4º Domingo do Tempo Comum
Jesus é o
profeta do Reino de Deus. Mas que é um profeta? Conforme a 1ª leitura,
o profeta é mediador e porta-voz de Deus. Os antigos israelitas,
vivendo ao lado dos cananeus, estavam tentados a consultar, como
estes, as divindades dos “lugares altos” por aí (que supostamente
conheciam bem as necessidades locais). Consultavam os sortilégios, os
búzios, os necromantes que evocavam espíritos etc. Não eram muito diferentes de
muitos dos nossos contemporâneos.
Diante disso,
Moisés lhes lembra que, quando da manifestação de Deus no monte Sinai (Ex 19),
eles tiveram tanto medo que Deus precisou estabelecer um intermediário para
falar com eles: o primeiro profeta bíblico, ele mesmo. Em vista disso, sempre
haveria profetas em Israel para serem mediadores e porta-vozes de Deus, de modo
que os israelitas não precisariam mais consultar os deuses de Canaã, nos
santuários locais. O profeta é aquele que fala com a autoridade de Deus, que o
envia. Muitas vezes, sua palavra é corroborada por Deus por meio de milagres,
“sinais”.
No evangelho,
Jesus é apresentado como porta-voz de Deus e de seu Reino.Deus mostra que está
com ele. Dá-lhe poder de fazer sinais: na sinagoga de Cafarnaum, Jesus expulsa
um demônio, e o povo reconhece sua autoridade profética: “Um ensinamento novo,
dado com autoridade…” (Mc 1,27). Ora, os sinais milagrosos servem para mostrar
a autoridade do profeta, mas não são propriamente sua missão. Servem para
mostrar que Deus está com ele, mas sua tarefa não é fazer coisas espantosas.
Sua tarefa é ser porta-voz de Deus. Jesus não veio para fazer milagres, e sim,
para nos dizer e mostrar que Deus nos ama e espera que participemos ativamente
de seu projeto de amor. Por outro lado, os sinais, embora não sejam sua tarefa
propriamente, não deixam de revelar um pouco em que consiste o reino que Jesus
anuncia. São sinais da bondade de Deus.
Jesus nunca
faz sinais danosos para as pessoas (como as pragas do Egito que aconteceram
pela mão de Moisés). O primeiro sinal de Jesus, em Mc, é uma expulsão de
demônio. A obsessão demoníaco simboliza o mal que toma conta do ser humano sem
que este o queira. Libertando o endemoninhado do seu mal, Jesus demonstra que o
Reino por ele anunciado não é apenas apelo livre à conversão de cada um, mas
luta vitoriosa contra o mal que se apresenta maior que a gente.
O mal que é
maior que a gente existe também hoje: a crescente desigualdade social, a má
distribuição da terra e de seus produtos, a lenta asfixia do ambiente natural
por conta das indústrias e da poluição, a vida insalubre dos que têm de menos e
dos que têm demais, a corrupção, o terror, o tráfico de drogas, o crime
organizado, o esvaziamento moral e espiritual pelo mau uso dos meios de
comunicação… Esses demônios parecem dominar muita gente e fazem muitas vítimas.
O sinal profético de Jesus significa a libertação desse mal do mundo, que
transcende nossas parcas forças. E sua palavra, proferida com a autoridade de
Deus mesmo, nos ensina a realizar essa libertação.
Como Jesus, a
Igreja é chamada a apresentar ao mundo a Palavra de Deus e o anúncio de seu
Reino. Como confirmação dessa mensagem, deve também demonstrar, em sinais e
obras, que o poder de Deus supera o mal: no empenho pela justiça e no alívio do
sofrimento, no saneamento da sociedade e na cura do meio ambiente adoentado.
Palavra e sinal, eis a missão profética da Igreja hoje.
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