“A lógica da pequenez é a verdadeira força da Igreja”
Durante o encontro com bispos, sacerdotes, religiosos e agentes pastorais em Istambul, na manhã desta sexta-feira (28/11), Leão XIV recorda as profundas raízes cristãs da região e encoraja a pequena comunidade católica do país a cultivar esperança, serviço e renovada missão.
No início do segundo dia de sua Viagem Apostólica à Türkiye (Turquia), o Papa Leão XIV reuniu-se, nesta sexta-feira, 28 de novembro, com bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e agentes pastorais na Catedral do Espírito Santo, em Istambul. Participaram do encontro cerca de 800 pessoas, entre fiéis reunidos dentro e fora da igreja.
“Agradeço ao Senhor que me permite, na minha primeira Viagem Apostólica, visitar esta ‘terra santa’ que é a Turquia, onde a história do povo de Israel se encontra com o cristianismo nascente, o Antigo e o Novo Testamento se abraçam, e se escrevem as páginas de numerosos Concílios.”
Após ser acolhido com muita alegria pelos fiéis, o Pontífice, em seu discurso, evocou a densidade histórica da fé neste território, lembrando que aqui “o povo de Israel se encontra com o cristianismo nascente” e que, desde Abraão até os Apóstolos, esta terra viu surgir algumas das páginas mais decisivas da história da salvação. A memória desses acontecimentos, porém, não deve ser mero orgulho arqueológico — exortou o Papa — mas inspiração viva para o presente.
A força que nasce do pequeno
Ao falar da identidade e da missão da Igreja no país, o Papa destacou um critério evangélico que define o verdadeiro modo de Deus agir ao longo da história:
“A lógica da pequenez é a verdadeira força da Igreja. Efetivamente, esta não reside nos seus recursos e nas suas estruturas, nem os frutos da missão da Igreja derivam do consenso numérico, poder econômico ou relevância social. Em vez disso, ela vive da luz do Cordeiro […] e é novamente chamada a sempre confiar na promessa do Senhor: ‘Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino’.”
Leão XIV reconheceu que a comunidade católica na Turquia é numericamente pequena, mas insistiu que ela permanece “fecunda como semente e fermento do Reino”. Por isso, convidou todos a testemunhar o Evangelho com “alegria e esperança confiante”, observando que já hoje surgem sinais promissores, como o crescente número de jovens que procuram a Igreja com perguntas e inquietações espirituais.
Prioridades pastorais
O Santo Padre indicou âmbitos fundamentais para a missão da Igreja na Turquia: o diálogo ecumênico e inter-religioso, a transmissão da fé à população local e o serviço pastoral aos refugiados e migrantes. Ao mesmo tempo, encorajou a perseverança no trabalho catequético, especialmente no acompanhamento dos muitos jovens que procuram a Igreja com perguntas e inquietações, sinal promissor que exige escuta e criatividade missionária.
Sobre a pastoral relacionada aos migrantes e refugiados, o Papa destacou que a presença muito significativa de pessoas deslocadas no país interpela diretamente a comunidade católica, chamada “a acolher e servir aqueles que estão entre os mais vulneráveis”. Recordou ainda que muitos agentes pastorais vêm de outras nações, o que torna essencial o esforço “especial e decidido de inculturação”, para que a fé seja comunicada de modo enraizado na língua, nos costumes e na sensibilidade do povo turco. Essa inculturação, afirmou, é condição para um anúncio verdadeiramente fecundo do Evangelho.
Niceia e os desafios teológicos de hoje
Por ocasião dos 1700 anos do Primeiro Concílio de Niceia, celebrado em território turco, o Papa apontou três desafios atuais para a Igreja universal. O primeiro é a necessidade de redescobrir a essência da fé cristã em torno do Credo, “bússola” que orienta discernimentos e preserva a unidade. O segundo, combater o que chamou de um “novo arianismo”, quando Jesus é admirado apenas como figura histórica, mas não reconhecido plenamente como Filho de Deus:
“Niceia lembra-nos: Cristo Jesus não é uma figura do passado, é o Filho de Deus que está no meio de nós, que guia a história para o futuro que Deus nos prometeu.”
O terceiro desafio diz respeito ao desenvolvimento da doutrina, que — explicou — cresce como um organismo vivo, mantendo a verdade essencial da fé ao mesmo tempo em que aprofunda sua forma de expressão.
Intercessão de Maria Santíssima, Theotokos
Antes de encerrar, o Papa recordou a figura querida de São João XXIII, que serviu na Turquia e demonstrou profundo afeto pelo país e seu povo. Inspirado por esse exemplo, o Papa exortou a Igreja local a manter viva a alegria:
“Desejo que sejam animados por esta paixão, que conservem a alegria da fé, que trabalhem como pescadores intrépidos no barco do Senhor. Que Maria Santíssima, a Theotokos, interceda por vocês e os proteja”, concluiu Leão XIV.
