Jesus nos chama
Caminhava Jesus à beira do mar da Galiléia quando
avistou dois pescadores que lançavam suas redes ao mar. Eram Pedro e seu irmão
André. Ao ouvirem o chamado de Jesus, largaram as redes e, curiosos, o
seguiram. Outra vez, cercado de várias pessoas, ele avistou Levi (Mateus), que
era cobrador de impostos para o Império Romano e muito antipatizado pelos
judeus. Provavelmente, os olhos de ambos se encontraram. Jesus com sua doce
energia, Levi com sua perplexidade. O convite foi incisivo e curto: “‘Segue-me!’.
Ele se levantou e o seguiu” (Mc 2,14). Assim foram sendo chamados os doze aos
quais caberia a tarefa de anunciar a “Boa-Nova”.
Cabe-nos uma pergunta: seriam eles melhores que os
outros que viviam naquela época? Por que teriam sido escolhidos? A resposta
está na gratuidade da graça que Deus concede a alguns. “Chamou a si os que
quis, e eles foram ter com ele” (Mc 3,13). Embora Deus conceda a alguns graças
especiais, a cada pessoa ele concede todas as graças necessárias para a
salvação.
Os discípulos atenderam ao convite
sem perguntas, sem reservas, sem impor condições e sem perceberem que estavam
colocando-se à disposição do Filho de Deus, que passaria a assumir o papel
central em suas existências. A partir daquele momento, suas vidas jamais seriam
as mesmas. Certamente, não avaliavam que eles seriam os primeiros membros da
Igreja nascente e participantes da missão salvífica do Cristo.
Atenderam
prontamente, contam-nos os evangelhos. Mas no final da caminhada havia uma
cruz, e nela estaria preso o corpo daquele que eles seguiam. Confusos e
amedrontados, eles se acovardaram: Pedro, que ouvira de Jesus “Tu és pedra, e
sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18), ao assistir à prisão do
Mestre, tirou a espada e, num rompante, arrancou a orelha do soldado Malco.
Momentos depois, temendo simples empregados que se encontravam do lado de fora
de onde Jesus estava sendo julgado, negou por três vezes que o conhecia.
A escolha desses discípulos, tão
parecidos conosco em nossas fraquezas, enche-nos de esperança.
Quando já não havia mais o Filho de
Deus para orientá-los, eles receberam o Espírito Santo, o Santificador, que
lhes infundiu a sabedoria suficiente para a divulgação da palavra do Cristo e a
coragem indispensável para dar testemunho dos fatos até com a própria vida.
O chamado do Senhor continua a ter
um caráter decisivo e gratuito, sendo, sempre, uma iniciativa divina que aguarda
a correspondência humana. “Não fostes vós que me escolhestes”, diria mais
tarde, “mas fui eu que vos escolhi.” Há uma frase que se tornou conhecida: “O
Senhor não escolhe os capacitados, mas capacita quem escolhe”.
Todos somos chamados a diferentes
tipos de responsabilidades, sempre considerando os carismas individuais e o
livre-arbítrio, ou seja: a capacidade de dizermos sim ou não a tal chamado, sem
que isso nos acarrete nenhuma punição de Deus, que respeita a nossa liberdade.
As qualificações desses escolhidos, quase sempre, são desproporcionalmente
pequenas se comparadas ao que irão realizar, mas a generosa disponibilidade
atrai graças divinas: “Olhai quem foi chamado entre vós: não há muitos sábios,
segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos nobres” (1Cor 1,26).
Em nosso caminho incerto,
assustados com as limitações e os tropeços, fixemos o olhar nas pegadas daquele
que nos chamou e que, não se escandalizando com as nossas fraquezas, está
sempre pronto a socorrer-nos.
(Silva, Anna Maria Martins. As pegadas que Cristo deixou. Reflexões bíblicas. São Paulo,
Paulinas, 2008, pp. 21-22).
Fonte: http://www.cibercatequese.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário