quinta-feira, 26 de novembro de 2020

CNBB promove encontro virtual

com mais de 200 bispos de todo o Brasil

e reflexão do cardeal Tolentino Mendonça

Bispos de todo o Brasil reuniram-se virtualmente nesta quarta-feira, 25 de novembro. Este é o encontro que reuniu mais membros do episcopado durante este ano de 2020, quando não foi possível realizar a 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) presencialmente, por conta da pandemia do novo coronavírus. São mais de 200 bispos num total de 297 pessoas, compreendendo assessores das comissões episcopais e representantes de pastorais e organismos vinculados à CNBB.

A primeira parte do encontro virtual foi uma meditação conduzida pelo cardeal português José Tolentino de Mendonça, arquivista do Arquivo Apostólico do Vaticano e bibliotecário da Biblioteca Apostólica Vaticana. Sua pregação partiu “da pausa reflexiva que Jesus faz em seu discurso”, considerando o contexto da pandemia que o mundo enfrenta na atualidade, “a dureza, a dificuldade, o pesado e sofrido o caminho que o povo de Deus está fazendo nessa hora”.

Essa pausa citada por dom Tolentino é um tipo de comunicação que Jesus utiliza algumas vezes nos Evangelhos, “como que precisasse escutar melhor, ajustar o discurso à realidade”. O cardeal então toma do capítulo 13 do Evangelho de São Lucas o versículo 18: “’A que é semelhante o Reino de Deus, e com que poderei compará-lo?’”.

Chamando a aprender e a valorizar este recurso, o cardeal apontou três aprendizados. O primeiro é que nem sempre é fácil interpretar a realidade em tantas situações nas quais o real “resiste ao nosso modo de o descrever. A realidade põe em crise nosso discurso”.

O segundo elemento é que para explicar o Reino de Deus e a vida dos homens em profundidade, nós precisamos de parábolas, de comparações. “As parábolas, sobretudo num tempo difícil como esse, abrem espaço para um discurso não teórico, mas existencial e não simbólico”. Na sequência, dom Tolentino cita a recente encíclica do Papa Francisco, Fratelli Tutti, que “parte da pandemia para indicar o caminho da Igreja e do mundo”.

A terceira lição é que “a finalidade do discurso eclesial deve ser ganhar corações para o Reino de Deus, em vez de ficar em exercícios de retórica”. Para o cardeal, a retórica esconde a realidade debaixo das palavras, o que é diferente da persuasão evangélica. Esta, procura gerar no sujeito a autoconsciência da sua história, o kairós dentro do cronos. “Este momento dramático é também o momento do kairós, momento de salvação e de graça. A interrogação de Jesus mostra como é necessária uma hermenêutica profética da história”, afirmou.

O cardeal José Tolentino seguiu com as reflexões sobre a necessidade de fazer perguntas neste contexto da pandemia, incentivando que seja levada para os encontros orantes “a grande tarefa de fazer ecoar as perguntas e entender essa hora como hora de sintonizar o espaço reflexivo e orante que Jesus nos ensina”. A figura do Papa Francisco também foi destacada como aquele que tem ajudado a Igreja com uma série de parábolas, como o momento de oração realizado em março na praça de São Pedro vazia.

 “Ele quis fazer aquele momento de oração na praça de São Pedro vazia. É como se o mundo estivesse vazio, como se as ruas estivessem despejadas, todos os espaços públicos vazios, aquele vazio era o vazio que a humanidade e a Igreja estavam sentindo. O vazio tornou-se uma parábola. Uma das parábolas que o Papa quis abraçar, em vez de negar, é a parábola do vazio, da dificuldade”, refletiu, apontando na sequência o texto Evangelho sobre a tempestade acalmada.

“Um elemento chave é o fato de todos estarem juntos na mesma barca. O Papa explorou também essa parábola, de estarmos todos no mesmo barco, a remar juntos. E todos precisamos de mútuo encorajamento. Então, naquela simbólica celebração, o Papa ofereceu duas imagens, uma lê evangelicamente a outra”, disse.

Comunicados

As atividades da manhã desta quarta-feira, após a meditação do cardeal Tolentino, consistiram em comunicados e partilhas. O arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, recordou as diversas iniciativas da Igreja no Brasil durante a pandemia, comparando com o “broto de esperança” do tronco de Jessé da promessa no livro do profeta Isaías.

