quarta-feira, 19 de março de 2014


São José, o Padroeiro

As frias noites das terras próximas ao Machadão assistiam periodicamente, em meados do século XIX, à movimentação dos negros em busca de uma capelinha erigida no centro da colina principal.
Das senzalas espalhadas desde as encostas dos montes e outeiros do pé da serra às planícies do Lavapés e das várzeas verdejantes dos rios e ribeirões que cortavam as proximidades, homens, mulheres, crianças, famílias inteiras, à luz de tochas, surgiam como que em procissões sinuosas pelas baixadas e elevações, sedentos de uma água que alimentava a esperança daquela gente sofrida.
São José, rogai por nós!
Daí a pouco a pequena capela e o terreiro que a rodeava estavam lotados. Era a festa de São José. Ouviam-se, então, quebrando o silêncio paradisíaco, piedosos cânticos a Nossa Senhora e a seu esposo, São José. À Maria, por ser a Mãe que os confortava nos sofrimentos da escravidão e, a José, o santo com quem, de modo especial, se identificavam. Como o Carpinteiro de Nazaré, trabalhavam de sol a sol. Como Ele, foram cruelmente arrancados da terra natal. Suas dores eram como as dores que São José vivera.
E sabiam que a África, de seus pais e de sua infância, jamais a veriam. As saudades da pátria distante não os impediam, porém, que aprendessem a amar a nova terra, mãe de seus filhos, sob cujo teto nasciam os herdeiros dos sonhos africanos. E assim buscavam na invocação a São José o lenitivo e o conforto para os sofrimentos cotidianos.
A devoção ao Santo venceu os anos e fortaleceu-se no tempo e na história. São José tornou-se, por vontade de seus primeiros habitantes, o padroeiro das terras e das gentes do Paraíso, que legaram tão bela herança aos colonos dos primeiros tempos, aos paraisopolenses que chegaram posteriormente e às gerações de seus filhos.
Hoje, cento e sessenta anos após, temos em São José o intercessor fiel junto a Deus e o modelo do homem justo, que, no cumprimento de sua nobre missão e de seu trabalho, edifica as bases de um novo tempo para a família e a sociedade.
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Luiz Gonzaga da Rosa 
em O Paraíso de José: 160 anos da Paróquia São José, Editora Santuário, 2010
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