Cristãos perseguidos dão testemunho de Cristo
Cidade do
Vaticano (RV) – O Papa Francisco presidiu no fim da tarde deste domingo, na
Basílica de São Paulo fora dos Muros a celebração das Segundas Vésperas da
Solenidade da Conversão de São Paulo, da qual participaram fiéis da diocese de
Roma e representantes de diversas Igrejas e Comunidades eclesiais. O Santo
Padre rezou intensamente ao Senhor para que fortaleça o compromisso para a
plena unidade de todos os crentes em Cristo. Recordou ainda os cristãos
perseguido, falando de ecumenismo de sangue. Eis na íntegra a sua homilia:
Na sua viagem da
Judeia para a Galileia, Jesus passa através da Samaria. Não tem dificuldade em
encontrar os samaritanos considerados hereges, cismáticos, separados dos
judeus. A sua atitude diz-nos que o confronto com quem é diferente de nós pode
fazer-nos crescer.
Jesus, cansado
da viagem, não hesita em pedir de beber à mulher samaritana. Mas a sua sede
estende-se muito para além da água física: é também sede de encontro, desejo de
abrir diálogo com aquela mulher, oferecendo-lhe assim a possibilidade de um
caminho de conversão interior. Jesus é paciente, respeita a pessoa que tem à
sua frente, revela-Se-lhe progressivamente. O seu exemplo encoraja a procurar
um confronto sereno com o outro. As pessoas, para se compreenderem e crescerem
na caridade e na verdade, precisam de se deter, acolher e escutar. Desta forma,
começa-se já a experimentar a unidade.
Que São Paulo nos inspire no anuncio do Evangelho! |
A mulher de
Sicar interpela Jesus sobre o verdadeiro lugar da adoração a Deus. Jesus não
toma partido em favor do monte nem do templo, mas vai ao essencial derrubando
todo o muro de separação. Remete para a verdade da adoração: «Deus é espírito;
por isso, os que O adoram devem adorá-Lo em espírito e verdade» (Jo 4, 24). É
possível superar muitas controvérsias entre cristãos, herdadas do passado,
pondo de lado qualquer atitude polémica ou apologética e procurando, juntos, individuar
em profundidade aquilo que nos une, ou seja, a chamada a participar no mistério
de amor do Pai, que nos foi revelado pelo Filho através do Espírito Santo. A
unidade dos cristãos não será o fruto de sofisticadas discussões teóricas, onde
cada um tenta convencer o outro da justeza das suas opiniões. Temos de
reconhecer que, para se chegar à profundeza do mistério de Deus, precisamos uns
dos outros, encontrando-nos e confrontando-nos sob a guia do Espírito Santo,
que harmoniza as diversidades e supera os conflitos.
Pouco a pouco, a
mulher samaritana compreende que Aquele que lhe pediu de beber é capaz de a
saciar. Jesus apresenta-Se-lhe como a fonte donde jorra a água viva que mata a
sua sede para sempre (cf. Jo 4, 13-14). A existência humana revela aspirações
ilimitadas: busca de verdade, sede de amor, de justiça e de liberdade. Trata-se
de desejos apenas parcialmente saciados, porque o homem, do fundo do seu
próprio ser, é movido para um «mais», um absoluto capaz de satisfazer
definitivamente a sua sede. A resposta a estas aspirações é dada por Deus em
Jesus Cristo, no seu mistério pascal. Do lado trespassado de Jesus, jorraram
sangue e água (cf. Jo 19, 34): Ele é a fonte donde brota a água do Espírito
Santo, isto é, «o amor de Deus derramado nos nossos corações» (Rm 5, 5) no dia
do Baptismo. Por acção do Espírito, tornamo-nos um só com Cristo, filhos no
Filho, verdadeiros adoradores do Pai. Este mistério de amor é a razão mais
profunda da unidade que liga todos os cristãos e que é muito maior do que as divisões
ocorridas no decurso da história. Por este motivo, na medida em que nos
aproximamos humildemente do Senhor Jesus Cristo, acontece também a aproximação
entre nós.
O encontro com
Jesus transforma a samaritana numa missionária. Tendo recebido um dom maior e
mais importante do que a água do poço, a mulher deixa lá o seu cântaro (cf. Jo
4, 28) e corre a contar aos seus compatriotas que encontrou o Messias (cf. Jo
4, 29). O encontro com Ele restituiu-lhe o significado e a alegria de viver, e
a mulher sente o desejo de comunicá-lo. Hoje, há uma multidão de homens e
mulheres, cansados e sedentos, que nos pedem, a nós cristãos, para lhes dar de
beber. É um pedido a que não nos podemos subtrair. Na chamada a ser
evangelizadores, todas as Igrejas e Comunidades eclesiais encontram uma área
essencial para uma colaboração mais estreita. Para se poder cumprir eficazmente
esta tarefa, é preciso evitar de fechar-se em particularismos e exclusivismos e
também de impor uniformidade segundo planos meramente humanos (cf. Exort. ap.
Evangelii gaudium, 131). O compromisso comum de anunciar o Evangelho permite
superar qualquer forma de proselitismo e a tentação da competição. Estamos
todos ao serviço do único e mesmo Evangelho!
Que vivamos unidos em fraterna comunhão! |
E, neste momento
de oração pela unidade, gostaria de recordar os nossos mártires hoje. Eles dão
testemunho de Jesus Cristo e são perseguidos e mortos, porque são cristãos, sem
fazer distinção, por parte dos perseguidores, da confissão à que pertencem. São
cristãos e por isso são perseguidos. Este é, irmãos e irmãs, o ecumenismo do
sangue.
Com esta
jubilosa certeza, dirijo as minhas cordiais e fraternas saudações a Sua
Eminência o Metropolita Gennadios, representante do Patriarcado Ecuménico, a
Sua Graça David Moxon, representante pessoal em Roma do Arcebispo de Cantuária,
e a todos os representantes das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais aqui
congregados na Festa da Conversão de São Paulo. Além disso, saúdo com grande
prazer os membros da Comissão Mista para o Diálogo Teológico entre a Igreja
Católica e as Igrejas Ortodoxas Orientais, aos quais desejo um frutuoso
trabalho na sessão plenária que terá lugar em Roma nos próximos dias. Saúdo
também os alunos do Ecumenical Institute of Bossey e os jovens que beneficiam
de bolsas de estudo oferecidas pelo Comité de Colaboração Cultural com as
Igrejas Ortodoxas, operativo no Conselho para a Promoção da Unidade dos
Cristãos.
Hoje estão
presentes também religiosos e religiosas pertencentes a diferentes Igrejas e
Comunidades eclesiais que, nestes dias, participaram num convénio ecuménico
organizado pela Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as
Sociedades de Vida Apostólica, em colaboração com o Pontifício Conselho para a
Promoção da Unidade dos Cristãos, por ocasião do Ano da vida consagrada. A vida
religiosa, como profecia do mundo futuro, é chamada a dar testemunho, no nosso
tempo, daquela comunhão em Cristo que ultrapassa toda a diferença e é feita de
opções concretas de recepção e diálogo. Consequentemente, a busca da unidade
dos cristãos não pode ser prerrogativa apenas de qualquer indivíduo ou
comunidade religiosa particularmente sensível a tal problemática. O
conhecimento recíproco das diferentes tradições de vida consagrada e um fecundo
intercâmbio de experiências podem ser úteis para a vitalidade de toda a forma
de vida religiosa nas diferentes Igrejas e Comunidades eclesiais.
Amados irmãos e
irmãs, hoje nós, que estamos sedentos de paz e fraternidade, com coração
confiante invocamos do Pai celeste, por meio de Jesus Cristo único Sacerdote e por
intercessão da Virgem Maria, do Apóstolo Paulo e de todos os Santos, o dom da
comunhão plena de todos os cristãos, a fim de que possa resplandecer «o sagrado
mistério da unidade da Igreja» (Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o Ecumenismo
Unitatis redintegratio, 2) como sinal e instrumento de reconciliação para o
mundo inteiro.
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Fonte: radiovaticana.va news.va
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