11º Domingo do Tempo Comum
O julgamento e o
farisaísmo estão ainda bem presentes hoje. É mais fácil falar dos erros dos
outros do que admitir os próprios limites. É também fácil se sentir como um não
devedor por obedecer algumas prescrições, fazer certos ritos, frequentar certas
celebrações.
“Ela muito amou!” |
O Senhor nos
mostra que a justiça hipócrita daquele que deseja apedrejar, criticar e
condenar a todo custo é bem diferente de seu amor gratuito. Jesus quebra os
preconceitos da sociedade: não importa se uma mulher (ainda mais pecadora) não
pode o tocar, não importam as aparências, mas o significado mais profundo de um
pequeno gesto, o que os olhos desatentos não veem. Os olhos de Simão e do
restante da plateia são de julgamento ao verem aquela cena inesperada e
desconcertante.
A mulher do
Evangelho era desprezada. Os pecadores eram impuros e deveriam ficar afastados
para não contaminar. Ao verem uma mulher daquele gênero, os judeus cuspiam no
chão. Como hoje também são considerados impuros os bêbados, os moradores de
rua, os pedintes, as mulheres prostituídas... Ainda hoje, classificamos as
pessoas, afastamo-nos de quem não convém. Mas aquela mulher pecadora
experimentou o perdão... Suas lágrimas não foram de remorso, mas seu choro foi
expressão de gratidão e de amor. A gratuidade de Deus não vê limites. Sempre há
uma nova chance, uma nova oportunidade para experimentar a graça do perdão. A
reconciliação não é um sentimentalismo, também não é uma culpa doentia que
destrói o coração.
Constantemente
podemos nos sentir em ruptura, fragmentados, sem comunhão com o Senhor. Há uma
culpa positiva como desta adúltera e de Davi em sua experiência de assassinato.
Este tipo de culpa leva a retomada da vida a partir da experiência da
misericórdia. Há também uma culpa destrutiva, que não nos permite admitir que
somos imperfeitos, levando-nos a nos frustrar quando não somos puros e
imaculados. Isso porque queremos manter a imagem positiva de nós mesmos,
desejamos comprar a benevolência de Deus a partir da nossa aparência de
santidade. Esta falsa culpa não serve, não reconcilia por amor, mas por vaidade
pessoal. Experimentar de modo positivo a misericórdia divina é decisivo para
nos sabermos amados pelo Senhor.
Simão é o
símbolo da justiça. Para ele, Deus perdoa e ama aqueles que são fiéis (justos),
ou seja, cumpridores do preceito. Já a mulher pecadora é símbolo da gratuidade,
da visão de um Deus que ama a todos e perdoa sempre, independente dos pecados.
Ele só deseja a nossa abertura, o nosso coração agradecido e ciente da
gratuidade. São Paulo nos deixa claro que a lei não liberta (2ª. Leitura). Não
é o cumprimento de pequenas normas, mas o amor e a gratuidade de Deus que estão
no coração das Escrituras. Não basta fazer tudo certinho e não experimentar o
amor gratuito que procede de Deus. A fidelidade é fruto do amor e da misericórdia,
não do medo de um Juiz severo que ávido por nos colocar no inferno, do temor
destrutivo que separa a comunidade entre santos e pecadores. Se nosso
seguimento carrega o medo, estamos longe de sermos cristãos.
“Ela muito
amou!” “Ama e faze o que queres!” (Santo Agostinho). Não serão os pecadinhos do
dia a dia que nos levarão para o inferno. Não serve uma moral individualista e
atomizada. O Pai de Jesus Cristo nos quer comprometidos com o seu Reino, com o
testemunho, com um novo coração e com a nova mentalidade transformada por seu
amor. Precisamos nos deixar tocar pelo amor misericordioso de Deus e procurar
fazer o bem. O que construímos de bom neste mundo, por amor, ficará intacto, e
é a razão de existirmos neste mundo.
“Ele é sempre
mais que um convidado, se põe a mesa, nutrindo a vida; olha os corações e põe
de lado toda aparência, cura a ferida! Ela muito amou, tem a minha paz, vai
seguir caminho sem temor. Sabe quem eu sou e será capaz de espalhar na terra o
meu amor!” (Fr. Fabreti e Thomas Filho)
Padre Roberto
Nentwig
Fonte: www.catequeseebiblia.blogspot.com.br Ilustração: www.blog.cancaonova.com
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