“Fome de uma felicidade que só Deus pode saciar”
Criancinha é abençoada pelo Papa |
Em Varginha,
região de um complexo de Manguinhos, após uma bela saudação e um depoimento esclarecedor de um jovem que relatou as condições de vida dos moradores e pediu ao Papa para chamá-lo de "Pai", o Santo Padre fez um
discurso contundente na manhã desta quinta-feira, 25 de julho. Ele pediu: “Não
se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode
permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo!”. Na
oportunidade, o Papa também visitou a casa de uma família (foto abaixo),
escolhida no momento em que ele passava pelo local. O Santo Padre entrou e
conversou por alguns minutos com os moradores. Nas ruas, distribui beijos e
abraços às crianças, jovens e adultos.
Confira a íntegra do
discurso
"Queridos
irmãos e irmãs,
Que bom poder
estar com vocês aqui! Desde o início, quando planejava a minha visita ao
Brasil, o meu desejo era poder visitar todos os bairros deste País. Queria
bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um
"cafezinho", falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um,
dos pais, dos filhos, dos avós... Mas o Brasil é tão grande! Não é possível bater
em todas as portas! Então escolhi vir aqui, visitar a Comunidade de vocês que
hoje representa todos os bairros do Brasil. Como é bom ser bem acolhido, com
amor, generosidade, alegria! Basta ver como vocês decoraram as ruas da
Comunidade; isso é também um sinal do carinho que nasce do coração de vocês, do
coração dos brasileiros, que está em festa! Muito obrigado a cada um de vocês
pela linda acolhida! Agradeço a Dom Orani Tempesta e ao casal Rangler e Joana
pelas suas belas palavras.
Casa visitada pelo Papa |
Desde o primeiro
instante em que toquei as terras brasileiras e também aqui junto de vocês, me
sinto acolhido. E é importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer
enfeite ou decoração. Isso é assim porque quando somos generosos acolhendo uma
pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na nossa casa,
o nosso tempo - não ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando
alguém que precisa comer bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de
compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode “colocar mais água no
feijão”! E vocês fazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está
nas coisas, mas no coração!
E povo
brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande
lição de solidariedade, que é uma palavra frequentemente esquecida ou
silenciada, porque é incômoda. Queria lançar um apelo a todos os que possuem
mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade
comprometidas com a justiça social: Não se cansem de trabalhar por um mundo
mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às
desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias
possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar
com tantas injustiças sociais! Não é a cultura do egoísmo, do individualismo,
que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um
mundo mais habitável, mas sim a cultura da solidariedade; ver no outro não um
concorrente ou um número, mas um irmão.
Crianças doam faixa do San Lorenzo ao Papa |
Quero encorajar
os esforços que a sociedade brasileira tem feito para integrar todas as partes
do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas, através do combate à
fome e à miséria. Nenhum esforço de “pacificação” será duradouro, não haverá
harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que
abandona na periferia parte de si mesma. Uma sociedade assim simplesmente
empobrece a si mesma; antes, perde algo de essencial para si mesma.
Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se
enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica! A medida da
grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais
necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza!
Queria
dizer-lhes também que a Igreja, «advogada da justiça e defensora dos pobres
diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu»
(Documento de Aparecida, 395), deseja oferecer a sua colaboração em todas
as iniciativas que signifiquem um autêntico desenvolvimento do homem todo e de
todo o homem. Queridos amigos, certamente é necessário dar o pão a quem tem
fome; é um ato de justiça. Mas existe também uma fome mais profunda, a fome de
uma felicidade que só Deus pode saciar. Não existe verdadeira promoção do
bem-comum, nem verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram os
pilares fundamentais que sustentam uma nação, os seus bens imateriais: a vida,
que é dom de Deus, um valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a família,
fundamento da convivência e remédio contra a desagregação social; a educação integral,
que não se reduz a uma simples transmissão de informações com o fim de gerar
lucro; a saúde, que deve buscar o bem-estar integral da pessoa, incluindo
a dimensão espiritual, que é essencial para o equilíbrio humano e uma
convivência saudável; a segurança, na convicção de que a violência só pode
ser vencida a partir da mudança do coração humano.
Francisco recebe camisa dos moradores |
Queria dizer uma
última coisa. Aqui, como em todo o Brasil, há muitos jovens. Vocês, queridos
jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas
vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez
de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para vocês e
para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança, não
deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar.
Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal,
mas a vencê-lo. A Igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem precioso da
fé, de Jesus Cristo, que veio «para que todos tenham vida, e vida em
abundância» (Jo 10,10).
Hoje a todos
vocês, especialmente aos moradores dessa Comunidade de Varginha, quero dizer:
Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com vocês. Levo
a cada um no meu coração e faço minhas as intenções que vocês carregam no seu
íntimo: os agradecimentos pelas alegrias, os pedidos de ajuda nas dificuldades,
o desejo de consolação nos momentos de tristeza e sofrimento. Tudo isso confio
à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Mãe de todos os pobres do Brasil, e
com grande carinho lhes concedo a minha Bênção."
Fontes: www.radiovaticana.va www.cnbb.org.br www.radiovaticana.va www.a12.com
...................................................................................................................................................
Nenhum comentário:
Postar um comentário