quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Reflexão verdadeira e oportuna:

Estão crucificando Jesus e sorteando sua túnica!...

Pe. Zezinho, scj ||||||||||||||||||||||||||||||||

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(Jo 10,28-33) "Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior do que todos, e ninguém pode arrancá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos um”. De novo, os judeus pegaram em pedras para apedrejar Jesus. E ele lhes disse: “Eu vos mostrei muitas obras boas da parte do Pai. Por qual delas me quereis apedrejar?”

(Mt 23,13-16) "Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Fechais aos outros o Reino dos Céus, mas vós mesmos não entrais, nem deixais entrar aqueles que o desejam. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Percorreis o mar e a terra para converter alguém, e quando o conseguis, o tornais merecedor do inferno, duas vezes mais do que vós.”

Se eles ainda creem que Jesus é o Filho de Deus então muitíssimos padres, pastores, diáconos e leigos de todas as igrejas estão pecando contra Jesus a quem dizem amar.

Estão dizendo que só eles são ovelhas do Cristo! Só eles entrarão no Céu!

Estão se voltando uns contra os outros e usando as redes sociais para um ofender a igreja do outro.

Poderiam ser irmãos em Cristo, mas escolheram não ser. É pastor agredindo a Igreja Católica e padres e leigos agredindo igrejas evangélicas e crentes ofendendo os ateus.

Jesus ensinou o respeito fraterno. E respeito é o que eles menos mostram.

É pastor ofendendo pastor, padre ofendendo padre, padre ofendendo o Papa, leigos ofendendo os bispos, católico ofendendo evangélico, evangélico ofendendo católico, e todos achando que eles estão certos e os outros estão errados.

Poderiam, como pessoas bem educadas e fiéis bem educados dizer:

EU CREIO ASSIM! DISCORDO DE VOCÊ, MAS NÃO ESQUECI QUE SOMOS IRMÃOS!

O que vejo nas redes sociais são fariseus movendo céus e terra para conquistar mais um adepto e depois exigir o dízimo desta nova ovelha!

Estão disputando pedaços do manto do Cristo já cortado em mil relíquias.

Grande número deles já não amam Jesus. Querem a vitória das suas igrejas, ou do seu grupo de igreja, mas não lhes passa pela cabeça o AMAI-VOS UNS AOS OUTROS ASSIM COMO EU VOS AMEI (Mt 5, 43-46).

Não constroem templos: constroem trincheiras e bunkers. Na mesma longa avenida de doze quilômetros ergueram 18 templos. E nunca foi visto um encontro bem educado de padres, pastores e leigos no enorme estádio para louvarem o mesmo Jesus. Não conseguem… Não conseguem e não querem.

Cristãos fraternos e bem educados são poucos. A maioria aprendeu a xingar o outro em nome da sua fé em Jesus.

Esqueceram os quatro evangelhos, os Atos e todas as epístolas. Querem ser “vencedores” em Cristo mas estão se revelando cada dia mais marketeiros e cada dia mais “vendedores” do Cristo. …

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Paróquia São José - Paraisópolis (MG):

Horários de missa e outros eventos

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Dia 3 - 3º Domingo da Quaresma

Peregrinação da imagem de São José

na comunidade Nossa Senhora Aparecida (Lavapés) 

7h - Missa na Matriz     9h - Missa na Matriz

11h - Missa na igreja de  Santa Edwiges

19h - Missa na Matriz         19h - Missa na igreja de Santo Antônio

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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Papa na catequese desta quarta-feira:

inveja e vanglória, vícios de quem sonha ser o centro do mundo

Na Audiência Geral desta quarta-feira (28), Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre os vícios e as virtudes. O texto da reflexão dedicado à inveja e à vanglória foi proferido por mons. Ciampanelli, colaborador da Secretaria de Estado. Para combater esses vícios, os remédios são o amor gratuito e o reconhecimento de que Deus está presente em nossa própria fraqueza.

Após uma semana de pausa, devido ao retiro espiritual quaresmal dos membros da Cúria Romana, e ainda se recuperando de uma "leve gripe", conforme comunicado pela Sala de Imprensa da Santa Sé, que levou o Pontífice a cancelar algumas atividades no sábado e na segunda-feira, Francisco esteve presente na Sala Paulo VI para a Audiência Geral desta quarta-feira, 28 de fevereiro.

Ao saudar os fiéis e peregrinos, o Papa afirmou: "Queridos irmãos e irmãs, ainda estou um pouco resfriado. Por isso, pedi ao mons. Ciampanelli para ler a catequese de hoje", e em seguida, o colaborador da Secretaria de Estado proferiu o discurso que dá continuidade à reflexão sobre os vícios e as virtudes.

O rosto do invejoso é sempre triste

"Hoje examinaremos dois pecados capitais que encontramos nas grandes listas que a tradição espiritual nos deixou: a inveja e a vanglória", introduz mons. Ciampanelli, dedicando a primeira parte da reflexão à inveja:

"Quando lemos a Sagrada Escritura, percebemos que este vício nos é apresentado como um dos mais antigos: o ódio de Caim por Abel é desencadeado quando ele percebe que os sacrifícios do seu irmão agradam a Deus. O rosto do invejoso é sempre triste: o seu olhar está abaixado, parece examinar continuamente o chão, mas na realidade não vê nada, porque a mente está envolvida por pensamentos cheios de malícia. A inveja, se não for controlada, leva ao ódio pelos outros. Abel será morto pelas mãos de Caim, que não podia suportar a felicidade do irmão."

