10º Domingo do Tempo Comum
A segunda
leitura deste domingo nos traz o início da Carta de São Paulo aos Gálatas. Esta
carta tem como uma das características a apologia de São Paulo em seu próprio
favor, pois ele não era considerado por muitos destes seus interlocutores como
verdadeiro apóstolo. Parece que os judeus da comunidade sentiam falta de uma
pregação mais severa sobre a lei, sobre as obras, sobre atos que poderiam levar
a salvação. Certamente, o testemunho de uma experiência de amor gratuito
frustrou os que esperavam um ensinamento mais rigoroso. Hoje também existem
aqueles que preferem se apegar a religião legalizante, de imposições às
práticas que garantiriam a salvação. São Paulo nos mostra que o Evangelho segue
outra via: prega a partir de sua experiência com o Senhor, que produziu um novo
Saulo, agora Paulo; foi chamado por graça, não por méritos. Hoje devemos
avaliar a nossa vida, verificar se estamos ainda mais presos nas leis, nos
detalhes, nas práticas de devoção, nas normas frias, ou se acolhemos em
primeiro lugar o Evangelho como experiência da vida nova, da alegria, da
presença de uma graça salvífica que age acima de nossas aparentes
fidelidades.
“Jovem, eu te ordeno, levanta-te!” |
São Paulo ainda
se defende afirmando que permaneceu anos em preparação na comunidade para então
ser um apóstolo. Antes ainda, foi confirmado pelos outros apóstolos, o que
legitimou sua atividade de pregador. É preciso considerar a comunidade cristã
como lugar de acolhida e de preparação; é preciso fazê-la ter esta função, pois
muitos outros “paulos” precisam dela, de seu amor, de seu sustento, de sua
formação. São Paulo nos ensina que antes de uma grande missão, precisamos nos
preparar bem; é preciso haver um tempo de incubação, de gestação. É o que
acontece com os jovens que desejam se casar, com os seminaristas a caminho do
presbitério, com os catequizandos que serão iniciados na vida cristã, com os
casais que pensam em ter filhos... Não se pode assumir grandes
responsabilidades sem antes estar consciente do que significa a missão assumida.
O Evangelho nos
traz a ressurreição do filho da viúva de Naim. Como Elias, Jesus também devolve
a vida, mostrando que Ele é o grande profeta esperado. Mas, se Elias precisa
evocar a força de Deus, Jesus tem autoridade própria para chamar o jovem à
vida. O milagre esconde verdades mais sublimes que uma reanimação de cadáver
que apenas prolongaria uma existência terrena. Lembremos de que o próprio Jesus
iria passar pela morte biológica. O que Jesus deseja revelar é a presença do
Deus da vida. A vida nova começa aqui, dependendo do modo como a conduzimos, e
se efetiva de um modo sublime no futuro da eternidade. A paradoxal proibição do
choro, por parte de Jesus, esconde uma promessa.
No caminho, em
Naim, duas comunidades se encontraram. Uma é a comunidade dos discípulos de
Jesus (representa a comunidade cristã), outra é a comunidade do cortejo fúnebre
(representa todos os que cortejam a morte, a vida sem Deus). O Evangelho nos
ensina que é tarefa da comunidade cristã trazer a vida para os que estão
mortos. Há muitos mortos sendo carregados pelo mundo: que pessoas que perderam
o sentido da existência, o gosto pela vida; alguns deles estão refugiados nos
paliativos da sociedade pós-moderna. A comunidade cristã, e não apenas cada um
individualmente, precisa ser canal para vida, para trazer vida em abundância
como nos promete o Senhor (Jo 10,10).
A falta de
sentido e a angústia são os males da moda. Anunciar a Boa Nova é recuperar a
confiança. Precisamos olhar para o nosso interior, para nossas instituições e
para o mundo. Eu preciso ter coragem de andar, de não ficar preso nos féretros
da existência. A Igreja precisa destruir o que está podre, para poder
transmitir a vida. O mundo anseia por nossa ação em prol da vida. Precisamos
ter a coragem de dizer a nós mesmos e ao mundo: “Eu te ordeno, levanta-te”!
Então, a vida brotará!
Padre Roberto
Nentwig
Fonte: www.catequeseebiblia.blogspot.com.br Ilustração: www.padregiribone.blogspot.com.br
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