que a
Turquia esteja a serviço de uma paz justa e duradoura
Em seu primeiro
discurso em terras turcas, o Papa exortou as autoridades do país a valorizarem
a diversidade: "Uma sociedade só está viva se for plural". Leão XIV
enfatizou que os cristãos "pretendem contribuir positivamente para a
unidade de seu país". A propósito da contribuição feminina, disse que
"as mulheres se colocam cada vez mais a serviço do país e da sua positiva
influência no panorama internacional". Espera que "Turquia possa ser
um fator de estabilidade e aproximação entre os povos".
A primeira etapa da viagem do Santo Padre é a Turquia (Türkiye) por ocasião do aniversário de 1700 anos do Primeiro Concílio de Niceia. Leão XIV permanecerá no país até o próximo dia 30.
Em seu discurso às autoridades, aos representantes da sociedade civil
e ao Corpo Diplomático, no Palácio Presidencial, em Ancara, capital do
país, o Papa agradeceu a cordial acolhida e manifestou alegria de iniciar as
viagens apostólicas de seu pontificado a partir da Turquia, "uma vez que
esta terra está indissoluvelmente ligada às origens do cristianismo e hoje
convida os filhos de Abraão e toda a humanidade a uma fraternidade que
reconheça e valorize as diferenças".
| Leão XIV durante o seu discurso às autoridades turcas (ANSA) |
Um povo com uma
grande história
De acordo com o
Papa, a beleza natural da Turquia "nos convida a cuidar da criação de
Deus" e "a riqueza cultural, artística e espiritual dos lugares
onde" os turcos "vivem nos lembra que as grandes civilizações tomam
forma no encontro entre gerações, tradições e ideias diferentes, nas quais o
desenvolvimento e a sabedoria se unem".
“É verdade que o nosso mundo está marcado por séculos de conflitos e que, à nossa volta, ele continua sendo desestabilizado por ambições e decisões que espezinham a justiça e a paz. No entanto, diante dos desafios que nos interpelam, ser um povo com uma grande história representa um dom e uma responsabilidade.”
A seguir, o Papa Leão disse às autoridades que "a imagem da ponte sobre o Estreito de Dardanelos, escolhida como símbolo" de sua "viagem, expressa com eficácia o papel especial de seu país". "Vocês têm um lugar importante no presente e no futuro do Mediterrâneo e do mundo inteiro, ao valorizar, antes de tudo, as suas diversidades internas". "Antes de unir a Ásia e a Europa, o Oriente e o Ocidente, essa ponte liga a Turquia a si mesma, compõe as suas partes e, assim, torna-a, de algum modo, a partir de dentro, um ponto de encontro de sensibilidades, cuja homogeneização representaria um empobrecimento. Com efeito, uma sociedade só está viva se for plural: são as pontes entre as suas diferentes almas que a tornam uma sociedade civil. Hoje em dia, as comunidades humanas estão cada vez mais polarizadas e dilaceradas por posições extremas, que as fragmentam", sublinhou o Pontífice.
A contribuição
dos cristãos
“Desejo assegurar que pretendem contribuir positivamente para a unidade de seu país também os cristãos, que são e se sentem parte da identidade turca, tão apreciada por São João XXIII, recordado por vocês como o “Papa turco” pela profunda amizade que sempre o ligou ao seu povo.”
Leão XIV
recordou que João XIII "foi Administrador do Vicariato Latino de Istambul
e Delegado Apostólico na Turquia e na Grécia de 1935 a 1945". Ele
"comprometeu-se intensamente para que os católicos não se distanciassem da
construção de sua nova República", inspirando "uma lógica mais
verdadeira e evangélica, que o Papa Francisco definiu como a 'cultura do
encontro'".
O Papa recordou
que do coração do Mediterrâneo, o seu "predecessor contrapôs à
'globalização da indiferença' o convite a sentir a dor dos outros, a ouvir o
clamor dos pobres e da terra". "A imagem da grande ponte também ajuda
neste sentido. Ao revelar-se, Deus estabeleceu uma ponte entre o céu e a terra:
o fez para que o nosso coração mudasse, tornando-se semelhante ao seu. É uma
ponte suspensa, grandiosa, que quase desafia as leis da física: assim é o amor,
que, além da dimensão íntima e privada, tem também a dimensão visível e
pública", sublinhou.
| Leão XIV durante o encontro com autoridades turcas (ANSA) |
Honrar a
dignidade e a liberdade de todos
“A justiça e a misericórdia desafiam a lei do mais forte e ousam pleitear que a compaixão e a solidariedade sejam consideradas critérios de desenvolvimento. Por isso, numa sociedade como a turca, onde a religião desempenha um papel visível, é fundamental honrar a dignidade e a liberdade de todos os filhos de Deus: homens e mulheres, compatriotas e estrangeiros, pobres e ricos. Todos somos filhos de Deus e isso tem consequências pessoais, sociais e políticas.”
