Quinto dia de trabalhos:
Cidade do
Vaticano (RV) - Prosseguem, em seu quinto dia de atividades, os trabalhos
da III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, dedicada aos
desafios pastorais da família no contexto da evangelização.
Celebrações
penitenciais de tipo comunitária para divorciados recasados que desejam
retornar à comunhão eclesial: esse foi um dos caminhos propostos durante a
Congregação da tarde desta quinta-feira. As atividades da manhã desta
sexta-feira tiveram foram protagonizadas pelo testemunho dos auditores e
auditoras presentes.
Com seus
testemunhos concluíram a primeira semana de atividades na Sala do Sínodo, que
em seus trabalhos destes dias teve o pronunciamento de 180 Padres sinodais. Os
temas apresentados na oitava e nona reunião da assembleia foram sintetizados na
coletiva do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi.
Busca permanente por uma pastoral misericordiosa |
O tema
"candente" debatido durante semanas e destacado pela mídia como se
fosse o único desta assembleia recebeu notável espaço nos últimos
pronunciamentos dos Padres na Sala do Sínodo.
Em particular,
ressaltou o porta-voz vaticano, a assembléia ocupou-se dos divorciados
recasados e das possibilidades que a condição deles encontre novos percursos de
acolhimento no seio da Igreja:
"Um dos
Padres ofereceu um modelo sobre como está buscando percorrer este caminho com
os casais em questão, com as pessoas em questão, propondo interrogações para a
reflexão sobre as conseqüências que aquilo que ocorreu pode ter tido para os
filhos, ou mesmo se corrigiram os erros ou as atitudes injustas cometidas em
relação ao outro cônjuge (...) Houve quem falou de formas, de atos eclesiais,
com os quais buscar depois dar concretude a esse caminho penitencial. Por
exemplo, celebrações, por assim dizer, 'jubilares' (...) a serem feitas
inclusive comunitariamente."
Estreitamente
ligado a este tema destaca-se o aspecto sacramental no que tange a
possibilidade, por muitos evocada, de poder receber, sobretudo, a comunhão
eucarística. Sobre este ponto, muito interessante, foi feita uma observação,
frisou o Pe. Lombardi:
"Trata-se
da observação que ressaltava o que havia feito o Papa São Pio X em seu tempo,
permitindo a comunhão eucarística para as crianças: na época foi considerado
extremamente revolucionário, extremamente inovador. Portanto, existem também
exemplos de coragem por parte de um Papa – embora numa situação diferente
daquela em que nos encontramos – ao refletir ou introduzir novidades no que
pode referir-se à prática do acesso à Eucaristia."
Outro tema
candente diz respeito à preparação para o matrimônio, que os Padres sinodais
indicaram como algo do qual se deve cuidar com profundidade e por um tempo mais
longo, vez que a brevidade dos percursos atuais – muitas vezes vividos pelos
casais como uma imposição – não ajuda a compreender a sacralidade do vínculo de
modo que, foi ressaltado, aquilo que afinal se percebe é a celebração de um rito
mais do que do Sacramento.
Cristãos leigos e leigas devem ir aos solitários |
Ademais, a
assembleia sinodal sugeriu que se utilize o momento da homilia como lugar
privilegiado para o anúncio do Evangelho da família.
As auditoras e
os auditores presentes na Sala do Sínodo falaram difusamente sobre formação
para o matrimônio e sobre acompanhamento dos casais. Os leigos sejam mais
amplamente envolvidos nestes percursos de crescimento e de apoio, porque o
"testemunho vivido" assume notável impacto nestes casos.
Da experiência
das auditoras e dos auditores emergiu também – de modo análogo à convicção dos
Padres sinodais, que esta quinta-feira reafirmaram a doutrina da Humanae Vitae
de Paulo VI – o convite a aprofundar o conhecimento dos métodos naturais para a
regulação da natalidade.
Sempre em
sintonia com a opinião dos bispos, convencidos do peso da cultura e,
consequentemente, do trabalho universitário em apoio à família, auditoras e
auditores descreveram concretamente o peso específico do engajamento leigo
tanto no campo acadêmico quanto no seio das instituições civis. Isso sem
esquecer os frutos que o trabalho de muitos cristãos produz inclusive nos ângulos
mais sombrios da sociedade, observou o Pe. Lombardi:
"O fato de
ter um tipo de testemunho e de pastoral exercidos também por leigos, que olha
para as muitas solidões que existem no mundo de hoje nas grandes cidades (...)
como um serviço que chega a tantas pessoas sozinhas ou em dificuldade
independentemente de participarem da vida da Igreja. Portanto, um serviço
generoso e aberto que vai além dos confins da comunidade, digamos, praticante."
A segunda parte
da manhã, após os pronunciamentos dos auditores, foi caracterizada pela
primeira reunião dos chamados "Círculos menores": 10 grupos – três
nas línguas inglesa e italiana, e dois nas línguas francesa e espanhola – que
iniciarão seus trabalhos na próxima semana após a "Relatio
post-disceptationem", relatório que sintetiza os trabalhos da semana (RL)
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Cardeal Versaldi:
"É necessária uma maior preparação ao Matrimônio"
Cidade do
Vaticano (RV) – Diante do alto número de divorciados, é necessária uma
preparação maior, personalizada e também severa ao matrimônio, sem medo de ver,
eventualmente, uma diminuição no número de casamentos celebrados na Igreja.
