harmonia e diálogo para superar crises europeias
Estrasburgo (RV) –
A visita ao Conselho da Europa foi a segunda e última etapa da viagem de
Francisco a Estrasburgo, na França.
Trata-se da mais
antiga organização intergovernamental europeia, que reúne o maior número de
países europeus: 47 Estados-membros, com uma população de 800 milhões de
pessoas. O Conselho foi instituído em 1949, com a finalidade de promover a
democracia, os direitos humanos, o estado de direito e a busca de soluções
comuns aos desafios do continente. É um órgão independente da União Europeia.
A paz foi o
primeiro tema do discurso do Santo Padre – paz que estava na intenção dos
fundadores do Conselho da Europa, 65 anos atrás. Para evitar o que aconteceu
nas duas guerras mundiais do século passado, indicou o Papa, o caminho
privilegiado é reconhecer no outro não um inimigo a combater, mas um irmão a
acolher.
E urgente que se resgate a dignidade de todos e se promova a paz |
Trata-se de um
processo contínuo, que não se pode jamais dar como plenamente alcançado. Para
construí-la, o Papa citou o Beato Paulo VI, quando falava de um caminho
constante de humanização, pelo que «não basta conter a guerra, suspender as
lutas, (...) não basta uma paz imposta, utilitária e provisória. É necessário
tender para uma paz amada, livre e fraterna.
Infelizmente,
notou Francisco, a paz é ferida ainda muitas vezes, inclusive na Europa, onde
não cessam as tensões. “Quanto sofrimento e quantos mortos há ainda neste
Continente, que volta facilmente a cair nas tentações de outrora!”, lamentou.
A paz é posta à
prova por inúmeras formas de conflito, como o terrorismo religioso e
internacional, alimentado pelo tráfico de armas. A paz é violada também pelo
tráfico de seres humanos, “a nova escravatura do nosso tempo que transforma as
pessoas em mercadoria de troca, privando as vítimas de toda a dignidade”.
Francisco
advertiu os europeus para as insídias que ameaçam a unidade, como a
globalização da indiferença, quando o conceito de direito humano é substituído
pela ideia de direito individualista. “O individualismo torna-nos humanamente
pobres e culturalmente estéreis”, alertou. Do individualismo indiferente nasce
o culto da opulência, a que corresponde a cultura do descarte onde estamos
imersos.
Para o Papa, temos
hoje diante dos olhos a imagem duma Europa ferida pelas inúmeras provações do
passado, mas também pelas crises do presente: o acolhimento aos imigrantes, o
desemprego, sobretudo juvenil, e os inúmeros pobres que vivem no continente.
Crises que fazem com que seus cidadãos se sintam cansados e pessimistas,
assediados pelas novidades provenientes de fora.
“A Europa deve
refletir se o seu imenso patrimônio humano, artístico, técnico, social,
político, econômico e religioso é um simples legado de museu do passado, ou se
ainda é capaz de inspirar a cultura e descerrar os seus tesouros à humanidade
inteira. Na resposta a esta questão, tem um papel de primária importância o
Conselho da Europa, com as suas instituições”, declarou.
Para superar
este momento, Francisco propõe o desafio da multipolaridade e o da
transversalidade. Isto é, o desafio de uma harmonia construtiva e o do diálogo
entre as gerações, as culturas e as religiões.
“Espero
vivamente que se instaure uma nova cooperação social e econômica, livre de
condicionalismos ideológicos, que saiba encarar o mundo globalizado, mantendo
vivo o sentimento de solidariedade e caridade mútua que tanto caracterizou o
rosto da Europa.”
O Papa garantiu
a colaboração da Santa Sé com o Conselho da Europa, para realizar juntos uma
reflexão que estabeleça uma espécie de “nova ágora”, na qual cada instância
civil e religiosa possa livremente confrontar-se com as outras, animada
exclusivamente pelo desejo de verdade e de construir o bem comum, no respeito
do meio ambiente.
Após seu
discurso, o Pontífice saudou o Secretário-Geral do Conselho, o norueguês
Thorbjørn Jagland, e algumas personalidades e se dirigiu ao aeroporto
internacional de Estrasburgo, rumo ao Vaticano. (BF)
Fonte: radiovaticana.va
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