quarta-feira, 13 de março de 2019

Papa Francisco:

seis anos de Pontificado com a força do Espírito
No sexto aniversário do pontificado do Papa Francisco vamos recordar os aspectos espirituais do magistério: do cristocentrismo à fé no poder da oração, da santidade do cotidiano à dimensão mariana.
Cidade do Vaticano - Hoje, 13 de março, recordamos os seis anos da eleição do primeiro Papa proveniente do continente americano, o primeiro jesuíta, o primeiro com o nome de Francisco. Além dos eventos e dos fatos mais conhecidos destes seis anos com o Papa Francisco, 265º Sucessor de Pedro, queremos evidenciar 10 pontos do seu pontificado, mais especificadamente espirituais.
1. Viver a fé é encontrar Jesus
No centro do magistério do Papa Francisco há o mistério do encontro com o Senhor, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, do qual nasce o primeiro anúncio, o “querigma”: “Jesus Cristo ama-te, deu a sua vida para te salvar, e agora vive contigo todos os dias para te iluminar, fortalecer, libertar” (Evangelium gaudium, 164). A fé não é uma ideologia – as ideias dividem e levantam muros – mas um encontro concreto com o nosso Salvador que nos leva a encontrar os outros, mudando para sempre a nossa vida: deste encontro do amor nasce o desejo de levar a alegria do Evangelho ao mundo. É a força do amor de Jesus, vivido em primeira pessoa, que leva a dar a boa notícia, que é para todos: os cristãos são apenas pobres mensageiros que devem transmitir algo infinitamente acima deles.
2. A oração: Deus é Pai nosso e nós somos irmãos
A oração – afirma Papa Francisco – é a base da vida cristã: orar significa estar com Deus, confiar no Pai. A verdadeira oração é uma relação viva, uma experiência diária, feita de escuta e diálogo, de consolação e libertação, mas também de irritação: “Isso também é oração. Ele gosta de ouvir quando você está irritado e lhe diz sinceramente o que sente, porque é Pai”. Rezar – afirma Francisco – é compreender que somos filhos de um único Pai que não nos abandona e que somos todos irmãos além das nossas pequenas fronteiras. Rezar é ir ao encontro do outro, mistério do amor desde sempre no pensamento do seu Criador.
3. Deixar se transformar pelo Espírito Santo
Um aspecto forte deste pontificado é o convite a se deixar mudar pelo Espírito Santo. A vida do cristão – repete o Papa com frequência – é uma permanente conversão, um êxodo cotidiano do eu ao tu, do fechamento à saída, da defesa à acolhida: é uma exigência de profunda renovação espiritual que combate com as nossas resistências em não nos deixarmos transformar pela caridade, às vezes em nome de uma verdade que se quer possuir como um “pacote” de doutrinas que não dão margens à nenhuma dúvida. Enquanto que o Espírito – diz o Papa – nos “abala” com as suas surpresas e nos faz ir adiante com a sua força e crescer na fé com a sua sabedoria, mas também com as dúvidas: no sentido positivo, as dúvidas são um sinal de que queremos conhecer melhor Jesus e o mistério do seu amor por nós”.
4. A Igreja seja sempre a casa aberta do Pai
A Igreja é sacramento de salvação e por isso – afirma o Papa – “é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai”. Às vezes “nos comportamos como fiscais da graça e não como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega, é a casa paterna  onde todos têm o seu lugar com as suas dificuldades”. “Assim como as portas dos Sacramentos jamais se deveriam fechar”. Inventamos o oitavo sacramento, diz o Papa, o da alfândega pastoral. Por isso embora a Eucaristia seja a plenitude da vida sacramental, não é um prêmio para os perfeitos, mas um generoso remédio e um alimento para os fracos.
5. Constante renovação espiritual
A Igreja, povo de Deus – afirma o Papa – é chamada a se renovar constantemente para ser sempre fiel a Jesus. É um dinamismo interior movido pelo Espírito para compreender melhor as verdades cristãs e aumentar a inteligência da fé: é o desenvolvimento da doutrina que pode escandalizar, mas que em 2000 anos de história cumpriu muitos passos que hoje nos parecem óbvios. O perigo é absolutizar um determinado momento histórico e cristalizá-lo de forma particular, perdendo a perspectiva de um caminho. O Papa insiste em falar aos bispos e sacerdotes para que não se considerem príncipes, mas pastores que compartilham a alegria e os sofrimentos da comunidade.
