sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Papa aos padres do Pio Latino-Americano:

fraternidade prevaleça sobre toda diferença

“Quando abrirem o coração a todos sem distinção, pelo amor de Deus, criem um espaço onde Deus e o próximo possam encontrar-se. Jamais deixem de manifestar esta disponibilidade, esta abertura: jamais fechem a porta para aqueles que no fundo de seus corações anseiam por poder entrar e se sentir acolhidos. Pensem que o Senhor os chama sob o manto daquele pobre, para sentar-se todos juntos em seu banquete”, disse o Papa Francisco aos sacerdotes alunos do Pontifício Colégio Pio Latino-Americano de Roma.

Raimundo de Lima - Vatican News “Lutem contra a cultura do descarte, a segregação social, a desconfiança e o preconceito com base na raça, cultura ou fé, para que o sentimento de fraternidade prevaleça sobre toda diferença.”

Foi a exortação do Papa à comunidade do Pontifício Colégio Latino-Americano de Roma, dirigindo-se aos superiores, bispos e sacerdotes, alunos e ex-alunos (cerca de 50 ao todo), recebidos por Francisco pouco depois do meio-dia desta sexta-feira (20/11), na Sala Clementina, no Vaticano, por ocasião do começo de um novo ano acadêmico há pouco iniciado.

Ao agradecer ao reitor do Colégio, o padre jesuíta Gilberto Freire, pelas palavras de saudação que lhe foram dirigidas, o Santo Padre ressaltou que nelas se ilustra os desafios que este tempo impôs a esta comunidade educacional e a necessidade de manter-se fiéis à própria missão de formar e formar-se como sacerdotes a serviço do santo Povo de Deus que peregrina na América Latina.

Evangelização da América

Por quanto a história tenha separado nossos povos, não destruiu neles a raiz que os unem naquela grande obra que foi a evangelização da América. “Nesta base, o Colégio Pio Latino-Americano nasceu como um compromisso a unir todas as nossas Igrejas particulares e, ao mesmo tempo, as abrir à Igreja universal nesta cidade de Roma”, frisou o Papa.

Referindo-se à evangelização no continente americano, o Papa Bergoglio – também ele latino-americano – evidenciou que “o exemplo de mestiçagem que tornou a América grande, e que se vive na comunidade plural que vocês formam, pode contribuir para curar o mundo”.

“O Evangelho e sua mensagem chegaram a nossa terra por meios humanos, não isentos do pecado, mas a graça venceu nossa fraqueza e sua Palavra se espalhou por todos os cantos do continente. Povos e culturas o acolheram numa rica diversidade de formas que ainda hoje podemos contemplar.”

Atualmente, continuou o Papa em seu discurso, “há latino-americanos espalhados por todo o mundo e muitas comunidades cristãs têm se beneficiado desta realidade. Igrejas do norte e centro da Europa, mesmo no leste, encontraram neles uma nova vitalidade e um renovado impulso.”

Chamados a semear a Palavra

“Muitas cidades – ressaltou –, de Madri a Kobe, celebram com fervor o Cristo dos Milagres e o mesmo pode ser dito de Nossa Senhora de Guadalupe. A rica mestiçagem cultural que tornou possível a evangelização se produz hoje novamente.”

Francisco prosseguiu observando que os povos latinos se encontram entre si e com outros povos graças à mobilidade social e aos instrumentos da comunicação, e deste encontro também eles saem enriquecidos.

Neste campo, frisou, vocês são chamados a semear a Palavra, de modo generoso, sem preconceitos, como Deus semeia. “Sobre isso devem incidir a formação e o ministério de vocês, para abrir a porta de seus corações e dos corações daqueles que os escutam, para ajudar e convidar os outros a fazer o mesmo com vocês para o bem de todos, para curar este mundo do grande mal que o aflige e que a pandemia evidenciou.”

O Papa destacou três pontos concretos de ação que têm dois momentos: pessoal e comunitário, que se completam inevitavelmente.

Abrir a porta do coração e dos corações

Abrir o coração certamente ao Senhor que não cessa de bater à nossa porta, para habitar em nós. Mas abri-lo também ao irmão, porque não se esqueçam que nossa relação com Deus pode ser facilmente avaliada pelo modo como procedemos em relação ao próximo.

