21º Domingo do Tempo Comum
“Fazei todo
esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque vos digo que muitos
tentarão entrar e não conseguirão”. As palavras de Jesus, neste domingo,
parecem ser muito duras, mas devem ser bem interpretadas. A primeira vista,
poderíamos considerar que Deus seja severo, que deseje a salvação de um número
de pequeno de escolhidos, já que o caminho para encontrá-lo é duro, estreito,
árduo. Na verdade, Deus não deseja a condenação de ninguém, quer que todos se
salvem. Jesus sugere que o banquete do Reino é para todos. Mas deseja que todos
abracem na liberdade, não pela obrigação, mas pelo desejo que move o coração
para o bem e para a felicidade. Não é raro o uso de palavras severas para impor
a moralidade dos costumes, pela massificação da ameaça. Pregações deste gênero
usam do medo como forma de coerção, afirmando que muitos serão condenados e que
o mundo está inundado no pecado. Mesmo diante da falta de valores cristãos na
sociedade, a nossa postura jamais deve ser de condenação, de imposição. A liberdade
é valor primordial a partir de onde se constrói a fé e a vivência cristã.
A porta estreita é a cruz de Jesus |
A porta estreita
do Reino é a cruz de Cristo. Jesus não nomeou nenhuma prática ou sinal exterior
como garantia. A porta estreita são as exigências do Reino, ou seja, aquilo que
nos dá a vida, a felicidade, a paz. Para se abraçar desde já este dom, faz-se
necessário a renuncia do poder, da mesquinhez, do orgulho, do prazer pelo
prazer, do julgamento, do coração apegado aos bens, da falta da misericórdia. A
porta estreita é a renuncia de si mesmo, em busca de uma vida que se transforma
em dom.
A porta estreita
é também o enfrentamento dos sofrimentos da vida. Deus não quer o sofrimento e
sempre lutou contra todo mal, mas não de modo mágico, e sim estando ao nosso
lado, contando com a nossa cooperação. Somos limitados, seres em construção a
caminho da comunhão divina e, por isso, ainda sofredores. A plenitude do Reino
ainda não se faz presente. O sofrimento tem também um lado positivo, pois
fortifica nossos passos vacilantes. A verdade trazida pela carta aos Hebreus é
o sentido pedagógico do sofrimento: crescemos a partir da dor, a partir das
perdas, quando compreendemos o quanto somos limitados, contingentes e que não
somos donos de nada. A dor, não buscada como fim, mas como dado natural da
existência nos edifica, faz-nos crescer. As dores da vida podem ser motivos de
ação de graças, se formos capazes de olhar a história com os olhos de Deus.
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Um ferreiro,
depois de uma juventude cheia de excessos, decidiu entregar sua alma a Deus.
Durante muitos anos trabalhou com afinco, praticou a caridade, mas, apesar de
toda a sua dedicação, nada parecia dar certo em sua vida. Muito pelo contrário:
seus problemas e dívidas acumulavam-se cada vez mais.
Uma bela tarde,
um amigo que o visitava - e que se compadecia de sua situação difícil -
comentou:
- É realmente
muito estranho que, justamente depois que você resolveu se tornar um homem
temente a Deus, sua vida começou a piorar. Eu não desejo enfraquecer sua fé,
mas, apesar de toda sua crença no mundo espiritual, nada tem melhorado.
O ferreiro não
respondeu imediatamente. Ele já havia pensado nisso muitas vezes, sem entender
o que acontecia em sua vida
Entretanto, como
não queria deixar o amigo sem resposta, começou a falar e terminou encontrando
a explicação que procurava
- Eu recebo
nesta oficina o aço ainda não trabalhado e preciso transformá-lo em espadas.
Você sabe como isso é feito?... Primeiro, eu aqueço a chapa de aço num calor
infernal, até que ela fique vermelha. Em seguida, sem qualquer piedade, eu pego
o martelo mais pesado, e aplico vários golpes, até que a peça adquira a forma
desejada. Logo, ela é mergulhada num balde de água fria e a oficina inteira se
enche com o vapor, enquanto a peça estala por causa da súbita mudança de
temperatura. Tenho que repetir este processo até conseguir a espada perfeita.
Uma vez apenas não é suficiente.
O ferreiro deu
uma longa pausa, e continuou
- Às vezes, o
aço que chega às minhas mãos não consegue aguentar este tratamento. O calor, as
marteladas e a água fria terminam por enchê-lo de rachaduras. E eu sei que
jamais se transformará numa boa lâmina de espada. Então, eu simplesmente o
coloco no monte de ferro velho que você viu na entrada da minha ferraria.
Mais uma pausa,
e o ferreiro concluíram:
- Sei que Deus
está me colocando no fogo das aflições. Tenho aceitado as marteladas que a vida
me dá e, às vezes, sinto-me tão frio e insensível como a água que faz sofrer o
aço. Mas a única coisa que peço é: "Meu Deus, não desista até que eu
consiga tomar a forma que o Senhor espera de mim. Tente da maneira que achar
melhor, pelo tempo que quiser, mas jamais me jogue no monte de ferro velho"...
Padre Roberto Nentwig
Fonte: www.catequeseebiblia.blogspot.com.br Ilustração: www.catolicoscomjesus.com
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