Papa Francisco:
Passar do 'a mim, que me importa?' ao pranto
Redipuglia (RV) -
Papa Francisco faz visita a Redipuglia, região de Friuli-Veneza Júlia, como uma
peregrinação para lembrar as vítimas da I Guerra Mundial, os mortos de todos os
conflitos, e para lançar uma mensagem de paz ao mundo. Nesta manhã de sábado
(14), o Pontífice celebrou uma missa de sufrágio, no Cemitério Militar da
cidade.
Logo no início
da sua homilia, em missa que foi acompanhada pelos cardeais de Viena e
Zagabria, além de bispos provenientes da Eslovênia, Áustria, Hungria, Croácia e
das dioceses daquela região italiana, Papa Francisco declarou que “a guerra é
uma loucura”.
Choremos com os que choram |
"Enquanto
Deus cuida da sua criação e nós, os homens, somos chamados a colaborar na sua
obra, a guerra destrói; destrói até mesmo o que Deus criou de mais belo: o ser
humano. A guerra transtorna tudo, incluindo a ligação entre irmãos. A guerra é
louca, propõe a destruição como plano de desenvolvimento: querer desenvolver-se
através da destruição!"
O Pontífice
disse ainda que “a ganância, a intolerância e a ambição do poder são motivos que
impelem à opção bélica”. Esses motivos, prosseguiu Francisco, são muitas vezes
justificados por uma ideologia; “mas, antes dessa, existe a paixão, o impulso
desordenado”.
"A
ideologia é uma justificação e, mesmo quando não há uma ideologia, pensa-se: “A
mim, que me importa?”. “A mim, que me importa?”. Tal foi a resposta de Caim:
“Sou, porventura, guarda do meu irmão?”. A guerra não respeita ninguém: nem
idosos, nem crianças, nem mães, nem pais. “A mim, que me importa?” Por cima da
entrada deste cemitério, campeia irônico o lema da guerra: “A mim, que me
importa?” Todas as pessoas, cujos restos repousam aqui, tinham seus projetos,
seus sonhos, mas as suas vidas foram ceifadas. A humanidade disse: “A mim, que
me importa?”"
Papa Francisco
recorda que, mesmo hoje, depois do segundo falimento de outra guerra mundial,
“talvez se possa falar de uma terceira guerra combatida ‘por pedaços’ com
crimes, massacres, destruições”.
"Para serem
honestos, os jornais deveriam ter como título da primeira página: “A mim, que
me importa?” Caim diria: “Sou, porventura, guarda do meu irmão?” Essa atitude
é, exatamente, o contrário daquilo que Jesus nos pede no Evangelho que ouvimos:
Ele está no mais pequeno dos irmãos; Ele, o Rei, o Juiz do mundo, é o faminto,
o sedento, o estrangeiro, o doente, o encarcerado. Quem cuida do irmão, entra
na alegria do Senhor; quem, pelo contrário, não o faz, quem diz, com as suas
omissões, “a mim, que me importa?”, fica fora."
Caminhada entre os túmulos do cemitério |
O Santo Padre
fez menção a tantas vítimas, ao pranto, tristeza e dor gerados por todas as
guerras. E fez um questionamento em voz alta: “Como é possível isso? É
possível, porque ainda hoje, nos bastidores, existem interesses, planos
geopolíticos, avidez de dinheiro e poder; e há a indústria das armas, que
parece ser tão importante!”.
"E estes
planificadores do terror, estes organizadores do conflito, bem como os
fabricantes das armas escreveram no coração: “A mim, que me importa?” É próprio
dos sábios reconhecer os erros, provar tristeza por eles, arrepender-se, pedir
perdão e chorar. Com essa disposição “a mim, que me importa?” que têm no
coração, os negociantes da guerra talvez ganhem muito, mas o seu coração
corrupto perdeu a capacidade de chorar. Aquele “a mim, que me importa?” impede
de chorar. Caim não chorou. Hoje a sombra de Caim estende-se sobre nós aqui,
neste cemitério. Vê-se aqui! Vê-se na história que vem de 1914 até aos dias de
hoje; e vê-se também em nossos dias. Com coração de filho, de irmão, de pai,
peço a vós todos e para todos nós a conversão do coração: passar daquele “a
mim, que me importa?” para o pranto. Por todos os mortos daquele “inútil
massacre”, por todas as vítimas da loucura da guerra de todos os tempos, a
humanidade precisa chorar; e esta é a hora do pranto." (AC)
Fonte: radiovaticana.va news.va
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