O Evangelho de
Aparecida
Com a
realização, em Aparecida, da V Conferência Latino Americana em 2007, e com a
visita do Papa nesse ano ao Santuário Nacional, a festa de Nossa Senhora
Aparecida recebeu um destaque especial. Aparecida está se tornando uma
referência, não só para a Igreja no Brasil, mas também a Igreja na América
Latina, com repercussões positivas em âmbito mundial.
Salve, Maria, Mãe e Padroeira dos brasileiros! |
Pela maneira
como os fatos foram encadeados, a história de Aparecida se reveste de uma
singularidade muito especial. Ela assume características bem evangélicas. Ela
continua a dinâmica do Evangelho. Em suas parábolas, Cristo sabia organizar
suas narrativas de modo a transmitirem a mensagem que ele queria expressar.
Assim dá para reconhecer no relato de Aparecida um fio condutor, apontando para
valores evangélicos bem evidentes.
Aparecida tem
como fato desencadeador da interpretação religiosa, circunstâncias que fazem
parte da realidade cotidiana, de consistência indiscutível. É dessas
circunstâncias reais e concretas que se fez a costura de todo o episódio.
Baseado, portanto, em cenas da vida real, como Cristo fazia em suas parábolas.
Neste sentido,
Aparecida não parte de fatos extraordinários, que envolvem a subjetividade das
pessoas, como são as “aparições”, sempre necessitadas de discernimento eclesial
para serem aceitas.
Aparecida não
teve nenhuma “aparição”. Sua mensagem se assenta em dados reais. O Rio Paraíba
continua lá, a pequena imagem também, revestida agora do manto que expressa a
respeitosa acolhida do mistério, detectado pelos simples pescadores, iluminados
por sua fé.
O relato de
Aparecida, se constitui, na verdade, em exemplo de como perceber a presença do
mistério, nas circunstâncias cotidianas da vida. É um relato que não apela, em
nenhum momento, para episódios fora da normalidade. Aparecida nos ensina a
perceber a presença do mistério de Deus no cotidiano da vida.
O Papa
Francisco, em sua homilia aos Bispos do Brasil, no Rio de Janeiro, fez uma
exímia interpretação mística de todo o relato de Aparecida. Ele estruturou esse
relato em forma de verdadeira parábola, na qual ele se permitiu ir tirando, de
imediato, as lições práticas dos diversos momentos do episódio.
Desde o achado
da imagem. Mesmo fragmentada, foi acolhida com respeito pelos pescadores. Em
sua fé simples e profunda, souberam valorizar o pequeno símbolo imerso nas
águas. Eles mesmos o recompuseram, com sua iniciativa de unir corpo e cabeça.
Tiveram cuidado e carinho para com a pequena imagem assim recomposta. Eles a
acolheram, protegendo-a, e cobrindo-a com um manto. Assim ela se tornou motivo
de atração de outras pessoas, que passaram a se reunir em torno dela,
suscitando a necessidade de erguer uma pequena capela, desencadeando o processo
de ampliação e difusão de sua mensagem.
Aparecida nos
ensina uma grande lição. As circunstâncias concretas de nossa vida, são matéria
prima para a permanente parábola evangélica, que somos todos chamados a
reescrever. Quanto mais simples forem os episódios desta parábola, mais
próximos estarão do Evangelho. Pois Deus continua preferindo o caminho da
simplicidade e da pobreza para ele mesmo realizar suas maravilhas, como Maria
reconheceu antes de todos!
Dom Demétrio Valentini - Bispo de Jales (SP)
Fonte: www.cnbb.org.br Foto: www.a12.com
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