domingo, 31 de março de 2019

Papa no Marrocos:

Visita a crianças doentes atendidas em entidade católica
No início da manhã destes domingo (30), Francisco fez uma visita de caráter privado ao Centro Rural de Serviços de Temara, administrado pelas irmãs vicentinas, que oferece assistência às crianças, mas também a adultos.
Cidade do Vaticano O segundo dia de viagem apostólica ao Marrocos será marcado pelo encontro com a comunidade católica, a começar pela visita em caráter privado ao Centro Rural de Serviços Sociais de Temara, a cerca de 20 quilômetros da Nunciatura Apostólica. No início da manhã destes domingo (30), o Papa Francisco, ao chegar no espaço dedicado às crianças doentes, saudou as mães dos pequenos e foi recepcionado com flores pelas irmãs vicentinas.
Na ocasião, Francisco também recebeu um homenagem pelas crianças atendidas no local através da interpretação de um canto, que estava sendo ensaiado há dias.
Centro de Serviços Sociais de Temara
Alegria verdadeira
O Centro é administrado por quatro Filhas da Caridade, Congregação fundada em 1633 por Santa Luísa de Marillac e São Vicente de Paolo, além da colaboração de voluntários que ajudam a manter as atividades do espaço. Dentre os serviços oferecidos à comunidade local, estão os cursos de alfabetização para adultos, as aulas de reforço escolar para os mais jovens e também a escola materna para as crianças entre 2 e 7 anos, como também o apoio psicológico, cuidados de saúde e refeitório.
Depois, está marcado o encontro com o clero, religiosos, religiosas e o Conselho Ecumênico de Igrejas e a oração do Angelus na Catedral em Rabat. O último compromisso do Papa no Marrocos acontece no Complexo Esportivo Príncipe Moulay Abdellah com a celebração da Santa Missa.

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Francisco: 
Desmascarar com o diálogo
quem usa diferenças para semear medo e ódio
A força da caridade da pequena comunidade cristã presente no Marrocos e a importância do diálogo de salvação foram alguns dos temas recordados pelo Papa Francisco no encontro com o clero, os religiosos e as religiosas e o Conselho Ecumênico de Igrejas. Foi o seu segundo compromisso neste domingo (31) realizado na Catedral de São Pedro, sede da Arquidiocese de Rabat.
Cidade do VaticanoNa manhã deste domingo (31), segundo dia da visita do Papa Francisco ao Marrocos, o Pontífice foi à Catedral de Rabat, sede da Arquidiocese local para encontrar o clero, as religiosas e os religiosos e o Conselho Ecumênico de Igrejas. No local, depois de um breve testemunho de um sacerdote e uma religiosa seguido pela saudação de dois religiosos idosos, o Santo Padre iniciou o seu discurso aos presentes recordando que os cristãos “são em reduzido número, neste país”, e que na sua opinião isso não é um problema, embora reconheça que às vezes, para alguns, se possa tornar difícil viver.
Fermento da mãe Igreja
Pensando nessa situação o Santo Padre disse:
“A que é semelhante um cristão nestas terras? Com que posso compará-lo? É semelhante a um pouco de fermento que a mãe Igreja quer misturar com uma grande quantidade de farinha, até que toda a massa se levede. De fato, Jesus não nos escolheu nem enviou para que nos tornássemos os mais numerosos! Chamou-nos para uma missão”
“A nossa missão” continuou o Papa, “não é determinada pela quantidade de espaços que se ocupa, mas pela capacidade de gerar e suscitar mudança, encanto e compaixão, pelo modo como nós vivemos no meio das pessoas”.
Em seguida advertiu:
Acolhimento e ternura
“Os caminhos da missão não passam através do proselitismo, que leva sempre a um beco sem saída, mas pelo nosso modo de estar com Jesus e com os outros”
"Por conseguinte o problema não está no fato de ser pouco numerosos, mas de ser insignificantes, tornar-se sal que já não tem o sabor do Evangelho, ou uma luz que já nada ilumina”. O Papa recordou que “não podemos pensar que só seremos significativos se constituirmos a massa e ocuparmos todos os espaços”, porque a vida depende “da capacidade que temos de ‘levedar’ onde e com quem nos encontrarmos. Portanto, “ser cristão não é aderir a uma doutrina, a um templo, ou a um grupo étnico; ser cristão é um encontro. Somos cristãos, porque Alguém nos amou e veio ao nosso encontro, e não por resultados do proselitismo”.