“Quando abrirem o coração a todos sem distinção, pelo amor de Deus, criem um espaço onde Deus e o próximo possam encontrar-se. Jamais deixem de manifestar esta disponibilidade, esta abertura: jamais fechem a porta para aqueles que no fundo de seus corações anseiam por poder entrar e se sentir acolhidos. Pensem que o Senhor os chama sob o manto daquele pobre, para sentar-se todos juntos em seu banquete.”

Ajudar e convidar os outros a fazer o mesmo

Deus os chamou à vocação sacerdotal, os enviou a esta cidade de Roma para completar a formação de vocês, porque tem um projeto de amor e de serviço para cada um. “Pastores segundo o seu coração que se dediquem ao cuidado das ovelhas, que as apascentem, as conduzam e busquem sempre o seu bem-estar”, ressaltou Francisco.

“Nosso esforço também deve ser um chamado, deve reunir o rebanho, fazê-lo sentir-se povo, chamado também ele a colocar-se em caminho para antecipar o reino, já aqui nesta terra. Isto implica que se sintam úteis, responsáveis, necessários, que haja um espaço onde eles também possam colaborar.”

Curar o mundo do grande mal que o aflige

A pandemia colocou-nos diante do grande mal que aflige a nossa sociedade. A globalização superou as fronteiras, mas não as mentes e os corações. “O vírus se difunde sem freios – continuou o Pontífice –, não somos capazes de dar uma resposta conjunta.

“O mundo continua fechando as portas, recusando o diálogo e a colaboração, se recusa a abrir-se sinceramente ao compromisso comum por um bem que alcance a todos sem distinção. A cura deste mal deve vir de baixo, dos corações e das almas que um dia lhes serão confiadas, com propostas concretas no âmbito da educação, a catequese, o compromisso social, capazes de mudar mentalidades e abrir espaços, para curar este mal e dar a Deus um povo unido.”

O Papa concluiu confiando-os à Virgem Mãe, Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina, convidando-os a serem testemunhas da fraternidade humana onde o Senhor os enviar.

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Economia de Francisco:

jovens do mundo inteiro coligados com a cidade de Assis

Começou na tarde desta quinta-feira, na Basílica de São Francisco em Assis, o evento que envolve mais de 2.000 empresários e estudantes de economia com menos de 35 anos de todos os continentes. Os discursos do bispo da cidade da Umbria, do cardeal Turkson e as propostas dos jovens: a revolução de São Francisco, fonte de inspiração para realizar um novo sistema econômico no nosso tempo.

Adriana Masotti, Silvonei José – Vatican NewsBem-vindo a Assis! É a saudação que deu início ao evento "Economia de Francisco" desejado pelo Papa e há muito esperado por causa da Covid-19. Foi uma jovem quem fez a saudação aos jovens presentes na capela da Basílica de São Francisco em Assis e aos cerca de 2.000 coligados de mais de 40 países, entre os quais Itália, Argentina, Brasil, Costa do Marfim, Coreia, Portugal, Camarões, Polônia, Colômbia, Nigéria, Espanha, Suíça, Índia, Chile, Bélgica, Irlanda, África do Sul, Botswana, Cuba, México, Filipinas, Uganda e Paquistão. Dois outros jovens foram os apresentadores de uma tarde cheia de ideias, propostas, canções, vídeos com testemunhos e descrições de projetos que se sucederam a um ritmo premente. Desde o início, foi dito que este não seria um encontro tradicional, com jovens sentados a ouvir especialistas e professores de economia, mas que seriam eles os protagonistas absolutos.

Ouvir o grito dos pobres

Percorrendo o percurso de Economia de Francisco, iniciado com a carta do Papa aos jovens em maio de 2019, se observa como o mundo de hoje mais do que nunca espera uma nova economia. 12 aldeias temáticas que trabalharam nos últimos meses para a preparação.

