terça-feira, 14 de julho de 2015

Padre Federico Lombardi:

É na perspectiva dos que sofrem
 que melhor entendemos o que diz o Papa

Cidade do Vaticano (RV) – Um dia após o retorno do Papa Francisco ao Vaticano, vindo da América Latina, a Rádio Vaticano pediu ao seu Diretor, Padre Federico Lombardi, para destacar alguns pontos-chave desta sua segunda viagem ao continente latino-americano e nona viagem internacional.
O Papa é o Pastor de todas as suas ovelhas
Pe. Federico Lombardi“Me tocou a presença das pessoas durante a viagem e a relação do Papa com elas. Havia um número incontável de pessoas presentes em todos os momentos desta viagem: a presença ao longo das ruas, devo dizer, é a coisa que mais me tocou pela sua dimensão e também pelo seu estilo, pela atmosfera, pela sua característica de intensidade e não somente emotiva, mas diria também de fé. O Papa percebeu estas coisas perfeitamente, provavelmente as previa e as conhecia já anteriormente e muito melhor do que nós. Porém, acredito que a intensidade, a dimensão desta presença tenha, em qualquer modo, surpreendido também ele e surpreendido um pouco a todos. Portanto, me tocou o fato da mobilização humana e espiritual dos países visitados e a sintonia profunda: o pastor que conhece as suas ovelhas, que está em meio a elas, que tem o odor das ovelhas. Portanto, este era o Papa Francisco nestes países da América Latina”.
Rádio Vaticana: O Papa Francisco, obviamente, é uma pessoas universalmente conhecida e sempre mais familiar a muitos. Mas, na sua opinião, foi possível perceber um “algo a mais” na sua pessoa, após o retorno da “sua” América Latina?
Pe. Federico Lombardi“É justamente esta sua relação com o povo, que explica também melhor a nós, que viemos de uma outra cultura ou de uma outra experiência, o modo em que ele nos fala assim intensamente, também quando se dirige aos pastores, dizendo que devem estar próximos às pessoas, que não devem ser estranhos à vida das pessoas. Entendemos e experimentamos isto em modo mais intenso por ocasião desta viagem”.
Rádio Vaticana: Na sua opinião, com esta viagem, o Papa Francisco ajudou a desfazer alguns estereótipos que se tem no Ocidente em relação à América Latina? Por exemplo, o Papa sublinhou o quanto a juventude deste continente, ligada à esperança, e estas energias novas podem oferecer aos outros continentes…
Pe. Federico Lombardi: “Certamente. Vivemos uma relação de grande respeito, estima, amor ao Papa por estes povos, que em nenhum modo os consideramos como povos em espera, digamos, de ajudas: como povo ou pessoas subdesenvolvidas que devem ser ajudadas por uma caridade externa para poder atingir um melhor desenvolvimento humano ou espiritual, mas sim como atores protagonistas – eles próprios – de seu desenvolvimento e de seu caminho. Neste sentido, a mensagem do Papa foi de grande encorajamento de um ponto de vista quer humano que espiritual e eclesial, para que possam encontrar juntos – em modo solidário e ativo – a construção de seu futuro. Portanto, isto foi muito belo: um Papa que encoraja a serem protagonistas todos os membros destes povos, em particular, aqueles que são, quem sabe, mais pobres e que se sentem marginalizados”.
Rádio Vaticana: Alguns criticam o Papa por ser muito voltado aos Movimentos Populares e às forças sociais – ou seja, aos pobres – negligenciando a assim chamada “classe média”. Uma pergunta, a propósito, feita durante a coletiva na viagem de volta a Roma. Que leitura poderia ser feita à este respeito?
Pe. Federico Lombardi“Foi tão interessante que o Papa tenha dito: “Mas, existe verdade nesta observação… Devo refletir sobre isto e ver como considerar”. Porém, o ponto de impostação do Papa me parece que seja fundamental e deve ser bem entendido: se nós reconhecemos que a situação do mundo não é ideal e que portanto existem realmente mudanças, e mudanças importantes e urgentes a serem feitas – quer no que diz respeito à impostação da economia, do governo e do caminho da humanidade, quer no que tange às consequências que esta impostação tem também sobre a criação, sobre o equilíbrio da criação, sobre o equilíbrio das relações sociais – então devemos ver qual é o ponto de perspectiva justo no qual devemos colocarmo-nos para entender o que é que não está certo e que efetivamente é urgente mudar. Este ponto de perspectiva – o Papa disse diversas vezes – é a atenção aos pobres.  É dali, de onde se sofrem as consequências das coisas que não estão certas, que se pode entender verdadeiramente, profundamente e existencialmente que não estão certas e que portanto devem mudar: dali, e não somente pela sensibilidade evangélica que os coloca no coração do Evangelho, mas também por uma sabedoria humana que diz o que devemos mudar para construir uma sociedade mais humana e justa. Devemos olhá-la do ponto de vista das coisas que não estão certas e de quem sofre as consequências negativas. Então, neste sentido, a insistência do Papa é corajosa, é contracorrente, mas é muito compreensível, porque, se alguém se colocar do ponto de vista do centro do funcionamento de um sistema e de quem o faz funcionar, então é muito mais difícil que as coisas mudem efetivamente e que se veja e se entenda a urgência de mudá-las. Também a “classe média” certamente, tem um papel fundamental e podem existir países em que é extremamente importante. Mas se alguém olha – como faz o Papa – ao mundo no seu conjunto, as situações de iniquidade, de sofrimento e os problemas que manifestam a necessidade de uma mudança são de tal forma imensos e macroscópicos que a urgência das mudanças parece evidente. No Papa, encontramos também a insistência sobre o possível protagonismo ativo e criativo das pessoas que se encontram nas situações difíceis, como possíveis protagonistas ativos da mudança: não em forma de luta violenta, mas na forma de crescimento da solidariedade e da justiça. Isto me parece o significado muito importante do discurso do Papa aos Movimentos Populares e, em certa medida, o significado também desta viagem e dos gestos de solidariedade do Papa com estas populações. Atitudes que são propostas a nível também das dinâmicas do desenvolvimento mundial. Por isto, me parece muito significativo que o retorno do Papa ao seu continente e a sua sensibilidade à participação e à compreensão profunda e positiva da realidade e o que é o povo – de um ponto de vista quer geral, quer também especificamente cristão – seja uma contribuição extremamente importante para a reflexão da Igreja universal e também da humanidade”. (JE)
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