28º Domingo do Tempo Comum
Muitas pessoas
se lembram de Deus apenas em momentos pontuais da vida: quando precisam batizar
os filhos, quando precisam dos demais sacramentos, quando querem se casar,
quando estão doentes, quando morre um ente querido... Há quem nunca se lembra
de Deus, mas no meio da desgraça, pergunta revoltado: “Por que Deus permitiu
esta desgraça?” E este mesmo Deus não participou de tantos momentos felizes da
vida deste que agora reclama? Há quem busca Deus apenas para ganhar um
benefício. A liturgia deste domingo nos ajuda a refletir sobre tais atitudes.
Só um voltou para agradecer |
É preciso sempre
alimentar a amizade com Deus, nos momentos bons e ruins. Deus não é um operador
de marionetes que fica arbitrariamente concedendo graças e desgraças. Tudo que
é bom é dom dele. Tudo que é ruim faz parte da ambiguidade da história, e o Senhor
certamente não se alegra com tais infortúnios. O Senhor sofre junto conosco,
como nos manifesta em Cristo Jesus – alguém solidário com todos os dramas
humanos.
O Evangelho fala
de gratidão. Trata-se de um estilo de vida. Devemos viver na gratidão. Devemos
viver sabendo que tudo o que recebemos vem de Deus, que Ele é graça em nossa
história. Olhar para a história, para o presente e para o passado, percebendo
as maravilhas que Deus realiza em nós. Agradecer pelas coisas boas: pela
família, pela saúde, pelo alimento, pelos amigos... Quem vive a vida na
gratidão, sabe também agradecer pelas coisas ruins. “Gratidão, em seu sentido
mais profundo, significa viver a vida como um presente para ser recebido com
agradecimentos. E a gratidão verdadeira abarca tudo na vida: o bom e o ruim, a
alegria e a dor, o santo e o não tão santo” (H. Nouwen).
A atitude de
gratidão faz com que nossa relação com Deus não seja interesseira, pois o
doador da graça é mais importante do que a graça recebida. Reconhecer que há um
Deus que se importa conosco, que nos presenteia, que nos dá vida nova e que
cura a nossa lepra é mais importante do que a própria cura. No Evangelho, os
nove leprosos do Evangelho não perceberam esta dinâmica. Foram embora após
cura, e apenas um samaritano voltou agradecido. Os dez foram curados da lepra,
porém apenas um foi salvo: aquele que se abriu à presença benevolente do
Senhor.
Na primeira
leitura, Naamã, como os leprosos ingratos, também tinha uma concepção comercial
na relação com Deus, pois considerava que era possível comprar a cura. Ele
tinha dinheiro e poder, no entanto, era leproso. Quando descobriu que a cura se
encontrava em Israel, levou dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e
dez vestes de festa para o rei de Israel. Foi curado por Deus por intermédio do
profeta, contudo de nada serviu o seu dinheiro. Eliseu fez questão de mostrar
que é por graça de Deus que ele recebeu a cura, não aceitando nada em troca e
lhe trazendo o benefício, mesmo sendo ele um estrangeiro. A prepotência não pode
nos obter a cura. Às vezes achamos que podemos negociar com Deus, que as coisas
devem acontecer da maneira como planejamos. Graça é um benefício de Deus em
nosso favor. Tudo o que o Senhor realiza em nossa vida é graça, é um presente
sem preço. Com Deus não há trocas, não há comércio, não há méritos. Deus nos
ama por pura gratuidade. Ama porque é puro amor.
Os leprosos eram
judeus e, por isso, consideravam que tiveram a cura por direito. Preocupavam-se
mais com as obrigações legais do que com o Senhor das graças. Jesus os manda ir
aos sacerdotes, pois eles acreditavam em tais fiscalizações de pureza. Enquanto
os nove se preocuparam apenas com a prescrição legal sobre a lepra, foi um
samaritano, considerado indigno, que voltou para agradecer. Isso nos ensina que
ninguém é dono da graça divina. Por isso, não podemos fazer separação alguma:
grupos de salvos e condenados, grupos de santos e pecadores, grupos dos que
pertencem e dos que não pertencem. Nossos critérios humanos miram as
aparências, enquanto Deus vê o coração de cada um.
Padre Roberto
Nentwig
Fonte: catequeseebiblia.blogspot.com.br Ilustração: montealverne.com
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