Diálogo de salvação
“Cientes do contexto que sois chamados a viver”, continuou o Papa “a Igreja deve entrar em diálogo com o mundo em que vive. A Igreja faz-se palavra, faz-se mensagem, faz-se diálogo”, e entrar em diálogo “por fidelidade ao seu Senhor e Mestre, que desde o princípio, movido pelo amor, quis entrar em diálogo como amigo e convidar-vos a participar da sua amizade”, “um diálogo de salvação e amizade do qual somos os primeiros beneficiários”.
Religiosas homenageiam o Papa
Recordando aos presentes a realidade em que vivem o Papa continuou dizendo que “nestas terras, o cristãos aprendem a ser sacramento vivo do diálogo que Deus deseja estabelecer com cada homem e mulher”, a ser feito sempre com amor “diligente e desinteressado, sem cálculos nem limites, no respeito pela liberdade das pessoas”. Deste modo, quando a Igreja “dialoga com o mundo e se faz diálogo, participa no advento da fraternidade, que tem a sua fonte profunda, não em nós, mas na Paternidade de Deus”.
“Enquanto pessoas consagradas", afirma o Papa, “somos convidados a viver este diálogo de salvação, antes de mais nada, como intercessão pelo povo que nos foi confiado”
“O consagrado, o sacerdote – continuou – traz ao altar, na sua oração, a vida dos seus conterrâneos mantendo viva, como se fosse uma pequena brecha naquela terra, a força vivificante do Espírito Santo”.
Francisco recordou que se trata de um diálogo que se torna oração e que podemos concretizar todos os dias em nome da fraternidade humana. “Uma oração que não discrimina, não separa nem marginaliza, mas faz-se eco da vida do próximo; oração de intercessão, que é capaz de dizer ao Pai: ‘venha a nós o vosso reino’. Não com a violência, não com o ódio, nem com a supremacia étnica, religiosa e econômica, mas com a força da compaixão espargida para todos os homens na Cruz”.
Semear futuro e esperança
Agradecendo a Deus pelo trabalho de todos os presentes pelo diálogo, colaboração e amizade usados como instrumentos para semear futuro e esperança, o Papa disse que com isso é possível desmascarar e “pôr a descoberto todas as tentativas de usar as diferenças e a ignorância para semear medo, ódio e conflito. Porque sabemos que o medo e o ódio, alimentados e manipulados, desestabilizam e deixam espiritualmente indefesas as nossas comunidades”.
Em seguida Francisco pediu a todos para que continuem a estar próximos “daqueles que muitas vezes são deixados para trás, dos humildes e dos pobres, dos prisioneiros e dos migrantes. Que a vossa caridade se faça sempre ativa, tornando-se assim uma via de comunhão entre os cristãos de todas as confissões presentes no Marrocos: o ecumenismo da caridade”.
Angelus
No final do encontro o Santo Padre rezou a oração do Angelus com os presentes, pedindo a proteção da Virgem Maria.
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Papa a católicos no Marrocos:
Obrigado pelo testemunho da cultura da misericórdia
O Pontífice encontrou a pequena comunidade católica no Marrocos para uma missa em que, através da parábola do Filho pródigo, encorajou os fiéis a continuarem o testemunho cristão no país, num esforço de fazer crescer a cultura da misericórdia, “uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença nem desvie o olhar ao ver o seu sofrimento. Continuem a ser sinal do abraço e do coração do Pai”, incentivou o Papa.
Cidade do Vaticano - O ponto alto da visita do Papa Francisco ao Marrocos, em viagem apostólica dedica também ao diálogo inter-religioso, foi a missa celebrada na tarde deste domingo (31), no Centro Esportivo Príncipe Moulay Abdellah, em Rabat.
