Leitura do livro de Ezequiel
Naqueles dias, o homem fez-me voltar até a entrada do templo, e eis que saía água da sua parte subterrânea na direção leste, porque o templo estava voltado para o oriente; a água corria do lado direito do templo, a sul do altar. Ele fez-me sair pela porta que dá para o norte e fez-me dar uma volta por fora até a porta que dá para o leste, onde eu vi a água jorrando do lado direito. Então ele me disse: “Estas águas correm para a região oriental, descem para o vale do Jordão, desembocam nas águas salgadas do mar, e elas se tornarão saudáveis. Aonde o rio chegar, todos os animais que ali se movem poderão viver. Haverá peixes em quantidade, pois ali desembocam as águas que trazem saúde; e haverá vida aonde chegar o rio. Nas margens junto ao rio, de ambos os lados, crescerá toda espécie de árvores frutíferas; suas folhas não murcharão, e seus frutos jamais se acabarão: cada mês darão novos frutos, pois as águas que banham as árvores saem do santuário. Seus frutos servirão de alimento, e suas folhas serão remédio”.
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Responsório: Sl 45(46)
- Os braços de um rio vêm trazer alegria / à cidade de Deus, à morada do Altíssimo.
- Os braços de um rio vêm trazer alegria / à cidade de Deus, à morada do Altíssimo.
1. O Senhor para nós é refúgio e vigor, / sempre pronto, mostrou-se um socorro na angústia; / assim não tememos se a terra estremece, / se os montes desabam, caindo nos mares.
2. Os braços de um rio vêm trazer alegria / à cidade de Deus, à morada do Altíssimo. / Quem a pode abalar? Deus está no seu meio! / Já bem antes da aurora, ele vem ajudá-la.
3. Conosco está o Senhor do universo! / O nosso refúgio é o Deus de Jacó! / Vinde ver, contemplai os prodígios de Deus † e a obra estupenda que fez no universo: / reprime as guerras na face da terra.
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2ª Leitura: 1Cor 3,9-11.16-17
Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios
Irmãos, vós sois lavoura de Deus, construção de Deus. Segundo a graça que Deus me deu, eu coloquei – como experiente mestre de obra – o alicerce, sobre o qual outros se põem a construir. Mas cada qual veja bem como está construindo. De fato, ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que está aí, já colocado: Jesus Cristo. Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, pois o santuário de Deus é santo, e vós sois esse santuário.
Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. No templo, encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados. Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. E disse aos que vendiam pombas: “Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!” Seus discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: “O zelo por tua casa me consumirá”. Então os judeus perguntaram a Jesus: “Que sinal nos mostras para agir assim?” Ele respondeu: “Destruí este templo, e em três dias o levantarei”. Os judeus disseram: “Quarenta e seis anos foram precisos para a construção deste santuário, e tu o levantarás em três dias?” Mas Jesus estava falando do templo do seu corpo. Quando Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra dele.
Consagração da Basílica do Latrão
Na festa da dedicação da basílica do Latrão, em Roma, celebram-se, de fato, as catedrais de todas as dioceses do mundo. A basílica do Latrão foi a primeira catedral do mundo. Igreja catedral é a Igreja do bispo do lugar. A igreja dedicada a S. João Batista e a S. João Evangelista, no morro do Latrão, em Roma, foi durante muito tempo a igreja do bispo de Roma, o papa. E como o papa exerce a “presidência da caridade” entre os bispos do mundo inteiro, a igreja catedral do Latrão simboliza todas as dioceses.
Mas o que se celebra não são templos de pedra e sim os templos do Espírito, as comunidades dos fiéis. A liturgia de hoje se refere continuamente ao templo de pedras vivas, que são as comunidades cristãs, e ao templo que é o corpo de Cristo, ressuscitado, que substitui o templo do antigo Israel.
O evangelho deixa isso bem claro. Conforme Jo, já no início de sua atuação pública, Jesus chega a Jerusalém por ocasião de uma romaria pascal e expulsa do templo não só os abusos (como descrevem os outros evangelistas, Mt 21,12-13 par.), mas os próprios animais do sacrifício. Em outros termos: expulso o culto do templo. E quando as autoridades lhe pedem um sinal profético que possa respaldar tal gesto inimaginável, Jesus aponta o sinal que só depois (2,22) os discípulos vão conhecer: o sinal de sua ressurreição. O templo antigo pode ser destruído (como de fato ele foi, em 70 d.C., alguns anos antes de João escrever seu evangelho), mas Jesus “fará ressurgir” um novo templo em três dias: o templo de seu corpo, de sua pessoa. Jesus é templo, santuário, lugar de culto a Deus, de encontro com Deus. Nele, a Palavra de Deus armou tenda entre nós (Jo 1,14). Nele também é oferecido a Deus o único culto da nova Aliança, o dom da própria vida por amor.
Ora, ao templo que é Jesus associa-se o templo de pedras vivas que é a comunidade. A 1ª carta de Pedro apresenta uma bela homilia pascal, para os novos batizados, neste sentido. Eles devem se aproximar (termo do culto) da pedra rejeitada, Cristo, que pela ressurreição se tornou pedra angular, alicerce (cf. a “primeira pedra” de uma igreja). Eles são assim o edifício “espiritual” (= constituído pelo espírito, a força ativa de Deus, que ressuscitou também Jesus). E nessa comunidade é que se oferece o “sacrifício espiritual” (= promovido pelo Espírito de Deus), que é a prática da vida cristã (ler 1Pd 2,4-10 e Rm 12,1). Paulo (2ª leitura) usa uma imagem semelhante, ao falar de seu trabalho de fundação da igreja de Corinto. A comunidade é construção de Deus, morada do Espírito. O alicerce, posto pelo próprio Paulo, é Cristo. Adiante, ao proscrever a imoralidade sexual, ele aplica essa mesma imagem ao comportamento pessoal dos fiéis (1Cor 6,19).
A abertura dessas imagens é fornecida pela “utopia de Ezequiel”, na qual aparece a descrição do novo templo, a ser construído quando os exilados da Babilônia voltarem à Judéia (1ª leitura). Ezequiel vê a fonte do templo (o riacho do Gion) como um rio caudaloso que saneia as águas e as margens e até o Mar Morto… Um símbolo da salvação que deve fluir do novo templo. Pela “lógica da liturgia”, isso se aplica a Cristo e à sua comunidade (cf. Jo 7,37-39). A comunidade de Jesus deve ser a edificação de Deus da qual sai a água salvadora para a humanidade.
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PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.

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