sexta-feira, 4 de outubro de 2013


Papa Francisco:
"O espírito do mundo é a lepra e o câncer da Igreja e da sociedade"

Assis (RV) – A visita do Papa Francisco a Assis começou cedo, antes do horário previsto, com um encontro comovente com os doentes e as crianças com deficiência na igreja do Instituto Seráfico.
O Pontífice saudou todos os presentes, um a um, com palavras e gestos de carinho e afeto. A seguir, improvisou um discurso sobre as chagas de Jesus – chagas que precisam ser ouvidas e reconhecidas.
Jesus está escondido nessas pessoas
“Aqui, Jesus está escondido nesses jovens, nessas crianças, nessas pessoas. No altar, adoramos a Carne de Jesus. Neles, encontramos as chagas de Cristo – que precisam ser ouvidas talvez não tanto nos jornais, como notícias... Esta é uma escuta que dura um, dois, três dias. Devem ser ouvidas por aqueles que se dizem cristãos. O cristão adora e busca Jesus, e sabe reconhecer as suas chagas. A Carne de Jesus são as suas chagas nessas pessoas.”
O Instituto foi fundado em 1871 pelo frade franciscano Beato Ludovico de Casória. Hoje, é um ponto de referência nacional para a reabilitação de pessoas com graves deficiências físicas e mentais.
Da igreja do Instituto Seráfico, Francisco rezou no Santuário de S. Damião, onde foi acolhido pelo Ministro-geral da Ordem Franciscana dos Frades Menores, Fr. Michael Perry, e pela comunidade do Convento.
A sede episcopal foi a etapa sucessiva, onde se realizou uma visita histórica – a primeira de um Pontífice em 800 anos. No Bispado, se encontra a Sala da Espoliação, onde São Francisco renunciou aos bens paternos para consagrar-se a Deus. Nesta Sala, o Papa se encontrou com um grupo de pessoas assistidas pelas oito Caritas diocesanas.
Sem a cruz não seremos cristãos verdadeiros
E foi sobre este termo, espoliação, que Francisco deixou de lado seu discurso escrito, para falar aos pobres, entre os quais muitos estrangeiros.
“Esta é uma boa ocasião para fazer um convite à Igreja para se espoliar”, disse o Papa, recordando que todos somos Igreja, não só os sacerdotes e as freiras, e todos devemos ir pela estrada de Jesus, pela estrada de espoliação que ele mesmo percorreu. “Se quisermos ser cristãos, não há outro caminho. Sem a cruz, sem Jesus, sem espoliação, seremos cristãos de ‘confeitaria’”, ou seja, belos, mas não verdadeiros.
Francisco advertiu que a Igreja deve se espoliar hoje de um grave perigo, representado pelo mundano. “O cristão não pode conviver com o espírito do mundo, que nos leva à vaidade, à prepotência, ao orgulho. Isso é um ídolo, não é Deus. A idolatria é o pecado mais grave. É muito triste encontrar um cristão mundano, certo da segurança que o mundo lhe dá.” Deus é único, recordou o Pontífice, e o espírito do mundo não tem lugar na vida cristã.
Devemos seguir a estrada de Jesus
“Muitos de vocês foram espoliados deste mundo selvagem, que não dá emprego, que não ajuda, ao qual não importa se existem crianças que morrem de fome no mundo, não importa se muitas famílias não têm o que comer, não têm a dignidade de levar o pão para casa, se tantas pessoas têm que fugir da escravidão, da fome e fugir em busca de liberdade. E quanta dor quando vemos que encontram a morte, como aconteceu ontem em Lampedusa. Hoje, é um dia de lágrimas. É o espírito do mundo que faz essas coisas”, explicou o Papa, que usou palavras fortes para quem se deixar levar por este espírito:
“É realmente ridículo que um cristão verdadeiro, que um padre, um freira, um bispo, um cardeal, um papa, queiram percorrer esta estrada do mundano, que é uma atitude homicida. O mundano mata, mata a alma, as pessoas, mata a Igreja. Hoje, aqui, peçamos a graça para todos os cristãos de que o Senhor nos dê a coragem de nos espoliar do espírito do mundo, que é a lepra e o câncer da sociedade, é o câncer da revelação de Deus. O espírito do mundo é o inimigo de Jesus.” (BF)