Na homilia para a comunidade católica, cerca de 10 mil fiéis reunidos no local, o Papa comentou a parábola do Filho pródigo, “um filho ansiosamente esperando. Um pai comovido ao vê-lo regressar”, disse o Pontífice. Diferente do outro filho que não suportou a alegria do pai e não reconheceu o regresso do irmão, preferindo “ser órfão à fraternidade”. De dentro daquela casa, refletiu Francisco, se manifesta “o mistério da nossa humanidade”.
“Deste modo, mais uma vez vem à luz a tensão que se vive no meio da nossa gente e nas nossas comunidades, e até dentro de nós mesmos. Uma tensão que, a partir de Caim e Abel, mora em nós e que somos convidados a encarar: quem tem direito a permanecer entre nós, ocupar um lugar à nossa mesa e nas nossas assembleias, nas nossas solicitudes e serviços, nas nossas praças e cidades? Parece continuar a ressoar aquela pergunta fratricida: Porventura sou eu o guardião do meu irmão? (cf. Gn 4, 9).”
A luta pela fraternidade para não envenenar a esperança
De dentro daquela casa do pai misericordioso, a luta pela fraternidade impedida por “divisões e desencontros, a agressividade e os conflitos”. Mas, também, o brilho que nasce dos desejos do Pai: que ninguém sofra com “orfandade, isolamento ou amargura”.
“Sem dúvida, há tantas circunstâncias que podem alimentar a divisão e o conflito; são inegáveis as situações que podem levar a  nos afrontar e a nos dividir. Não podemos negá-lo. Estamos sempre ameaçados pela tentação de crer no ódio e na vingança como formas legítimas de obter justiça de maneira rápida e eficaz. Mas a experiência nos fala que a única coisa que conseguem o ódio, a divisão e a vingança é matar a alma da nossa gente, envenenar a esperança dos nossos filhos, destruir e fazer desaparecer tudo o que amamos.”
A redescoberta de sermos irmãos
O convite, então, vindo do próprio Jesus, disse o Papa, é “contemplar o coração do Pai” para, a cada dia, “nos redescobrirmos como irmãos”. Em condição de filhos amados, acrescentou Francisco, não medimos e nem classificamos as pessoas com base na condição moral, social, étnica e religiosa.
“Só a partir deste horizonte amplo, capaz de nos ajudar a superar as nossas míopes lógicas de divisão, é que seremos capazes de alcançar um olhar que não pretenda obscurecer ou desmentir as nossas diferenças, buscando talvez uma unidade forçada ou uma marginalização silenciosa. Só se formos capazes diariamente de levantar os olhos para o céu e dizer Pai Nosso, é que poderemos entrar numa dinâmica que nos possibilite olhar e ousar viver, não como inimigos, mas como irmãos.”
O incentivo do Papa para a cultura da misericórdia
“A parábola do Evangelho deixa o final em aberto”, disse o Papa, pois não sabemos se o filho mais velho aceitou participar da festa da misericórdia do irmão. Uma lição que pode ser observada também pela gente, disse o Pontífice, já que cada um pode escrever o final “com a sua vida, o seu olhar e atitude” em relação aos outros. Como faz a comunidade católica no Marrocos que dá o seu testemunho, através do Evangelho da misericórdia.
“Obrigado pelos esforços feitos para tornarem as comunidades oásis de misericórdia. Animo vocês e vos encorajo a continuar a fazer crescer a cultura da misericórdia, uma cultura na qual ninguém olhe para o outro com indiferença nem desvie o olhar ao ver o seu sofrimento (cf. Carta ap. Misericordia et misera, 20)." 
“Continuem ao lado dos humildes e dos pobres, daqueles que são rejeitados, abandonados e ignorados; continuem a ser sinal do abraço e do coração do Pai.”
