Sob o signo de Francisco
Foi muito movimentada a semana. Os oito cardeais, membros do agora
“conselho permanente” do Papa, se reuniram com ele durante três dias. Em
seguida, o Papa Francisco se sentiu na obrigação de visitar Assis, a terra do
primeiro Francisco. E precedendo a estes episódios todos, saiu a nova
entrevista, desta vez concedida a um ateu professo, diretor do jornal italiano
La Repubblica.
Diante deste
contexto, parece clara a advertência do Evangelho sobre os “sinais dos tempos”.
Se somos capazes de pressentir a chuva, como não perceber que em Roma está se
armando um tempo, sujeito a relâmpagos e trovoadas, prometendo bem mais que uma
chuva passageira.
Pelos sinais
emitidos, aos poucos o Papa Francisco, com firmeza e convicção, vai
direcionando suas propostas de mudanças, que prometem ser urgentes e amplas.
Por uma Igreja mais santa |
A começar pela
decisão de dar perenidade ao “conselho de consultores”. Antes de sua primeira
reunião, este “Conselho” foi elevado à categoria de órgão permanente, com a
finalidade de assessorar o Papa no governo da Igreja.
Para entender o
alcance desta medida, é bom relacioná-la com o tempo de Paulo VI, logo após o
Concílio. Eram insistentes as recomendações, no sentido de que o Papa criasse
um “conselho de cardeais”, para ajudá-lo a implementar as orientações do
Concílio. Mas Paulo VI, por sua natural timidez, não criou este “conselho”.
Agora o Papa Francisco, por clara decisão tomada e publicada nestes dias, criou
esta nova instância do governo eclesial, dando-lhe caráter definitivo, com
possibilidade de agregar outras incumbências, e com o número dos seus
componentes podendo ser adaptado de acordo com as circunstâncias.
Com isto, o Papa
Francisco tem agora o instrumento para acionar as iniciativas que ele julgar
oportunas.
Algumas delas,
de certa maneira, já foram confidenciadas. Entre elas, sua disposição de abrir
o diálogo com a modernidade. Era a grande intenção do Concílio Vaticano II.
Cinquenta anos depois, esta disposição parece tomar forma concreta. Assim se
expressa o Papa, de maneira clara e incisiva, diante de um interlocutor ateu:
“Os padres
conciliares sabiam que abrir-se à cultura moderna significava ecumenismo
religioso e diálogo com os não-crentes. Desde então foi feito muito pouco nesta
direção. Tenho a humildade e a ambição de querer fazê-lo”.
Portanto, ele
decidiu levar em frente o Concílio, que permanece referência indiscutível para
a Igreja em nosso tempo.
Outra grande
empreitada do Papa é abrir a Igreja para que ela perceba os problemas da
humanidade, e os assuma de maneira solidária. Depois de comentar a situação em
que vivem hoje os jovens, sem trabalho e sem futuro, e o abandono em que se
encontram as pessoas idosas, ele afirma claramente que este problema precisa
ser assumido pela Igreja: “Isto é o problema mais urgente que a Igreja tem pela
frente.”
Portanto, o Papa
quer uma Igreja aberta aos problemas que hoje a humanidade enfrenta. Esta
decisão do Papa leva a outra, agora definida claramente. Diz respeito à Cúria
Romana. Reconhecendo seus muitos valores, aponta o problema principal de que
ela padece. No dizer do Papa, a Cúria Romana é muito “vaticano-cêntrica”... “vê
e cuida dos interesses do Vaticano... e descuida do mundo que nos
circunda”.
É uma análise
pesada que o Papa faz da Cúria Romana. Diante disto, assume uma posição corajosa
e firme, dizendo textualmente: “Não compartilho com esta visão, e farei tudo
para mudá-la”.
Assim, vão
ficando claros os propósitos renovadores do Papa Francisco. Ele se mostra muito
disposto a levá-los em frente, conforme revelou para o jornalista Eugênio
Scalfari: “farei o que for possível para cumprir o mandato que me foi
confiado”.
Dom Demétrio
Valentini - Bispo de Jales (SP)
Fonte: www.cnbb.org.br Foto: www.isma.org.br
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