terça-feira, 22 de abril de 2014

Canonização de dois grandes papas

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Depoimento de Bergoglio sobre João Paulo II: 
"exerceu todas as virtudes de forma heróica"

Cidade do Vaticano (RV) - "Deponho por ciência direta, portanto, farei referência àquela que foi a minha experiência pessoal com o Servo de Deus João Paulo II". Inicia assim o depoimento que Jorge Mario Bergoglio, então Arcebispo de Buenos Aires, prestou ao processo romano para a causa de beatificação e canonização de João Paulo II, na qualidade de testemunha ocular. O futuro Papa Francisco, então com 69 anos, foi chamado a depor no Tribunal da Diocese de Roma no início do processo, em 2005. O testemunho de Jorge Mario Bergoglio está num artigo publicado no jornal 'Avvenire'. 
João Paulo II e o então Cardeal Bergoglio (Papa Francisco)
Sobre os encontros com Wojtyla, Bergoglio destacou "o seu olhar, que era de um homem bom", "a sua grande capacidade de escuta em relação a todos" e também "a memória, eu diria, quase sem limites", pois "ele recordava lugares, pessoas, situações com que teve contato em suas viagens, sinal de que prestava a máxima atenção a cada circunstância, e em particular, em relação às pessoas que encontrava. Sinal este, para mim, de verdadeira e grande caridade", observou o futuro Papa Francisco. 
Durante a visita Ad Limina em 2002, Bergoglio recordou que "um dia concelebrava com o Santo Padre e o que me tocou foi a sua preparação para a celebração. Ele estava ajoelhado na sua capela privada em atitude de oração, e vi que de tanto em tanto, ele lia alguma coisa escrita numa folha que tinha diante de si, e após apoiava a testa sobre as mãos. Era evidente que rezava com muita intensidade por aquilo, que penso ser, uma intenção que estava escrita naquele papel. Depois, ele relia alguma outra coisa escrita neste mesmo papel e retomava a atitude de oração e assim por diante. E somente após ter terminado, levantava-se para vestir os paramentos". E a mesma coisa acontecia quando lhe era apresentado pelo Prefeito da Congregação dos Bispos a "lista de propostas para os bispos em dioceses com dificuldades ou com muito trabalho. O Servo de Deus, antes de assinar as nomeações, deixava de lado a lista para refletir e rezar sobre ela, e após dava a resposta oportuna". 
Sobre a última fase da vida de Wojtyla, Bergoglio sublinhou que "João Paulo II nos ensinou, não escondendo nada dos outros, a sofrer e a morrer, e isto, na minha opinião, é heróico". "Não deve ser esquecida - acrescentou - a sua particular devoção a Nossa Senhora, que devo dizer, influenciou também a minha piedade. Por fim, não hesito em afirmar que João Paulo II, a meu ver, exerceu todas as virtudes, num sentido global, de forma heróica, dado à constância, ao equilíbrio e à serenidade com que viveu toda a sua existência. E isto foi visível aos olhos de todos, também de não-católicos e daqueles que professam outras religiões, assim como dos agnósticos". 
"Eu sempre o considerei um homem de Deus - acrescentou Bergoglio -, assim como a maior parte das pessoas que de alguma forma entravam em contato com ele". "A sua morte - concluiu - foi heróica e esta percepção, acredito que tenha sido universal. Basta pensar às manifestações de afeto e de veneração reservadas a ele, por parte dos fiéis e não-fiéis, no novendial e nos funerais". (JE)
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Marco Roncalli:

