Quatro cristianismos insuficientes
1. Cristo sem
carne. A encarnação, a humanidade de Jesus, a inculturação do Filho de Deus em
nossa história é a maior elevação da pessoa humana. O Cristo sem carne é aquele
cristianismo longe do outro, sem o irmão, sem amor pelos pobres, pessoas
doentes, é um misticismo intimista, rubricista, sem compromisso com o mundo,
com a realidade, portanto, cristianismo desencarnado, alienado, desinteressado
pelo irmão. Cada irmão é continuidade da encarnação de Jesus. O humanismo de
Jesus de Nazaré, seu jeito de ser, seu corpo, alma e vontade humana, nos
impelem ao compromisso com a vida, a sociedade, a história, a política. O
Cristo sem carne retrata um cristianismo espiritualista, acomodado, invertido.
O Evangelho convida-nos a ir ao encontro do outro, ver o rosto do irmão,
valorizar sua presença física. O Papa Francisco fala da “reconciliação com a
carne do outro” (EV. 88). Tocar na carne do pobre, do doente, do sofredor é
tocar na carne sofredora de Jesus, lembra o Papa.
Amou-nos até a morte de cruz |
3. Cristo sem o
reino. Eis mais uma caricatura de Jesus Cristo. Toda a Palavra e pregação de
Jesus é o reino de Deus que se manifesta nas curas, milagres, opções, atitudes
e gestos de Jesus. Os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os
pobres são libertados, os pecadores são perdoados. Tudo isso é o Reino de Deus.
Separar Jesus e o reino é uma aberração, uma manipulação do Evangelho, uma
opção ideológica. Entendamos a relação entre fé e política à luz do Reino de
Deus.
4. Cristo sem
cruz. Esta é a religião da facilidade, da prosperidade, da fé sem ética. Hoje
há uma rejeição cultural da renuncia, do sacrifício, da abnegação de si, do
sofrimento. Em outras palavras, somos batizados, mas, não evangelizados:
“cristãos com vida de pagão”. Uma espécie de “mundanidade espiritual” como diz
o Papa Francisco. Criamos um Jesus à nossa imagem e semelhança porque
escolhemos apenas uma parte do Evangelho. Paulo Apostolo fala dos inimigos da
cruz de Cristo, cujo Deus é o ventre. Eis mais uma forma de cristianismo
insuficiente. Jesus Crucificado e Ressuscitado é o coração do cristianismo.
Quem quer
Cristo, mas não quer a cruz, opta por um estilo de vida com verniz cristão, por
uma religiosidade sem compromisso com os irmãos, com a comunidade e com a
sociedade. Sem a cruz nem sequer somos salvos. Com a luz que vem da cruz nos
tornamos generosos, disponíveis, sacrificados. A cruz é a força da missão,
alívio na dor, estímulo para uma vida doada, oblativa, dadivosa.
Dom Orlando
Brandes - Arcebispo de Metropolitano de Londrina
Fonte: arqlondrina.com.br Estampa: corpomistico.com
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