6. A verdadeira fé nos coloca em crise
Papa Francisco colocou em crise o nosso cristianismo. Assim como fez Jesus, instigou os vizinhos, na época escribas e fariseus e lançou pontes aos afastados. Obrigou com uma linguagem muitas vezes forte e animada, a tomar posições sobre as suas palavras: podemos aceitá-las com humildade deixando-nos corrigir ou rejeitá-las com soberba indignação: “Uma fé que não nos coloca em crise – disse – é uma fé em crise; uma fé que não nos faz crescer é uma fé que deve crescer; uma fé que não nos interroga, é uma fé sobre a qual devemos nos interrogar; uma fé que não nos anima é uma fé que deve ser animada, uma fé que não nos abala, é uma fé que deve ser abalada”. Às vezes a linguagem de Francisco pode não agradar, pode parecer dura, mas é um estímulo para repensar na própria fé para que esta não seja considerada óbvia e para não cairmos em um fácil risco para os que nos estão perto: a hipocrisia.
7.  Sobretudo a caridade
A essência do cristianismo – repete o Papa – é a caridade. Podemos anunciar ao mundo as maiores verdades da fé dando até mesmo nossas vidas, fazer muitas obras e expulsar demônios, mas sem amor não somos nada. A caridade não é uma abstração. Francisco não cansa de recordar que no final de nossas vidas seremos julgados a respeito das coisas muito concretas. Este apelo tem uma raiz profundamente espiritual e escatológica: refere-se ao juízo final. No final de nossas vidas será o nosso amor concreto nesta vida a nos julgar. Se não reconhecermos Cristo no rosto do pobre, não reconheceremos Jesus quando o veremos face a face.
8. A santidade é a misericórdia de todos os dias
Este é o tempo da misericórdia. É outra frase do Papa que nem sempre é bem compreendida, como se fosse uma pieguice relativista. A misericórdia do Senhor, repete o Papa, é infinita, mas se não a acolhermos receberemos então a ira de Deus. É o inferno, a rejeição do amor de Deus. O Todo-Poderoso detêm-se apenas diante de uma coisa: da nossa liberdade. Por isso o Papa faz distinção entre pecadores e corruptos. Todos somos pecadores, mas os corruptos são os que se sentem justos e não querem acolher o perdão de Deus. Enquanto que os santos acolhem na sua fragilidade a misericórdia divina e a derramam sobre os outros. São pecadores que se deixam levantar pelo amor gratuito de Deus, que lhes dá força para dar suas vidas pelos outros, no silêncio de todos os dias.
9. Administrar um bem que nos foi confiado por Deus
Francisco dá um forte sentido espiritual às suas palavras e, seguindo a tradição, vê o cristão comprometido no mundo, mas com os olhos do céu. A invocação “venha o teu reino” é trabalhar nesta terra para construir aqui mesmo o reino do amor de Deus. O cristão não deve se fechar em si mesmo, mas deve contribuir para construir na sociedade a paz, a justiça, a fraternidade. Ao escrever a Encíclica sobre o cuidado da casa comum não queria ser lembrado como o “papa verde”, como foi definido por alguns, mas porque cuidar da casa comum é administrar um bem que nos foi confiado por Deus para o bem de todos.
10. A ajuda de Maria e a luta contra o diabo
Francisco cita com frequência o diabo. Não se envergonha de ser considerado um medieval por isso. “O diabo existe também no século XX” disse. Por trás do mal que o homem faz está o demônio. Diz isso não para diminuir a responsabilidade do homem, mas para explicar que a luta maior está no plano espiritual. O diabo é aquele que divide: quer nos dividir de Deus e dos irmãos, divide os povos, as comunidades, a Igreja, as famílias. Diz mentiras, acusações, é inimigo, mata. Neste combate Francisco apela sempre a Maria. Confia à Mãe de Deus, como faz no início e no fim de cada viagem internacional, quando vai à Basílica de Santa Maria Maior rezar diante do ícone da Salus Populi Romani. O Papa convidou os fiéis a continuarem a rezar o Terço, todos os dias, para pedir através da intercessão de Maria e de São Miguel Arcanjo a proteção da Igreja dos ataques do diabo. O Terço, diz, é a sua oração do coração.
Francisco convida a crer no poder da oração e no final de cada discurso faz este pedido que já nos é familiar: “Por favor, não esqueçam de rezar por mim”. Acrescentando às vezes: “Eu preciso!”.
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Assista:
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Editorial do Vaticano:
O aniversário do pontificado, olhando para o essencial
Francisco viveu e está prestes a viver intensos meses de viagens e Sínodo. Seu sexto ano foi caracterizado pelo flagelo dos abusos e pelo sofrimento de alguns ataques internos: a resposta foi um convite a voltar ao coração da fé.
