1ª Leitura: 1Sm 16,1b.6-7.10-13a Salmo: 23(22) 2ª Leitura: Ef 5,8-14
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Evangelho: Jo 9,1-41
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"Eu creio, Senhor!" |
Jesus ia passando, quando viu um cego de nascença. Os seus discípulos lhe perguntaram: “Rabi, quem pecou para que ele nascesse cego, ele ou seus pais?” Jesus respondeu: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas é uma ocasião para que se manifestem nele as obras de Deus. É preciso que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia. Vem a noite, quando ninguém poderá trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo”. Dito isso, cuspiu no chão, fez barro com a saliva e aplicou-a nos olhos do cego. Disse-lhe então: “Vai lavar-te na piscina de Siloé” (que quer dizer: Enviado). O cego foi, lavou-se e voltou enxergando. Os vizinhos e os que sempre viam o cego pedindo esmola diziam: “Não é ele que ficava sentado pedindo esmola?” Uns diziam: “Sim, é ele”. Outros afirmavam: “Não é ele, mas alguém parecido com ele”. Ele, porém, dizia: “Sou eu mesmo”. Então lhe perguntaram: “Como é que se abriram os teus olhos?” Ele respondeu: “O homem chamado Jesus fez barro, aplicou nos meus olhos e disse-me: ‘Vai a Siloé e lava-te’. Eu fui, lavei-me e comecei a ver”. [...] Voltaram a interrogar o homem que antes era cego: “E tu, que dizes daquele que te abriu os olhos?” Ele respondeu: “É um profeta”. [...] Os judeus, outra vez, chamaram o que tinha sido cego e disseram-lhe: “Dá glória a Deus. Nós sabemos que esse homem é um pecador”. Ele respondeu: “Se é pecador, não sei. Só sei que eu era cego e agora vejo”. [...] Se esse homem não fosse de Deus, não conseguiria fazer nada”. Eles responderam-lhe: “Tu nasceste todo em pecado e nos queres dar lição?” E o expulsaram. Jesus ficou sabendo que o tinham expulsado. Quando o encontrou, perguntou-lhe: “Tu crês no Filho do Homem?” Ele respondeu: “Quem é, Senhor, para que eu creia nele?” Jesus disse: “Tu o estás vendo; é aquele que está falando contigo”. Ele exclamou: “Eu creio, Senhor!” [...].
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Reflexão
Certamente, a tensão em que as comunidades do quarto evangelho viviam junto às autoridades religiosas judaicas pode ter influenciado a construção desta narrativa, com seus diversos confrontos entre os que acolhem e os que se negam a reconhecer Jesus como o filho de Deus. No entanto, o texto possui um forte simbolismo batismal, o que explica sua escolha, desde antiga tradição, para o tempo quaresmal. O nome da piscina em que o cego se lava - “Siloé”, palavra que quer dizer “enviado” - aponta para um dos sentidos mais profundos desta passagem. Quem mergulha no “enviado”, recupera a visão. E aqui se misturam o simbolismo da água com o simbolismo da luz e da “unção”, que em grego significa “crisma”, donde deriva “Cristo”. O texto culmina com a profissão de fé - característica dos relatos evangélicos do ano A - e com um epílogo surpreendente: os papéis são trocados e os juízes são julgados.
Na Igreja primitiva, o batismo era conhecido como iluminação. De fato, a cura do cego tornou-se uma parábola da iluminação batismal. O(a) batizado(a) é um(a) iluminado(a) que tem os olhos abertos por Cristo no banho em seu nome. A iluminação é progressiva: primeiro, o cego chama Jesus de homem; depois, de profeta; finalmente, de Senhor. O batismo não é um título, mas um caminho. Na experiência do cego, essa evolução coincide com o processo de iniciação no caminho de Jesus. O texto descreve as dificuldades que a pessoa deve enfrentar até proferir a fé de modo pessoal e profundo e mostra que a libertação não acontece sem a nossa efetiva participação, deixando as obras das trevas e assumindo gradativamente as obras da luz. O caminho progressivo do cego de nascença se atualiza nos passos de quem procurar traduzir em ações concretas esta passagem: “Sabemos que passamos da morte para a vida quando amamos os irmãos”, diz o apóstolo João (Jo 3,14).
Esta passagem - páscoa e transformação - tem lugar no próprio ato de nossa celebração. Na celebração deste domingo, é toda a assembléia que se coloca no caminho da passagem das trevas para a luz, fazendo-se catecúmena, deixando-se iluminar pelo Cristo e por seu Espírito, retomando o propósito da conversão e do amor concreto como exigência batismal. Não é à toa que o texto do evangelho se estrutura através de alguns ritos litúrgicos, como a unção, o banho e a prostração: foi através da unção e do banho que o cego recuperou a vista e, pela prostração, reconheceu Jesus como Senhor. Enquanto o banho evoca o batismo, a unção aponta para a ação total do Espírito em nós, que nos recria, transforma e consagra. O gesto litúrgico da prostração significa o reconhecimento total e a adesão incondicional ao Cristo.
Reflexão: revistadeliturgia.com.br Banner: cnbb.org.br Ilustração: franciscanos.org.br
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