"Quem tem
um coração dócil à vontade de Deus, promoverá sempre o bem comum e o respeito
por todos", disse ainda Leão XIV, recordando que "atualmente, esse é
um grande desafio, que deve remodelar as políticas locais e as relações
internacionais, especialmente diante de uma evolução tecnológica que, caso
contrário, poderia acentuar as injustiças, em vez de contribuir para superá-las".
A importância na
família na cultura turca
“Na verdade, até mesmo as inteligências artificiais reproduzem as nossas preferências e aceleram os processos que, bem-vistos, não foram iniciados pelas máquinas, mas pela humanidade. Por isso, trabalhemos juntos para modificar a trajetória do desenvolvimento e para reparar os danos já causados à unidade da família humana.”
A propósito da
"família humana", o Pontífice sublinhou que "a família mantém
uma grande importância na cultura turca e não faltam iniciativas para apoiar a
sua centralidade. Na verdade, é no seu interior que amadurecem atitudes
essenciais para a convivência civil e uma primeira e fundamental sensibilidade
para com o bem comum. No entanto, não é a partir de uma cultura individualista,
nem do desprezo pelo matrimônio e pela fecundidade, que as pessoas podem obter
maiores oportunidades de vida e felicidade".
| Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, discursa no encontro do Papa com as autoridades (@Vatican Media) |
A contribuição
feminina na vida social
De acordo com o
Papa, "na vida familiar, o valor do amor conjugal e a contribuição
feminina emergem de forma muito específica".
“As mulheres, em particular, também através do estudo e da participação ativa na vida profissional, cultural e política, colocam-se cada vez mais a serviço do país e da sua positiva influência no panorama internacional. Assim, são muito apreciáveis as importantes iniciativas nesse sentido, em apoio à família e à contribuição feminina para o pleno florescimento da vida social.”
1700 anos do
Concílio de Niceia, encontro e diálogo
A seguir, Leão
XIV fez votos de que "a Turquia possa ser um fator de estabilidade e
aproximação entre os povos, a serviço de uma paz justa e duradoura".
Lembrou a visita à Turquia de quatro Papas – Paulo VI, em 1967; João Paulo II,
em 1979; Bento XVI, em 2006; e Francisco, em 2014. Isso "atesta que a
Santa Sé não só mantém boas relações com a República da Turquia, mas deseja
cooperar na construção de um mundo melhor com a contribuição deste país, que
constitui uma ponte entre o Oriente e o Ocidente, entre a Ásia e a Europa, e um
ponto de confluência de culturas e religiões". "A própria ocasião
desta viagem – o aniversário dos 1700 anos do Concílio de Nicéia –,
assim como a recordação de que os primeiros oito concílios ecumênicos foram
realizados nas terras da atual Turquia, fala-nos de encontro e diálogo",
sublinhou.
“Hoje, mais do que nunca, precisamos de pessoas que promovam o diálogo e o pratiquem com firmeza e paciência. Depois da época da construção das grandes organizações internacionais, que se seguiu às tragédias das duas guerras mundiais, estamos atravessando uma fase de grande conflito a nível global, em que prevalecem estratégias de poder econômico e militar, alimentando o que o Papa Francisco chamou de "terceira guerra mundial em pedaços".”
| Leão XIV durante o encontro com autoridades turcas (ANSA) |
Enfrentar unidos
os desafios
"Não
devemos ceder de forma alguma a esta tendência", disse ainda o Papa,
ressaltando que "está em jogo o futuro da humanidade" e que a família
humana precisa enfrentar unida os desafios como "a paz, a luta contra a
fome e a miséria, e também pela saúde, educação e salvaguarda da criação".
"A Santa
Sé, com a sua única força, que é espiritual e moral, deseja cooperar com todas
as Nações que têm como objetivo o desenvolvimento integral de cada homem e de
todos os homens e mulheres", concluiu o Papa Leão.
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