Deus tem uma "matemática" própria

O texto do Papa sublinha que "na raiz deste vício existe uma relação de ódio e amor: deseja-se mal ao outro, mas secretamente deseja-se ser como ele".

A inveja nos faz criar uma falsa ideia de Deus, não se aceita que Deus tenha uma "matemática" própria, diferente da nossa:

"Gostaríamos de impor a Deus a nossa lógica egoísta, mas a lógica de Deus é o amor. Os bens que Ele nos dá são feitos para serem partilhados. É por isso que São Paulo exorta os cristãos: 'Com amizade fraterna, sede afetuosos uns com os outros. Rivalizai uns com os outros na estima recíproca' (Rm 12,10). Eis aqui o remédio para a inveja!"


A vanglória é uma autoestima inflada e infundada

A segunda parte da catequese de Francisco volta-se para a vanglória, e mons. Ciampanelli, na leitura do texto, recorda que este vício anda de mãos dadas com o demônio da inveja, sendo típico de quem aspira ser o centro do mundo, livre para explorar tudo e todos, objeto de todo louvor e todo amor:

"A pessoa vangloriosa não tem empatia e não percebe que existem outras pessoas no mundo além dela. As suas relações são sempre instrumentais, caracterizadas pela opressão dos outros. A sua pessoa, as suas façanhas, os seus sucessos devem ser mostrados a todos: é uma perpétua mendiga da atenção. E se, às vezes, suas qualidades não são reconhecidas, fica extremamente irritada. Os outros são injustos, não entendem, não estão à altura."

Nas fraquezas, a força de Cristo

"Para curar os vangloriosos, os mestres espirituais não sugerem muitos remédios", recorda o texto do Papa, "porque, em última análise, o mal da vaidade tem em si o seu remédio: os elogios que o vanglorioso esperava colher no mundo logo se voltarão contra ele. E quantas pessoas, iludidas por uma falsa imagem de si mesmas, caíram em pecados dos quais logo se envergonhariam!"

Na conclusão, mons. Ciampanelli ressalta na leitura da catequese, que a mais bela instrução para vencer a vanglória encontra-se no testemunho de São Paulo:

"O Apóstolo sempre teve de lidar com uma falha que nunca foi capaz de superar. Três vezes pediu ao Senhor que o libertasse daquele tormento, mas no final Jesus respondeu-lhe: 'Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força se consuma'. A partir daquele dia, Paulo foi libertado. E a sua conclusão deveria tornar-se também a nossa: 'É, portanto, de bom grado que prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo' (2Cor 12,9)."

Thulio Fonseca - Vatican News

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Assista:

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terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Reflexão de dom Pedro Cipollini:

Omissão e prudência

Neste tempo de quaresma, é tempo de reflexão, proponho refletirmos hoje sobre omissão. Esta  palavra anda esquecida, mas a vivência do que ela significa está em dia, ou seja, a omissão é atitude tomada pela maioria das pessoas em espacial os que tem responsabilidades de governo. É mais fácil se omitir e posar de prudente, que enfrentar as dificuldades para resolver as situações difíceis, e assim trazer melhoria para as pessoas e instituições. 

Dom Pedro Cipollini

A palavra omissão vem do latim e significa “deixar de ir adiante”. A omissão é faltar ao cumprimento do dever, deixando de fazer uma ação a que se estava moralmente obrigado. É a decisão de não agir quando  é dever fazê-lo. Podemos até dizer que os pecados ou faltas por ação, sejam menos frequentes que por omissão. Peca-se mais por omissão do que por comissão.  

Neste tempo de quaresma é bom prestar atenção redobrada nas faltas por omissão que provocam em todos os ambientes, graves consequências, no convívio social, na política e até mesmo na Igreja. Por isso se pede durante a missa, no ato penitencial, perdão pelos pecados  de “pensamentos, atos e omissões”. 

Nós brasileiros temos muita facilidade de tolerar a omissão, tanto das pessoas como a omissão coletiva, na qual a responsabilidade individual é mais dificilmente determinada. Por exemplo, as conspirações de silêncio em torno da discriminação por raça, cor, etnia ou religião. É a  omissão coletiva diante de  um estado de injustiça social que pesa sobre a população. 

Sem dúvida a responsabilidade maior pela omissão recai sobre os que tem meios para repará-la. Porém eles agem sempre apoiados nos grandes cumplices da omissão: o egoísmo, o comodismo e a covardia. 

Porém os omissos procuram se passar por prudentes. Reflitamos também sobre a prudência…É impressionante o discurso a favor da prudência, a falsa prudência, porém, que os omissos fazem. A falsa prudência segue o politicamente correto, o interesse pessoal, evita sempre os conflitos, capitula diante dos leões e castiga os cordeiros. Esta prudência oprime porque favorece o “status quo”, produz fariseus e não tem profetismo ou visão de futuro.  

A prudência verdadeira, trabalha não só em prol da pessoa mas da coletividade, é movida pela verdade e justiça, defende a dignidade de todos e não tem medo dos leões defendendo os cordeiros. Jesus é a imagem do homem prudente, mas não teve dúvidas em expulsar os vendilhões do Templo. Sua prudência  não estava separada do profetismo e do anúncio do Evangelho. 

A prudência é uma das quatro virtudes cardeais apontadas pela Antiguidade e a Idade Média. Talvez a virtude mais esquecida. Mas ela não pode ser suporte para a omissão dos covardes. A verdadeira prudência, quando é virtude, evita a omissão exatamente por prudência.  

A ética da responsabilidade quer que respondamos não apenas por nossas intenções ou princípios, mas também pelas consequências de nossos atos. Esta é uma ética da prudência verdadeira e é a única válida, porque leva em conta as consequências de nossas ações e não só de nossas convicções. Aqui, não há lugar para a omissão. 

Não espere por prudência, que os seus erros se consertem sozinhos com o tempo, aomissãofará você errar mais.# 

Dom Pedro Cipollini - Bispo de Santo André (SP)

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                                                                                                         Fonte: cnbb.org.br       

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Padre Zezinho responde ao questionamento que lhe fazem:

Perguntam qual é a minha linha pastoral!

Pe. Zezinho, scj ||||||||||||||||||||||||||

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Oposição ao STF, ao Governo ATUAL, oposição aos OPOSITORES ATUAIS. Um tenta dominar o outro.

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Os candidatos não conseguem deixar de se odiar! Um bom católico quer democracia de verdade com os poderes devidamente estabelecidos pela Constituição. E isto se alcança com políticos e juízes sérios e equilibrados. Existem alguns, mas eles não têm chance de chegar ao Palácio do Planalto!

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A Bíblia fala de bons e maus juízes, bons e maus governantes, bons e maus administradores! Jesus falou disso!

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Faço parte da linha transversal da fé. A que perpassa, a que aceita dialogar com igrejas e partidos e ideias, a que deixa falar e, quando concorda, não vira capacho e, quando discorda, se defende mas não ofende.

Não faço parte da linha divisória tipo nós aqui e eles lá, nós do sul e eles do norte; nós do ocidente e eles do oriente, nós esquerda e eles direita, nós direita e eles esquerda, nós pobres e eles ricos, nós os crentes e os outros descrentes, nós o revelados e os outros a serem convertidos, nós os eleitos e os outros ignorantes.

Não faço parte das linhas que separam pessoas por causa de ideias ou de fé.

Sigo a linha dos que congregam e deixam falar e ouvir. E quando vejo políticos cheios de ódio e mentindo para o povo, vomitando ódio pelas ventas, sou da linha da oposição à oposição.

Se for preciso sei dar um chega para lá nos que acham que não sabemos que católicos querem diálogo e quem não o quer!

Escolhi a parte mais difícil da fé: deixar falar, mas denunciar quem semeia ódio e sangue ao seu redor!

Sou a favor de deixar o outro achar o seu espaço, pensar, sonhar e viver do seu jeito. Mas não posso obrigá-lo a me ouvir e a pensar como eu penso.

Mas como sigo a linha transversal da fé, eu posso amá-lo como irmão ou irmã, embora eu saiba que ele nunca me amará porque me escolheu como inimigo, porque descobriu que ensino teologia da libertação bíblica, e pedagogia da cordialidade!

Faz 60 anos que sou dialogador, aberto a novas perspectivas e acredito em verdadeiras conversões: Paulo, Madalena, Agostinho …

Sou atualizador desde o Concílio Vaticano II, mas há crentes que não aceitam nenhuma atualização!

Os radicais postam cercas e divisórias em tudo; e dali ninguém passa.

Mas quem crê em Jesus ultrapassa barreiras!

Sei voar e olhar de cima. Ensino que em cima do muro não é o lugar mais alto para se estar. As copas das árvores às vezes estão a 30 metros do chão! De lá se vê muito mais.

E isto os crentes de visão curta não perdoam.

Quem crê vive de perspectivas; e viver de perspectivas significa ver mais além do que os olhos veem!

Creio em quem ousa pensar em novas possibilidades para o ser humano.

Se as linhas deles são imediatistas a minha não é. Eu creio que as pessoas mudam. Paulo mudou. Pedro mudou. Agostinho mudou. Madalena mudou. Judas não mudou!…

Minhas linhas são realistas porque o ser humano é quem é. E entendo que só o diálogo muda um coração!

Jesus e Paulo, Thomas de Aquino e Francisco de Assis era transversais. Eles dialogavam. Viam além do que se vê. Raramente apontavam para o inferno. Vivam apontando para o alto, para os lados, para a humildade e para o perdão.

Resumindo: Sou contra todos os radicais que enchem o nosso caminho de estacas e placas a alertar:

ISTO É NOSSO! AQUI SÓ ENTRA QUEM PENSA COMO NÓS.

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Sou contra os que jogam os sem poder em guetos sub-humanos.

E quando aparece alguém que não aceita as linhas traçadas por eles, eles dão um jeito de crucificá-lo.

Fizeram isto com Jesus e com 10 dos doze apóstolos. Só João escapou, mas morreu cheio de escórias e pústulas.

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O mundo não consegue conviver com quem pensa ou crê diferente!… Jesus veio ensinar a pensar diferente e deixar falar. A conclusão era mais um coração por ele conquistado por ele . Ele nunca usou de truques para converter alguém!

Aos 82 anos sou discípulo do Concílio Vaticano II. Meu rio não corre para trás. Dá voltas, mas não retrocede.

Digo e insisto que não voltei e não voltarei a 1950. Sigo quem assinou aqueles documentos desde 1962 a 1965 e todas atualizações de todos os 7 Papas que levaram este Concílio avante. E o próximo Papa que for eleito vai fazer exatamente o mesmo: vai continuar a ensinar o que o Concílio de 60 anos ensinou! Não vai voltar ao Concílio de Trento de 500 anos atrás …

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Nossa barca e nossa locomotiva da fé não foi feita para dar marcha à ré!

Prosseguiremos atualizando nossa catequese! E lamento pelos leigos e sacerdotes teimam em retroceder a 100 ou 500 anos.

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Minha linha pastoral é prosseguir. Há um deserto para atravessar e enquanto eu estiver vivo atualizarei o que Concílio estabeleceu.

Crer em Jesus nunca foi fácil.

Mas foi ele quem disse para não termos medo porque ele sabia como vencer o mundo. Morreu prometendo o Céu a quem nunca teria chance de se salvar segundo as teologias da época!…

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                                                                                             Fonte: facebook.com/padrezezinho

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Papa no Angelus deste domingo:

Abramo-nos à luz de Jesus

Durante o Angelus deste domingo (25/02), Francisco incentiva-nos a manter sempre os nossos olhos fixos no rosto luminoso de Jesus: “Ele é amor e vida sem fim. Ao longo das trilhas da existência, às vezes tortuosas, busquemos sua face, repleta de misericórdia, de fidelidade e de esperança”, destaca o Pontífice.

Mesmo se recuperando de uma “leve gripe”, conforme comunicado ontem (24/02) pela Sala de Imprensa do Vaticano, o Papa compareceu ao seu compromisso dominical: a oração mariana do Angelus com os fiéis reunidos na Praça São Pedro. Em sua reflexão, Francisco meditou sobre o Evangelho deste segundo domingo da Quaresma (25/02), que narra o episódio da Transfiguração de Jesus (cf. Mc 9,2-10).

O Santo Padre recordou que "depois de anunciar sua Paixão aos discípulos, Jesus leva consigo Pedro, Tiago e João, sobe um alto monte e ali se manifesta fisicamente com toda a sua luz, revelando a eles o sentido do que tinham vivido juntos até aquele momento".

A pregação do Reino, o perdão dos pecados, as curas e os sinais realizados eram, de fato, centelhas de uma luz ainda maior: "a luz de Jesus, a luz que é Jesus", enfatizou o Papa.

Jamais desviar os olhos da luz de Jesus

Segundo Francisco, é isso que os cristãos são chamados a fazer no caminho da vida: "ter sempre diante dos olhos o rosto luminoso de Cristo". 

“Abramo-nos à luz de Jesus! Ele é amor e vida sem fim. Ao longo das trilhas da existência, às vezes tortuosas, busquemos sua face, repleta de misericórdia, de fidelidade e de esperança.”


Cultivar um olhar atento

O Pontífice destacou que a oração, a escuta da Palavra, os Sacramentos, especialmente a Confissão e a Eucaristia, são importantes auxílios para seguir este percurso, e completou: 

“Eis um bom propósito para a Quaresma: cultivar olhares atentos, tornar-se 'exploradores de luz', exploradores da luz de Jesus na oração e nas pessoas.”

Maria, resplandecente da luz de Deus

Por fim, o convite do Papa a uma reflexão interior: 

"Em meu caminho, mantenho os olhos fixos em Cristo que me acompanha? E para fazê-lo, dou espaço ao silêncio, à oração, à adoração? Por fim, busco cada pequeno raio da luz de Jesus, que se reflete em mim e em cada irmão e irmã que encontro? E me lembro de agradecê-lo por isso?" 

"Maria, resplandecente da luz de Deus, nos ajude a manter o olhar fixo em Jesus e a nos olharmos mutuamente com confiança e amor", conclui Francisco.

 Thulio Fonseca - Vatican News

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Assista:

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sábado, 24 de fevereiro de 2024

Reflexão enriquecedora:

Não confundir Jesus com ninguém

José Antonio Pagola

De acordo com o evangelista, Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João, leva-os para um monte à parte e ali “se transfigura diante deles”. São os três discípulos que oferecem talvez maior resistência a Jesus quando lhes fala de seu destino doloroso de crucificação.

Pedro tentou, inclusive, tirar-lhe da cabeça essas ideias absurdas. Os irmãos Tiago e João andam pedindo-lhe os primeiros lugares no reino do Messias. Diante deles precisamente Jesus se transfigurará. Eles precisam disso mais do que ninguém.

A cena, recriada com diversos recursos simbólicos, é grandiosa. Jesus apresenta-se diante deles “transfigurado”. Ao mesmo tempo, Elias e Moisés, que segundo a tradição foram arrebatados à morte e vivem junto a Deus, aparecem conversando com ele. Tudo convida a intuir a condição divina de Jesus, crucificado por seus adversários, mas ressuscitado por Deus.

Pedro reage com espontaneidade: “Mestre, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro não entendeu nada. Por um lado, coloca Jesus no mesmo plano e no mesmo nível de Elias e Moisés: a cada um sua tenda. Por outro lado, continua resistindo à dureza do caminho de Jesus; quer retê-lo na glória do Tabor, longe da paixão e da cruz do Calvário.

