3º Domingo do Tempo Comum
Sabendo da morte
de João Batista, Jesus foge. Sim, Ele tem consciência de que sua proximidade
com o Batista é um risco contra a sua vida. A vida pública do Messias é
iniciada por uma saída estratégica. E lá vai Jesus, um subversivo refugiado,
anunciar uma sociedade alternativa que se opõe ao poder de Herodes.
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"Convertei-vos porque o Reino dos céus está próximo" |
Assim, cumprindo
as profecias do Antigo Testamento, Deus vem para a Galileia dos pagãos. Jesus
não começa por Jerusalém; também não é saduceu ou escriba, não pertence à casta
sacerdotal. Jesus é um homem do povo e vem de um território desprezado, de um local
sem relevância. Aqui vemos a gratuidade de Deus, evidenciada na predileção de
Jesus pelos pequenos, pobres e pecadores, pela sua quebra de paradigmas, por
suas atitudes desconcertantes. Ainda hoje, Deus vem onde menos esperamos.
Esperamos encontrar Deus somente nas Igrejas, nas catedrais, e corremos o risco
de não perceber que Ele vem em cada ser humano, sobretudo naquele que é mais
insignificante para o mundo.
Qual o anúncio
do Messias? “Convertei-vos, porque o Reino dos céus está próximo”. O Reino dos
céus (reino de Deus para os outros evangelistas sinóticos) é o núcleo central
da pregação de Jesus. De fato, Ele veio para nos dizer e mostrar que o Reino se
aproxima, que um dia virá de modo definitivo e que está ao nosso alcance. Hoje,
devemos reconhecer que o Reino está bem perto de cada um de nós, quando somos
testemunhas dos gestos de amor e humildade; quando a prepotência herodiana é
vencida pelos gestos de humildade e fraqueza, então há Reino.
“Convertei-vos!”
Converter-se é uma tarefa para toda vida, não uma ação pontual. Um bom trabalho
a ser feito, já nos diz Papa Francisco. Muitas estratégias não se demonstram
muito eficazes para que esta tarefa seja executada. É comum enumerar os pecados
de uma lista, culpabilizar-se em demasia, reprimir desejos, almejar um passo
imediato para a perfeição. Rapidamente, quem segue este caminho vai cair na
frustração, voltando-se aos mesmos erros. Outro caminho seria elencar
propósitos. Estes também acabam sendo penosos e não são facilmente alcançados.
O cristianismo não é um ascetismo, portanto, a conversão não depende em
primeiro lugar de nossas forças, mas da ação gratuita de Deus.
A conversão não
virá à custa de promessas a Deus, por atos piedosos, de assiduidade às
celebrações, de rezas mais frequentes, de novenários. Isso pode ajudar, mas
será em vão se não acolhermos que Deus nos ama. Compreender que Deus não se
afasta de nós nunca, mesmo em nossas dificuldades, mesmo diante de nossos
limites. Não precisamos ser “perfeitinhos” para que o Senhor esteja ao nosso
lado. É preciso encarar a nossa realidade com franqueza e nos reconciliarmos
com nossa raiva, com nossa afetividade, com nosso egoísmo... Se não nos
aceitarmos como somos, colocando a nossa verdade diante de Deus, seremos
escravos da ditadura da perfeição.
Converter-se
implica em assumir o Reino como centro, e no centro do Reino está o amor. Para
que haja conversão verdadeira, é preciso que os afetos pelo Senhor estejam
alimentados. Por isso, Jesus, fitou com um olhar firme e terno cada um dos seus
apóstolos. Do carinho do Mestre nasceu a resposta de seus discípulos. Hoje
igualmente, nossa resposta ao Senhor deve ser calcada no amor, uma entrega do
coração. O seguimento é afetivo, não é racional ou depende do puro esforço.
“O povo que
andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da
morte, uma luz resplandeceu” (Is 8, 23b). O texto de Isaías enunciado por Jesus
é o cumprimento de uma promessa, ou seja, a luz para o povo dominado pelos
assírios. A grande luz é o Cristo: luz para todos os povos. Todos os dias, de
algum modo, Deus nos visita e nos traz uma grande luz ou nos dá oportunidade
para que tiremos alguém das sombras das trevas. Sua luz dá cor, brilho e
sentido a nossa existência. Brilhe a luz do Senhor sobre todos nós. Afetados
por seu brilho de amor, esvaziados de esquemas preestabelecidos, seguiremos na
alegria de sermos discípulos de Jesus.
Padre Roberto
Nentwig
Fonte: catequeseebiblia.blogspot.com.br
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