pedro
Pedro, antes de ser colocado na cruz, não pensa em si mesmo, mas no seu Senhor e, considerando-se indigno de morrer como Ele, pede para ser crucificado de cabeça para baixo. Paulo está para ser decapitado e pensa só em dar a vida, escrevendo que quer ser «oferecido como sacrifício». Esta é a profecia. Não palavras. E esta é profecia, a profecia que muda a história.
Também para nós existe uma profecia, descrita no Livro do Apocalipse, “quando Jesus promete às suas testemunhas fiéis «uma pedra branca», na qual «estará gravado um novo nome»”. E assim, “como o Senhor transformou Simão em Pedro, assim chama a cada um para fazer de nós pedras vivas, com as quais construir uma Igreja e uma humanidade renovadas. Há sempre quem destrua a unidade e quem apague a profecia, mas o Senhor acredita em nós e pede-te: «Tu, tu, tu, tu: queres ser construtor de unidade? Queres ser profeta do meu céu na terra?»  Irmãos e irmãs, deixemo-nos provocar por Jesus e ganhemos a coragem de Lhe dizer: «Sim, quero»!”
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Assista à íntegra da Missa:


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A homilia do Papa na íntegra
"Como o Senhor transformou Simão em Pedro, assim chama a cada um para fazer de nós pedras vivas, com as quais construir uma Igreja e uma humanidade renovadas. Há sempre quem destrua a unidade e quem apague a profecia, mas o Senhor acredita em nós e pede-te: «Queres ser construtor de unidade? Queres ser profeta do meu céu na terra?» Deixemo-nos provocar por Jesus e ganhemos a coragem de Lhe dizer: «Sim, quero»!"
Homilia do Santo Padre
Eucaristia, com a bênção dos pálios,
na Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo
(Basílica de S. Pedro, 29 de junho de 2020)
Na festa dos dois Apóstolos desta cidade, gostaria de partilhar convosco duas palavras-chave: unidade e profecia.
Unidade. Celebramos conjuntamente duas figuras muito diferentes: Pedro era um pescador que passava os dias entre os remos e as redes; Paulo, um fariseu culto, que ensinava nas sinagogas. Quando saíram em missão, Pedro dirigiu-se aos judeus; Paulo, aos pagãos. E, quando se cruzaram os seus caminhos, discutiram animadamente, como Paulo não tem vergonha de contar numa carta (cf. Gal 2, 11-14). Enfim, eram duas pessoas muito diferentes, mas sentiam-se irmãos, como numa família unida onde muitas vezes se discute mas sem deixar de se amarem. Contudo a familiaridade, que os unia, não provinha de inclinações naturais, mas do Senhor. Ele não nos mandou agradar, mas amar. É Ele que nos une, sem nos uniformizar. Nos une nas diferenças.
A primeira Leitura de hoje leva-nos à fonte desta unidade. Narra que a Igreja, pouco depois de ter nascido, passava por uma fase crítica: Herodes não lhe dava paz, a perseguição era violenta, o apóstolo Tiago fora morto; e agora acabou preso o próprio Pedro. A comunidade parece decapitada; cada qual teme pela própria vida. Contudo, neste momento trágico, ninguém foge, ninguém pensa em salvar a pele, ninguém abandona os outros, mas todos rezam juntos. Da oração, tiram coragem; da oração, vem uma unidade mais forte do que qualquer ameaça. Diz o texto que, «enquanto Pedro estava encerrado na prisão, a Igreja orava a Deus, instantemente, por ele» (At 12, 5). A unidade é um princípio que se ativa com a oração, porque a oração permite ao Espírito Santo intervir, abrir à esperança, encurtar as distâncias, manter-nos juntos nas dificuldades.