O próprio Deus vai corrigi-lo de maneira solene: “Este é meu Filho amado”. Não se deve confundi-lo com ninguém. “Escutai-o”, inclusive quando vos fala de um caminho de cruz, que termina em ressurreição.

Só Jesus irradia luz. Todos os outros, profetas e mestres, teólogos e hierarcas, doutores e pregadores, temos o rosto apagado. Não devemos confundir ninguém com Jesus. Só ele é o Filho amado. Sua Palavra é a única que devemos escutar. As demais devem levar-nos a ele.

E devemos escutá-Ia também hoje, quando nos fala de “carregar a cruz” destes tempos. O êxito nos causa dano a nós cristãos. Levou-nos, inclusive, a pensar que era possível uma Igreja fiel a Jesus e ao seu projeto do reino sem conflitos, sem rejeição e sem cruz. Hoje se nos oferecem mais possibilidades de viver como cristãos “crucificados”. Isso nos fará bem. Ajudar-nos-á a recuperar nossa identidade cristã.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                                       Fonte: franciscanos.org.br        Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos 

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Primeira Pregação da Quaresma

 do cardeal Cantalamessa

"Nós, porém, encontramo-nos aqui no contexto da Cúria, que não é uma comunidade religiosa ou matrimonial, mas de serviço e de trabalho eclesial. As ocasiões para não desperdiçar, se quisermos também nós sermos moídos para nos tornarmos trigo de Deus, são muitas, e cada um deve identificar e santificar aquela que lhe é oferecida em seu posto de serviço".

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap
“EU SOU O PÃO DA VIDA”
Primeira Pregação da Quaresma de 2024

No início destas pregações da Quaresma, retomemos o diálogo entre Jesus e os apóstolos em Cesareia de Filipe:

Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?”. Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outros, que é Jeremias ou um dos profetas: Então disse-lhes: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,13-16).

De todo o diálogo, interessa-nos, pelo momento, apenas e exclusivamente, a segunda pergunta de Jesus: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Não a tomemos, contudo, no sentido com que esta pergunta é normalmente entendida; isto é, como se a Jesus interessasse saber o que pensa dele a Igreja, ou o que os nossos estudos de teologia nos dizem dele. Não! Tomemos essa pergunta como deve ser tomada toda palavra que sai da boca de Jesus, isto é, como se dirigida, hic et nunc, a quem a escuta, individualmente, pessoalmente.

Para realizar este exame, deixemo-nos ajudar pelo evangelista João. Em seu Evangelho, encontramos toda uma série de declarações de Jesus, os famosos Ego eimi, “Eu Sou”, com os quais ele revela o que pensa, ele, de si mesmo, quem diz, ele, ser: “Eu sou o pão da vida”, “Eu sou a luz do mundo”, e assim por diante. Veremos cinco destas autorrevelações e nos perguntaremos cada vez se ele é realmente para nós aquilo que ele afirma ser e como fazer para que o seja sempre mais.

Será um momento para se viver de modo particular. Isto é, não com o olhar voltado para o exterior, aos problemas do mundo e da própria Igreja, como somos levados a fazer em outros contextos, mas um olhar introspectivo. Um momento, então, intimista e separado e, por isso, egoístico? Totalmente o contrário! É um evangelizar-nos para evangelizar, um preencher-nos de Jesus para falar dele “por redundância de amor”, como as primitivas Constituições da minha Ordem Capuchinha recomendavam aos pregadores; isto é, por íntima convicção, não apenas para cumprir um mandato.

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Iniciemos pelo primeiro destes “Eu Sou” de Jesus que encontramos no Quarto Evangelho, no capítulo sexto: “Eu sou o pão da vida”. Escutemos primeiramente a parte do trecho que mais diretamente nos interessa:

Eles perguntaram: “Que sinal realizas para que o vejamos, e creiamos em ti? Que obra fazes? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: ‘Deu-lhes de comer o pão do céu’”. Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu. Meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu, pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”. Eles então pediram: “Senhor, dá-nos sempre desse pão!”. Jesus lhes disse: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,30-35).

Uma palavra sobre o contexto. Jesus multiplicara anteriormente cinco pães de cevada e dois peixes para saciar cinco mil homens. Depois se retirou para fugir do entusiasmo do povo, que quer fazê-lo rei. A multidão o procura e o encontra do outro lado do lago.

Neste ponto começa o longo discurso com o qual Jesus procura explicar “o sinal do pão”. Quer fazer entender que há um outro pão a ser buscado, do qual aquele material é, justamente, um “sinal”. É o mesmo procedimento usado com a mulher Samaritana no capítulo IV do Evangelho. Ali, Jesus quer conduzir a mulher a descobrir uma outra água, além daquela física que sacia a sede apenas por um breve tempo; aqui, quer conduzir a multidão a buscar um outro pão, diferente daquele material que sacia apenas por um dia. À Samaritana que pede para ter aquela água misteriosa e espera a vinda do Messias para obtê-la, Jesus responde: “Sou eu, que falo contigo” (Jo 4,26). À multidão que agora faz o mesmo pedido pelo pão, responde: “Eu sou o pão da vida!”.