Este foi um dos aspectos salientados nos trabalhos do Sínodo Extraordinário
sobre a Família em andamento no Vaticano. A Rádio Vaticano conversou sobre este
tema com Presidente da Prefeitura dos Assuntos Econômicos da Santa Sé, Cardeal
Giuseppe Versaldi:
Cardeal Versaldi |
Cardeal Versaldi:
“O problemas existem, e são resolvidos os que dizem respeito às pessoas em
dificuldade após o matrimônio, mas eu quis insistir no fato de que é necessário
prevenir as dificuldades e sobretudo os sofrimentos das pessoas, tendo
portanto, uma maior atenção à preparação do matrimônio. No Ano da Fé, o Papa
nos disse que a fé – também entre os batizados – não pode mais ser pressuposta
e portanto, é necessário realizar um caminho, também doutrinal. Eu insisti
sobre o acompanhamento pessoal dos casais, em maneira tal que não por meio de
instrumentos jurídicos, mas através de um acompanhamento pastoral e espiritual,
se verifique verdadeiramente se a intenção dos esposos é a de serem
introduzidos não ao casamento, mas ao Sacramento do Matrimônio, de modo que
depois possam administrar as dificuldades na vida matrimonial. Sempre existirão
fracassos, mas assim colocamos uma barreira não para impedir o matrimônio, mas
para fazê-lo não somente válido, mas também frutuoso. A Igreja não pode depois
declarar nulos os matrimônios, que ao contrário, são válidos e carregando peso
sobre os fiéis após o matrimônio. É melhor ser um pouco mais severo antes,
mesmo que diminuam um pouco no tempo as celebrações de casamento, mas que sejam
pessoas convencidas de encontrar Cristo e não somente de fazer a cerimônia”.
RV: Para evitar
justamente quem se casa como uma etapa social, concentrada mais na cerimônia e
no dia do matrimônio. Depois, quando chegam os problemas, encontram-se despreparados...
Colegialidade |
Cardeal Versaldi: “Supondo
este automatismo entre o fato de que alguém é batizado – e portanto se supõe
que tenha a fé – e o Matrimônio, que é outro Sacramento. Certo, o Batismo
introduz na salvação, porém é um encontro com Cristo e quem se casa, ao invés
disto, acreditando não ter necessidade de Cristo - mas somente porque é uma
tradição ou até mesmo um ato folclórico -, se casa validamente, mas depois não
consegue administrar a fadiga do matrimônio e então pede a nulidade. O paradoxo
então é que a Igreja é generosa no início, admitindo a todos, e depois é severa
deixando-os com os seus pesos. Isto não está certo”!
RV: Seria
necessário, então, ter a coragem de dizer “não” a alguns casais que chegam
despreparados ao matrimônio?
Cardeal Versaldi: “Mais
do que dizer “não”, indicar um caminho: não logo, mas, façamos um caminho.
Agora se fala tanto dos divorciados e dos recasados e de um caminho
penitencial, que é sempre penitencial e doloroso; lá seria, ao contrário, um
caminho não penitencial, mas de crescimento, de maturação na fé”.
RV: Agir na
origem…
Cardeal Versaldi: “Agir
na origem, fazendo também entender que não podem ir ali pedindo o matrimônio,
já fixando a data e pressupondo que se trata somente de uma fórmula: “Aceitas
aquilo que faz a Igreja?”; “Sim!”. E depois se passa a saber o que existe por
trás daquele ‘sim’.... Estamos discutindo tanto sobre como mudar o ‘depois’ e
não discutimos tanto sobre como mudar o ‘antes’. Eu fiz um pronunciamento, mas
também outros se pronunciaram neste sentido”.
RV: Tem depois o
“pós-matrimônio”. Tem quem sugira um acompanhamento também após o matrimônio
dos casais, que frequentemente se casam com pressupostos cristãos e de repente
se encontram sozinhos....
Cardeal Versaldi:
“E alí verdadeiramente é a paróquia, a comunidade paroquial, como família de
família, e sobretudo os esposos, mais do que os sacerdotes, devem acompanhar os
casados naquele ponto. É importante o acompanhamento dos jovens esposos por
parte de quem já tem a experiência, quem sabe mesmo, de crises superadas. Este
é outro ponto intermediário: antes de chegar à ‘vexata questio’ “Damos ou não
damos a comunhão aos divorciados-recasados?”, o que certamente é um problema,
mas quando torna-se um problema muito generalizado, quer dizer que alguma coisa
está errada no início. Se não fazemos uma preparação adequada, devemos depois
cuidar dos matrimônios fracassados e a Igreja de “hospital de campanha” se
torna um obituário, onde se fazem as autópsias dos matrimônios defuntos”.
RV: Se fala
muito nestes dias de doutrina e misericórdia, quase como se fossem duas
realidades distintas. É realmente assim ou doutrina e misericórdia
necessariamente devem caminhar juntos, se identificam?
Cardeal Versaldi: “A
misericórdia é a doutrina da Igreja e a doutrina da Igreja é a salvação: “Não
vim para condenar, mas para perdoar”. Todavia o perdão pressupõe o
arrependimento”. (JE)
Fonte: radiovaticana.va news.va
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