Cidade do Vaticano - O sexto aniversário da eleição vê o Papa Francisco comprometido em um ano cheio de importantes viagens internacionais, marcado no início e no final, por dois eventos "sinodais": o encontro para a proteção de menores realizado no Vaticano em fevereiro passado, com a participação dos presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo, e o Sínodo especial sobre a Amazônia, que será celebrado - também no Vaticano -, em outubro próximo. De notável impacto a recente viagem aos Emirados Árabes que viu o Bispo de Roma assinar uma Declaração conjunta com o Grande Imame de Al-Azhar. Um documento que se espera possa ter consequências no campo da liberdade religiosa. O tema ecumênico prevalecerá nas próximas viagens à Bulgária e depois à Romênia, enquanto a desejada, mas ainda não oficializada viagem ao Japão, poderá ajudar a recordar a devastação causada pelas armas nucleares, como advertência para o presente e para o futuro da humanidade que experimenta a "terceira guerra mundial em pedaços", da qual o Papa fala frequentemente.
Mas um olhar ao ano apenas transcorrido não pode ignorar o ressurgimento do escândalo dos abusos e das divisões internas que levaram o ex-núncio Carlo Maria Viganò, em agosto passado, precisamente quando Francisco celebrava a Eucaristia com milhares de famílias em Dublin, repropondo a beleza e o valor do matrimônio cristão, a pedir publicamente a renúncia do Papa por causa da gestão do caso McCarrick. Diante dessas situações, o Bispo de Roma pediu a todos os fiéis do mundo que rezassem o Terço todos os dias, durante todo o sucessivo mês mariano de outubro de 2018, para unirem-se "em comunhão e penitência, como povo de Deus, pedindo à Santa Mãe de Deus e a São Miguel Arcanjo para protegerem a Igreja do diabo, que sempre visa nos separar de Deus e entre nós". Tal pedido tão detalhado não tem precedentes na história recente da Igreja. Com suas palavras e o apelo ao povo de Deus para rezar para manter a unidade da Igreja, Francisco nos fez entender a gravidade da situação e ao mesmo tempo expressou a cristã consciência de que não existem remédios humanos capazes de assegurar um caminho de saída.
Mais uma vez, o Papa chamou ao essencial: a Igreja não é formada por super-heróis (nem mesmo por super-papas) e não avança com a força de seus recursos humanos ou estratégias. Sabe que o maligno está presente no mundo, que existe o pecado original, e que para nos salvarmos, precisamos da ajuda do Alto. Repeti-lo não significa diminuir as responsabilidades pessoais dos indivíduos e nem mesmo as das instituições, mas situá-las em seu real contexto.
"Com esta solicitação de intercessão" - estava escrito no comunicado vaticano com o pedido do Papa para a oração do Terço em outubro passado - "o Santo Padre pede aos fiéis de todo o mundo para rezar para que a Santa Mãe de Deus coloque a Igreja sob seu manto protetor: para preservá-la dos ataques do maligno, o grande acusador, e ao mesmo tempo torná-la cada vez mais consciente dos abusos e erros cometidos no presente e no passado”.
No presente e no passado, porque seria um erro "descarregar" sobre aqueles que vieram antes de nós as culpas e apresentar-nos como "puros". Também hoje a Igreja deve pedir a Alguém para ser libertada do mal. Um dado de fato que o Papa, em continuidade com seus antecessores, recorda constantemente.
A Igreja não se redime sozinha dos males que a afligem. Também do horrível abismo dos abusos sexuais cometidos por clérigos e religiosos, não se sai em virtude de processos de auto-purificação, muito menos confiando-se a quem se investiu no papel de purificador. Normas sempre mais eficazes, responsabilidade e transparência são necessárias, na verdade indispensáveis, mas nunca serão suficientes. Porque a Igreja, recorda-nos hoje o Papa Francisco, não é auto-suficiente e testemunha o Evangelho a muitos homens e mulheres feridos do nosso tempo, precisamente porque também ela se reconhece como mendigo de cura, necessitando de misericórdia e de perdão do seu Senhor. Talvez nunca como no conturbado ano que passou, o sexto do seu pontificado, o Papa que se apresenta como "um pecador perdoado", seguindo o ensinamento dos Padres da Igreja e de seu imediato predecessor Bento XVI, testemunhou este dado essencial, e mais do que nunca atual da fé cristã.