Perguntamo-nos: como e onde se come este pão da vida? A resposta dos Padres da Igreja era: em dois “lugares” ou dois modos: no sacramento e na Palavra, isto é, na Eucaristia e na Escritura. Havia, é verdade, acentos diversos. Alguns, como Orígenes e, entre os latinos, Ambrósio, insistem mais sobre a Palavra de Deus. “Este pão que Jesus parte – escreve Santo Ambrósio comentando a multiplicação dos pães – si­gnifica misticamente a palavra de Deus que, distribuída, aumenta. Ele nos deus as suas palavras como pães que se multiplicam em nossa boca enquanto os degustamos”[1]. Outros, come Cirilo de Alexandria, acentuam a interpretação eucarística. Nenhum deles, contudo, pretendia falar de um modo excluindo o outro. Fala-se da Palavra e da Eucaristia, como das “duas mesas” preparadas por Cristo. Na Imitação de Cristo, lê-se:

Confesso que, enquanto estou detido no cárcere deste corpo, necessito de duas coisas: alimento e luz. Por isso me destes, Senhor, a mim, fraco, o vosso sagrado corpo, para sustento da alma e do corpo, e “pusestes a vossa palavra qual cadeia diante de meus pés” (Sl 118,105). Sem estas duas coisas, não poderia bem viver; porque a palavra de Deus é a luz da minha alma e vosso Sacramento o pão da vida. Podem ser chamadas duas mesas, colocadas de um e outro lado do tesouro da Santa Igreja[2].

A afirmação unilateral de um destes dois modos de comer o pão da vida excluindo o outro é fruto da nefasta divisão ocorrida no cristianismo ocidental. Da parte católica, acabara por se tornar de tal forma preponderante a interpretação eucarística ao ponto de fazer do capítulo sexto de João quase o equivalente à narrativa da instituição da Eucaristia. Lutero, por reação, afirmou o contrário, ou seja, que o pão da vida é a palavra de Deus; ele é distribuído mediante a pregação e comido mediante a fé[3].

O clima ecumênico que se instaurou entre os fiéis em Cristo nos permite recompor a síntese tradicional presente nos Padres. Não há dúvida de que o pão da vida chega a nós mediante a palavra de Deus e, em particular, as palavras de Jesus no Evangelho. Também a sua resposta ao tentador nos recorda isso: “O homem não vive somente de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4). Mas como não ver no discurso de Jesus na sinagoga de Cafarnaum também uma referência à Eucaristia? Todo o contexto evoca um banquete: fala-se de comida e bebida, de comer e beber, do corpo e do sangue. As palavras: “Quem não comer a minha carne e não beber o meu sangue...” recordam muito de perto as palavras da instituição (“Tomai, comei, isto é o meu corpo” e “Tomai, bebei: este é o meu sangue”), para se poder negar qualquer relação entre elas.

Se na exegese e na teologia se assiste a uma polarização e, às vezes – eu dizia –, a uma contraposição entre o pão da palavra e o eucarístico, na liturgia a sua síntese foi sempre vivida pacificamente. Desde os tempos mais remotos, por exemplo, em São Justino, Mártir, a Missa compreende dois momentos: a liturgia da Palavra, com leituras tiradas do Antigo Testamento e das “memórias dos apóstolos”, e a liturgia eucarística, com a consagração e a comunhão.

Hoje podemos retornar, eu dizia, à síntese originária entre Palavra e Sacramento. Nesta linha, devemos, antes, dar um passo à frente. Consiste em não limitar o comer a carne e beber o sangue de Cristo apenas à Palavra e apenas ao sacramento da Eucaristia, mas em vê-lo atuado em cada momento e aspecto da nossa vida de graça.

Quando São Paulo escreve: “Para mim, de fato, o viver é Cristo” (Fl 1,21), não pensa em um momento particular. Para ele, Cristo é, realmente, em todos os modos da sua presença, pão da vida; “come-se” com a fé, a esperança e a caridade, na oração e em tudo. O ser humano é criado para a alegria e não pode viver sem alegria, ou sem a esperança dela. A alegria é o pão do coração. E também o Apóstolo busca a verdadeira alegria – e exorta os seus a busca-la – no Senhor Jesus Cristo: “Gaudete in Domino semper, iterum dico, gaudete”: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito, alegrai-vos” (Fl 4,4).

Jesus é pão de vida eterna não só pelo que dá, mas também – e antes de tudo – pelo que é. A Palavra e o Sacramento são os meios; viver dele e nele é o fim: “Como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também o que comer de mim viverá por mim” (Jo 6,57). No hino Adoro te devote, que tem alimentado por séculos a piedade e a adoração eucarística dos católicos, há uma estrofe que é uma paráfrase desta palavra de Jesus. No original, que muitos de nós certamente recordam, ela soa assim:

O memoriále mortis Dómini,
Panis vivus vitam praestans hómini,
praesta meae menti de te vívere,
et te illi semper dulce sápere.

Em português pode ser traduzida assim:

Ó memorial da morte do Senhor,
Pão vivo que dá vida aos homens,
Fazei que minha alma viva de Vós,
E que a ela seja sempre doce este saber

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Todo o discurso de Jesus tende, portanto, a esclarecer que a vida é aquela que ele dá: não vida da carne, mas vida do Espírito, a vida eterna. Não é, porém, nesta linha que eu gostaria de prosseguir a minha reflexão, nos poucos minutos que me restam. Em relação ao Evangelho, há sempre duas operações a se fazer respeitando rigorosamente a sua ordem: primeiro, a apropriação, depois, a imitação. Temos nos apropriado até agora do pão da vida mediante a fé e o fazemos cada vez que recebemos a Comunhão. Trata-se de ver agora como traduzi-los na prática em nossa vida.