Um vídeo intitulado: "Ouça o grito dos mais pobres para transformar a terra", realizado pelo movimento ATD Quarto Mundo, envia imediatamente a todos uma mensagem dos jovens que vivem na pobreza, que se contentam com uma alimentação inadequada. Muitos jovens não vão à escola para fazer pequenos trabalhos para ganhar a vida ou trabalhos pesados e perigosos. Muitos de nós somos excluídos, não temos os instrumentos que outros têm, afirmam, sofremos frequentemente discriminações na vida social. Os voluntários de ATD relançam: temos de colocar o homem no centro da economia. Por todo o lado, dizem, a pandemia torna as pessoas mais frágeis, mas os pobres são as suas primeiras vítimas, a Covid salientou as desigualdades, diz um voluntário de ATD e conclui, as pessoas que vivem na miséria nos esperam para fazer parte de um mundo melhor.

O dinheiro, apenas um instrumento

Na Basílica presente o bispo de Assis, dom Domenico Sorrentino. Deu as boas-vindas aos jovens à cidade de São Francisco e disse que 800 anos antes, o então bispo Guido, tinha dado as mesmas boas-vindas ao Santo chamado 'a juízo', cujo centro era precisamente o dinheiro. Francisco considerava-o um instrumento para o bem de todos e especialmente dos últimos. Com a sua nudez, disse dom Sorrentino, ele escreveu o manifesto de uma nova economia. Este episódio representa o encontro entre a instituição e o carisma, ambos na escuta do Espírito Santo, que introduzia uma nova história.

Turkson: São Francisco economista ante litteram

"Vocês decidiram dar vida a uma rede global de jovens que iniciará a mudança, sublinha o cardeal Peter Turkson, prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, em coligação a partir de Roma. Decidiram ajudar o Papa, a Igreja e o mundo a realizar uma economia inclusiva e justa, ao serviço de todos, uma economia social que investe nas pessoas, garantindo formação e trabalho digno". Não é por acaso que estamos aqui, continua Turkson, porque São Francisco é uma inspiração de paz e amor social. E recorda que o objetivo das empresas é criar uma comunidade de pessoas, que trabalha com um único objetivo, é importante então que todos possam fazer uso dos seus talentos, todos devem ser reconhecidos como protagonistas. Não é o mercado que pode curar a economia, salienta o cardeal, é por isso que é importante que a inspiração venha das pessoas, que não são simples trabalhadores. "Vocês podem pôr em campo um novo amor social neste tempo - conclui - promovendo a fé numa nova economia.

O protagonismo dos jovens

Estes dias serão uma viagem de Assis ao mundo e do mundo a Assis anunciam os três jovens apresentadores presentes na Basílica introduzindo as várias coligações com diversas nações do mundo, onde grupos de jovens se encontraram para acompanhar o evento. O abraço de Assis a todos os participantes vem através da prefeita da cidade, Stefania Proietti. O Papa pediu a vocês que coloquem a vida e a criação no centro da economia, e não o lucro, disse Proietti, e qual cidade poderia ser mais adequada. Vocês podem ser o motor do novo desenvolvimento. Frequntemente os jovens são relegados para um canto, assinala, o quanto vocês têm de lutar, por exemplo, para chamar a atenção dos adultos para a questão climática. Vocês podem quebrar o equilíbrio das desigualdades globais, disse novamente e observa como a pandemia mostrou como tudo está interligado, a propagação do vírus e a situação ambiental, por exemplo. Uma reação em cadeia é o que a prefeita espera depois destes dias.

Pensar ao bem de todos

Francesca Di Maolo, presidente do Instituto Seráfico de Assis que se ocupa de jovens com deficiência, leva aos jovens a realidade dos últimos. "Temos de gerir tantas desigualdades e gostaríamos de entrar no seu coração: não pode haver um novo sistema econômico se não cuidarmos dos mais fracos, se não pusermos em prática gestos de cuidado e solidariedade. Em coligação, o economista Stefano Zamagni afirma que o Papa sublinhou a urgência de que os jovens sejam a alma da economia de amanhã, baseada no cuidado e na fraternidade universal. Não é suficiente o lucro, visto hoje como um valor central, precisamos considerar, disse Zamagni, o bem-estar de todos os envolvidos e o impacto ambiental, e precisamos impostar novamente a contabilidade das finanças. Precisamos escrever novas regras na área do comércio internacional e encorajar uma pluralidade de abordagens na pesquisa. Não há respostas fáceis, mas precisamos também de esperança. "Nós - concluiu - temos uma tarefa que parece impossível, mas devemos avançar, devemos tentar".

"Um sonho que você se faz sozinho é apenas um sonho, um sonho feito em conjunto com outros torna-se realidade (provérbio africano)".

Face a face com São Francisco: o amanhecer de uma vocação

Economia de Francisco quer visitar com os jovens os cinco lugares mais significativos da vida de São Francisco para refletir e repercorrer os seus passos: Santuario de Rivotorto, Igreja de São Damião, Santuário de Santa Clara, Santuario do Despojamento e Palazzo Monte Frumentario. Partimos do Santuário do Despojamento onde tudo começou. No início de cada vocação autêntica há sempre um despojamento, ou seja, um reset, um reiniciar do zero, diz-se, mas nenhum reset é feito se não houver desejo de uma nova vida. Em Francisco havia paixão, não altruísmo. Havia o desejo de uma noiva,  de Nossa Senhora Pobreza, este é Francisco. No ato de despojamento do Santo, há também o início de uma revolução econômica.

Responder a um chamado: também acontece aos empresários

Um professor de economia de Cidade do México, conta em coligação, a sua experiência de trabalho com famílias indígenas que cultivam café e o projeto que realizam em conjunto, que dá dignidade às pessoas, também com o objetivo de recuperar a relação com a terra. Um exemplo para dizer que ainda hoje existem pessoas, empresários, que sentiram um chamado para dar vida a algo diferente. Assim fazendo, encontramo-nos frequentemente expulsos de casa, falidos, sozinhos, se comenta, mas se acabamos mal porque seguimos uma voz, chega o momento da salvação e é diferente, mas muito mais belo do que esperávamos. Os bens mais preciosos não devem ser procurados, mas esperados, dizia Simone Weil.

Os jovens em confronto com economistas de renome

Chegou o momento dos jovens e do intercâmbio de propostas para um sistema econômico justo e inclusivo. Com eles economistas de fama mundial como Jeffrey Sachs, Ilaria Schnyder von Wartensee e Stefano Bartolini; Raul Caruso, Juan Camilo Cárdenas e Susy Snyder e a Sr. Cécile Renouard. Discute-se de economia, de paz e de reconversão industrial, de Inteligência Artificial, de um novo paradigma global e de um novo modelo de desenvolvimento, modelos empresariais para uma economia humana, de experiências em comunidades de transição ecológica e social, de insegurança alimentar.

Os pobres frequentemente não são informados

Voltamos então a Assis para refletir sobre outro lugar importante ligado a Francisco, passando pela Basílica Superior com o ciclo de afrescos de Giotto: 28 cenas que retratam a sua vida, mas é impressionante a ausência de uma imagem, o beijo de Francisco ao leproso, e no entanto para Francisco esse beijo foi fundamental. O lugar é o Santuário de Rivotorto. Para os pobres, comenta-se, a pobreza é também a narrativa, é o ser esquecido. Francisco vive com os leprosos, cuida dos seus corpos, lava as suas feridas, antes que a sua visão fosse insuportável. Nem todos escolhem a Senhora Pobreza, essa liberdade absoluta, para serem pobres por opção ao lado dos pobres e mais nada, todos irmãos, todos próximos. Do Bangladesh vem a experiência do microcrédito para os pobres concebida pelo economista Muhammad Yunus: vale o princípio da subsidiariedade, sublinha-se. Temos de perguntar aos pobres, são eles que têm as primeiras ideias para sair das armadilhas da pobreza.

A nossa terra tão maltratada

Finalmente, o tema do ambiente: a terra, é salientado, está entre os nossos pobres mais maltratados. A sua marca é a degradação. "A terra é como um mendigo desprezado, em que todos cospem sem medo de serem retribuídos (...) amigo, não passe avante, pare e enfaixe as feridas desta velha mãe terra". O primeiro dia de Economia de Francisco encerra-se com a interpretação no Reino Unido de uma peça tirada do “Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry, revisitada na época da Covid. Uma era em que, através do nosso celular, acreditamos ter o mundo na ponta dos dedos e não sabemos o que significa preocuparmo-nos com a sobrevivência de uma rosa. Um tempo em que uma guerra se segue à outra e não compreendemos que a paz só pode reinar onde há igualdade e justiça e que a partilha é o único caminho a seguir.

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