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No voo de volta:
"Quem constrói muros permanece prisioneiro dele. Os construtores de pontes vão avante"
Falando com jornalistas no voo de retorno do Marrocos, o Papa Francisco fala do diálogo com os muçulmanos. A declaração sobre Jerusalém foi um passo avante dado por irmãos. Em relação aos migrantes, apelo à Europa. O Papa cita Tsipras: os direitos humanos vêm antes dos acordos. Sobre a liberdade de consciência: hoje, em alguns países cristãos, arriscamo-nos que os médicos que se opõem à eutanásia sejam privados dessa liberdade.
Do voo Rabat-Roma - No Boeing 737 do Royal Air Maroc que o trouxe de volta a Roma, o Papa Francisco encontrou-se, como de costume, com os jornalistas e conversou com eles durante mais de meia hora sobre o diálogo com os muçulmanos, a declaração sobre Jerusalém, os migrantes e a Europa, o caso Barbarin, a liberdade de consciência em perigo nos países com tradição cristã.
Siham Toufiki, agencia Map: Houve momentos muito fortes, esta visita foi um acontecimento histórico excepcional para o povo marroquino. Quais são as consequências desta visita para o futuro, para a paz no mundo, para a convivência no diálogo entre culturas?
Papa Francisco: "Direi que agora há flores, os frutos virão mais tarde. Mas as flores são promissoras. Estou feliz, porque nestas duas viagens pude falar sobre o que me toca tanto no coração, tanto: a paz, a unidade, a fraternidade. Com os nossos irmãos muçulmanos e muçulmanas, selamos esta fraternidade no documento de Abu Dhabi e aqui no Marrocos todos vimos uma liberdade, uma fraternidade, uma acolhida de todos os irmãos com um respeito muito grande. Esta é uma bela flor de convivência que promete dar frutos. Não devemos desistir! É verdade que ainda haverá dificuldades, muitas dificuldades porque, infelizmente, existem grupos intransigentes. Mas gostaria de dizer isto claramente: em cada religião há sempre um grupo integralista que não quer ir em frente e vive de recordações amargas, das lutas do passado, procurando mais a guerra e também semeando o medo. Vimos que é mais bonito semear a esperança, andar de mãos dadas sempre em frente. Vimos, também no diálogo com vocês aqui no Marrocos, que são necessárias pontes e sentimos dor quando vemos pessoas que preferem construir muros. Por que sentimos dor? Porque aqueles que constroem os muros acabarão presos pelos muros que construíram. Mas aqueles que constroem pontes vão muito avante. Para mim, construir pontes é algo que vai quase além do humano, exige muito esforço. Sempre me tocou muito uma frase do romance de Ivo Andrich, "A Ponte sobre a Drina": ele diz que a ponte é feita por Deus com as asas dos anjos para que os homens se comuniquem... para que os homens possam se comunicar. A ponte é para comunicação humana. E isto é bonito e eu vi isso aqui no Marrocos. Em vez disso, os muros são contra a comunicação, são a favor do isolamento e aqueles que os constroem tornar-se-ão prisioneiros. Não se vêem os frutos, mas vêem-se muitas flores que darão frutos, por isso vamos continuar assim".
Nadia Hammouchi, TV 2M: O senhor se encontrou com o rei de Marrocos e com o seu desejo de diálogo. O que é preciso, na prática, para reforçar o diálogo?
Papa Francisco: "Sempre que há um diálogo fraterno, há uma relação em vários níveis. Permitam-me uma imagem: o diálogo não pode ser de laboratório, deve ser humano, e se é humano é com a mente, o coração e as mãos, e assim são assinados acordos. Por exemplo, o apelo comum sobre Jerusalém foi um passo avante dado não por uma autoridade do Marrocos e por uma autoridade do Vaticano, mas por irmãos crentes que sofrem ao verem que esta cidade da esperança ainda não é tão universal como todos nós queremos que seja: judeus, muçulmanos e cristãos. Todos nós queremos isto. E por isso assinamos este desejo: é um desejo, um chamado à fraternidade religiosa que é simbolizada nesta cidade que é toda nossa. Todos somos cidadãos de Jerusalém, todos os crentes”.