Para fazer isso, colocamo-nos uma simples pergunta: Como ele, Jesus, se tornou pão de vida para nós? A resposta, deu-nos ele mesmo no Evangelho de João: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só; mas se morre, produz muito fruto” (Jo 12,24). Sabemos bem a que aludem as imagens de cair na terra e apodrecer. Toda a história da Paixão está contida nelas. Devemos buscar ver o que essas imagens significam para nós. Jesus, de fato, com a imagem do grão de trigo não indica apenas o seu destino pessoal, mas o de cada seu verdadeiro discípulo.

Não se pode escutar a palavra dirigida à Igreja de Roma pelo bispo Inácio de Antioquia sem nos comover e sem permanecer atônitos, vendo o que a graça de Cristo é capaz de fazer de uma criatura humana:

Deixai que eu seja pasto das feras, por meio das quais me é concedido alcançar a Deus. Sou trigo de Deus, e serei moído... Suplicai a Cristo por mim, para que eu, com esses meios, seja vítima oferecida a Deus. Não vos dou ordens como Pedro e Paulo; eles eram apóstolos, eu sou um condenado [4].

Antes dos dentes das feras, o bispo Inácio experimentou outros dentes que o moíam, não dentes de feras, mas de homens: “Desde a Síria até – escreve – luto contra as feras, por terra e por mar, de noite e de dia, acorrentado a dez leopardos, a um destacamento de soldados; quando se lhes faz bem, tornam-se piores ainda”[5]. Isto tem algo a dizer também para nós. Cada um de nós tem, em seu ambiente, destes dentes de feras que o moem. Santo Agostinho dizia que nós, seres humanos, somos “vasos de argila que se ferem uns com os outros”: lutea vasa quae faciunt invicem angustias[6]. Devemos aprender a fazer desta situação um meio de santificação e não de endurecimento do coração, de raiva e lamentação!

Uma sentença frequentemente repetida em nossas comunidades religiosas afirma Vita communis mortificatio maxima: “viver em comunidade é a maior de todas as mortificações”. Não só a maior, mas também a mais útil e mais merecedora de tantas outras mortificações de própria escolha. Esta sentença não se aplica apenas a quem vive em comunidades religiosas, mas em toda convivência humana. Onde ela se realiza no modo mais exigente é, na minha opinião, o matrimônio, e devemos ficar cheios de admiração diante de um matrimônio levado adiante com fidelidade até a morte. Passar a vida inteira, dia e noite, lidando com a vontade, o caráter a sensibilidade e as idiossincrasias de uma outra pessoa, especialmente em uma sociedade como a nossa, é algo de grande e, se feito com espírito de fé, já deveria ser qualificado como “virtude heroica”.

Nós, porém, encontramo-nos aqui no contexto da Cúria, que não é uma comunidade religiosa ou matrimonial, mas de serviço e de trabalho eclesial. As ocasiões para não desperdiçar, se quisermos também nós sermos moídos para nos tornarmos trigo de Deus, são muitas, e cada um deve identificar e santificar aquela que lhe é oferecida em seu posto de serviço. Menciono apenas uma ou duas que considero válidas para todos.

Uma ocasião é aceitar sermos contrariados, renunciar a nos justificar e querer ter sempre razão, quando não é pedido pela importância da coisa. Uma outra é suportar alguém, sujo caráter, modo de falar ou de fazer nos dá nos nervos, e fazê-lo nos irritar interiormente, pensando melhor que também nós talvez sejamos para alguém tal pessoa. O Apóstolo exortava os fiéis de Colossos com estas palavras: “Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro” (Cl 3,12-13). O que é mais difícil para “moer” em nós não é a carne, mas o espírito, isto é o amor próprio e o orgulho, e estes pequenos exercícios servem magnificamente ao objetivo.

Hoje infelizmente existe na sociedade uma espécie de dentes que moem sem piedade, mais cruelmente que os dentes de leopardo de que falava o mártir Santo Inácio. São os dentes dos meios de comunicação e das chamadas redes sociais. Não quando eles relevam as distorções da sociedade ou da Igreja (nisso merecem todo o respeito e a estima!), mas quando se enfurecem contra alguém por tomada de partido, simplesmente porque não pertence ao próprio lado. Com maldade, com intuito destrutivo, não construtivo. Coitado de quem acaba hoje neste moedor, seja ele um leigo ou um eclesiástico!

Neste caso, é lícito e um dever fazer valer as próprias razões nos lugares apropriados e, se isso não for possível, ou então se ver que não serve a nada, não resta a um fiel senão unir-se a Cristo flagelado, coroado de espinhos e no qual cuspiram. Na Carta aos Hebreus, lê-se esta exortação aos primeiros cristãos, que pode ajudar em ocasiões semelhantes: “Pensai pois naquele que enfrentou uma tal oposição por parte dos pecadores, para que não vos deixeis abater pelo desânimo” (Hb 12,3).

