Dia do Bom Pastor
1ª Leitura: At 13,14.43-52 Salmo: 99 2ª Leitura: Ap 7,9.14b-17
Evangelho: Jo 10, 27-30
Reflexão
Conforme a Tradição, hoje é o dia Mundial de Oração pelas Vocações, ou “Domingo do Bom Pastor”. O texto de hoje nos demonstra a compreensão que a Comunidade do Discípulo Amado tinha da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Conforme a Tradição, hoje é o dia Mundial de Oração pelas Vocações, ou “Domingo do Bom Pastor”. O texto de hoje nos demonstra a compreensão que a Comunidade do Discípulo Amado tinha da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
A imagem
escolhida é a do “pastor” - uma imagem muito usada nos escritos do Antigo
Testamento (Sl 40, 11; Ez 34, 15; 37, 24; Eclo 18, 13; Zc 11, 17; etc.). Às
vezes é aplicada ao próprio Deus (Sl 23, 1; Is 40, 11; Jr 31, 9), às vezes ao
futuro rei messiânico (Sl 78, 70-72; Ez 37, 24), às vezes aos líderes
político-religiosos de Israel (Jr 2, 8; 10, 21; 23, 1-8; Ez 34). Também os
Evangelistas Sinóticos a usaram bastante (Mc 6, 34; 14, 27; Mt 9, 36; 18,
12-13; 25, 32; 26, 31; Lc 15, 3-7). Jesus é realmente pastor, pois Ele, o Filho
do Homem, participa da condição humana, inclusive da morte, para nos conduzir à
vida eterna. A palavra grega aqui usada para “bom”, “kalos”, significa “ideal”
ou “nobre” e não somente eficiência na sua função. Assim é Jesus, pois livremente
despoja-se da sua própria vida para salvar a vida do seu rebanho.
O texto
contrasta a ação de Jesus com a atuação dos pastores mercenários, que não
defendem o rebanho, mas somente cuidam dos seus próprios interesses. Aqui o
texto está enraizado na tradição profética de Ezequiel (Ez 34) que condenava os
“maus pastores” do povo de Deus - os líderes religiosos e políticos do seu
tempo (antes do Exílio e nos anos entre a primeira deportação para Babilônia e
a destruição de Jerusalém em 587 aC) , que somente exploravam o povo para o seu
próprio proveito, abandonando-o na horas de maior necessidade. Quanta coisa do
tempo de Ezequiel e de Jesus pode ser aplicada quase que diretamente a muitos
líderes políticos (e às vezes religiosos) dos nossos tempos!
O trecho destaca
o verbo “conhecer” - Jesus conhece as suas ovelhas como conhece o Pai e é
conhecido pelo Pai.“Conhecer”, na linguagem bíblica, não significa um saber
intelectual, mas implica um relacionamento íntimo de amor e solidariedade. O
conhecimento que Jesus tem dos seus discípulos nasce e se plenifica no amor que
existe entre o Pai e o Filho. Não é um amor só de emoções ou sentimentos, mas
um amor exigente, de assumir o outro até o ponto de doar a vida. Assim, a morte
na Cruz - assumida livremente por Jesus - é a expressão suprema desse amor.
Mas, o amor
não pode se restringir aos irmãos e irmãs da comunidade. A utopia proposta
por Jesus é da união entre todos “os seus” - todos os povos do mundo. Aqui,
talvez haja uma referência às outras comunidades não-joaninas do tempo do
escrito, mas também podemos aplicar o texto à missão universal da Igreja - a de
colaborar na realização do Reino de Deus, pois todos os povos do mundo, sem
distinção de raça, cor, cultura ou religião, são misteriosamente ligados a Jesus,
morto e ressuscitado. Não devemos imaginar esse sonho como um crescimento da
Igreja visível até que toda a humanidade faça parte dela; mas, muito mais como
a realização do pedido do Pai-nosso - “seja feita a vossa vontade, assim na
terra como no Céu”, onde se procura o bem, a justiça e a fraternidade, mesmo
fora da Igreja visível, onde se realiza o Reino, ou Reinado, de Deus.
Como seguidores
do Bom Pastor também somos convidados à vivência desse mesmo amor que exige o
despojo da própria vida. Isso não implica necessariamente a morte física,
mas, a morte ao egoísmo, e a todos os “ismos” que nos dividem e separam, seja
por causa do gênero, raça, cor, classe ou cultura. Onde há luta em defesa
da vida, lá existe a missão do Bom Pastor. Ele que veio “para que todos
tenham a vida e a tenham plenamente!” (Jo 10, 10)
Padre Tomaz Hughes, SVD
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