16º Domingo do Tempo Comum
A hospitalidade
é algo sagrado para as tradições orientais. Acolher o outro em sua casa não é
fardo, mas um dever e uma graça. Acolhe-se o outro como a presença do próprio
Deus. Esta foi a atitude do patriarca Abraão, na primeira leitura: acolheu três
homens, recebendo o próprio Deus e uma mensagem de salvação: o anúncio do
nascimento de Isaac. Jesus também foi acolhido na casa de Marta e Maria, pelo
dom da hospitalidade. Em Bethânia, Jesus encontrava o seu refúgio, o seu
descanso.
Há algumas
circunstâncias que lutam contra a hospitalidade, assim como há algumas
disposições interiores que nos ajudam a sermos hospitaleiros. Para algumas
pessoas, trata-se de um movimento espontâneo; para outros a hospitalidade exige
treino e percepção de si mesmo.
Há pessoas que
são fechadas em si mesmas. Não acolhem, não sorriem, não dão o primeiro passo.
Parecem que estão com medo de alguma coisa ou de alguém e, portanto, precisam
estar na defensiva. Aqui não se incluem os tímidos, mas as pessoas fechadas e
agressivas. Não podemos ver o nosso irmão como um inimigo; devemos ter a
capacidade de dizer: “Entre na minha casa, a minha alegria é a tua alegria”.
Segundo o autor Henri
Nouwen, o segredo da hospitalidade está na pobreza. Não a pobreza de bens
materiais, mas em primeiro lugar, uma pobreza de mente. Há pessoas que são tão
donas de si, tão presas em suas convicções e conceitos, que não deixam os
outros ficar à vontade. A intolerância vai nesta linha: o intolerante não
aprende nada de novo, pois ele se considera portador da verdade. O orgulhoso de
sua maneira de pensar é um péssimo anfitrião da vida, pois o diálogo é
intercâmbio de idéias para a construção de algo comum.
É preciso também
uma pobreza de coração. Há situações em que a carência afetiva impera, fazendo
com as pessoas não deixem os outros à vontade, pois os querem para eles, como
um objeto. As relações humanas não podem ser fundadas no egocentrismo de uma
das partes, mas deve ser uma abertura gratuita.
A verdadeira
hospitalidade se faz quando oferecemos nossa pobreza: “Eu sou um pobre, nada
tenho, mas estou aqui para partilhar do meu nada”. Quando estamos desprovidos
dos apegos, podemos partilhar a solidariedade de nossa fraqueza. Partilhar do
sofrimento do outro como o Bom Samaritano é um grande gesto de hospitalidade.
Cristo nos deu o exemplo, fez-se pequeno – sua pobreza enriqueceu-nos. Na 2ª.
Leitura, vemos que Paulo é solidário com o sofrimento de Cristo e com o
sofrimento da Igreja.
Deus é o grande
forasteiro da história. A história da salvação é uma busca incansável de Deus
para habitar as nossas vidas. Nós precisamos dar espaço para que Deus habite a
nossa vida. A grandeza que Deus quis manifestar é entre outras coisas, “a
presença de Cristo em nossa vida” (Cl 1,27). Precisamos dar espaço, ter tempo
para acolher o Senhor Deus em nossas vidas.
Marta é a mulher
agitada, que não tinha tempo para as coisas de Deus, para a sua palavra.
Trabalhar é bom, mas não pode ser uma agitação frenética, sem os verdadeiros
valores evangélicos, como um pretexto para aparecer e apontar o dedo no nariz
de quem parece estar sem as mãos na massa. Não pode impedir que tenhamos tempo
para a escuta da Palavra, para a oração, para relações humanas significativas.
Jesus questiona a agitação de Marta, e elogia a atitude de Maria – a escuta da
Palavra de Deus.
Por outro lado,
não podemos fazer um julgamento apressado sobre Marta. Sua intenção não era má:
desejava fazer uma acolhida, preparar aquilo que faria o seu hóspede se sentir
bem. Certamente, uma atitude absorvida nas práticas religiosas, sem ação
evangélica, sem caridade também é desvirtuada. Maria não poderia ficar o tempo
todo aos pés de Jesus. As duas atitudes se somam: caridade hospitaleira e vida
contemplativa. É o que resume a velha máxima monástica: “orat et laborat”.
A celebração
eucarística é a melhor parte: momento de escuta da Palavra de Deus. Cristo nos
convida – somos seus hóspedes – na mesa mais hospitaleira: a mesa da
Eucaristia. A hospitalidade de Deus nos faz sentar à mesa e comer com Ele. Na
mesma mesa devemos acolher Cristo como hóspede e deixar que Ele faça morada em
nós. Assim aprenderemos a viver, a sermos hospitaleiros e meditativos.
Padre Roberto Nentwig
Fonte: www.catequeseebiblia.blogspot.com Ilustração: www.caminhandocomele.easyti.com.br
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