“Cada irmão bispo, cada diocese, com seus evangelizadores e ministros, nesse tempo de pandemia, com muitas respostas bonitas de confiança e trabalhos realizados. E nessa hora, cada um pode repassar esses meses exigentes, sobretudo o sofrimento dos pobres, dos sofredores, das famílias enlutadas. Tudo isso é um broto de esperança que colocamos diante de Deus”, afirmou.

Dom Walmor citou iniciativas como os avanços em torno do tema central da próxima Assembleia Geral da CNBB; o trabalho de gestão na sede e nos regionais da conferência, com “avanços importantes” do ponto de vista do equilíbrio administrativo e financeiro; a implementação do Pacto pela Vida e pelo Brasil; a presença da CNBB no Observatório de Direitos Humanos do Poder Judiciário; e o processo de construção do novo estatuto da CNBB.

Mensagem ao Papa e ao povo brasileiro

Os bispos também preparam uma mensagem que será enviada para o Papa Francisco, como é realizado a cada ano, por ocasião das assembleias gerais. O arcebispo de São Paulo (SP), cardeal Odilo Pedro Scherer, coordenou a construção do texto que está baseado na proximidade dos bispos do Brasil com o Papa e no agradecimento pela proximidade do Santo Padre com o Brasil. Uma mensagem ao povo brasileiro por conta da pandemia do novo coronavírus também foi preparada pelos bispos.

Ação evangelizadora da Igreja na pós pandemia

No período da tarde, a reunião dos bispos seguiu com uma reflexão da teóloga  e professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, Maria Clara Bingemer. Coube à professora apresentar pontos para uma reflexão sobre a ação evangelizadora da Igreja num cenário pós pandemia. Ela destacou cinco pontos: a) Retomar o luto com o olhar pascal; b) Parceria mais estreita com a ciência; c) Abrir mais espaço para a beleza e arte como elementos para reencantar os corações; d) Revalorizar o espaço doméstico e a experiência da Igreja nas casas;  e) Cuidado da terra e cuidado com a casa comum.

Partilhas

Na sequência da reunião, os bispos deram continuidade da primeira parte de uma série de partilhas sobre as atividades de Comissões, regionais e pastorais iniciada pela manhã. A presidência da CNBB apresentou uma atualização da campanha É Tempo de Cuidar e também um balanço sobre a gestão administrativo-financeira da CNBB no contexto da pandemia.

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Em Mensagem ao Povo de Deus, CNBB reforça

a Esperança, a Caridade,

e Missão da Igreja no Brasil no contexto da Pandemia

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu, como resultado da reunião realizada na quarta-feira, 25 de novembro, uma Mensagem ao Povo Brasileiro em tempo de pandemia. O documento foi referendado pelos mais de 200 bispos, num total de 297 pessoas, compreendendo assessores das comissões episcopais e representantes de pastorais e organismos vinculados à CNBB que participaram da reunião.

A mensagem busca refletir sobre a presença e missão da Igreja na realidade brasileira e expressar uma mensagem de esperança e proximidade no contexto do novo Coronavírus. O documento destaca ainda que a Igreja no Brasil é impelida a perseverar na caridade, dando continuidade, nas paróquias, comunidades eclesiais missionárias e instituições religiosas de todo país, das redes de solidariedade em defesa da vida que se multiplicaram-se neste ano em razão da pandemia.

“Como discípulos missionários, queremos crescer nesse tempo difícil, empenhados em remover as desigualdades e sanar a injustiça. A humanidade aguarda uma vacina que, distribuída com equidade, possa ajudar a garantir a vida e a saúde para todos”, diz um trecho do documento.

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Mensagem ao Povo de Deus em tempo de pandemia

Feliz aquele que suporta a provação, porque, uma vez provado,
receberá a coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam. (Tg 1,12)

Amado Povo de Deus, nós bispos do Brasil, reunidos num encontro virtual para refletir sobre a atual presença e missão da Igreja, queremos expressar nossa mensagem de esperança e proximidade.