Notemos outra coisa: naqueles momentos dramáticos, ninguém se lamenta do mal, das perseguições, de Herodes. Ninguém insulta Herodes. E nós estamos muito habituados a insultar os responsáveis. É inútil, e até chato, que os cristãos percam tempo a lamentar-se do mundo, da sociedade, daquilo que está errado. As lamentações não mudam nada. Recordemo-nos de que as lamentações são a segunda porta fechada ao Espírito Santo, como disse  a vocês no dia de Pentecostes: a primeira é o narcisismo, a segunda o desânimo, a terceira o pessimismo. O narcisismo te leva ao espelho, para se olhar continuamente; desânimo, as lamentações. O pessimismo, ao escuro, à escuridão. Essas três atitudes fecham a porta do Espírito Santo. Aqueles cristãos não culpavam, mas rezavam. Naquela comunidade, ninguém dizia: «Se Pedro tivesse sido mais cauteloso, não estaríamos nesta situação». Ninguém. Pedro, humanamente, tinha motivos para ser criticado; mas ninguém o criticava. Não murmuravam contra ele, mas rezavam por ele. Não falavam por trás, mas falavam com Deus. Hoje, podemos interrogar-nos: «Guardamos a nossa unidade com a oração, nossa unidade da Igreja? Rezamos uns pelos outros?» Que aconteceria se se rezasse mais e murmurasse menos, com a língua um pouco mais tranquila? Aquilo que aconteceu a Pedro na prisão: como então, muitas portas que separam, abrir-se-iam; muitas algemas que imobilizam, cairiam. E nós ficaríamos maravilhados como aquela jovem que vendo Pedro na porta, não conseguia abrir a porta, mas ia dentro, maravilhada de alegria em ver Pedro. Peçamos a graça de saber rezar uns pelos outros. São Paulo exortava os cristãos a rezar por todos, mas em primeiro lugar por quem governa (cf. 1 Tim 2, 1-3). Mas este governante é ...", e os qualificadores são muitos: eu não os direi, porque este não é o momento nem o lugar para dizer os qualificadores que são ouvidos contra os governantes. Mas, que Deus os julgue: mas rezemos pelos governantes. Vamos rezar. Eles precisam de oração.  É uma tarefa que o Senhor nos confia. Temo-la cumprido? Ou limitamo-nos a falar, insultar e basta? Quando rezamos, Deus espera que nos lembremos também de quem não pensa como nós, de quem nos bateu a porta na cara, das pessoas a quem nos custa perdoar. Só a oração desata as algemas, como a Pedro; só a oração deixa livre o caminho para a unidade.
Neste dia, benzem-se os pálios que serão entregues ao Decano do Colégio Cardinalício e aos Arcebispos Metropolitas nomeados no decorrer do último ano. O pálio recorda a unidade entre as ovelhas e o Pastor que, como Jesus, carrega a ovelha aos ombros e nunca mais a larga. Além disso, segundo uma bela tradição, hoje unimo-nos de maneira especial ao Patriarcado Ecuménico de Constantinopla. Pedro e André eram irmãos; e entre nós, quando é possível, trocamos uma visita fraterna nas respetivas festas; não tanto por gentileza, mas para caminhar juntos rumo à meta que o Senhor nos indica: a unidade plena. Hoje, eles não conseguiram vir por causa do coronavírus, mas quando desci para venerar os restos mortais de Pedro, sentia no coração ao meu lado meu amado irmão Bartolomeu. Eles estão aqui, conosco.
A segunda palavra: profecia. Unidade e profecia. Os nossos Apóstolos foram provocados por Jesus. Pedro ouviu-O perguntar-lhe: «Tu, quem dizes que Eu sou?» (cf. Mt 16, 15). Naquele momento, compreendeu que, ao Senhor, não Lhe interessam as opiniões gerais, mas a opção pessoal de O seguir. Também a vida de Paulo mudou depois duma provocação de Jesus: «Saulo, Saulo, porque Me persegues?» (At 9, 4). O Senhor abalou-o dentro: mais do que fazê-lo cair por terra no caminho de Damasco, derrubou a sua presunção de homem religioso e bom. Assim um Saulo altivo tornou-se Paulo. Paulo que significa «pequeno». A estas provocações, a estas inversões da vida seguem as profecias: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja» (Mt 16, 18); e a Paulo: «É instrumento da minha escolha, para levar o meu nome perante os pagãos» (At 9, 15). Assim, a profecia nasce quando nos deixamos provocar por Deus: não quando gerimos a própria tranquilidade, mantendo tudo sob controle. Não nasce de meus pensamentos, não nasce de meu coração coração. Nasce se nós nos deixamos provocar por Deus. Quando o Evangelho inverte as certezas, brota a profecia. Só quem se abre às surpresas de Deus é que se torna profeta. Vemo-lo em Pedro e Paulo, profetas que enxergam mais além: Pedro é o primeiro a proclamar que Jesus é «o Messias, o Filho de Deus vivo» (Mt 16, 16); Paulo antecipa a conclusão da sua vida: «Já me aguarda a merecida coroa, que me entregará, naquele dia, o Senhor» (2 Tim 4, 8).
