A potencialidade da oração
Rezar é um ato normal
porque há no ser humano uma abertura congênita para com Deus, a “abertura
transcendental”. Rezar é uma atitude de justiça da criatura para com o seu
Criador. “É nosso dever dar graças ao Senhor”. Por outro lado, rezar é um ato
de justiça com nossa dimensão espiritual, nossa alma. Sem oração sofremos de
anemia e atrofia espiritual. Nossas potencialidades humanas estagnam. A oração
tem o poder de restaurar nossas forças e esperanças, de recuperar nossa vida e
de sustentar nossa relação com Deus e com os outros.
A oração é um bem incomparável porque nos abre os
caminhos da justiça, da modéstia, da humildade. Só quem é auto suficiente não
reza e com isso é uma pessoa que corre sérios riscos. A oração faz de nós
pessoas saudáveis, sábias, servidores, pois, Deus pode trabalhar em nós,
modelando nossas vidas, ordenando nossos afetos, apontando soluções, abrindo
horizontes.
Pela oração vemos o Invisível, alcançamos o
impossível, transformamos o amargo em doce, as feridas em bênçãos, a fraqueza
em força. Pela oração recuperamos o paraíso perdido e o deserto se torna
jardim. Num mundo de ilusões, agitação, barulho, vazio e golpes existenciais a
oração é terapia, é remédio, livrando-nos do stress, da solidão, da devassidão,
da embriaguez e das preocupações. Saímos do lodo existencial e nossos pés tocam
a rocha firme.
Perguntemos aos grandes homens e mulheres da Bíblia,
perguntemos aos mártires, aos missionários, aos profetas e aos santos o que fez
a oração em suas vidas. Todos eles confessam que a oração lhes deu coragem, fortaleza,
inspirações. Eles encontraram a escola da oração, permaneceram neste combate
perseverante que tanto os humanizou e santificou.
A experiência da oração faz vair nossas cadeias e
escravidões. Assim falam os doentes nos hospitais, os detentos nas prisões, os
dependentes químicos nas comunidades terapêuticas. Todas estas pessoas são
testemunhas da oração, que torna possível
o impossível. A oração consiste em “contar mais com a graça que a ciência, mais
o desejo que a inteligência, mais a fé que o livro, mais o esposo que o
professor, mais Deus que o homem, mais o fogo que a luz” (S. Boaventura).
A oração silencia nossas preocupações, nossas
paixões e nossas fantasias. Ela nos torna homens e mulheres criativos,
entusiasmados. Por falta de oração perdemos a força interior e o élan
missionário, pior, deixamos a fonte de água limpa para beber em fontes
poluídas. Por negligência na oração criamos ídolos e “deuses falsos” buscamos
alivio no barulho, no álcool, no sexo, nas drogas, no dinheiro. São apenas
sedativos que aumentam nossa sede e nos afogam.
A oração cristã é sintonia com Deus e compaixão com
o irmão. Os evangelhos mostram vinte e seis textos onde Jesus está rezando. Se
quisermos filhos corretos e família unida, a receita é a oração. Do contrário,
caímos na lógica de Marta (Lc 10) que se tornou escrava das preocupações, do
ativismo, do endeusamento do trabalho, do nervosismo e tensão existencial, da
inversão de valores. Marta chegou a corrigir Jesus e querer que Maria seguisse
sua lógica.
Para Santa Terezinha a oração é a alavanca que move
o mundo, para Santa Teresa de Ávila, a oração é estar com Aquele que nos ama. Pascal,
Gandhi, V. Frankl, Alexis Carrel são “cientistas da oração”. Todos os
convertidos ao cristianismo foram tocados, curados, iluminados pela oração. Sem
dúvida, a oração ordena a vida, humaniza as pessoas, revela o rosto e o coração
de Deus, transforma os corações e a realidade, cura as feridas, traz alegria,
esperança e paz.
Não basta o estudo, é preciso a unção. Não basta a
reflexão é necessária a devoção. Não é suficiente a investigação precisamos da
admiração. Ninguém se realiza só com a atividade, é preciso a piedade. Não
vivemos só da pesquisa mas da graça e do mistério. Não basta o dever, é preciso
a alegria. Eis as potencialidades da oração.
Dom Orlando Brandes - Arcebispo de Londrina - PR
Fonte: Site da Arquidiocese de Londrina
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