Neste ano irrompeu inesperadamente a pandemia da COVID19, alterando nossas rotinas, revelando outras enfermidades de nosso tempo e causando grande impacto num já fragilizado sistema de saúde, na seguridade social, nos sistemas produtivos, na educação, na vida familiar, social e religiosa em geral. O Papa Francisco alerta que “a tribulação, a incerteza, o medo e a consciência dos próprios limites, que a pandemia despertou, fazem ressoar o apelo a repensar os nossos estilos de vida, as nossas relações, a organização das nossas sociedades e, sobretudo, o sentido da nossa existência”. (Fratelli Tutti, 33)

Estamos num tempo de muitos questionamentos e cabe-nos escutar o que o Espírito tem a dizer para a Igreja (Ap 2,7) nesse contexto. A provação tem favorecido importantes aprendizados e oportunidades para a vivência e o anúncio do Evangelho. Reconhecemos, com gratidão, o empenho de tantas comunidades cristãs que foram criativas para manter a ação evangelizadora, especialmente pelas mídias sociais, promovendo a transmissão de celebrações litúrgicas, catequeses e aconselhamento aos fiéis. A Igreja doméstica foi fortalecida, em sintonia com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, que promovem a comunidade cristã como Casa da Palavra, do Pão, da Caridade e da Missão. Percebe-se o protagonismo dos leigos e, especialmente, das mulheres na promoção da Igreja nas casas.

Igualmente somos impelidos pelo Evangelho a perseverar na caridade. Nas paróquias, comunidades eclesiais missionárias e instituições religiosas de todo país, multiplicaram-se as redes de solidariedade em defesa da vida. Por isso, foi coloca em prática a ação solidária É Tempo de Cuidar, voltada a atender demandas de primeira necessidade das pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade social no contexto da pandemia. Unidos a outras entidades da sociedade civil, estamos buscando concretizar o Pacto pela Vida e pelo Brasil, conclamando toda a sociedade para que, nesse tempo de pandemia, ninguém seja deixado para trás.

Como nos tem provocado o Papa Francisco, precisamos escutar o clamor das famílias, trabalhar por uma economia “mais atenta aos princípios éticos” (Fratelli Tutti, 170), oferecer uma política melhor, sem desvios na garantia do bem comum, propor uma educação humanista e solidária, comprometidos na permanente construção da democracia. É urgente combater o racismo que se dissimula, mas não cessa de reaparecer. (Fratelli Tutti, 20) Queremos assegurar a vida desde a concepção até a morte natural, preservar o meio ambiente e trabalhar em defesa das populações vulneráveis, particularmente indígenas e quilombolas. Preocupa-nos o crescimento das várias formas de violência, entre elas, o feminicídio. “Cada ato de violência cometido contra um ser humano é uma ferida na carne da humanidade; cada morte violenta “diminui-nos” como pessoas”. (Fratelli Tutti, 227)

Como discípulos missionários, queremos crescer nesse tempo difícil, empenhados em remover as desigualdades e sanar a injustiça. A humanidade aguarda uma vacina que, distribuída com equidade, possa ajudar a garantir a vida e a saúde para todos.

Pedimos que Deus acolha junto a Si os que morreram neste tempo e dê consolação e paz às famílias enlutadas. Abençoamos especialmente os incansáveis profissionais da saúde, os professores, os cuidadores e todos que atuam em serviços essenciais. Nossa prece também pelos presbíteros, diáconos permanentes, consagrados e consagradas, leigos e leigas de nossas igrejas, para que se sintam encorajados.

O Advento é um tempo de renovar nossa esperança. Confiantes, afirmamos que a fé em Cristo nunca se limitou a olhar só para trás nem só para o alto, mas olhou sempre também para a frente (Spe Salvi, 41). Não desanimemos, não estamos sozinhos: o Senhor está conosco!

Acompanhe-nos a Santa Mãe de Deus, Senhora Aparecida, consolo dos aflitos, saúde dos enfermos e esperança nossa! Invocamos sobre todos a bênção da Santíssima Trindade, que sua misericórdia continue fortalecendo e animando o povo brasileiro.

Brasília-DF, 25 de novembro de 2020

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte-MG
Presidente da CNBB

Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima-RR
2º Vice-Presidente

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre-RS
1º Vice-Presidente

Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro- RJ
Secretário-Geral da CNBB
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Confira em formato pdf, a íntegra da mensagem

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