Hoje precisamos de profecia, de verdadeira profecia: não discursos que prometem o impossível, mas testemunhos de que o Evangelho é possível. Não são necessárias manifestações miraculosas.  Me dói quando ouço "mas, queremos uma Igreja profética"... Bem. O que fazes para que a Igreja seja profética? Queremos a profecia. É preciso vidas que manifestam o milagre do amor de Deus. Não potência, mas coerência; não palavras, mas oração; não proclamações, mas serviço. Tu queres uma Igreja profética? Comece a servir, fique calado. Não teoria, mas testemunho. Precisamos não de ser ricos, mas de amar os pobres; não de ganhar para nós, mas de nos gastarmos pelos outros; não do consenso do mundo, o de estar bem com todos. Costumamos dizer: “estar bem com Deus e com o diabo”...estar bem com todos. Não. Isso não é profecia. Mas precisamos da alegria pelo mundo que virá; não de projetos pastorais, estes projetos que parecem ter a própria eficiência, como se fossem sacramentos, projetos pastorais eficientes: não; mas precisamos de pastores que ofereçam a vida: de enamorados de Deus. Foi assim, como enamorados, que Pedro e Paulo anunciaram Jesus. Pedro, antes de ser colocado na cruz, não pensa em si mesmo, mas no seu Senhor e, considerando-se indigno de morrer como Ele, pede para ser crucificado de cabeça para baixo. Paulo está para ser decapitado e pensa só em dar a vida, escrevendo que quer ser «oferecido como sacrifício» (2 Tim 4, 6). Esta é a profecia. Não palavras. E esta é profecia, a profecia que muda a história.
Amados irmãos e irmãs, Jesus profetizou a Pedro: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja». Existe, também para nós, uma profecia semelhante; encontra-se no último livro da Bíblia, quando Jesus promete às suas testemunhas fiéis «uma pedra branca», na qual «estará gravado um novo nome» (Ap 2, 17). Como o Senhor transformou Simão em Pedro, assim chama a cada um para fazer de nós pedras vivas, com as quais construir uma Igreja e uma humanidade renovadas. Há sempre quem destrua a unidade e quem apague a profecia, mas o Senhor acredita em nós e pede-te: «Tu, tu, tu, tu: queres ser construtor de unidade? Queres ser profeta do meu céu na terra?» Irmãos e irmãs, deixemo-nos provocar por Jesus e ganhemos a coragem de Lhe dizer: «Sim, quero»!
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Angelus:
A maior graça é fazer da vida um dom
“Eis o que pedir a Deus: não só a graça do momento, mas a graça da vida", disse o Papa Francisco ao rezar o Angelus com os fiéis na Praça São na Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano - Após presidir à celebração da missa na Basílica Vaticana, o Papa Francisco rezou o Angelus com os fiéis na Praça São Pedro por ocasião da festa dos santos padroeiros de Roma.
Em sua alocução, comentou o episódio da vida de Pedro em que um anjo o libertou da prisão, salvando-o da morte, mas o mesmo não ocorreu em Roma e sua vida não foi poupada.
 “O Senhor lhe concedeu muitas graças e o libertou do mal: faz assim também conosco. Ou melhor, com frequência vamos até Ele só nos momentos de necessidade, a pedir ajuda. Mas Deus vê mais longe e nos convida a ir além, a buscar não só os seus dons, mas Ele, o Senhor de todos os dons; a confiar-lhe não só os problemas, mas a vida.” 
Fazer da vida um dom
A maior graça, disse o Papa, é doar a vida, é fazer da vida um dom. E isso vale para todos, na família, no trabalho e para quem é consagrado. De modo especial, Francisco citou os idosos abandonados pela família, como se fossem "material descartável". "Este é um drama do nosso tempo: a solidão dos idosos."
São Pedro não se tornou heroi por ter sido libertado da prisão, mas por ter dado a vida aqui, transformando um lugar de execuções num lugar de esperança, que é a Basílica Vaticana.
“Eis o que pedir a Deus: não só a graça do momento, mas a graça da vida.”
