2º. Domingo da Páscoa
A experiência do
Ressuscitado tem uma forte relação com o primeiro dia da semana – o domingo. No
AT, o tempo semanal traz a opressão por parte daqueles que o controlam, já
o sétimo dia traz a experiência de libertação para aqueles que
experimentam a presença de Deus que vence os dias de trabalho escravo. Nele há
a celebração de antecipação, que rompe com o curso do trabalho semanal,
indicando que o ser humano não é criado para se preocupar com as coisas do
mundo, mas espera o dia de comunhão com todos em Deus, tempo de paz e de
júbilo. Se o sábado era o último dia (que abria o tempo da ação divina na
história), agora o domingo é o primeiro dia, ou seja, o dia do início – o
início da nova criação. Neste dia acontece a nova criação por obra do sopro do
Espírito. Se o hálito de Deus plasmou a criação, agora o hálito do Cristo nos
faz novas criaturas animadas pela graça do seu Espírito (=sopro). Quando a
comunidade repousa e celebra no dia do Senhor, resgata o tempo original, o
tempo da nova criação e da ressurreição - a eternidade, pois Cristo o alfa e o
ômega. Celebra-se a vida nova no dia da ressurreição, lembrando que todos são
criados para participar da vida em Deus e que as ocupações deste mundo são
passageiras. O domingo prefigura o tempo eterno, o dia da ressurreição. O mundo
moderno paganizou o domingo, considerado como dia de descanso para recobrar as
forças para o trabalho semanal. O domingo não pode ser instrumentalizado pelo
trabalho, pois é o dia que prefigura o descanso eterno que Deus preparou no seu
amor.
Neste dia de
graça, os discípulos estão de portas fechadas por medo dos judeus. Esta
barreira não detém o Cristo, pois o Ressuscitado transpõe todas as barreiras.
Deseja transpor nossos medos, dando-nos nova esperança. Por isso Ele nos
concede o dom da paz: “A paz esteja convosco!” Lembrando que a paz no
mundo hebraico é o shalom, ou
seja, a alegria da plenitude dos tempos messiânicos, a plenitude de vida, de
graça e salvação. É muito superior ao que entendemos por paz na
língua portuguesa. Esta é a paz que o Senhor nos traz neste Tempo Pascal.
Outra graça, que
Cristo oferece neste domingo é o perdão dos pecados. A Páscoa tem uma relação
íntima com a reconciliação, pois viver a misericórdia e morrer para o pecado e
viver vida nova em Cristo. Por isso, é o Ressuscitado que dá a comunidade
o ministério da reconciliação. Os apóstolos podem perdoar os pecados ou retê-los,
ou seja, podem dar um tempo para que haja uma verdadeira conversão.
Não significa que os apóstolos possam instrumentalizar o perdão. O Cristo não
daria uma ordem para que não houvesse nova chance para aquele que deseja de
coração sincero a reconciliação com Deus. A Igreja é a mediadora da
misericórdia pelo sacramento da reconciliação.
Por fim, temos a
figura de Tomé, o símbolo da comunidade que não viu o Jesus histórico, nem o
Cristo ressuscitado. Talvez houvesse disputas entre aqueles que foram
testemunhas do Ressuscitado e aqueles que passaram a fazer parte da comunidade
mais tardiamente. Há uma grande preocupação da pregação apostólica em mostrar
que o que estava sendo anunciado não era um fato do passado, mas que o Cristo
continua vivo e realizando sinais (primeira leitura) e que podemos fazer a
mesma experiência dos apóstolos. Por isso a única bem aventurança do Evangelho
de João: “Felizes os que acreditam sem terem visto!” Felizes os que são capazes
de ver a presença do Ressuscitado na palavra que é proclamada, no Pão e Vinho consagrados,
na comunidade reunida... Só se pode fazer a experiência do Ressuscitado estando
na comunidade, longe dela não é possível.
Cada um de nós
pode fazer a experiência do primeiro dia da semana, receber o Espírito, receber
o perdão dos pecados, o shalom do
Cristo, reunidos em comunidade para celebrar e alimentar a vida. Não sejamos
incrédulos diante dos sinais que o Senhor continua nos dando.
Padre Roberto
Nentwig
Fonte: http://catequeseebiblia.blogspot.com.br Ilustração: http://www.oracaocentrante.org
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