Assista:
Thulio Fonseca - Vatican News
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Leão XIV:“A reconciliação é hoje um apelo que vem da inteira humanidade afligida por conflitos e violência. O desejo de plena comunhão entre todos os que creem em Jesus Cristo é sempre acompanhado pela busca da fraternidade entre todos os seres humanos”, disse o Santo Padre no Encontro ecumênico de oração em Iznik - antiga Niceia -, ponto alto desta visita do Santo Padre à Turquia, por ocasião dos 1.700 anos do Primeiro Concílio de Niceia.
Na tarde desta
sexta-feira, 28 de novembro, segundo dia da visita do Papa à Turquia (Türkiye),
o Santo Padre deslocou-se de Istambul para Iznik - antiga Niceia -, situada a
130km de Istambul, para o Encontro ecumênico de oração, ponto alto da primeira
etapa desta Viagem Apostólica Internacional de Leão XIV, por ocasião dos 1.700
anos do Primeiro Concílio de Niceia. Na cidade onde convergem história e fé,
nas proximidades das escavações arqueológicas da antiga Basílica de São
Neófito, o Bispo de Roma encontrou-se com o patriarca ecumênico Bartolomeu I,
metropolitas e vários líderes religiosos, Chefes das Igrejas e Representantes
das Comunhões Cristãs mundiais para um momento ecumênico de oração e recitaram
juntos o Credo Niceno-Constantinopolitano.
No discurso que
dirigiu aos presentes no local onde foi celebrado o Concílio que proclamou a
divindade de Cristo, Leão XIV foi direto ao ponto, evidenciando o que estava em
jogo em Niceia e está em jogo hoje: a fé no Deus que, em Jesus Cristo, se fez
como nós para nos tornar “participantes da natureza divina”.
Superar o
escândalo das divisões
Esta confissão
de fé cristológica é de fundamental importância no caminho que os cristãos
estão percorrendo rumo à plena comunhão: ela é partilhada, efetivamente, por
todas as Igrejas e Comunidades cristãs no mundo, inclusive aquelas que, por
várias razões, não utilizam o Credo Niceno-Constantinopolitano nas suas
liturgias.
Com efeito,
prosseguiu o Santo Padre, a fé “em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho unigênito
de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos […] consubstancial ao Pai”
(Credo Niceno) é um vínculo profundo que já une todos os cristãos. Nesse
sentido, para citar Santo Agostinho, também no âmbito ecumênico, acrescentou,
podemos dizer que “embora nós, cristãos, sejamos muitos, no único Cristo somos
um”. Partindo da consciência de que já nos encontramos unidos por este vínculo
profundo – através de um caminho de adesão cada vez mais total à Palavra de
Deus revelada em Jesus Cristo e sob a direção do Espírito Santo, no amor
recíproco e no diálogo – somos todos convidados a superar o escândalo das
divisões infelizmente ainda existentes e a alimentar o anseio em busca da
unidade, pela qual o Senhor Jesus orou e deu a sua vida.
A reconciliação,
um apelo que vem da inteira humanidade
“Quanto mais nós
cristãos estivermos reconciliados - ressaltou o Pontífice -, tanto mais
poderemos dar um testemunho crível do Evangelho de Jesus Cristo, que é anúncio
de esperança para todos, mensagem de paz e de fraternidade universal que
ultrapassa as fronteiras das nossas comunidades e nações”.
A reconciliação
é hoje um apelo que vem da inteira humanidade afligida por conflitos e
violência. O desejo de plena comunhão entre todos os que creem em Jesus Cristo
é sempre acompanhado pela busca da fraternidade entre todos os seres humanos.
No Credo Niceno professamos a nossa fé “em um só Deus, Pai todo-poderoso”; no
entanto, não seria possível invocar Deus como Pai se recusássemos reconhecer os
outros homens e mulheres como irmãos e irmãs, também eles criados à imagem de
Deus.
Rejeitar uso da
religião para justificar a guerra e a violência
Leão XIV
prosseguiu afirmando que existe uma fraternidade e sororidade universal, que
não depende da etnia, nacionalidade, religião ou opinião. Por sua natureza, as
religiões são depositárias desta verdade e deveriam encorajar as pessoas, os
grupos humanos e os povos a reconhecê-la e a praticá-la.
“O uso da religião para justificar a guerra e a violência, assim como qualquer forma de fundamentalismo e fanatismo, deve ser rejeitado com veemência, enquanto os caminhos a seguir são os do encontro fraterno, do diálogo e da colaboração.”
Por fim, o Papa
disse estar profundamente grato ao patriarca Bartolomeu, que, com grande
sabedoria e visão, decidiu comemorar conjuntamente o 1.700º aniversário do
Concílio de Niceia precisamente no local onde foi celebrado; e agradeceu
calorosamente aos Chefes das Igrejas e aos Representantes das Comunhões Cristãs
mundiais que aceitaram o convite para participar neste evento. “Que Deus Pai,
todo-poderoso e misericordioso, ouça a fervorosa oração que hoje lhe dirigimos
e conceda que este importante aniversário traga frutos abundantes de
reconciliação, unidade e paz”, concluiu.
Raimundo de Lima – Vatican News
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