Areia e cal
- Pai, como se
consegue construir uma comunidade?
O monge
respondeu:
- É como
construir uma casa; pode utilizar pedras de todo tipo. O que vale mesmo é o
cimento, porque mantém unidas todas as pedras.
O jovem indagou:
- Mas, qual é o
cimento da comunidade?
O eremita
sorriu, baixou-se para recolher um punhado de areia e explicou:
- O cimento é
feito de areia e cal que são materiais muito frágeis. Basta um pouco de vento
que os leva embora. Da mesma forma, o que une a comunidade, o nosso cimento, é
feito por aquilo que existe demais frágil e pobre em cada um de nós. Conseguimos
viver juntos porque dependemos uns dos outros.
No terceiro
domingo de agosto, celebramos a solenidade da Assunção de Nossa Senhora ao céu
e também é o dia no qual lembramos as diversas vocações religiosas.
A Igreja nos
convida a contemplar Maria, Nossa Senhora, com um olhar de fé. Vale para ela,
antecipadamente, o que Jesus prometeu a todos aqueles que acreditarem nele
perseverarem até o fim: a ressurreição. Podemos dizer com outras palavras ainda
mais esclarecedoras: Maria é a primeira pessoa humana, como nós, a participar
da ressurreição por causa dos próprios merecimentos de Cristo. Ensina o
Concílio Vaticano II, 62: “(ela) Cuida com amor materno dos irmãos e irmãs de
seu Filho, que ainda caminham entre os perigos e as dificuldades desta terra,
até que alcancem a felicidade da pátria. Por isso, a Igreja invoca Nossa
Senhora como advogada, auxiliadora, perpétuo socorro e mediadora” (cf. LG 62).
Nós veneramos Maria pelo exemplo de fidelidade e obediência que nos deu
confiamos na sua materna intercessão junto a seu filho Jesus. É uma alegria
para nós saber de ter uma “mãe” protetora já no céu. A ela olhamos também para
não perder de vista a meta da nossa fé e da nossa esperança: a perpetua
felicidade na comunhão com o Pai.
Maria: modelo pleno de fidelidade, entrega e consagração |
Por isso, neste
domingo, lembramos e agradecemos pela vocação religiosa de tantos irmãos e
irmãs nas suas mais diversas expressões. Os três votos de pobreza, castidade e
obediência nos lembram da transitoriedade das coisas deste mundo e são um
constante convite a todos para confiar mais nos tesouros do céu, naquela
alegria e felicidade plena que somente o próprio Deus poderá nos oferecer.
Numa sociedade
que faz coincidir o bem-estardes pessoas com as riquezas materiais, os
religiosos escolhem a pobreza. Num mundo onde a sexualidade é reduzida a
simples prazer sem nenhum compromisso, os consagrados buscam viver a castidade
de corpo e de alma, acreditando na bem-aventurança dos puros de coração também
se, para muitos, isso parece coisa do passado. Enfim, os religiosos e as religiosas
se comprometem a viver em comunidades, pequenas ou numerosas, conforme os
diferentes serviços e trabalhos. Talvez seja esta a característica da vida
religiosa que hoje vale a pena salientar.
A busca da
satisfação pessoal é cada vez mais afirmada e defendida. Em nome do direito à
realização, ou à felicidade individual, ficam em segundo plano ou são
esquecidos o bem comum e as carências dos mais pobres e abandonados. Os
religiosos escolhem viver em comunidade para nos dar o testemunho que é
possível acolher o outro, o diferente de nós. Não porque a união aumente poder
e a força, mas para nos lembrar da riqueza de estar juntos. É possível aprender
a amar e a conviver com os outros, na condição de respeitá-los e de reconhecer
também as próprias carências. A autossuficiência e o orgulho nos conduzem ao
individualismo insensível e egoísta, a vida comunitária nos ensina a partilha e
a solidariedade.
A comunidade é,
na lida de cada dia, uma escola de humildade e de superação dos próprios
defeitos. Os religiosos e as religiosas não são “já” perfeitos. Simplesmente
confiam na força do amor, da comunhão e da fraternidade. Separados são fracos,
mas unidos são fortes. Como areia e o cal; quando são unidos se tornam cimento.
Dom Pedro José Conti - Bispode Macapá (AP)
Fonte: www.portalecclesia.com Ilustração: www.horizontefrancisclariano.blogspot.com.br
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