O segredo da vida feliz é reconhecer Jesus como Deus vivo, "não como uma estátua", porque não importa saber que Jesus foi grande na história e apreciar o que fez, mas importa saber qual lugar dou a Ele na minha vida, no meu coração. 
É a este ponto que Jesus diz a Simão: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Foi chamado pedra não porque era confiável, pelo contrário, explicou Francisco, mas porque escolheu construir a vida sobre Jesus, não sobre suas capacidades.
“É Jesus a rocha sobre a qual Simão se tornou pedra.”
O Papa então concluiu com algumas perguntas aos fiéis:
"E eu, como vivo a vida? Penso só nas necessidades do momento ou acredito que a minha verdadeira necessidade é Jesus, que faz de mim um dom? E como construo a vida, sobre as minhas capacidades ou sobre o Deus vivo? Que Nossa Senhora nos ajude a colocá-Lo na base de cada dia e interceda para que possamos fazer da nossa vida um dom."




















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Assista:
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domingo, 28 de junho de 2020

Cônego Braz Tenório Rocha celebra neste domingo

56 anos de Sacerdócio

Rendamos graças a Deus pelo 56º aniversário de Ordenação Presbiteral do nosso pároco emérito, Cônego Braz Tenório Rocha.
Celebração do Jubileu de Ouro Sacerdotal do Côn. Braz - 29 de junho de 2014

Dados biográficos
Filho de José Tenório Rocha e Maria Claudina de Jesus, Cônego Braz nasceu no dia 20 de dezembro de 1938 em Conceição dos Ouros, quando o município ainda era distrito de Paraisópolis. Foi ordenado presbítero por Dom José D’Ângelo Neto na Matriz de Nossa Senhora da Conceição em sua terra natal no dia 29 de junho de 1964. Exerceu o ministério sacerdotal nas paróquias São Francisco de Paula (Ouro Fino), Nossa Senhora da Piedade (Crisólia), Nossa Senhora da Conceição (Conceição dos Ouros), Nossa Senhora da Consolação (Consolação), Santa Rita de Cássia (Santa Rita de Caldas) e São José (Paraisópolis), da qual se tornou pároco emérito em 1º de agosto de 2001. 
No período em que foi responsável pela direção da Paróquia São José realizou diversas obras entre as quais se destacam a reforma da Igreja Matriz, da Capela da Soledade e de diversas capelas rurais; construção da capelinha do Salão Paroquial e da moderna Igreja de Santo Antônio, significativo referencial para um grande setor urbano da paróquia; reforma da casa paroquial e construção de uma nova residência presbiteral junto à Igreja de Santo Antônio. Isso ao lado de uma atenção especial para com a emissora paroquial, a Rádio Paraisópolis.
Exerceu ainda relevantes serviços em diversos organismos administrativos e pastorais da Arquidiocese de Pouso Alegre. Em reconhecimento pela sua dedicação à Igreja, Cônego Braz recebeu, no início de 2011, do Arcebispo Dom Ricardo Pedro o título de Cônego.
(O Paraíso de José: 160 anos da Paróquia São José, Luiz Gonzaga da Rosa, Editora Santuário, 2010)
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Papa na oração mariana do Angelus:

A gratidão é um sinal
de boa educação, e também um distintivo do cristão.

Francisco recordou que o Evangelho deste domingo nos convida “a viver plenamente e sem hesitação a nossa adesão ao Senhor. Jesus pede aos seus discípulos que levem a sério as exigências do Evangelho, mesmo quando isto requer sacrifício e esforço”.
Mariangela Jaguraba - Vatican News O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus deste domingo (28/06), da janela da residência pontifícia vaticana, junto com alguns fiéis que se encontravam na Praça São Pedro.
Na alocução que precedeu a oração, o Papa recordou que o Evangelho deste domingo nos convida “a viver plenamente e sem hesitação a nossa adesão ao Senhor. Jesus pede aos seus discípulos que levem a sério as exigências do Evangelho, mesmo quando isto requer sacrifício e esforço”.
Segundo Francisco, “o primeiro pedido exigente que Ele faz àqueles que O seguem é que coloquem o amor a Ele acima dos afetos familiares. Ele diz: «Quem ama o pai ou a mãe, [...] o filho ou a filha mais do que a mim, não é digno de mim».” A seguir, o Papa acrescentou:
Jesus não pretende certamente subestimar o amor pelos pais e filhos, mas sabe que os laços de parentesco, se forem postos em primeiro lugar, podem desviar-se do verdadeiro bem. Vemos algumas corrupções nos governos ocorre porque o amor pelo parentesco é maior que o amor pela pátria e eles colocam os parentes no comando. O mesmo com Jesus: quando o amor é maior que Ele, não é uma coisa boa. Todos nós poderíamos dar muitos exemplos a este respeito. Sem mencionar as situações em que os afetos familiares se misturam com escolhas opostas ao Evangelho. Quando, por outro lado, o amor pelos pais e filhos é animado e purificado pelo amor ao Senhor, então torna-se plenamente fecundo e produz frutos de bem na própria família e muito para além dela.
O Papa recordou que “nesse sentido, Jesus diz esta frase. Recordamos como Jesus repreende os doutores da lei que fazem com que os pais não tenham o necessário com a pretensão de entregá-lo ao altar, de entregá-lo à Igreja. Ele os repreende! O verdadeiro amor a Jesus exige um amor verdadeiro pelos pais, pelos filhos, mas primeiro buscamos o interesse familiar, isso sempre leva a um caminho errado”.
«Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim», diz Jesus aos seus discípulos. “É uma questão de o seguir no caminho que Ele percorreu, sem procurar atalhos. Não há amor verdadeiro sem cruz, ou seja, sem um preço a pagar pessoalmente. E muitas mães dizem isso, muitos pais que se sacrificam muito pelo filho e carregam verdadeiros sacrifícios, cruzes, mas porque amam.”
Carregada com Jesus, a cruz não é assustadora, porque Ele está sempre ao nosso lado para nos apoiar na hora da provação mais dura, para nos dar força e coragem. Também não é necessário preocupar-se por preservar a própria vida, com uma atitude temerosa e egoísta.
“Jesus adverte: «Quem procura conservar a própria vida, vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim», ou seja, por amor a Jesus, por amor ao próximo, pelo serviço aos outros, «vai encontrá-la.» Este é o paradoxo do Evangelho. Mas temos, graças a Deus, também muitos exemplos como este”, disse ainda o Pontífice, ressaltando que “vemos isso hoje nesses dias. Quantas pessoas, quantas pessoas, estão carregando cruzes para ajudar os outros, se sacrificam para ajudar os que precisam nesta pandemia. Mas, sempre com Jesus, é possível fazer”.
Segundo Francisco, “a plenitude da vida e da alegria é encontrada através da doação de si mesmo pelo Evangelho e pelos irmãos, com abertura, aceitação e benevolência. Ao fazê-lo, podemos experimentar a generosidade e gratidão de Deus”.
No Evangelho deste domingo, Jesus diz também assim: «Quem recebe a vocês, recebe a mim [...]. Quem der ainda que seja apenas um copo de água fria a um desses pequeninos [...] não perderá a sua recompensa.» E o Papa acrescentou:
A gratidão generosa de Deus Pai leva em consideração até o mais pequeno gesto de amor e serviço prestado aos irmãos. Nesses dias, ouvi um sacerdote que ficou comovido porque uma criança se aproximou dele na paróquia e disse: “Padre, estas são as minhas economias; pouca coisa. É para os seus pobres, para aqueles que precisam hoje por causa da pandemia”. Coisa pequena, mas uma coisa grande. É uma gratidão contagiosa, que ajuda cada um de nós a sentir gratidão por aqueles que se preocupam com as nossas necessidades. Quando alguém nos oferece um serviço, não devemos pensar que tudo nos é devido. Não. Muitos serviços são feitos gratuitamente. Pensem no voluntariado, que é uma das maiores coisas que a sociedade italiana tem. Os voluntários! Quantos deles perderam a vida nessa pandemia. Isso é feito por amor, simplesmente para o serviço. A gratidão, o reconhecimento, é antes de tudo um sinal de boa educação, mas é também um distintivo do cristão. É um sinal simples mas genuíno do reino de Deus, que é o reino do amor gratuito e reconhecido.
O Papa concluiu, pedindo à Virgem Maria, que amou Jesus mais do que a sua própria vida e o seguiu até à cruz, para que nos ajude a colocar-nos sempre diante de Deus com um coração disponível, deixando que a sua Palavra julgue os nossos comportamentos e as nossas escolhas.
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                                                                                                                      Fonte: vaticannews.va