sexta-feira, 27 de julho de 2012

O homem e Deus

O ser humano é território do divino. No princípio de tudo está Deus, está o amor, como atração irresistível. A fome de Deus é uma força avassaladora. Deus fascina, arrebata, embriaga. Pior do que não crer em Deus é pensar mal a seu respeito, fazer caricaturas e imagens falsas d'Aquele que é Pai, Criador, Providência, Misericórdia.

As pessoas que fazem uma autêntica experiência de Deus atestam que se trata de algo inesquecível, irradiante, transformante, iluminante. Sabemos, porém, que Deus é sempre maior do que nossas doutrinas e experiências. Vemos que o homem é sócio de Deus. Somos suas criaturas, seus filhos, seus amigos, seus mediadores, seus apóstolos, seus servidores, seus herdeiros, seus santos. Deus pode fazer todas as coisas, menos uma, 'Ele não pode deixar de nos amar'.

Deus tudo restaura, recria, recupera, refaz, redime. Ele é nossa origem e nosso destino. Nós O encontramos nas alturas, nos abismos, nas feridas, nas fraquezas, na dor, no amor, na cruz e no nosso nada. Dez são as características do amor de Deus: insuperável, inefável, estável, inevitável, afável, imensurável, irrenunciável, inseparável e vulnerável. Sem Deus somos desfontizados, desenraizados, desordenados, descentrados. Deus é um parceiro inseparável, está sempre perto, cheio de paciência e misericórdia. Ele conhece os corações.

Deus está em nós amando, trabalhando, torcendo por nós. Nele respiramos, somos, existimos, nos movimentamos. Deus está envolto em nossa carne e habita no nosso íntimo. Eis o abismo do mistério. Em nossa argila brilha sua glória de Deus, mas sem humildade não se dá um passo na direção dessa liberdade. Assim, vivemos num deserto espiritual e inventamos ídolos para adorar como, por exemplo, o prazer, o dinheiro, o poder. Sem Deus, corremos o risco de adorar nosso time, nosso cantor, nossos amigos. Deixamos Deus e endeusamos as criaturas e experimentamos o sabor amargo do vazio e nos afogamos no divertimento, no trabalho, nas drogas, no alcoolismo, no barulho, nos divertimentos.

Deus é nossa esperança, somos seus queridos, desejados, amados, eleitos. Com fé no amor do Pai vencemos a apatia, a indiferença, o desespero, a culpa que são sentimentos destrutivos e experimentamos o paraíso da liberdade, da alegria, da consolação, da paz. Como são felizes e sadias as pessoas que sabem ver Deus em todas as coisas. Deixemo-nos amar, aceitemos ser criaturas e sejamos tão sábios a ponto de amar o Amor.

Deus nos aceita como somos e nos ajuda a ser melhores ainda. 'O milagre de Deus, sou eu mesmo' (M. Eckhart). Não viemos do acaso e não caminhamos para o nada. A fé no Absoluto vence o absurdo, a náusea, o vazio. Podemos pela fé ver o Invisível e tocar o Intocável. Descubramos a amabilidade e a humildade de Deus na manjedoura, na cruz, na hóstia, nas Escrituras, nos pobres, doentes e pecadores. Excluir Deus nos leva a falsificar a realidade, criar caminhos equivocados, seguir receitas destrutivas. Um humanismo sem Deus acaba sendo desumano. A glória de Deus é que o homem viva e a visão de Deus é a vida do homem.

Moramos no coração de Deus e somos a pupila de seus olhos, amados até ao ciúme. Ele age em nossas ações. Nossa história é arena de Deus que está mais em nós que nossa alma. Ele 'está até nas panelas', diz Santa Tereza. O Livro da Sabedoria proclama que Deus é 'amigo da vida'. Sem Deus somos atrofiados, incompletos, irrealizados. Com Deus tudo se recria, renova e adquire sentido.

                                                                             Dom Orlando Brandes - Arcebispo de Londrina - PR
                                                                                              Fonte: Site da Arquidiocese de Londrina

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