Nicolas Seneze, La Croix: Ontem, o rei de Marrocos disse que protegerá os judeus marroquinos e os cristãos de outros países que vivem no Marrocos. Faço a seguinte pergunta sobre os muçulmanos que se convertem ao cristianismo: o senhor está preocupado com estes homens e mulheres que correm o risco de serem presos ou são condenados à morte noutros países muçulmanos? Outra pergunta sobre o Cardeal Barbarin: Esta semana, os conselhos da diocese de Lyon votaram quase unanimemente a favor de uma solução duradoura para a sua saída. É possível para o senhor, que é muito ligado à sinodalidade da Igreja, escutar este apelo de uma diocese em situação tão difícil?
Papa Francisco: "Posso dizer que no Marrocos há liberdade de culto, há liberdade religiosa, há liberdade de pertença religiosa, a liberdade sempre se desenvolve cresce, pensemos em nós, cristãos, 300 anos atrás se havia essa liberdade que temos hoje. A fé cresce na consciência da capacidade de compreender si mesmo. Um monge francês, Vincenzo De Lerino, do século oitavo-nono, cunhou uma bela expressão para explicar como se pode crescer na fé, explicar melhor as coisas, crescer na moral, mas sempre permanecendo fiel às raízes. Ele disse três palavras, mas que marcam o caminho: ele diz que crescer na explicação e na consciência da fé e da moral é preciso consolidá-la ao longo dos anos, expandidos no tempo, mas é a mesma fé que é sublimada ao longo dos anos. Assim se entende por exemplo que hoje retiramos do Catecismo da Igreja Católica a pena de morte - há 300 anos queimavam os hereges vivos - porque a Igreja acentuou na consciência moral o respeito pela pessoa e a liberdade de culto também cresce, também nós devemos continuar a crescer, há pessoas católicas que não aceitam o que o Vaticano II disse sobre a liberdade de culto, a liberdade de consciência, há pessoas que não aceitam católicos, nós também temos este problema, mas também os irmãos muçulmanos crescem na consciência e alguns países não compreendem bem ou não crescem tão bem como outros, no Marrocos há este crescimento. Neste quadro há o problema da conversão: alguns países ainda não a vêem, não sei se é proibida, mas a prática é proibida. Outros países como o Marrocos não criam problema, são mais abertos e mais respeitosos, procuram um certo modo de proceder com discrição. Outros países com os quais falei dizem: não temos problemas, mas preferimos que o batismo eles façam fora do país e retornem cristãos. Preocupa-me outra coisa: a retrocessão nossa, cristãos, quando tiramos a liberdade de consciência, pensa você, nos médicos e nas instituições hospitalares cristãs que não têm o direito de objecção de consciência, por exemplo, à eutanásia. A Igreja foi para a frente e vocês, países cristãos, foram para trás? Pensem nisto porque é uma verdade. Hoje nós, cristãos, corremos o perigo que alguns governos nos tirarem a liberdade de consciência que é o primeiro passo para a liberdade de culto. A resposta não é fácil, mas não acusemos os muçulmanos, devemos nos acusar, a nós, nestes países onde isto acontece. Devemos ter vergonha”.
"Então, sobre o cardeal Barbarin, ele, um homem da Igreja, pediu demissão, mas eu não posso moralmente aceitá-la porque, juridicamente, mas também na jurisprudência mundial clássica, há a presunção de inocência durante o tempo em que a causa está aberta. Ele apelou e a causa está aberta. Depois, quando o segundo tribunal dá a sentença, vemos o que acontece. Mas tem sempre a presunção de inocência. Isto é importante porque vai contra a superficial condenação dos meios de comunicação social. O que diz a jurisprudência mundial? Que, se um caso está aberto, existe a presunção de inocência. Talvez não seja inocente, mas há a presunção. Uma vez falei de um caso na Espanha sobre como a condenação dos meios de comunicação social arruinou a vida de sacerdotes que foram depois reconhecidos inocentes. Antes de fazer a condenação mediática, pensar duas vezes. E ele escolheu honestamente, mas não, eu me retiro, peço uma licença voluntária e deixo ao Vigário Geral administrar a arquidiocese até que o tribunal dê a sentença final".
Cristina Cabrejas, agência Efe: No discurso de ontem às autoridades, o senhor disse que o fenômeno migratório não se resolve com barreiras físicas, mas aqui no Marrocos a Espanha construiu duas barreiras com lâminas para cortar aqueles que querem superá-las. O senhor conheceu algum deles em qualquer encontro. E o Presidente Trump nestes dias disse que quer fechar completamente as fronteiras e também suspender a ajuda a três países da América Central. O que o senhor gostaria de dizer para estes governantes, para estes políticos que ainda defendem estas decisões?
Papa Francisco: "Em primeiro lugar, o que eu disse há pouco: os construtores de muros, sejam de lâminas que cortam como facas ou de tijolos, tornar-se-ão prisioneiros dos muros que fazem. Primeiro... o que a história dirá? Em segundo lugar, Jordi Evole quando me entrevistou, mostrou-me um pedaço desse fio com as facas. Digo-lhe sinceramente que fiquei comovido e depois quando ele foi embora, chorei. Chorei porque não entra na minha cabeça e no meu coração tanta crueldade. Não entra na minha cabeça e no meu coração ver afogar-se no Mediterrâneo… esta não é a forma de resolver o grave problema da imigração, que eu entendo: um governo, com este problema tem “uma batata quente” nas mãos, mas deve resolvê-lo, de outra forma, humanamente. Quando eu vi aquele fio, com facas, eu não podia acreditar. Uma vez que eu tive a oportunidade de ver um filme da prisão de refugiados que retornam, que são enviados de volta. Prisões não oficiais, prisões de traficantes. Se você quiser, eu posso mandá-lo a você. Eles fazem sofrer,  fazem sofrer. As mulheres e crianças são vendidas, os homens ficam. E as torturas que você vê no filme são inacreditáveis. Era um filme feito em segredo. Eu não os deixo entrar: é verdade porque não tenho lugar, mas há outros países, há a humanidade da União Europeia. Toda a União Europeia tem de falar. Não os deixo entrar, ou os deixo afogar ali, ou os mando embora sabendo que tantos deles vão cair nas mãos destes traficantes que vão vender as mulheres e as crianças, matarão ou torturarão para fazer escravos os homens. Isto está filmado, está à disposição de vocês. Uma vez que falei com um governante, um homem que eu respeito e direi "o nome, Alexis Tsipras. e falando sobre isso e dos acordos de não deixar entrar, ele me explicou as dificuldades, mas no final ele me falou com o coração e disse esta frase: "os direitos humanos vêm antes dos acordos". Esta frase merece o Prêmio Nobel.
Michal Werner Schramm, Ard Roma: O senhor há muitos anos combate para proteger e ajudar os migrantes, como fez nos últimos dias no Marrocos. A política europeia vai exatamente na direção oposta. A Europa torna-se como bastão contra os migrantes. Esta política reflete a opinião dos eleitores. A maioria desses eleitores é cristã-católica. O senhor como se sente com esta triste situação?