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Exercícios espirituais:
Mostremos a beleza da memória
Na meditação da terça-feira a tarde (12/03) oferecida ao Papa Francisco e à Cúria Romana para os Exercícios Espirituais desta Quaresma, o abade de São Miniato convida a ver a vida como uma “expressão não de nós mesmos”, mas como um testemunho “a serviço da Palavra de Deus”
Cidade do Vaticano - Para entender como o homem contemporâneo vive a sua relação com o tempo, é útil recorrer às reflexões do sociólogo francês Marc Augé, segundo o qual hoje “o mundo está assolado por uma ideologia do presente”. O presente não é mais “o lento êxito da progressão do passado, não deixa mais entrever um esboço do futuro”. É nesta perspectiva que se coloca a quarta meditação do abade de São Miniato no Monte em Florença, Bernardo Francesco Maria Gianni, beneditino olivetano, ao Papa Francisco e aos seus colaboradores da Cúria Romana para os exercícios espirituais desta Quaresma em Ariccia. O presente é “hegemônico”: memória e esperança – sublinha o abade – são atrofiadas por este presente”.
É cansativo criar uma memória
O diagnóstico de Marc Augé “relativo a uma verdadeira ditadura do incerto presente” é a confirmação de uma “verdadeira patologia do homem contemporâneo”, “desmantelado por um pragmatismo tecnológico e dominante”. Nesta hegemonia do presente, continua o abade, é “cansativo criar uma memória”: “É difícil recordar, ou seja, reconduzir ao coração, um coração finalmente atento e agradecido, os eventos do passado”. O cansaço da memória, sublinha, é o “cansaço de uma perseverança, é o cansaço da perseverança em permanecer no tempo, na História”. O abade que se inspira também nas palavras do poeta Mario Luzi e na ação política de Giorgio La Pira, indica o caminho da memória como o caminha que leva para o futuro.
Façam isso em memória de mim
Referindo-se a esta fundamental dimensão da memória, abade recorda em particular o que o Papa Francisco escreve na Exortação Evangelium Gaudium: “A memória é uma dimensão da nossa fé, que, por analogia com a memória de Israel, poderíamos chamar ‘deuteronómica’. Jesus deixa-nos a Eucaristia como memória quotidiana da Igreja, que nos introduz cada vez mais na Páscoa (cf. Lc 22, 19). A alegria evangelizadora refulge sempre sobre o horizonte da memória agradecida: é uma graça que precisamos de pedir”. 
Testemunho eclesial
A memória, explica o monge beneditino, nos apresenta uma verdadeira “multidão de testemunhas”. Entre elas, há “algumas pessoas que marcaram de modo especial o germinar da nossa alegria de crentes”:
E então a Igreja e, no meu pequeno caso, o mosteiro ao qual pertenço, são lugares para a cidade nos quais percebe-se a possibilidade, principalmente para as novas gerações, de restabelecer o passado, presente e futuro em novos horizontes de esperança; em outras palavras, as nossas igrejas sabem ser espaços nos quais quem entra percebe a vivacidade, a vitalidade da vivência de uma vida arraigada na memória da Páscoa do Senhor Jesus.
Então, o abade propõe uma pergunta crucial: será que os jovens percebem “no nosso testemunho eclesial, uma memória confiável, que inspire um futuro do mesmo modo confiável?”
A beleza da memória
Para o benditino o caminho a ser tomado é o que mostra a beleza da memória:
Vencendo o pessimismo, encaminhados para a esperança procuramos sempre novos caminhos de fidelidade ao Senhor, enriquecidos pela linfa que nos chega da tradição, mas sem medo. Devemos mostrar – dizia São João Paulo II – aos homens a beleza da memória, a força que nos vem do Espírito e que nos faz testemunhas porque somos filhos de testemunhas, nos faz provar maravilhas que o Espírito espalhou na História.
Quanto é importante, acrescenta o abade beneditino, que nas comunidades eclesiais os jovens “sintam uma tradição que os encaminha à vida, com essas belíssimas perspectivas nas quais não estamos mais sozinhos”.
O único evento é a Páscoa do Senhor
Hoje, recorda o abade, “qualquer fato que aconteça ou qualquer manifestação é um evento”. Mas nesta perspectiva, adverte, perde-se de vista o que seja um verdadeiro Evento:
Voltar à grande experiência da traditio, vivificada por uma memória viva e criativa e principalmente importantíssima experiência para nós, diria irrenunciável, fonte e ápice da nossa vida que é a liturgia e de modo particular a Eucaristia, deveria nos deixar desconfiados do uso excessivo da palavra evento, porque para nós, de fato, o único evento é realmente a Páscoa do Senhor Jesus.
A memória cotidiana
O abade Bernardo conclui sua meditação com um pensamento que tem o sabor de oração:
Que este nosso exercício cotidiano de memória através da escuta da Palavra de Deus, a celebração litúrgica, a liturgia das horas, torne a nossa existência officium laudis, para que o nosso testemunho realmente volte a unir o homem e a mulher do nosso tempo em uma nova aliança com o presente que Deus nos doa e assim conduzir toda a humanidade sem medo, sem nostalgias e sem hesitações para aquele futuro que o Senhor prepara para nós.
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