8º Domingo do Tempo Comum
“Não vos
preocupeis com a vossa vida”. Jesus não está defendendo a preguiça, o
comodismo. O que Jesus nos ensina é não se pre-ocupar, ou seja, a não se ocupar
por antecipação, a não empenhar o tempo e os afetos nos bens deste mundo,
esquecendo-se do que é mais fundamental. O que está em jogo é a troca de
valores: a preocupação demasiada com as coisas (comer, beber, vestir) em troca
dos valores do Reino.
Olhai os pássaros do céu ... Olhai os lírios do campo... |
Desejamos
segurança. É claro que ninguém vive sem comida, bebida, casa, vestes... É
necessário o empenho para que estes bens sejam garantidos. Mas esta não deve
ser a exclusiva ocupação da nossa vida. Estes bens são concedidos pela
providência de Deus, quando somos capazes de colocar o nosso coração nos bens
do Reino. A nossa preocupação demasiada com as coisas, faz-nos ficar na
manutenção da vida. A busca demasiada pela própria segurança nos imobiliza,
diminuindo em nós a capacidade de arriscar. A confiança em Deus gera o
desprendimento, e o desprendimento deixa o nosso coração livre para servir,
para sair de si, para mudar o que nos cerca, em nome dos valores do Reino.
Parece comum
gastarmos muito de nossa energia remoendo o passado e alimentado a ansiedade
diante do futuro. O passado deve ser memória das bênçãos de Deus e oportunidade
para que a misericórdia inunde o nosso coração, não o elemento fatídico que nos
faz deprimir, lamentar e odiar. O passado não existe mais, portanto, pensemos
no que virá. Quanto ao futuro, este também não existe, ainda está por vir.
Portanto, mesmo que demande o planejamento saudável, não devemos criar
demasiada ansiedade, pois tudo está nas mãos de Deus. É preciso viver o agora.
O momento presente é a hora em que o Senhor está agindo, é a hora do Reino,
quando Deus se manifesta. E Deus passa por nós a cada momento, havendo o risco
de que seja despercebido por causa das nossas ocupações desnecessárias. É
preciso colocar tudo nas mãos do Pai: “Vosso Pai, que está nos céus, sabe que
precisais de tudo isso (...)Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua
justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo. Portanto, não vos
preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações.
Para cada dia, bastam seus próprios problemas” (Mt 6, 32-34).
Portanto, hoje a
Palavra de Deus exorta à confiança. É preciso crer que Deus está conosco, que
Ele é o Senhor do tempo e da história; é preciso reafirmar em nossas
consciências, que embora haja ambiguidades no curso da vida, Deus não se
esquece de nós. Por vezes, achamos que Deus está ausente, que sua ação é
ineficaz. Geralmente, tal sentimento nos assalta quando os problemas são
intensos e nossas preces não são atendidas exatamente do modo como pedimos.
Então, o ser humano inclinado a ter Deus como seu empregado, como alguém que
deve fazer os seus caprichos, pensa que Deus está longe, que não se importa com
a história. Foi este o sentimento do povo na 1ª. Leitura: “Disse Sião: ‘O
Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-se de mim’. Acaso pode a mulher
esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre?
Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti” (Is 49, 14-15). Deus
nos ama como uma mãe, não nos esquece, sempre está conosco. Se não tira nossas
dores, concede-nos forças para seguir na sua graça, no seu amor.
Quando confiamos
em Deus, não precisamos nos preocupar com os julgamentos humanos. São Paulo
viveu profundas perseguições. Certamente, os seus contemporâneos e até membros
de suas comunidades o criticaram por suas atitudes. O apóstolo se defende,
dizendo que é Deus quem o julga. Tenhamos clareza de que a confiança em Deus
nos colocará sob o julgamento injusto das pessoas, e isso acarreta uma certa
dor. Aguardemos o Senhor da julgar a história: “Aguardai que o Senhor venha.
Ele iluminará o que estiver escondido nas trevas e manifestará os projetos dos
corações” (1Cor 4,5). As relações humanas são muito baseadas nas aparências...
Quais são os verdadeiros desejos e pensamentos que residem em nosso coração?
São os projetos secretos de nosso coração que nos justificam ou nos condenam. É
preciso fundamentar a vida na reta intenção cheia de amor, com confiança e
esperança no Senhor. “Olhai os pássaros do céu... Olhai os lírios do campo...”
Padre Roberto
Nentwig
Fonte: catequeseebiblia.blogspot.com.br Ilustração: ideeanunciai.wordpress.com
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