E a "regra" de Jesus, sem ela se é cristão pela metade
Cidade do Vaticano (RV) - "Aquele que não toma a sua cruz e me segue não é digno de mim.
A peremptória
frase com a qual Jesus instrui os discípulos, referida por Mateus no Evangelho
da liturgia desta segunda-feira, traz à mente as muitas circunstâncias em que,
com observações incisivas, o Papa Francisco evidenciou a importância da Cruz
para todo cristão, sacerdote e leigo.
Ademais,
observou o Papa dias atrás, "um cristianismo sem cruz" é um
cristianismo estagnado "no meio do caminho". A esse propósito,
recordemos alguns pensamentos do Santo Padre.
Se há uma imagem
de Igreja que o Papa Francisco desde a primeira hora de seu Pontificado
procurou desfazer é a seguinte: a cômoda sala de estar onde fazer
"cultura" cristã, polida e engajada, sem que haja nas mãos de quem se
diz a ela pertencer os calos da caridade e sob as unhas a terra do Calvário.
Porque se
dissermos Igreja – repetiu substancialmente em várias ocasiões – estamos
dizendo Cruz, ou seja, vemos a nua realidade do momento em que tudo nasceu, sem
a hipocrisia de certos sucessos:
"O
triunfalismo na Igreja, pára a Igreja. O triunfalismo nos cristãos, pára os
cristãos. É uma Igreja triunfalista, é uma Igreja na metade do caminho (...)
Mas uma Igreja que renega os mártires, porque não sabe que os mártires são
necessários à Igreja para o caminho de Cruz. Uma Igreja que somente pensa nos
triunfos, nos sucessos, que não sabe aquela regra de Jesus: a regra do triunfo
mediante o falimento, o falimento humano, o falimento da Cruz. E essa é uma
tentação que todos nós temos." (Missa na Casa Santa Marta, no Vaticano, 29
de maio de 2013)
Tentação geral
que se "declina" em formas diferentes segundo o estado de vida de um
cristão, mas que acaba por traduzir-se num único impulso: buscar a fuga. Assim,
em quatro meses, o Papa Francisco passou em resenha a Igreja em ordem e grau
para reinserir profundamente, no tecido conectivo da fé de toda categoria de
fiéis, a verdade que brota do sacrifício de Cristo. Dirigindo-se aos bispos,
citando o Papa emérito, disse:
"Vocês são
príncipes, mas de um Rei crucificado. Esse é o trono de Jesus. Jesus toma sobre
si... Por que a Cruz? Porque Jesus toma sobre si o mal, a sujeira, o pecado do
mundo, inclusive o nosso pecado, de todos nós, e o lava, o lava com o seu
sangue, com a misericórdia, com o amor de Deus (...) Esse é o bem que Jesus faz
a todos nós no trono da Cruz. A Cruz de Cristo abraçada com amor jamais leva à
tristeza, mas à alegria, à alegria de ser salvos e de fazer um pouco aquilo que
Ele fez naquele dia da sua morte." (Missa do Domingo de Ramos, 24 de março
de 2013)
É o eterno
paradoxo da Cruz: em quem a abraça, com generosidade, a máxima dor produz o
fruto oposto, a alegria. E frutos:
"A
fecundidade pastoral, a fecundidade do anúncio do Evangelho não é dada nem pelo
sucesso, nem pelo insucesso segundo critérios de avaliação humana, mas pelo
conformar-se à lógica da Cruz de Jesus, que é a lógica do sair de si mesmos e
doar-se, a lógica do amor. É a Cruz – sempre a Cruz com Cristo, porque que por
vezes nos oferecem a cruz sem Cristo: isso não está bem! – É a Cruz, sempre a
Cruz com Cristo que garante a fecundidade da nossa missão." (Missa com
seminaristas, noviços e noviças, 7 de julho de 2013)
E como um
catequista, todos os dias, com a mesma intensidade – de uma janela falando para
cem mil pessoas ou de um altar diante de 50 pessoas – o Papa explica a todos,
mulheres e homens, aquilo que a Igreja e os Santos anunciam e testemunham há
dois mil anos, que a Cruz de Cristo é um madeiro que fala de "amor,
misericórdia, perdão":
"Deus nos
julga amando-nos. Se acolho o seu amor estou salvo, se o rejeito estou condenado,
não por Ele, mas por mim mesmo, porque Deus não condena, Ele somente ama e
salva (...) A palavra da Cruz é também a resposta dos cristãos ao mal que
continua agindo em nós e ao nosso redor." (Via-Sacra no Coliseu de Roma,
30 de março de 2013)
No Domingo de
Ramos deste ano, uma platéia de jovens olhava da Praça São Pedro o novo Papa,
por sua vez por ele observada com afeto. E também para quem será a espinha
dorsal da Igreja do amanhã, o Santo Padre quis confiar um pensamento sobre a
Cruz – a mesma que daqui a poucos dias passará pelos caminhos da JMJ do Rio de
Janeiro – e, sobretudo, sobre o Deus que nela se deixou pregar:
"É um Rei
que ama até o extremo da Cruz e que nos ensina a servir, a amar. E vocês não
têm vergonha da sua Cruz! Pelo contrário, abraçam-na, porque entenderam que é
na doação de si, no sair de si mesmos, que se tem a verdadeira alegria e que
com o amor de Deus Ele venceu o mal. Vocês carregam a Cruz peregrina por todos
os continentes, pelas estradas do mundo! Carreguem-na respondendo ao convite de
Jesus? "Ide e fazei discípulos entre todas as nações", que é o lema
da Jornada Mundial da Juventude deste ano." (Missa do Domingo de Ramos, 24
de março de 2013) (RL)
Fonte: www.radiovaticana.va
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