Mas quanto mais lermos o evangelho e conhecermos a vida de Jesus, tanto
mais veremos a forma melhor de amar. Em cada gesto, Jesus dá uma aula prática
de amor. Não a percamos. Leiamos os evangelhos! Desdobrar-se-nos-ão diante dos
olhos surpresos maravilhas que nos encherão o coração de beleza. E envoltos por
ela, iluminaremos a outros.
A existência humana é uma aventura. Quem diz
ad-ventura pensa no que há de vir. Isso significa “ventura” em Latim. Olhamos
sempre para frente. Deus criou-nos os dois olhos na frente para olharmos para
frente. O ser humano, entre os animais, é o único que se ergue bipedemente
sobre os pés e mira para frente. O sinal biológico está a apontar para o
espírito orientado para o futuro, para o infinito.
O presente escapa-nos a cada instante, ao fazer-se
passado. Desfaz-se a cada momento. Deposita no solo as folhas mortas do
passado. Mas elas, que ontem foram presente e agora são passado, adubam o
futuro. Diante de nós o futuro marca-se pelo que construímos no presente.
Forja-se pelas decisões morais que tomamos como seres responsáveis.
Responderemos amanhã pelo que fazemos hoje. Amanhã próximo ou longínquo, mas
que sempre virá.
A vida na sociedade funda-se precisamente no jogo
de presente responsável e futuro respondido. Haja vista o que pagamos pelo que
fizemos em termos de saúde, de dinheiro, de vida. Comete-se um crime hoje,
vai-se para a prisão amanhã. Gasta-se o corpo hoje em farras, paga-se amanhã em
remédios, doenças, hospitais e até morte. Ingerem-se hoje doses do prazer
químico das drogas, vomita-se amanhã a náusea da existência.
No horizonte aparece alguém que nos veio revelar o
amanhã do nosso hoje e também o hoje de nosso amanhã. Encontramo-lo no
evangelho: Jesus. Andávamos perdidos, sem futuro, sem esperança. Cercavam-nos o
mal e a morte. Julgávamo-los fortes a ponto de triunfarem sobre nós. Em
momentos de desolação, o homem bíblico do Antigo Testamento, sem a luz luminosa
da Páscoa, temia que ficaria preso nas garras da morte. Via-a no final do túnel
da vida como derrota total. Não conseguiremos nunca vencer o mal e a morte.
“Jahwe, meu Deus salvador, a minha alma está cheia de males e a minha vida está
à beira do sheol; despedido entre os mortos como as vítimas que jazem no
sepulcro, das quais já não te lembras porque foram separadas de tua mão” (Sl
88, 4.6). Grito quase de desespero!
Nesse pano de fundo de derrota, de pessimismo
radical, aparece Jesus e afirma o contrário. No início de tudo está o amor de
Deus de quem viemos. No meio, no presente atual, continua o amor de Deus
infinito e enorme a ponto de dar-nos seu Filho Jesus. No final, está este mesmo
amor a devolver-nos uma vida, já não mais mortal, mas gloriosa, ressuscitada
para dentro da própria eternidade de Deus. O grito de Santo Agostinho traduz
muito bem essa experiência: “Todavia, esse homem, particulazinha da criação,
deseja louvar-te. Tu o incitas a que se deleite nos teus louvores, porque nos
criaste para ti e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repouse em Ti”
(Conf. I,1).
Vejam que maravilha nos veio revelar Jesus! “Tende
coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33), a saber, o mal, o pecado, a morte. Basta
que nos deixemos envolver pelo amor de Jesus e o sigamos, amando os irmãos e
irmãs que nos encontraremos na vida. A única realidade importante, necessária,
fundamental, definitiva e eterna se manifesta no amor ao irmão e nesse amor ama-se
a Deus. Algo tão maravilhoso que só por isso vale a pena ter-nos encontrado uma
vez sequer com Jesus. Guardemos essa mensagem!
Mas quanto mais lermos o evangelho e conhecermos a
vida de Jesus, tanto mais veremos a forma melhor de amar. Em cada gesto, Jesus
dá uma aula prática de amor. Não a percamos. Leiamos os evangelhos!
Desdobrar-se-nos-ão diante dos olhos surpresos maravilhas que nos encherão o
coração de beleza. E envoltos por ela, iluminaremos a outros.
A palavra de Jesus soa sem ambages. “Este é o meu
preceito: Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” (Jo 15, 12). Não se trata
de qualquer forma de amor. Existem muitas ilusões no amor. Não há pior lugar
para enganar-nos que o amor. O inciso de Jesus “como vos amei” tira toda
ambigüidade. Que significa? “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida
por seus amigos” (Jo 15, 13). O dom de si testa o amor.
Padre João Batista Libânio - Teólogo Jesuíta
Fonte: Site Domtotal
Ilustração: www.catequesecaminhando.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário