O
Evangelho de Marcos apresenta uma lógica muito clara sobre a missão de Jesus.
Na primeira metade do Evangelho, o Messias realiza milagres, o que impressiona
os seus apóstolos e a multidão; sua atividade é mais populista, o que atrai o
povo. De repente, Jesus toma uma nova atitude: anuncia que deve ir para
Jerusalém, para enfrentar a cruz. Acontece, então, uma reviravolta no modo de
proceder do Mestre, que agora irá dirigir sua pregação aos discípulos, a
multidão não mais se evidencia. Segue o seu caminho para Jerusalém, mostrando
aos seus discípulos o verdadeiro significado de seu messianismo.
Os
discípulos passam a não compreender as palavras de Jesus. Na verdade, a não
compreensão é uma decepção, uma incongruência entre o ensinamento de Jesus e as
expectativas dos discípulos. Certamente esperavam o messias da glória, do
milagre, das facilidades, do Reino imposto pela força, dos privilégios. Jesus,
por sua vez, mostra-se um professor insistente, repetindo três vezes a lição.
Já testemunhamos a primeira lição dada a Pedro, ao tentar impedir que Jesus
fizesse o seu caminho da cruz. Neste domingo, uma nova predição da paixão e uma
nova missão sobre o sentido do seu Reino é dada.
As
lições de Jesus são dadas em contraposição aos procedimentos dos discípulos. Se
na primeira lição houve a chamada de atenção a Simão (o tentador que queria
impedir os planos do Senhor), agora Jesus questiona os discípulos que desejam
ser os maiores no Reino. O Mestre ensina que no Reino não existe privilégios.
Faz uma reviravolta paradoxal: quem quiser ser o primeiro, que seja o último.
Em
nossa sociedade parece ser necessário o reconhecimento por algum mérito: ser o
mais bonito, o mais inteligente, o mais bem sucedido, o melhor funcionário. Por
que é necessário ser o melhor? É necessário provar algo para alguém? Nossos
limites nos levam aos fracassos, aos insucessos, o que não deve envergonhar
ninguém. Somos humanos e limitados.
Nossas
ambições podem existir, mas devem ter limites. O limite é o reconhecimento pelo
mero reconhecimento. O que fazemos de bom, além da busca de nossa autoestima,
precisa ser consequência do desejo da construção gratuita do bem no mundo. Já a
luta cega pelo primeiro lugar não tem espaço no Reino de Deus. O Evangelho
questiona as nossas relações humanas, conduzindo-nos a sermos movidos pela
misericórdia: reconhecer os fracos, os que parecem não tem ter nada a oferecer
e a não oprimir pelo abuso da autoridade.
Jesus
coloca uma criança na roda e pede para que recebam. Hoje as crianças ocupam
muitas vezes o centro da vida familiar, mas no tempo de Jesus, a criança era
desprezada, não tinha poder algum. A criança é, por isso, sinal da dependência,
pois necessita dos pais para tudo. O Senhor nos ensina que, para sermos grandes,
devemos ter a humildade de nos deixar conduzir; deste modo, não são nossos
egoísmos que devem nos conduzir, mas a luz do próprio Deus. Devemos ter a
coragem de deixar o nosso orgulho de lado e reconhecermos que precisamos de
Deus, que sozinhos não podemos fazer nada.
Na
segunda leitura, o apóstolo Tiago fala sobre os pedidos egoístas. Na mesma
linha do Evangelho, fica claro que não podemos ter a nossa disposição tudo o
que desejamos. Consequentemente, não é possível pedir qualquer coisa a Deus,
pois tudo o que pedirmos deve estar em consonância com a vontade do Pai. Deus
sabe sobre nossas necessidades, além disso, não nos priva de todas as aflições.
A melhor prece: “Senhor, faça-se a tua vontade, não a minha; coloco tudo em
tuas mãos!”
Padre Roberto Nentwig
Fonte: http://catequeseebiblia.blogspot.com.br
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