Como despertar?
José Antonio Pagola
Jesus o repetiu constantemente: “Estai sempre despertos”. Ele temia que o fogo inicial apagasse e seus seguidores dormissem. Esse é o nosso grande risco: instalar-nos comodamente em nossas crenças, “acostumar-nos” ao Evangelho e viver adormecidos na observância tranquila de uma religião apagada. Como despertar?
O primeiro a fazer é voltar a Jesus e sintonizar com a experiência primeira que tudo desencadeou. Não basta instalar-nos “corretamente” na tradição. Temos que enraizar nossa fé na pessoa de Jesus, voltar a nascer de seu espírito. Não há nada mais importante que isto na Igreja. Só Jesus pode conduzir-nos de novo ao essencial.
Além disso, precisamos reavivar a experiência de Deus. O essencial do Evangelho não se aprende de fora, mas cada um o descobre em seu interior como Boa Notícia de Deus. Devemos aprender e ensinar caminhos para encontrar-nos com Deus. De pouco adianta desenvolver temas didáticos de religião ou continuar discutindo sobre questões de “moral sexual” se não despertamos em nada o gosto por um Deus amigo, fonte de vida digna e feliz.
Mais ainda. A chave a partir da qual Jesus vivia a Deus e olhava a vida inteira não era o pecado, a moral ou a lei, mas o sofrimento das pessoas. Jesus não só amava os desgraçados, mas nada amava mais ou acima deles. Não estamos seguindo corretamente os passos de Jesus, se vivemos mais preocupados com a religião do que com o sofrimento das pessoas. Nada despertará a Igreja de sua rotina, imobilismo ou mediocridade, se não nos comove mais a fome, a humilhação e o sofrimento das pessoas.
Para Jesus, o importante é sempre a vida digna e feliz das pessoas. Por isso, se nosso “cristianismo” não serve para fazer viver e crescer, não serve para o essencial, por mais nomes piedosos e veneráveis com que o queiramos designar. Não temos que olhar os outros. Cada um de nós deve sacudir-se da indiferença, da rotina e da passividade que nos fazem viver adormecidos.
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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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