Palavra e silêncio de Deus
Impressionante o
aparente silêncio de Deus diante do drama humano que se descortina a nosso
redor. Mais chocante é o silêncio diante das orações dos que creem. Perseguição
e violência contra cristãos, em várias partes do mundo, caso do Iraque. Morte
de fome e doenças, em várias partes do Planeta, caso das vítimas do ébola na
África. Coloca-se a pergunta: Deus onde estás? Eis o drama de muitos que, como
Jó, rezam e não escutam resposta.
Deus nos fala no silêncio |
O mês de
setembro, entre nós católicos, é dedicado de forma especial à consideração da
Palavra de Deus: mês da Bíblia! À pergunta sobre onde está Deus, devemos
responder que Ele está no meio de nós. É isto que a Bíblia nos ensina. “A
Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Em Jesus Deus nos fala de
forma vibrante, total. São João da Cruz escreve; “Uma palavra disse o Pai, que
foi seu Filho; e di-la sempre no eterno silêncio e em silêncio ela há de ser
ouvida” ( cf. in Ditos de Amor e Luz n. 98).
Não há silêncio
de Deus a não ser para aqueles que não querem ouvir Jesus: “Este é meu filho
amado em quem encontro meu agrado: escutai-o” (Mt 17,5). Por aí se deduz que
não é Deus que não fala, ou não responde. Somos nós que não sabemos fazer o
necessário silêncio para ouvi-Lo. Ou nossa fé não é suficiente para fazer silêncio
e contemplar o mistério que nos envolve. Deus é tão grande que não o
compreendemos (cf. Jó, 36,26). O profeta Isaías deixa registrado: “...vós sois
um Deus escondido”(Is 45,15). Este ocultamento é glória para Deus! (cf. Pr
25,2).
Mas se Deus se
revelou plenamente em Jesus, como permanece este ocultamento? Ao ponto de São
Paulo escrever: “Quem és tu, ó homem, para pedires conta a Deus?” (Rm 9,20).
Aqui nos defrontamos com o mais profundo do mistério da Revelação que Deus faz
de si mesmo em Jesus Cristo: Deus se revela na fraqueza (cf. 2 Cr 12,7-10).
Grande parte da revolta contra Deus, e até mesmo da negação da existência de
Deus está no fato de que o modo e o local, no qual Deus quis se revelar não são
aceitos, embora sejam conhecidos. O que o mundo julga estulto Deus escolheu
para confundir os sábios...etc
A sabedoria de
Deus é infinita e se revelou na pobreza do modo e dos meios, com os quais se
deu a conhecer: de Belém até a cruz. Não é fácil fazer-se conhecer quando se é
Deus, pois, Ele não teria sido amado, mas adulado ou temido somente, se tivesse
feito de outro modo.
O mês da Bíblia
é um mês para nos recordar que a Palavra de Deus está aí para nos iluminar, a
fim de percebermos no dia a dia da vida o quanto Deus continua nos falando.
Sobretudo, a ensinar-nos que Deus escreve direito por linhas tortas. E que
precisamos nos tornar hábeis na leitura destas linhas tortas. “Conserva-te em
silêncio diante de Deus e espera Nele” (Sl 37,7). Esta é a resposta da fé, a
única que convém diante da Revelação amorosa que Deus nos faz.
Para
adentrar-nos no tesouro da Palavra, estão a nosso dispor tantos instrumentos
que neste mês queremos recordar a todos, principalmente a urgência da iniciação
à vida cristã e a animação bíblica da vida e da pastoral, propostas pelas
atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (Doc.
64/CNBB).
Dom Pedro Carlos
Cipollini - Bispo de Amparo (SP)
Fonte: a12.com
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