Papa Francisco: "Vejo que muitas pessoas de boa vontade, não só católicos, mas pessoas boas, de boa vontade são um pouco tomadas pelo medo que é a pregação habitual do populismo, o medo. O medo é semeado e depois as decisões são tomadas. O medo é o início das ditaduras. Vamos para o século passado, para a queda da República de Weimar, repito isto muitas vezes. A Alemanha precisava de uma saída e, com promessas e medos foi avante Hitler, conhecemos o resultado, conhecemos o resultado. Aprendemos com a história, isso não é novo: semear medo é fazer uma coleta de crueldade, de fechamentos e até mesmo de esterilidade. Pensem no inverno demográfico da Europa. Também nós que vivemos na Itália temos abaixo de zero. Pensem na falta de memória histórica: a Europa foi feita por migrações e esta é a sua riqueza. Pesemos na generosidade de muitos países, que hoje batem à porta da Europa, com os migrantes europeus a partir de 84, os dois pós-guerra, em massa, a América do Norte, a América Central, a América do Sul. O meu pai foi lá depois da guerra e foi acolhido. Um pouco de gratidão... É verdade, para ser compreensivos, que o primeiro trabalho que temos de fazer é tentar assegurar que as pessoas que migram por causa da guerra ou da fome não tenham essa necessidade. Se uma Europa tão generosa vende armas ao Iêmen para matar crianças, como faz a Europa a ser coerente. E digo que isto é um exemplo, mas a Europa vende armas. Depois há o problema da fome e da sede. Se a Europa quer ser a mãe Europa e não a avó Europa, tem de investir, tem de tentar inteligentemente ajudar a levantar através da educação, através dos investimentos, e isto não é meu, disse a Chanceler Merkel. É algo que ela leva avante: impedir a emigração não com a força, mas com a generosidade, os investimento educativos e econômico, etc., e isto é muito importante. Segundo, sobre como agir, é verdade que um país não pode receber todos, mas há toda a Europa para distribuir os migrantes, há toda a Europa. Porque a acolhida deve ser com o coração aberto, depois acompanhar, promover e integrar. Se um país não pode integrar, deve pensar imediatamente em falar com outros países: você quantos pode integrar, para dar às pessoas uma vida digna. Outro exemplo que vivi na minha pele no tempo das ditaduras é a Operação Condor em Buenos Aires, na América Latina, na Argentina, Chile e Uruguai. Foi a Suécia que recebeu com uma generosidade impressionante.Aprendiam imediatamente a língua à custa do Estado, encontraram trabalho, encontraram um lar. Agora você sente, a Suécia, um pouco com dificuldade na integração, mas diz isso e pede ajuda. Quando lá estive no ano passado, o primeiro-ministro deu-me as boas-vindas, mas na cerimônia de despedida foi uma ministra, uma jovem ministra que penso era a da Educação, era um pouco acastanhada porque era filha de uma sueca e de um migrante africano: tão integrada no país que eu dou como exemplo, a Suécia. Mas para isso é preciso generosidade, é preciso continuar, mas com os muros ficaremos fechados nestes muros".
(Transcrição não oficial realizada por Andrea Tornielli)
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Francisco está de volta a Roma
Foi a 28ª Viagem Apostólica internacional de Bergoglio que desta vez o levou ao Marrocos. A viagem, que durou dois dias, teve como lema: “Papa Francisco: servidor da Esperança”.
Cidade do Vaticano - O Papa Francisco já está de volta a Roma. O voo papal chegou ao aeroporto de Ciampino às 20h55 (hora local) depois de mais de 3 horas de voo. Como de costume, durante a viagem de retorno a Roma o Papa respondeu algumas perguntas dos jornalistas presentes no voo papal. Foi a 28ª Viagem Apostólica internacional de Bergoglio que desta vez o levou ao Marrocos. A viagem, que durou dois dias, teve como lema: “Papa Francisco: servidor da Esperança”.
A missa, na tarde deste domingo (31/03), no complexo esportivo de Rabat, foi o último ato da breve viagem ao Marrocos. Após a celebração, Bergoglio foi para o aeroporto internacional de Rabat - Salé para a cerimônia de despedida.
Na celebração eucarística com a comunidade católica local – cerca de 10 mil fiéis -, no Centro Esportivo Príncipe Moulay Abdellah, Francisco usou a sua língua materna, o espanhol, para fazer os agradecimentos finais: primeiro ao Senhor, que lhe permitiu realizar a viagem apostólica ao país como “servidor da Esperança”. O Pontífice também agradeceu o Rei Mohammed VI pelo convite, bem como as autoridades e todos que colaboraram para o bom andamento da visita, em especial, os arcebispos de Rabat e de Tanger. Uma viagem em que se pôde “compartilhar, graças à fé, esperança e caridade”.
Francisco no seu último discurso em terras marroquinas encorajou o pequeno rebanho presente no país a “perseverar no caminho do diálogo com os nossos irmãos e irmãs muçulmanos, colaborando também para que se torne visível aquela fraternidade universal que tem a sua fonte em Deus. Possam ser, aqui, os servidores da esperança, de que o mundo tanto precisa!"
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