Lidar com o estresse
Barulho, agitação, sobrecarga de imagens, excesso de violência real e
virtual formam uma rede que nos prende nas malhas tensas do cotidiano. E como
então diminuir tal onda avassaladora?
O estresse ocupa as manchetes dos conselhos
terapêuticos. Palavra mágica que ecoa em todas as partes. Aparece na linguagem
do adolescente que chama de estressado o/a professor/a que o repreende e no
rosto do alto executivo que transita nervoso e agitado pelos aeroportos.
Possui dupla valência. Há o estresse sadio.
Esforço, concentração, empenho de energia para dar um salto qualitativo na vida
que merece tal esforço. Sem momentos de piques não conseguimos metas maiores,
objetivos selecionados. Está aí a imagem plástica do acrobata que, antes de dar
o salto mortal, vive instante de intensa potência energética.
Em geral, não se trata desse estresse, quando
se fala do mal do homem moderno. É aquele que corrói por dentro as pessoas, sem
que elas liberem energias para algo importante. Ele volta-se como força
destrutiva contra o sujeito que o produz. Rói a máquina do corpo e do espírito.
Há muitas manifestações e formas. Na sua raiz há um
sujeitar-se a um comando externo não querido nem desejado. Um outro decide inexoravelmente
sobre a nossa ação. Queremos ir serenamente para o trabalho. Encaminhamo-nos
para o aeroporto ou rodoviária a fim de tomar a condução necessária. Eis que o
outro, o tráfego, retém-nos, impede-nos, deixa-nos tensos na insegurança de não
chegarmos aonde queremos no tempo previsto. Instala-se o estresse.
Voltamos para casa de tarde. Vislumbramos com os
olhos do coração encontro prazeroso com o esposo/a, com os filhos. Eis que lá
estão eles aborrecidos, tensos, incomunicáveis, capturados pela TV ou pela Internet. Bate a decepção estressante de
relação difícil, áspera ou azeda.
Busca-se na noite o silêncio. Algum motoqueiro
estróina passa com o cano de descarga aberto, rasgando a tranquilidade do sono
necessário. Mais estresse. O sono benfazejo não vem à noite por causa das
preocupações salariais, do desemprego à vista ou já visto, das incompreensões
no trabalho. E sobe a taxa do estresse.
A refeição foi pensada, não para simplesmente
satisfazer a fome animal, mas como ato social de encontro, de convivência, de
conversa em família e entre amigos, enquanto se tomam os alimentos. Momento de
harmonia, de alegria e prazer. E eis que a pressa para o trabalho, a ansiedade
de não perder um capítulo da novela, a sedução da Internet arrancam as pessoas
desse convívio e as leva a comer estressadamente.
As experiências de cada dia se multiplicam. Até os
tempos de lazer e relaxamento se fazem sob o império de um outro intruso. Não
tem a serenidade interior de quem se pacifica. Os esportes de risco aumentam o
estresse. As exigências de crescentes emoções nos programas televisivos, um zapping frenético de canal em canal, o
tom mais elevado das propagandas atormentam os tímpanos, minam a serenidade das
pessoas. Deixam-nas cansadas de tanto ruído e de tanta poluição de imagens.
Barulho, agitação, sobrecarga de imagens, excesso
de violência real e virtual formam uma rede que nos prende nas malhas tensas do
cotidiano. E como então diminuir tal onda avassaladora?
Fechar as cortinas de tanta luz esgotante e gozar
momentos de silêncio, de contemplação, de paz interior diante do Senhor. Curtir
as alegrias simples do cotidiano, especialmente as das relações afetivas com as
pessoas de casa. Gastar tempo com amigos em encontros descontraídos. Cultivar o
hábito sadio da refeição em família. Baixar o nível da expectativa, não
deixando os desejos ir a reboque da enervante propaganda. Mais realidade, menos
virtualidade. Mais atualidade, menos ansiedade pelo que virá. Mais beleza, mais
verdade, mais ética, mais sentido e abertura ao Mistério, menos insaciabilidade
dos instintos e gozos materiais. Mais interesse pelo outro, menos fechamento
obsessivo sobre si, sobre a preocupações, doenças e manias.
Se as pessoas presas a si mesmas soubessem o prazer
e a alegria do dom de si, teriam deixado, há muito tempo, o caramujo em que
vivem encerradas. Lá fora da toca do egoísmo brilha o sol no céu azul da saída
de si.
Padre João Batista Libânio - Teólogo Jesuíta
Site Domtotal
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