segundo seu secretário particular, Mons. Xuereb
Cidade do
Vaticano (RV) – Celebra-se na próxima quinta-feira o primeiro aniversário
da eleição do Papa Francisco à Cátedra de Pedro.
Entre as pessoas
que acompanharam de perto o Santo Padre nesses doze meses está seu secretário
particular, Mons. Alfred Xuereb, natural de Malta e recentemente nomeado pelo
Papa como secretário-geral da Secretaria para a Economia. Nesta entrevista
exclusiva à Rádio Vaticano, Mons. Xuereb recorda este primeiro ano com
Francisco:
O Papa Francisco não perde sequer um minuto |
Mons. Xuereb:
Eram momentos especiais, que certamente ficarão na história. Um Papa que deixa
o seu Pontificado... Desde o dia 28 de fevereiro, o último dia do Pontificado
do Papa Bento, quando deixamos definitivamente o Palácio Apostólico, até o dia
15 de março, portanto dois depois da eleição do novo Papa, eu permaneci com o
Papa emérito em Castel Gandolfo para fazer-lhe companhia e também ajuda-lo no
seu trabalho de secretaria. O momento do afastamento do Papa Bento foi para mim
muito doloroso, porque tive a sorte de viver com ele durante cinco anos e meio,
e deixá-lo, afastar-me dele foi um momento muito difícil. As coisas foram muito
rápidas, eu não sabia que justamente naquele dia deveria fazer as malas e
deixar Castel Gandolfo e deixar também o Papa Bento. Mas do Vaticano pediram
que me apressasse, que fizesse as malas e fosse para a Casa Santa Marta porque
o Papa Francisco estava até mesmo abrindo as correspondências, sozinho: não
tinha um secretário que o ajudasse. Naquela manhã, passei várias vezes na
capela para ter uma luz, porque me sentia um pouco confuso. Porém estava certo,
tinha a clara sensação de que estava sendo guiado do Alto e tinha a percepção
de que algo de extraordinário estava acontecendo, também para a minha vida.
Depois, entrei chorando no escritório do Papa Bento e, com um nó na garganta,
tentei dizer-lhe o quanto estava triste e quanto fosse difícil separar-me dele.
Eu lhe agradeci por sua benévola paternidade. Confiei-lhe que todas as
experiências vividas no Palácio Apostólico com ele me ajudaram muito a olhar
melhor “para as coisas lá de cima”. Depois me ajoelhei para beijar-lhe o anel,
que não era mais o do Pescador, e ele, com olhar de paternidade, de ternura,
como ele sabe fazer, se levantou e me abençoou.
RV: Qual a
lembrança do seu primeiro encontro com o Papa Francisco?
Mons. Xuereb: Pediu-me que entrasse no seu escritório, me acolheu com sua já famosa
cordialidade, e devo dizer que fez uma brincadeira, uma brincadeira – se assim
posso defini-la – de Papa! Segurava uma carta e com um tom sério me disse: “Ah,
mas aqui temos problemas, alguém não falou muito bem de você!”. Eu fiquei mudo,
mas depois entendi que se referia à carta que o Papa Bento lhe enviou para
informá-lo que tinha me dispensado e que podia me chamar a seu serviço. Nesta
carta, o Papa Bento teve a bondade de listar algumas das minhas qualidades.
Depois, o Papa Francisco me convidou a sentar-me no sofá e ele, a meu lado, em
uma cadeira. Pediu-me – com muita fraternidade – de auxiliá-lo nesta dura
tarefa. Por fim, quis saber qual é a minha relação com os Superiores e com as
outras pessoas de certa responsabilidade. Respondi-lhe que tenho uma boa
relação com todos, pelo menos no que me diz respeito.
RV: O que o
impressiona da personalidade do Papa Francisco, tendo o privilégio de viver
todos os dias ao lado dele?
Mons. Xuereb: A
sua determinação. Uma convicção que estou certo lhe vem do Alto, porque é um
homem profundamente espiritual que busca na oração a inspiração de Deus. Por
exemplo, a visita a Lampedusa ele decidiu porque, depois de entrar algumas
vezes na capela, lhe veio em continuação esta ideia: ir pessoalmente encontrar
essas pessoas, esses náufragos, e chorar os mortos. E quando ele entendeu que
essas ideias lhe vinham em mente várias vezes, então estava certo de que Deus
queria esta visita. E a realizou mesmo com pouco tempo para prepará-la. O mesmo
método ele usa para a escolha das pessoas que chama para colaborar de perto com
ele.
RV: O Papa
Francisco parece incansável em seus encontros, nas audiências... Como vive o
seu dia a dia, na Casa Santa Marta?
Mons. Xuereb:
Acredite, ele não perde sequer um minuto! Trabalha incansavelmente. E quando
sente a necessidade de fazer uma pausa, não é que fecha os olhos e não faz
nada: senta e reza o Terço. Creio que reze pelo menos três Terços por dia. E me
disse: “Isso me ajuda a relaxar”. Depois recomeça, retoma o trabalho. Recebe
uma pessoa depois da outra: os funcionários da portaria da Santa Marta são
testemunhas. Escuta com atenção e se lembra com extraordinária capacidade o que
ouviu e viu. Dedica-se à meditação logo cedo, pela manhã, preparando também a
homilia da Missa na Santa Marta. Depois, escreve cartas, faz ligações, saúda as
pessoas que encontra e se informa sobre suas famílias. (BF)
Fonte: radiovaticana.va
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