Na missa, Papa pede que sejamos instrumentos de paz e respeitemos a Criação

Às 11h, (6h de Brasília), o Papa Francisco começou a celebração da missa na Praça de São Francisco. Antes, o Papa desceu à cripta da Basílica e acompanhado por frades das quatro ordens franciscanas, levou três rosas brancas ao túmulo de São Francisco, diante do qual se ajoelhou e rezou por alguns minutos. 
Papa Francisco é acolhido com grande alegria
No percurso entre a Basílica de Santa Maria Maior (onde esteve em visita pessoal) e São Francisco, o papamóvel parou diversas vezes para Francisco beijar crianças e bebês levados por seus pais. Quem esperava ser saudado de perto não ficou decepcionado. O Papa dispensou carinhos e sorrisos à multidão. 
Diante da Basílica, completamente restaurada depois das feridas do terremoto de 1997, sob os toques dos sinos em festa, o povo acolheu Francisco com alegria, retribuída pelo Papa. Muitas bandeiras coloriam a Praça.
Jorge Bergoglio foi recebido por vários membros da comunidade e também pelo Primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, com quem conversou amigavelmente, trocando sorrisos. No início da missa, o arcebispo de Assis, Nocera Umbra e Gualdo Tadino, Dom Domenico Sorrentino, fez um discurso cumprimentando o Pontífice e agradecendo a visita.
Liturgia Eucaística
Papa Francisco começou sua homilia com a saudação franciscana “Paz e Bem!” e com poucas palavras, resumiu aos fiéis a escolha de São Francisco: imitar Cristo e fazer-se pobre para nos enriquecer por meio da sua pobreza. Em seguida, dissertou sobre o testemunho deixado por São Francisco, não com as palavras, mas com a vida.
Em primeiro lugar, o Papa frisou que o caminho de Francisco para Cristo começou do olhar de Jesus na cruz. “O santo se deixou olhar por Ele no momento em que deu a vida por nós e nos atraiu para Ele. Naquele instante, Jesus não tinha os olhos fechados, mas bem abertos: um olhar que lhe falou ao coração”.
“Quem se deixa olhar por Jesus crucificado fica recriado, torna-se uma nova criatura. E daqui tudo começa: é a experiência da Graça que transforma, de sermos amados sem mérito algum, até sendo pecadores”. 
O segundo testemunho deixado por São Francisco é que “quem segue Cristo, recebe a verdadeira paz, a paz que só Ele, e não o mundo, nos pode dar. 
Rebanho com o Pastor
“A paz franciscana não é um sentimento piegas, não é uma espécie de harmonia panteísta com as energias do cosmos... Também isto não é franciscano, mas uma ideia que alguns se formaram. A paz de São Francisco é a de Cristo, é a de quem assume o seu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. E este jugo não se pode levar com arrogância, presunção, orgulho, mas apenas com mansidão e humildade de coração", ressalvou o Pontífice, pedindo a São Francisco que nos ensine a ser «instrumentos da paz»”. 
Outro ponto ressaltado pelo Papa foi o testemunho de respeito por tudo o que Deus criou e que o homem é chamado a guardar e proteger, além do respeito e amor por todo o ser humano, por toda a criação e a sua harmonia. 
Assembleia em oração
“Deus criou o mundo para que seja lugar de crescimento na harmonia e na paz. Daqui, desta Cidade da Paz, repito com a força e a mansidão do amor: respeitemos a Criação, não sejamos instrumentos de destruição! Respeitemos todo o ser humano: cessem os conflitos armados que ensanguentam a terra, calem-se as armas e que, por toda a parte, o ódio dê lugar ao amor, a ofensa ao perdão e a discórdia à união. Ouçamos o grito dos que choram, sofrem e morrem por causa da violência, do terrorismo ou da guerra na Terra Santa, tão amada por São Francisco, na Síria, em todo o Oriente Médio, no mundo”.
Antes de concluir, o Papa recordou que a Itália celebra São Francisco como seu Padroeiro e pediu orações pela Nação Italiana, para que cada um trabalhe sempre pelo bem comum, olhando mais para o que une do que para o que divide.
No final da missa, houve a cerimônia tradicional da oferta do azeite para a lâmpada votiva, que este ano compete precisamente à Região da Úmbria. (CM)
                                                                                    Fonte: radiovaticana.va      news.va
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