segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Sábia reflexão:

Quatro cristianismos insuficientes

1. Cristo sem carne. A encarnação, a humanidade de Jesus, a inculturação do Filho de Deus em nossa história é a maior elevação da pessoa humana. O Cristo sem carne é aquele cristianismo longe do outro, sem o irmão, sem amor pelos pobres, pessoas doentes, é um misticismo intimista, rubricista, sem compromisso com o mundo, com a realidade, portanto, cristianismo desencarnado, alienado, desinteressado pelo irmão. Cada irmão é continuidade da encarnação de Jesus. O humanismo de Jesus de Nazaré, seu jeito de ser, seu corpo, alma e vontade humana, nos impelem ao compromisso com a vida, a sociedade, a história, a política. O Cristo sem carne retrata um cristianismo espiritualista, acomodado, invertido. O Evangelho convida-nos a ir ao encontro do outro, ver o rosto do irmão, valorizar sua presença física. O Papa Francisco fala da “reconciliação com a carne do outro” (EV. 88). Tocar na carne do pobre, do doente, do sofredor é tocar na carne sofredora de Jesus, lembra o Papa.
Amou-nos até a morte de cruz
2. Cristo sem Igreja. Encontramos pessoas que aceitam Cristo, mas, rejeitam a Igreja. Admiram Cristo, mas, não aderem à Igreja, aos sacramentos e à vida pastoral da comunidade. Sabemos, porém, que a Igreja é o corpo de Cristo. Um Cristo sem Igreja é cabeça sem corpo. Um Cristo sem Igreja é uma anomalia, pois, quem quis a Igreja foi Jesus. Ela é o instrumento da salvação que continua a ação de Jesus Cristo na história até o fim dos tempos. Jesus quis a Igreja. Cristo sem Igreja é uma forma de cristianismo insuficiente. Quem ama Cristo, ama também a Igreja pela qual ele deu sua vida.
3. Cristo sem o reino. Eis mais uma caricatura de Jesus Cristo. Toda a Palavra e pregação de Jesus é o reino de Deus que se manifesta nas curas, milagres, opções, atitudes e gestos de Jesus. Os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os pobres são libertados, os pecadores são perdoados. Tudo isso é o Reino de Deus. Separar Jesus e o reino é uma aberração, uma manipulação do Evangelho, uma opção ideológica. Entendamos a relação entre fé e política à luz do Reino de Deus.
4. Cristo sem cruz. Esta é a religião da facilidade, da prosperidade, da fé sem ética. Hoje há uma rejeição cultural da renuncia, do sacrifício, da abnegação de si, do sofrimento. Em outras palavras, somos batizados, mas, não evangelizados: “cristãos com vida de pagão”. Uma espécie de “mundanidade espiritual” como diz o Papa Francisco. Criamos um Jesus à nossa imagem e semelhança porque escolhemos apenas uma parte do Evangelho. Paulo Apostolo fala dos inimigos da cruz de Cristo, cujo Deus é o ventre. Eis mais uma forma de cristianismo insuficiente. Jesus Crucificado e Ressuscitado é o coração do cristianismo.
Quem quer Cristo, mas não quer a cruz, opta por um estilo de vida com verniz cristão, por uma religiosidade sem compromisso com os irmãos, com a comunidade e com a sociedade. Sem a cruz nem sequer somos salvos. Com a luz que vem da cruz nos tornamos generosos, disponíveis, sacrificados. A cruz é a força da missão, alívio na dor, estímulo para uma vida doada, oblativa, dadivosa.
                             Dom Orlando Brandes - Arcebispo de Metropolitano de Londrina
                                                Fonte: arqlondrina.com.br       Estampa: corpomistico.com
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