Humanidade ferida
"Existe hoje muito espaço para a
construção do bem, para a mesma prática do bom samaritano"
A existência das
culturas, que marginalizam as pessoas e provocam um significativo aumento da
pobreza e da miséria, reflete o tipo de projetos econômicos, políticos, sociais
e religiosos que estão sendo geridos no mundo. Com isto, toda a sociedade, de
uma forma ou de outra, fica ferida e assaltada na sua identidade. Há
necessidade do surgimento de bons samaritanos com seus gestos de fraternidade.
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Dom Paulo Peixoto |
Na Encíclica
“Fratelli Tutti”, Papa Francisco diz que estamos na hora da verdade, de
superação da mentalidade egoísta para cuidar de quem está ferido em sua
dignidade. Não ter medo de aproximar-se de quem está caído pelo caminho, mergulhado
em suas crises. A história do bom samaritano precisa acontecer hoje para ajudar
os marginalizados por uma economia de disputas pelo lucro.
Num mundo de
tantos salteadores, daqueles que agem firmados em práticas totalmente sem
espírito e critérios humanos, eles acabam provocando densas sombras e violência
na sociedade. São atitudes feitas por interesses mesquinhos de poder e acúmulo.
É difícil ficar indiferente mediante tais situações, porque elas degradam a
ordem humana e provocam transtorno na convivência social.
Pode-se dizer que
é lamentável e perigoso ficar indiferente diante dos problemas. Temos muita
facilidade, mesmo sendo pessoas religiosas, de passar ao lado dos que estão
marginalizados, apenas olhar, desprezar e não fazer nada. Significa ser cristão
dentro do templo e sem ação diante dos problemas que estão lá fora. É triste
hipocrisia, que ocasiona desconfiança e perplexidade.
Não faz bem viver
numa cultura que provoca desencanto e falta de esperança no esforço de mudança
cultural. É importante ter consciência de que não é impossível construir uma
nova sociedade, uma prática diferente e sem muitos feridos e marginalizados.
Mas supõe por a mão na massa, sair do comodismo, de uma religião com
espiritualidade desencarnada e transformar a fé em obras.
Existe hoje muito
espaço para a construção do bem, para a mesma prática do bom samaritano. O
problema é quando repetimos a lógica dos violentos, dos que nutrem ambições
egoístas, pensando só em si mesmos, espalhando confusão e mentira no meio em
que exercem relações na sociedade. É fundamental alimentar o que é bom e
colocar nossa ação ao serviço do bem das pessoas.
Dom Paulo Mendes
Peixoto – Arcebispo de Uberaba (MG)
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