A morte não existe mais
Quando a morte
procurou por nós, a Igreja lhe apresentou o Cristo e disse: “Ele vive” e nós
também viveremos.
Não é bravura
indômita nem grito de guerra, é herança recebida na madrugada de um Domingo
longínquo no qual a morte tentou a última palavra, mas a Palavra já havia sido
dada, porque é eterna.
Ela, a Palavra,
atravessou o tempo e ancorou no coração de Jó que brandou: “Eu sei que o meu
redentor está vivo”, forjando uma memória indelével que se dissiparia pelas
pradarias do mundo.
Isaías, também
contemplou o monte onde Deus prepara um banquete. Entre taças de vinho e pão
partido em festa, ouviu-se a notícia que todos esperavam: “O Senhor Deus
eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces”. É
uma imagem de vitória e de consolo. A morte, que sempre tragou, foi tragada. O
pranto, que sempre correu, foi recolhido; e, onde a morte reinava, é outro que
reina agora.
No peso dos
dias, Paulo viu no campo da história um movimento decisivo e observou que o
primeiro feixe de trigo erguido ao sol pode ser chamado de primícias. E, se o
primeiro trigo se levanta, o campo inteiro o seguirá. A ressurreição não é fato
isolado, mas é a lei nova que entrou no tempo.
Desde a
madrugada do túmulo vazio, o tempo tem outro ingrediente. A pedra rolou para
dar forma à linguagem, para iniciar uma memória e reengendrar o mundo. O que
parecia fim concluiu-se como passagem. O que chamávamos último tornou-se
prólogo, e nossas casas, praças e cemitérios abriram-se para o evento da
Páscoa.
Cristo reina com
autoridade que levanta, e seu reinar aprumou as coisas. A ferida encontrou
cura; a culpa, o perdão; a noite, o amanhecer. Um a um, os antigos inimigos da
humanidade vão perdendo. Por último, a morte também perdeu. O Filho devolveu
tudo às mãos do Pai, e o mundo voltou a respirar como no primeiro dia. E,
quando Deus for tudo em todos, não haverá sobra de silêncio para a morte se
esconder.
Jesus é o Amigo
que chegou na escuridão e encontrou muitas janelas vigilantes. Não vigia quem
desconfia; vigia quem ama. E o amor sabe ouvir de longe o passo de quem vem e
quando a claridade da aproximação crescer na borda do céu, a lâmpada e a aurora
se tornam uma coisa só no dia novo.
Entre essas
imagens caminha um povo de lamparinas erguidas, vigiando sem cansaço, porque
sabe que o Esposo vem. E quando Ele chegar, tudo o que era pesado será leve, e
tudo o que era breve vai durar.
A morte não
existe mais. Permanece, é verdade, a sua sombra comprida nos vales da
precariedade. Mas quem atravessou a Páscoa sabe que sombra não tem substância;
é só sinal de luz. Se ainda choramos, é porque o riso precisa nascer inteiro. E
nascerá.
Já começou!
Começou naquela manhã em que o jardim foi a primeira igreja, e o nome
pronunciado pela voz do Ressuscitado devolveu Maria Madalena ao tempo.
Quando a porta do último dia se abrir “Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros”, como profetizou Jó. Não verei a morte, verei o Vivente. E, vendo-O, entenderei sem palavras que, desde sempre, era isso que o meu coração buscava quando chamava de morte aquilo que era esperança. Agora eu caminho leve, como quem sabe o caminho!
Dom Lindomar Rocha Mota - Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
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