sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O livro da natureza

A religião Católica, como várias outras, não pode ser chamada de religião do livro. Embora a Sagrada Escritura seja entre nós considerada a alma de toda a Teologia. O Papa Bento XVI esclarece, na exortação apostólica Verbum Domini, que o título que nos cabe poderia ser o de uma religião que se expressa como um cântico a diversas vozes. Pois Deus se comunica conosco, seres inteligentes, de diversas formas complementares: ora pelos ensinamentos do Messias, ora pela Bíblia, ora pela história da salvação, ora pela sagrada Tradição. Mas em todas essas modalidades quem é o revelador é a pessoa de Jesus Cristo. Por isso nós somos a religião de uma pessoa, que é a Palavra do Eterno Pai. “O Filho único do Pai foi aquele que o revelou” ( Jo 1, 8). Mas gostaria de comentar uma preciosa forma de revelação, que hoje vem sofrendo um escanteio tático desastroso. Trata-se das maravilhas da Criação, palco da inteligência do Criador, de seu poder, e da harmonia que fez reinar em todo o cosmos.

Parece que depois que a lua foi devassada pelos astronautas, perdemos o encanto pelas noites de luar. Os namorados esqueceram o brilho suave da rainha da noite. Assim também os cientistas – pelo menos muitos deles – não sentem mais a magia das descobertas surpreendentes, com as quais se deparam constantemente. No mundo bíblico as pessoas não cessavam de glorificar a Deus, pelas estrelas, pela regularidade do sol, pelas maravilhas das chuvas, das flores, das crianças, das colheitas...Hoje haveria motivos para nos extasiar com a descoberta das células, dos hormônios, dos átomos, das leis da natureza, da relatividade, da teoria quântica, das partículas sub-atômicas (bóson de Higgs), da capacidade quase infinita do nosso cérebro. Tive a ventura de ler um livro, “A Linguagem de Deus” de um dos maiores cientistas do século XXI: Francis Collins. Foi o coordenador dos cientistas que decifraram o genoma humano. Pois bem. Ele entrou no projeto como ateu convicto, e saiu como homem cheio de fé. Ele ficou arrebatado pelo que presenciou. “Prostrou-se a seus pés para adorá-lo” (Ap 19,10). Esse pode ser um caminho para nós.
                                                                                                             Dom Aloísio Roque Oppermann
                                                                                                      Arcebispo Emérito de Uberaba (MG)
                                                                                                                               Fonte: Site da CNBB                                                                                                                                

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