João XXIII é santo porque abandonou-se à vontade de Deus

"João XXIII, mediante o abandono cotidiano à vontade de Deus, viveu uma purificação que lhe permitiu se destacar completamente de si mesmo para aderir a Cristo, deixando emergir a santidade que a Igreja depois reconheceu oficialmente." 
Estas palavras do Papa Francisco resumem o perfil espiritual de João XXIII que será canonizado no próximo domingo, 27 de abril, junto com João Paulo II.
Para falar sobre esse grande Papa, a Rádio Vaticano contatou o sobrinho e biógrafo do Papa João XXIII, Marco Roncalli.
João XXIII
Marco Roncalli: "Primeiramente, deve ser identificado este fio condutor que atravessa toda a parábola humana e espiritual de Roncalli, que é precisamente este desejo constante de santidade que encontramos documentado num diário, num texto ou numa nota. Encontramos também a consciência de que a santidade pressupõe esta docilidade ao Espírito, este deixar-se modelar por Deus. Depois, é claro, talvez existisse um sigilo naquele lema que ele escolheu quando foi consagrado bispo que é "Oboedientia et Pax". É importante ressaltar como este passo é o ápice do significado desta canonização: existe esta adesão total ao Evangelho, o desejo de viver na santidade, de buscá-la como objetivo, um objetivo possível, sem considerá-la um objetivo distante. Abandonar-se à vontade de Deus significa que Deus te permite alcançar esses objetivos, que na visão de Roncalli, não são sobrenaturais, mas que estão ao alcance de todos a partir do momento em que uma pessoa se compromete e se deixa plasmar por Deus."
O Papa Francisco quis canonizar juntos os Papas Roncalli e Wojtyla, com uma escolha muito precisa.
Marco Roncalli: "Já tinha acontecido com o próprio João Paulo II quando no ano dois mil beatificou Pio IX e João XXIII. Hoje, se repete com o Papa Francisco que canoniza Roncalli e Wojtyla. Esta imagem alguns comentaristas históricos, acredito que com um pouco de bom senso, falam também de uma espécie de equilíbrio, mas equilíbrio em que sentido? Que este conceito de santidade pode ser obtido também através de sensibilidades muito diferentes, porque acredito que seja inútil negá-lo. São dois papas com dois estilos, duas sensibilidades e talvez duas maneiras de viver a santidade. Em João Paulo II me parece acentuada a dimensão mística, cultivada em sua relação forte com Deus. Em Roncalli é talvez mais evidente esta sobreposição de santidade tanto particular quanto pública. De qualquer forma, nos dois casos é evidente a mesma fidelidade ao Evangelho."
Nos primeiros dias de pontificado de João XXIII foram vários os sinais novos que surpreenderam os observadores. Não é verdade?
Marco Roncalli: "Eu diria que existem sinais muito fortes: desde a normalização, por exemplo, da Cúria ao aumento do número de purpurados com o novo Consistório que não se realizava há anos, dando um sinal forte da figura de Giovanni Battista Montini (Paulo VI). Depois penso nas imagens que permaneceram muito fortes, impressas nas mentes daqueles que viveram naquela época e das pessoas que revêem essas imagens também hoje como, por exemplo, a visita ao 'Hospital Pediátrico Menino Jesus'. Penso também na visita aos encarcerados do Regina Coeli e na tomada de posse em São João de Latrão. A propósito de Latrão, ele lá voltou em novembro de 1958 para visitar o que tinha sido o seu seminário. É bom lembrar o que ele disse espontaneamente aos jovens clérigos: Ele não somente recorda os anos de sua formação, mas disse aos estudantes que se sentia confuso quando alguém se dirigia a ele dizendo 'Sua Santidade'. Depois acrescentou: 'Jovens, filhinhos, peçam ao Senhor para que me conceda esta graça da santidade, pois uma coisa é dizer ou crer e outra é ser santo."
Quando João XXIII, em 25 de janeiro de 1959, anunciou na Basílica de São Paulo Fora dos Muros o desejo de convocar o Concílio estamos numa época histórica em que alguns teólogos acreditam que a época dos Concílios deve ser considerada definitivamente encerrada.
Marco Roncalli: "Sim. De fato, juntamente com esta definição também a da infalibilidade pontifícia. Que necessita tinha fazer vir a Roma mais de 2.800 cardeais de todas as partes do mundo? Na verdade, ali se encontra a força e a coragem de João XXIII que com uma decisão extraordinariamente pessoal, e depois de obter o consenso do Cardeal Tardini e outras pessoas, anuncia, surpreende e silencia vários cardeais que recebem este anúncio em 25 de janeiro de 1959. Dali em diante, o longo caminho de preparação, onde estava claro que João XXIII convidava realmente a Igreja a refletir sobre si mesma e sobre sua responsabilidade para com os homens, a ter um comportamento novo. Basta recordar algumas frases do famoso discurso Gaudet Mater Ecclesia, quando se abre o Concílio: Reiterar que a Igreja prefere usar o medicamento da misericórdia, outra pérola que volta de maneira muito forte nesses dias." (MJ)
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