É algo difícil e doloroso ao máximo, sobretudo quando no meio disso está a própria família natural ou religiosa, mas a graça de Deus pode fazer – e frequentemente tem feito – de tudo isso ocasião de purificação e santificação. Trata-se de ter confiança de que, no fim, como aconteceu para Jesus, a verdade triunfará sobre a mentira. E triunfará melhor, talvez, com o silêncio, mais do que com as mais aguerridas autodefesas.

*    *    *

O objetivo final do deixar-se moer não é, porém, natureza ascética, mas mística; não serve tanto para mortificar a si mesmo, mas para criar a comunhão. É uma verdade esta, que tem acompanhado a catequese eucarística desde os primeiros dias da Igreja. Está presente já na Didaqué (IX,4), um escrito dos tempos apostólicos. Santo Agostinho desenvolve este tema de modo estupendo em um seu discurso ao povo. Ele põe em paralelo o processo que leva à formação do pão que é o corpo eucarístico de Cristo e o processo que leva à formação do seu corpo místico que é a Igreja. Dizia:

Lembrai-vos um instante o que era uma vez, quando estava ainda no campo, esta criatura que é o trigo: a terra a fez germinar, a chuva a nutriu; depois houve o trabalho do homem que a trouxe para a eira, a debulhou, a peneirou e a depositou nos celeiros; daí, levou-a para moê-la e cozinha-la e, assim, finalmente, tornou-se pão. Agora pensai novamente em vós mesmos: não existíeis e fostes criados, fostes trazidos à eira do Senhor, fostes debulhados... Quando destes vossos nomes para o batismo, começastes a ser moídos pelos jejuns e pelos exorcismos; depois, finalmente viestes à água fostes modelados e vos tornastes uma só coisa; sobrevindo o fogo do Espírito Santo, fostes cozidos e vos tornastes pão do Senhor. Eis o que recebestes. Como, portanto, vedes que é um o pão preparado, assim também sois vós uma só coisa, amando-vos, conservando a mesma fé, uma mesma esperança e indivisa caridade”[7].

Entre os dois corpos – o eucarístico e o místico da Igreja – não há somente semelhança, mas também dependências. É graças ao mistério pascal de Cristo operante na Eucaristia que nós podemos encontrar a força de nos deixar moer, dia após dia, nas pequenas (e às vezes nas grandes!) circunstâncias da vida.

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Concluo com um episódio realmente ocorrido, narrado em um livro intitulado “O preço a pagar por me tornar cristão”, escrito em francês e traduzido em várias línguas. Ele serve, melhor do que longos discursos, para nos dar conta da potência encerrada nos solenes “Eu Sou” de Jesus no Evangelho e, particularmente, daquele que comentei nesta primeira meditação.

Há algumas décadas, em uma nação do Oriente Médio, dois soldados – um cristão e o outro não – encontraram-se juntos para fazer guarda a um depósito de armas. O cristão frequentemente tirava, às vezes também à noite, um pequeno livro e o lia, atraindo a curiosidade e a ironia do companheiro de armas. Certa noite, este último tem um sonho. Encontra-se diante de uma torrente que, porém, não consegue atravessar. Vê uma figura envolta de luz que lhe diz: “Para atravessá-la, precisas do pão da vida”. Fortemente impressionado pelo sonho, pela manhã, sem saber porque, pede, melhor, força o companheiro a lhe dar aquele seu livro misterioso (tratava-se naturalmente dos Evangelhos). Abre-o, e cai sobre o evangelho de João. O amigo cristão o aconselha a começar pelo de Mateus, que é mais fácil de entender. Mas ele, sem saber porque, insiste. Lê tudo avidamente, até chegar ao capítulo sexto. Mas, neste ponto, é bom escutar diretamente a sua narrativa:

Chegando ao capítulo sexto, detenho-me, tocado pela força de uma frase. Por um momento, penso ser vítima de uma alucinação, e volto a olhar o livro, no ponto onde me detive... Acabei de ler estas palavras: “...o pão da vida”. As mesmas palavras que ouvi há algumas horas em meu sonho. Releio lentamente a passagem na qual Jesus, voltando aos discípulos, diz: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome”. Desencadeia em mim, justamente naquele instante, algo de extraordinário, como uma explosão de calor e de bem-estar... Tenho a impressão de ser arrebatado, levado ao alto pela força de um sentimento jamais provado, uma paixão violenta, um amor desmedido por este homem Jesus, de quem falam os Evangelhos”[8].

O que, em seguida, esta pessoa teve que sofrer por sua fé, confirma a autenticidade da sua experiência. Nem sempre a palavra de Deus age em um modo assim explosivo, mas o exemplo, repito, mostra-nos que força divina está encerrada nos solenes “Eu Sou” de Cristo, que, com a graça de Deus, repropomo-nos comentar nesta Quaresma.

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Tradução de Frey Ricardo Luiz Farias

[1] Cf. Ambrósio, In Lucam, VI,86.
[2] Imitação de Cristo, IV,11.
[3] Cf. Lutero, Sobre o Evangelho de João, 231.
[4] Cf. Inácio de Antioquia, Carta aos Romanos, IV,1.
[5] Cf. Ib. V,1.
[6] Cf. Agostinho, Discursos, 69,1 (PL 38, 440). 
[7] Cf. Agostinho, Sermo 229 (Denis 6) (PL 38, 1103).
[8] Cf. Joseph Fadelle, Le prix à payer. Les Editions de l’Oeuvre, Paris 2010.

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